50 Coisas que eu Odeio em Você

Eu odeio sua bipolaridade


Abri os meus olhos, e a primeira coisa que me veio da cabeça foi frango frito. Cara, eu estou tão faminto que é capaz que eu me torne canibal se não comer logo.

Afastei as cobertas e desci as escadas sem camiseta mesmo, pois ainda eram seis da manhã e ainda tinha muito tempo para poder me arrumar para a escola. Mas a minha surpresa não foi só encontrar a minha mãe fazendo panquecas vermelhas (ela geralmente faz azuis por ser a minha cor predileta) com Tyson ao seu lado, como também quem estava junto com ela.

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Não sou muito um cara de corar por qualquer coisa, mas Annabeth me ver sem camisa me fez quase morrer de vergonha. Só que ela não pareceu se importar muito e indagou um bom dia animado.

— O que você está fazendo aqui?

— Perceus Jackson! Mais educação com Annabeth, porque ela é nossa visita!

— Desculpa mãe, mas o que você está fazendo aqui mesmo, hein?

A Chase revirou os olhos e me respondeu com uma voz que nem a de uma professora ensinando um menininho de três anos como pintar na linha:

— Ontem a sua mãe me chamou para vir aqui tomar café da manhã, porque ela queria companhia e porque você poderia me levar depois pra escola. E, bem, eu aceitei porque meu pai viajou com a minha madrasta e suas crias.

— Ah.

O dia estava meio frio, o que me fez lembrar que eu estava sem camiseta e ir para o meu quarto colocar algo descente para vestir. Então, ao invés de ter que sujar duas roupas, preferi só tomar um banho rápido e colocar o uniforme.

E foi o que eu fiz, e agora desço as escadas a procura da minha mãe e Annabeth, que estão sentadas na mesa comendo panquecas vermelhas junto com algumas azuis. Minha mãe é simplesmente a melhor do mundo.

— Hey outra vez.

Não tinha notado em Annie antes, mas ela está com o uniforme feminino da escola: saia um pouco acima do joelho de preguinhas, camisa social branca, blazer azul marinho assim como a saia, gravata vermelha com um perfeito nó, meias 3/4 branca e um All Star cano-alto. Não vamos esquecer do seu cabelo em um coque mal-feito e o celular escondido na meia.

Eu e Annabeth somos de mundos completamente diferentes, só que ao mesmo tempo somos completamente iguais, o que não faz o mínimo sentido.

Ambos estudamos na mesma escola, só que ela é bolsista e eu não. Ambos gostamos de música, ela de pop rock e eu de rock pesado. Tudo igual e oposto.

Só que eu não consigo não me preocupar com ela, e a maior prova disso foi eu não querer que ela notasse o meu padrasto, pois eu nunca liguei quando era a Drew.

Comi a minha panqueca, e logo após eu e a loira tivemos que nos despedir da minha mãe porque já estava quase na hora da escola.

Abro a porta como um verdadeiro cavalheiro faria e espero ela entrar no carro para dar partida.

O caminho é silencioso, pois Annabeth coloca um CD do Imagine Dragons pra tocar e começa a cantar junto, igual ela quase sempre faz quando está filosofando, o que é super bizarro pra uma menina de dezesseis anos.

Quando chegamos na escola, ela anda como se estivesse tentando se esconder do mundo, o que é estranho pra alguém tão bonita como ela.

Cara, eu não acredito no que eu acabei de pensar. É melhor eu ligar agora pro meu psicólogo, porque o caso aqui está seríssimo.

Subimos as escadas lado a lado, só que depois vamos pra direção diferentes, pois hoje não temos nenhuma aula em comum, o que é quase estranho porque é o único dia.

As aulas passam rápido, e quando vou ver, já estou dentro do carro com Annabeth do meu lado novamente, só que desta vez cantando "Say You're Just A Friend" do Austin Mahone com tanta animação que chega a assustar.

— Cara, será que dá pra parar de cantar? Seu talento de fato não é ligado a música, porque nem pra falar que sabe tocar alguma coisa dá.

— Me deixa viver, Cabeça de Alga! Eu não sei dançar, nem cantar, nem tocar, nem desenhar, tenho a elegância de uma toupeira, ando igual uma iguana e nem mentir direito eu sei. A única coisa que eu realmente sou boa é decorar, só que isso não pode me impedir de ser feliz, idiota.

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E depois ela voltou a contar me ignorando totalmente, como ela sempre fazia quando estava andando de carro. Cara, essa menina é imprevisível! Ontem ela estava um amor, e agora fica doida da vida.

Comecei a encarar ela pelo retrovisor com uma sobrancelha arqueada, quando ela finalmente entendeu e abaixou o som do carro e indagou:

— O que foi, Perceus? Perdeu o medo de morrer?

Mas, ao invés de uma cara ameaçadora, ela apenas começou a rir sem parar como se estivesse se engasgando com alguma coisa.

Estacionei o carro na frente de uma praça, peguei meu caderno e uma caneta e comecei a escrever:

"Odeio sua bipolaridade

Sabe, senhor Quíron, as vezes a Annabeth pode me deixar louco. Uma hora ela está um amor, na outra está rindo da minha cara e logo após irritada.

Minha mãe diria que isso é o que as mulheres chamam de TPM, mas eu prefiro chamar só de frescurite mesmo. Cara, eu acho que é impossível de alguém mudar de humor tão rapidamente.

Pior ainda é que, como estou sempre com ela, sempre estou presenciando esses seus ataques de loucura diários, como se, em um momento, ela fosse me abraçar, e no outro me matar. É confuso ter medo de uma pessoa com quem você vai ter que passar mais quarenta e quatro ou quarenta e cinco dias. E, lembre-se, isso é tudo culpa sua e eu não me responsabilizo por nenhum estrago por causa desses ataques diários.

Mas será que ela não pode ficar só boazinha? Nessas horas ela fica super fofinha. NÃO CONTA ISSO PRA ELA, POR FAVOR. Mas sim, ela fica uma graça.

É, eu acho que preciso ir no psicólogo, porque acho que não odeio isso nela completamente. Talvez seja porque ela é um eterno desafio, de forma que eu nunca sie o que fazer e nem a hora certa pra isso.

Mas, bem, eu acho que, talvez, no fundo, eu não odeie isso tanto assim nela"

Coloco o caderno de volta na mochila e volto a dirigir o carro.

Acredita que até agora ela está cantando com aquela voz horrível?

É, eu acho que não sou apenas eu que preciso de psicólogo.

— Está me olhando por que, Jackson? Perdeu alguma coisa?

— Só se for a sua noção.

— Idiota.

E dessa vez fui eu que ri incontrolavelmente da cara que ela fez. O que, na verdade, me rendeu foi um grande beliscão, mesmo comigo dirigindo um carro. É, essa menina não tem mesmo medo de morrer.

— Bebeu por acaso?! A gente podia ter morrido, sua idiota!

— Idiota é você, seu nojento!

— Você!

— Você!

— Sua pirralha melequenta!

— Seu nojentinho idiota!

— Cala a boca!

— Cala você!

— Você!

— Não, você!

E o que aconteceu a seguir foi a coisa mais estranha que já ocorreu na minha vida: ela simplesmente bufou, revirou os olhos e entrelaçou os dedos pequenos com os da minha mão livre.

— Não se acostume, Cabeça de Alga. O único motivo disso é porque meu pai sempre me fala que a melhor maneira de acabar com uma briga é abraçar a pessoa, e como você está dirigindo e tal...

Ignorei ela, soltei as nossas mãos, liguei o som no máximo e entrelacei de novo.

Mesmo com a voz irritante, valeu a pena só por ter visto aquele sorriso idiota no rosto dela de novo.