50 Coisas que eu Odeio em Você

Eu odeio a sua simplicidade


Hoje acordar pra ir pra escola foi um trabalho árduo.

Ontem, quando fui falar com Annabeth, foi um saco ter que mandar a Drew ir embora, porque eu já tinha toda a minha paciência jogada fora. Pra falar a verdade, não sei como, as vezes, eu aguento a minha namorada.

Ela parece pensar apenas nela mesmo, o que faz com que o ego dela tampe todas as partes realmente interessantes da sua personalidade. Não sei, mas naquela hora eu fiz tudo que queria: defendi Annabeth de tudo e qualquer coisa. Porque, cara, aquela loira estranha realmente é importante pra mim.

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Mas, bem, o importante é que hoje, quando eu entrei na sala, eu notei que tinha algo muito errado na sua roupa, o que me deixou com um sentimento estranho no peito. Olhei novamente para o seu uniforme e pude confirmar o que eu achava.

— Sua saia está mais curta ou é impressão minha?

— É. Silena foi lá pra casa ontem.

— Por que isso?

— Bem, caso não saiba, meu pai tem negócios com o pai dela. Só que, bem, o pai dela tem o dinheiro e meu pai a inteligência.

Sorri para ela. Isso era triste, sabe?

Drew sempre foi uma menina rica. O dinheiro nunca foi um problema para ela, a menina mais mimada do mundo. A mesma também nunca teve limites e sempre saia para poder comprar um monte de roupas, o que fazia com que seu closet sempre estivesse cheio.

Já Annabeth não. Ela era bolsista, e tinha a condição financeira normal. É obvio que ela jamais poderia ir para o shopping todos os dias, sem o menos remorso. E, também, se ela fosse rica, aposto que não passaria a frente de lojas de roupa. No seu máximo passaria os dias em uma livraria, podendo escolher qual e quantos livros quisesse.

E é por isso que a vida não era justa.

Aposto que a Chase merecia minha condição financeira muito mais que eu, porque ela era justa. Sua inocência era uma coisa mais forte que a própria personalidade forte. Praticamente uma Marilin Monroe, sem a parte sexy da coisa.

E foi quando eu tive uma ideia genial.

— Annie...

— O que você quer? Pra me chamar assim na frente de todo mundo tem que ser algo que você anseia mais do que eu por leite quando acabo de acordar.

— Isso não vai te custar nada.

— Quero só ver. Desembucha.

— Sabe aquela sua lista de livros?

— Qual delas? As do que eu já tenho, as dos que eu já li ou...

— A dos que você quer. É que eu quero começar a ler sério, mas precisava de ter uma boa noção.

— Tô te lendo, Percy. Até parece que você ia querer começar a ler do nada. Você mal lê bula de remédio!

Porque essa loira chata tinha que me conhecer tanto? Será que ela não podia ser um pouquinho mais burra não? Cara, eu não sei exatamente o que sentir com essa forma dela de ser. Deve ser tão bom ser inocente...

— Ai, Annabeth, me deixa ser feliz! Eu vou fazer dezessete e quero começar com o pé direito. — indaguei já emburrado e sem nenhuma paciência.

— Tudo bem. Só porque hoje eu estou feliz. — ela falou me entregando duas folhas de papel cheias de nomes e mais nomes que havia tirado da pasta. — E cuidado com isso, porque eu passo horas a fio nos sites de compra online procurando nomes, e ainda tenho que passar pelo Skoob para ver as resenhas, as estrelas e tudo mais. Acredite ou não, ser leitor gasta não só dinheiro, como também tempo e paciência.

Sorri para ela, o que fez com que ela sorrisse também. Cara, nós éramos muito estúpidos. Ela era a nerd, CDF, queridinha dos professores, séria, idiota, desastrada e meio retardada. E eu era eu. E nós damos certo.

Não é como se eu precisasse de ser como ela para sermos amigos, porque apenas o fato de não termos nada em comum nos fazia mais amigos do que muitas outras amizades que eu tive na minha vida.

E, bem, ela era a minha irmãzinha. Faria de tudo para proteger ela. O seu coração não ia ser quebrado enquanto eu estivesse aqui.

Não sei, mas eu precisava urgentemente saber mais do que os leitores gostam, o que eles fazem e essas coisas. E, bem, eu só tinha uma opção.

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Grover, eu sei que você é meu melhor amigo, mas agora você vai ter que me ajudar.

Mandei uma mensagem pra ele.

Hoje. Minha casa. Três horas. Urgente. Falou.

Grover sempre foi o meu melhor amigo, só que eu pouco o via. Motivo? Bem, antes ele estudava na escola, mas depois resolveu passar para uma outra que respeitava todas as regras naturais. E, claro, onde tivessem apenas comida vegetariana e enchiladas de queijo.

— Olha, se importa se eu fizer sua redação aqui na escola mesmo? É que eu combinei de passar a tarde com o Graver, sabe? Aquele meu amigo vegetariano.

— O que surtou quando eu disse que meu pai comeu carne de bode quando foi para o Japão?

— Esse mesmo.

— Beleza. Ele é legal, vegetariano e uma gracinha. Aposto que ele é o tipo da Júniper.

Cara, ela é a primeira menina que eu conheço que não tem neura com o Grover. É sério, já perdi a conta de com quantas namoradas eu já terminei só porque tinham preconceito com o meu melhor amigo só por ele ser negro, ou mesmo porque ele usa muletas.

Nem sei o que comentar, mas a Chase ganhou muitos pontos comigo agora.

— Pior. Acho que os dois poderiam engatar um relacionamento fácil fácil.

— É. Agora me desculpe, mas eu tenho que ir pra minha aula. Hoje eu tenho aula de álgebra no primeiro horário. Falou.

— Falou. Tchau.

Okay, agora eu tenho certeza que será um longo dia.

***

Saí da escola correndo, já entrando dentro do meu carro como se isso fosse a minha maior necessidade. É sério, eu acho que nunca estive tão apressado na minha vida.

Mas foi só quando a música selecionada para a hora de que eu teria que escolher uma menina pra dançar começou a tocar. Eu não gostava muito do estilo da batida, já que não tinha letra, mas eu tive que escolher porque a Drew começou a fazer piti porque, já que ela que ia dançar comigo, ela tinha que tinha que escolher e blá blá blá.

Eu tinha até uma música na cabeça, mas deixa pra lá.

Só fui notar o quanto tinha voado quando estava na porta da escola integral de Grover, de onde ele tinha tirado um tempinho para plantar uma árvore. Acredite, eu não entendi, mas sei que é apenas uma desculpa para faltar as aulas da tarde sobre jardinagem ou algo assim.

— O que foi dessa vez, cara? Não vai me dizer que terminou com aquela tal de Drew? Cara, eu te disse que ela é uma biscate desde o começo.

— Não, eu não terminei com ninguém. Apenas tenho que arrumar um presente daqueles pra uma menina da minha sala.

— Joias? Roupas de marca? Sapatos? Cara, eu não sei nada do que essas meninas gostam.

— Não, cara. Essa é diferente. Ela é meio natureba, daquelas que come verduras e lê livros.

— Brother, essa não é do seu tipo. Não é por nada, mas acho que eu vou roubar a sua garota.

— Minha garota o caramba. Ela é a menina do trabalho que eu te falei. E tira o olho, porque ela adora um X-Tudo.

— Só me faltava essa. Finalmente tem uma menina que presta nas suas mãos e você não cata.

— Ela não está "nas minhas mãos". A Annabeth está mais pra uma menina que realmente me odeia.

— Ô, brother, isso é só joguinho. Elas sempre fazem isso.

— Não ela.

— E o que faz essa loira diferente?

— Nerd, tábua, CDF, chata, retardada, desastrada, problemática, agressiva, já me bateu três vezes, gosta de moleques melequentos, usa sempre moletom e chinelos. E, claro, uniforme.

— Tá, isso é um problema. Mas o que eu tenho com isso? Pra que dar um presente pra ela se você a odeia?

— Eu não odeio ela tanto assim. Fora que ela merece muito mais que a Drew, porque ela é... ela. Sei lá, cara. E você vai me ajudar a pensar no que complementar a listinha de livros dela. Pega aí, está no porta-luvas.

Ele virou para onde eu tinha falado e, ao pegar as duas folhas de papel, ele arregalou os olhos. Que pena desse moleque sem cultura.

— Cara, isso é praticamente um brinco daqueles que a Drew usa!

— Dane-se. Ela vai fazer dezessete anos e nunca teve uma festa porque o vagabundo do pai prefere economizar para viajar com a madrasta e os irmãos dela. E eu aqui, que faço festas e mais festas todo mês sem nenhum motivo.

— Você é louco. E, pior ainda, louco por ela.

— Cara, isso não é uma aliança e nem um carro. Me deixa.

— Eu quero ser padrinho do casório.

— Vai a merda. Olha, eu tenho um plano quase infalível.

Fala.

— Enquanto eu procuro os livros que ela quer na livraria na esquina, você procura em blogs, páginas do Facebook e o que mais for. Só descobre do que ela ia gostar.

— Tá, mas depois não diz que eu não avisei.

— Estou mais lúcido do que nunca, meu amigo.

E, assim que ele saiu do carro, eu sabia que tinha uma longa jornada dentro de um lugar muito selvagem.

Olá, livraria.

***

Depois de árduas horas naquele mundo selvagem, cheio de nerds e CDFs das mais diversas formas, descobri que ler podia não ser uma coisa tão ruim.

Quando finalmente tinha convencido o lojista que sim, eu ia levar todos aqueles livros e que sim, aquele cartão era meu. E, claro, depois da compra concluir, fiquei lendo um livro de crônicas para crianças de cinco anos e descobri uma coisa que eu odeio em Annabeth.

Agora, acredite ou não, eu fiz uma tarefa na sessão de biblioteca. Me sinto um CDF agora, cara.

Mas, em compensação, nunca tinha sido tão sincero na minha vida.

"Odeio sua simplicidade

Sabe senhor Quíron, em toda a minha vida sempre vi meninas que andavam por aí, cheias de maquiagem e roupas que mostravam bem mais do que aquilo que se é permitido legalmente de ver.

Mas, bem, você é a maior prova de que Annabeth nunca, nunquinha mesmo, usa algo além do permitido. O sua saia sempre bateu nos joelhos, sempre foi pra escola de tênis e nada de maquiagem. Acho que a coisa que ela mais "ostenta" é o celular de última geração que ela ganhou da mãe. Motivo? A mulher queria se redimir por nunca estar presente.

E isso me dói, senhor Quíron.

Não sei, mas toda vez que eu olho pra minha namorada fico pensando: por que ela não é como a Annabeth? Por que ela tem tanto, sendo que é tão fútil e mesquinha e a Chase não? Por que as coisas tem que ser tão injustas?

E, sabe, quanto as roupas, eu não entendo o motivo de ela ser tão discreta. Não sei se o senhor já notou, mas as roupas dela são o triplo do tamanho dela, o que é um exagero na minha opinião.

Só que, mesmo eu achando um exagero isso tudo, quase dei um ataque do coração quando ela chegou com aquela saia mais curta hoje. Tipo, eu não sinto isso quando a minha namorada sai com roupas bem mais curtas que um meio palmo acima do joelho. E isso me mata um dia.

Acho que é costume, porque eu sei como é ver sempre uma coisa e, de repente puf! Ela muda, mesmo que seja dois centímetros.

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E isso nela me deixa frustrado.

Eu odeio isso nela, apenas pelo efeito que isso tem em mim"

Tá, eu acho que eu surtei.

Mas quando eu cheguei em casa que eu surtei mesmo. Adivinha com quem Grover estava falando por Skype? Sim, a loira mais doida que eu conheci na vida. Ainda bem que eu deixei para que entregassem esses livros na minha casa, porque, senão, eu estava muito ferrado.

— Ai, me desculpa, Annie. Mas é que o Percy voltou do mercado agora. Depois a gente se fala, porque eu tenho que vencer ele no videogame.

Estou torcendo por você, Underwood. E que a sorte esteja sempre ao seu favor. Câmbio desligo.

E aí ela sumiu da tela.

— Marcadores, broches, camisetas, canetas, canecas e o que mais for. Eles gostam de mostrar que são felizes por ler. Temos um longo trabalho pela frente.

— Temos. Ah, se temos. — balancei o meu cartão entre os dedos.