Sangue escarlate

Capitulo 6




– AQUELA BRUXA SEM CORAÇÃO! DEVIA TER MORRIDO QUANDO NASCEU! - ouvi uma voz feminina desconhecida soar no andar de baixo, e levantei-me assustada.

Imediatamente Peeta estava ao meu lado, tão assustado quanto eu, caminhei devagar, cuidadosamente, enquanto ouvia as blasfêmias da voz desconhecida soarem por toda a casa.

– BRUXA! NEM AS BRUXAS TEM O SANGUE RUIM QUE ELA TEM CORRENDO NAS VEIAS! - ouvi a voz rouca e irritada soar da sala, e sentei-me no ultimo degrau da escada, debruçando-me para ver a quem pertencia aquela voz.

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Uma senhora, com uma blusa leve laranja e calça jeans, andava de um lado para o outro sobre seus saltos vermelhos, agitando seus cabelos curtos, cheio de pontas que mais pareciam a juba de um leão grisalho envolta de seu rosto, conforme girava bruscamente gritando para o nada, enquanto minha mãe apenas a observava tranquilamente.

– Katnnis! - minha mãe me chamou, levantei-me temerosa e me aproximei devagar da sala com Peeta em meus calcanhares. - Essa é sua tia avó Megs! - minha mãe falou, indicando a mulher de olhos grandes chocolate e rugas salientes que estava gritando até pouco tempo atrás.

– Então essa é a pequena filha de Eva? - Megs perguntou se aproximando de mim, ela era uns bons 15 centímetros mais alta que meu 1,60.

Olhei-a dentro dos olhos, frustrada com os vários apelidos que haviam dado a mim, “filha de Eva”, “filha de Caim”, estava prestes a jogar na cara dela que era filha da minha mãe, quando ela estreitou seus olhos verdes perspicazes para mim, e se aproximou mais ainda do meu rosto.

– Ora vamos menina? Você não leu livros o suficiente para saber quem foi Eva? - Megs perguntou séria, duvidando de minha capacidade intelectual.

– Claro que sei, e se for seguir os fatos, Eva foi a primeira mulher no mundo, o que é uma analogia interessante, mas entre ser “filha de Eva” e “filha de Caim” prefiro ser filha da minha mãe! - Respondi séria devolvendo seu olhar desafiador.

Megs riu, na verdade ela gargalhou na minha frente, virando-se para minha mãe que ainda permanecia sentada no sofá.

– Sua filha é um doce Rose! - Megs caçoou gargalhando sonoramente. - Gostei de você garota! - ela continuou, secando as lágrimas que escorriam pela lateral do seu rosto.

– Eu gosto dela! - Peeta sussurrou ao meu lado, fazendo-me franzir as sobrancelhas em desagrado.

– Ela é estranha! - Sussurrei cruzando os braços sobre o peito.

– Não disse que não era estranha, disse que gostava dela! - Peeta continuou, encarando a mulher sorridente a minha frente.

Dei de ombros e esperei qual seria a próxima ação que aquela mulher estranha faria.

– Ei você! - Megs gritou apontando para mim.

Olhei-a assustada, perguntando-me se ela obtinha algum problema mental ou algo parecido.

– Não você garota, estou falando com o rapaz ao seu lado! - ela continuou gesticulando com as mãos, referindo-se ao Peeta. - Sei o que você é, e você só esta do lado dela por que sei o quanto se importa com a menina, mas tome cuidado, posso ver suas intenções e nem sempre gosto delas! - Megs continuou olhando séria para o espaço atrás de mim onde se encontrava Peeta.

– Não gosto mais tanto assim dela! - Peeta sussurrou como um menino mimado, me fazendo sorrir satisfeita.

– Você o vê? - perguntei séria.

– Posso ver muito mais do que seus olhinhos turbulentos veem, menina! - Megs sussurrou sorrindo. - Certo, vamos aos fatos! - Mags começou, dando por encerrado o assunto.

– A velha quer tirar o poder da Katniss! - minha mãe finalmente se manifestou.

– Uff! - Tia Megs bufou revoltada e virou-se para minha mãe. - Você explicou as consequências disso para ela? - Megs perguntou a minha mãe, que apenas se encolheu em resposta.

– Consequências do que? - Perguntei confusa, sentindo que algo escapava de minhas mãos.

– Rose, você não contou para ela? - Megs perguntou ignorando totalmente minha presença na sala.

Minha mãe se encolheu novamente no sofá e olhou para os próprios joelhos.

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– Mãe? Explicar o que? - perguntei confusa.

– Senta garota! - Megs falou, empurrando-me contra o sofá atrás de mim, me fazendo cair sentada, sobre ele.

Não demorou muito até Peeta se materializar ao meu lado, seus olhos vidrados em Megs, esperando o que quer que fosse que ela iria fazer.

– Você sabe do que um corpo é composto? - Megs perguntou, olhando-me de cima.

– Não! - Sussurrei quase que inaudivelmente, e ela apenas sacudiu seus cabelos grisalhos rebeldes em negação.

– Um corpo é feito de carne e alma! - Megs começou sua explicação, seus braço cruzados sobre seu peito, andando de um lado para o outro na minha frente. - No caso dos que possuem sangue escarlate há poder incluso junto à alma, não é a alma do ancestral que reencarna no corpo de uma criança como sua avó a fez pensar, é apenas o poder dele, que acha uma brecha na alma e se une a ela. Você esta me entendendo menina? - Megs perguntou parando na minha frente me olhando.

Concordei com a cabeça, com medo de que se falasse algo pudesse acabar atrapalhando sua explicação.

– Com você foi diferente! - Ela continuou ainda parada bem a minha frente. - Sua avó nunca aprovou o casamento de seu pai, pois além de não ser da família, sua mãe era uma humana comum, ela sempre desejou que seu pai casasse com a Deiserre Mason! - Minha tia tagarelou voltando a andar de um lado para o outro a minha frente.

– A mãe de Johanna? - perguntei espantada.

– Sim, a mãe daquela insuportavelzinha! - Tia Megs falou, com desprezo. - Bom o fato era que depois que seu pai casou, tudo pareceu dar errado na vida deles. Os papeis da casa nunca estavam prontos, e quando finalmente saiu, um tornado destruiu a casa, enfim foram tantos desastres que era óbvio que havia um dedo de sua avó em tudo. - Tia Megs, falou parando para olhar em meus olhos, suspirando pesadamente. - Seu pai sempre quis ter filhos, era o sonho da vida dele ter você, pequena, tanto que quando sua mãe perdeu o terceiro bebê, ele estava desolado. - Megs concluiu apertando ainda mais os braços a sua volta.

Olhei espantada para minha mãe, que permanecia perdida em suas próprias lembranças, seus olhos repletos de lágrimas.

– Uma noite, seu pai bateu na minha porta, sua mãe estava grávida novamente e ele temia que ela perdesse o bebê de novo, seu pai nunca havia desconfiado de sua avó, mas ele desconfiava de alguém, do contrário ele não teria aparecido naquela noite chuvosa para pedir minha ajuda. - Megs continuou dessa vez parada a minha frente, seus olhos perdidos em algum ponto do passado, muito além da parede que ela observava. - Depois de muito esforço, descobri que sua avó havia feito um feitiço impedindo que as almas se aproximassem da sua mãe. - Megs disse sentando-se na poltrona ao meu lado, seu rosto em um misto de pena e ódio. - Não havia como desfazer, estava tão bem amarrado, e como eu expliquei antes, a alma precisava entrar, nós precisamos de alma, sem alma, não há vida, e a vida nasce a partir da quarta semana de gestação, sua mãe estava na terceira semana. - Megs sussurrou a última parte, sua voz perdida no passado, em suas lembranças. - O que nós fizemos foi para mantê-la viva! - Megs afirmou, olhando finalmente para mim.

– O que foi? - perguntei assustada, com seu olhar penetrante, fixados no meu.

– Eu disse para o seu pai, que sua avó não ia gostar, mas ele queria tanto você, então nós a evocamos! - Megs sussurrou a última parte como em um segredo.

– Belle? - perguntei assustada.

Megs concordou com a cabeça e respirou fundo.

– Sangues Escarlates são feitos de metade poder e é por isso que a cada encarnação o poder se enfraquece, porque é necessário poder para renascer, um poder que não pode ser regenerado, mas a sua alma, não há humanidade nenhuma nela, é apenas poder. - Megs explicou olhando fundo em meus olhos.

– O que há de tão ruim nisso? - perguntei confusa.

– É magia proibida! - minha mãe sussurrou. - Nós pedimos permissão á Belle, mas isso não justifica! Um ancestral deve encarnar por conta própria! - Minha mãe explicou, olhando séria para mim.

– Sua Avó sabia que eu os ajudei a fazer isso, uma magia assim è sentida por todos do sangue, mas ela ainda não sabia quem havia sido afinal havia um leque de opções na época! - Megs concluiu.

– Até a minha Ascensão! - conclui espantada e minha tia Megs apenas concordou com a cabeça. - Mas por que Belle? - perguntei confusa.

– Eu te falei, Belle sempre pareceu ser a mais caridosa de todos! - Minha mãe falou seus olhos repletos de lágrimas.

– Mas... -Tentei esclarecer as perguntas que estavam em minha mente, mas Megs não permitiu.

– Você está desviando o assunto querida. O importante aqui é que se sua avó tirar o poder de você ela vai tirar sua alma! - Megs falou.

Suas palavras foram como água em meu fogo, me atingindo como um tiro em meu coração. Senti o ar sair de meus pulmões e com desespero tentei fazê-lo encher novamente.

– Eu vou morrer? - perguntei ainda sentindo que não havia sugado ar suficiente para que meus pulmões funcionassem.

– Se você considera estado vegetativo morrer! - minha tia Megs concluiu dando de ombros.

– E ela sabe disso? Minha avó? - perguntei quase sem voz e Megs apenas assentiu com a cabeça.

Senti a sala girar e fechei os olhos instintivamente para me estabilizar, o que aquela mulher dizia não podia ser verdade, minha avó não poderia querer minha morte, éramos sangue do mesmo sangue, em nossas veias corriam o mesmo DNA.

– Katniss? - Minha mãe me chamou e me trouxe de volta a realidade.

.

Demorou um tempo até que conseguisse focar seu rosto preocupado a minha frente, o tempo necessário para que a sala ampla em que eu me encontrava parecesse pequena e abafada demais para mim. Saltei num pulo, fazendo minha mãe dar dois passos para trás, no segundo seguinte já estava abrindo a porta para a liberdade.


Caminhei apressada até a calçada e quando ouvi minha mãe chamar me pus a correr, sem me importar com que os vizinhos iriam pensar de minha blusa antiga dos Dogers do meu pai, e uma bermuda que mal aparecia diante da barra enorme, corri até que minha pernas cansassem e a voz de minha mãe não ecoasse mais em meus ouvidos. Parei de correr quando achei um banco e me sentei ali, sentindo meu mundo desabar pouco a pouco.