Acordei com o tilintar dos pássaros na janela entreaberta. A luz adentrava calma, furtiva, confortante. Olhei para o espaço vazio do quarto, onde possivelmente estaria um guarda-roupa, recordando a primeira vez que vi o anel. Resgatei uma coragem escondida em algum lugar de mim e desci as escadas, esperando os gritos de uma mulher embrulhando suas “relíquias”.

A casa estava rodeada por um silêncio medonho. Algumas caixas permaneciam entreabertas no meio da sala. Ela não estava lá. Tomei uma xícara de chocolate e lavei a louça.

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Senti-me exasperada ao ver o sofá completamente embalado. Tirei todo aquele plástico, empurrando algumas caixas para o outro lado da sala. Logo, com todo meu esforço, um imenso vazio surgiu no meio da sala, originando um belo espaço para um sofá branco.

A parte mais complicada – e exaustiva – foi tentar muda-lo de lugar. Quando me preparei para terceira tentativa de movê-lo, a campainha tocou ruidosa e importuna. Limpei o suor da testa e tentei recuperar o folego perdido.

Havia três opções sensatas. A primeira seria praticamente descartada, já David estava no hospital. A segunda seria alguém da Fifth Avenue tentando pregar em minha cabeça a palavra de Deus. A terceira seria minha mãe. Ela costuma esquecer as coisas.

— As chaves, aposto – murmurei sarcástica.

Saquei a chave com uma mão, com a outra, escorei-me na porta. Foi um pouco difícil coloca-la na fechadura, ainda estava trêmula pelo esforço com o sofá. Tirei-a rapidamente da fechadura, girando o chaveiro no indicador.

— Por que não me lig...

O ar a minha volta pareceu, abruptamente, denso. As chaves caíram com um baque, um som abafado em meus ouvidos. Meu diafragma se contraiu, como se um soco no estômago tivesse me atingido. De repente, aqueles momentos retornaram em um flash. Recordava-me de tudo. Os gritos, o sangue, as lágrimas, a morte... Era tudo tão vívido, tão cruel.

Ele estava lá. Parado. O sorriso caloroso me convidava a fazer o mesmo. As vestes brancas aparentavam ser novas, iluminando o seu rosto pacífico. Suas palavras soaram como uma doce melodia.

Kat — ele fingiu não ter notado o meu espanto. O sorriu se alargou. – Posso entrar?

A palavra saiu trêmula, precisei repeti-la novamente para torná-la real.

Raj!