Agatus - A Descoberta

As Profecias de Agatus


Acordei do meu sono repentino com Raj acariciando meus cabelos. O sono fora pesado e agitado. Tive um terrível sonho, junto das profecias, certamente na floresta de Agatus. As sombras consumiam minha eficácia e minha força. A cada passo, junto de Kendria, eu perdia-me em uma imensidão tomada pelo crepúsculo. O livro agarrava-se a mim. Raj clamava, angustiadamente, o meu nome.

Sentia-me mal, apesar de um peso gigantesco sair de minhas costas. As profecias foram encontradas, embora minha mãe ainda estivesse desaparecida. Eu sentia raiva dela, devo-lhe admitir, mas parte de mim negava o furor supérfluo. Ela nunca dissera nada sobre meu verídico pai, muito menos sobre Agatus. Não me sentia mal pela magia, era uma coisa amena e até divertida de se fazer. Eu estava exumando pensamentos ruins, isto não era nada bom.

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Repassei meus pensamentos outra vez, observei os lados com o olhar um pouco vago. Raj sentava-se em um banco a minha frente. Estávamos em seu quarto, e, claramente, tudo ali exalava o perfume de seus cabelos. Era irresistível.

– O que aconteceu? - perguntei ainda em meu estado de sonolência.

– Encontramos você caída na floresta – Raj passou suas mãos pelos cabelos negros. Já disse que era irresistível? – Você foi ferida por uma fera de Agatus. Estava agarrada às profecias.

– Onde estão? Não posso deixá-las nas mãos de Victoria...

– Acalme-se, Katharine. O livro está com Christine.

Um suspiro de alivio percorreu meu pensamento, entretanto, acho que Raj percebeu, pois seu sorriso atraente foi devolvido ao seu rosto.

– Eu me sinto mal – declarei sentando-me na cama. – Por quanto tempo eu adormeci? Não me diga que foi por dias, como da outra vez.

Raj alargou o sorriso, iluminado.

– Apenas por uma noite.

– Você ficou aqui ao meu lado por esse tempo todo?

Ele assentiu.

– Você precisava de uma atenção maior.

– Raj, eu estou bem.

– Mesmo? – ele arqueou as sobrancelhas, dissimulando uma ironia inexistente. – Olhe para suas feridas, estão horríveis. Você precisa de um feitiço forte, foi mordida por uma das feras de Agatus.

Fitei a mim mesma. Meus braços e antebraços, ainda recobertos pelo traje negro, encontravam-se rasgados em alguns pontos. Em meu braço esquerdo, uma ampla ferida estendia-se, completamente em carne viva. Meu sangue permanecia seco sobre minha pele. Engoli seco fitando Raj.

– Você ganhou essa.

– Acho que estamos... Empatados?

Assenti. O garoto de olhos negros estendeu sua mão esquerda em minha direção.

– Claro – senti o frio que sua mão oferecia a minha. Ele sorriu e se ergueu.

– Você precisa descansar mais, e irei respeitar isso.

– Eu estou me sentindo suja – reclamei do meu próprio cheiro de sangue seco. – Acho que, o que eu realmente preciso, é de um banho. Um banho quente e, muito, muito demorado.

Levantei-me da cama com um pouco de dificuldade. Minhas pernas protestavam com uma dor latejante. Raj me equilibrou com as mãos em minha cintura.

– Obrigado – aproximei-me da porta, mas meu corpo não a alcançava.

Raj se recostou atrás de mim, reconfortando-me com seus braços. Iniciou uma trilha de beijos por meu pescoço, com pequenos intervalos entre si.

– Hum – gemi com satisfação. O que eu estava fazendo mesmo? – Eu já disse que eu estou suja.

– Não me importo – disse ele entre os beijos. – Katharine...

– O que?

– Já disse que te amo?

Meu coração deteve seus batimentos acelerados. Droga, ele me amava. E... O que eu poderia fazer sobre isto? Talvez fugir? Não, isto não iria resolver nada. Eu não podia dizer... E se eu não o amasse? Acho que David ainda perambula minha mente. O que eu poderia fazer? Minha mente perdia-se em pensamentos confusos. Eu gostava dele, sentia-me bem próxima dele, mas não sei se... Era amor.

Desprendi-me de seu corpo, rapidamente alcançando a porta. Ele ficou completamente inerte.

– Katharine, tudo bem?

Virei-me relutantemente. Meus olhos se encontraram com o seu olhar negro.

Raj...

Ele sorriu, trazendo meu corpo para perto de si. Juntou suas mãos rapidamente, logo revelando uma bela e pequenina flor rosada.

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– Uma flor de lótus – encantei-me com a beleza suntuosa que a flor abrangia. Raj entregou-me a mesma, o sorriso mudou de encantador para sedutor. A flor demonstrava um delicioso perfume doce como... – Então é essa a origem do aroma de seus cabelos. Incrível.

Ele riu puxando-me mais. Nossos corpos permaneciam grudados um ao outro, e eu podia ouvir sua respiração, junto de seus batimentos acelerados.

Você gosta? – sussurrou.

Seus lábios recostaram-se nos meus. Rapidamente, minha mente voltou-se aos pensamentos anteriores. Amor. Será mesmo que eu entendo disto?

Raj acariciava meus cabelos, delicadamente. Ele era doce e terno ao me tocar. Puxava-me mais e mais... Por Agatus, outra vez esqueci-me do que iria fazer. Cedi ao seu encanto, envolvendo meus braços em seu pescoço. Ele sorriu, satisfeito, intensificando cada vez mais o beijo. A flor fora esquecida em minhas mãos. O que estava acontecendo comigo? Ele afastou nossos lábios, relutante.

– Por que você faz isso comigo? – perguntei encarando seus olhos densos.

Ele deu de ombros.

– Você parece gostar - Raj parecia confiante demais. Garotos.

– Sim – desviei o olhar, temendo corar depois da minha afirmação.

Ele sorriu, dando-me um doloroso e rápido beijo. Droga.

– Vá descansar – disse ele deixando-me, em seguida, abriu a porta. – Estarei lhe esperando na sala de Christine.

Caminhei lentamente até a porta, com medo de minhas pernas cederem. Suspirei fundo e segui pelo corredor sombrio.

...

– Droga, Raj! – gritou Diana. O corredor sombrio alongava-se cada vez mais. – Você e Yann são completos idiotas !

Minhas pernas haviam melhorado e minhas feridas haviam sido escondidas debaixo de roupas limpas e cheirosas, embora a enorme ferida alargasse em meu braço. Ainda podia sentir o aroma inexplicável da flor de lótus que Raj me dera. Adentrei na sala iluminada, certamente por magia, e pude compreender o motivo da gritaria. Raj encarava Yann, friamente, empunhava sua varinha prateada, mirando-a no alvo e Diana tentava o impedir, enquanto Jake assistia tudo.

– Parem com essa briga idiota – se impacientou ela. – Ela não vai levar em nada.

– Não quero que toque nela – recomendou Raj. Ramech cintilava em sua mão esquerda.

– Não devo lhe escutar, garoto – contrapôs Yann. Os olhos claros cintilavam em ira. – Ela não é sua, nunca foi e jamais será.

– O que foi desta vez, garotos? – disse Christine adentrando no recinto suntuoso, ressaltado pela discussão de Raj e Yann. Christine notou-me, apertabdo meu ombro esquerdo. – Você está bem?

Raj abriu um enorme sorriso, deixando a briga de lado. Diana revirou os olhos e cruzou os braços.

– Você melhorou? – perguntou ele me estudando.

– Sim.

– Qual é o motivo de tanta preocupação? – perguntou Jake aparentando estar distraído.

– Nenhum – Raj deu de ombros, se recostando na poltrona vermelha ao lado de Jake.

– Olha, garoto – Jake o fitou, sua expressão desatenta persistia. – Eu sei que você gosta dela, não adianta me reprimir. Você e Yann, por pouco, iriam se matar.

Diana suspirou se recostado num canto.

– Vocês são patéticos – disse ela.

Jake riu.

– Diana, você... Está com ciúmes? – provocou Yann. Christine observava tudo, quieta.

A menina levantou os olhos claros, a fúria exalava em seu semblante.

– Yann – suspirou ela. - de todos aqui, você é o mais idiota.

– Essa é a prova mais concreta que tenho – disse ele.

Ela bufou e saiu em disparada pela porta. Jake levantou-se e a segurou pelo pulso. Lançou-lhe um olhar de reprovação e a mesma retornou ao seu prezado canto escuro, com a cara fechada. Ambos na sala permaneceram com rostos inativos. Yann riu do ocorrido, porém Raj permaneceu calado.

Christine difundiu um olhar decepcionado a Yann, apontando o polegar para a porta.

– Ande, Yann – ordenou ela. – Essa sala não absorve mais o seu tempo.

O garoto mirou a porta. Abrangeu um sorriso torto e debochado, ausentando-se.

– Soube que há uma ferida – disse Christine estudando meu braço. – Como a conseguiu?

– Não me lembro.

Todos me olharam com ironia. Mas eu falara a verdade. Não me lembrava de ter recebido tal lesão. Apenas me recordo da face peluda de Kendria, conduzindo-me ao encontro das profecias.

– Ela foi mordida. Mordida por uma criatura de Agatus – contou Diana. – Eu lhe avisei, Katharine – ela apontou o dedo indicador à mim. – Elas são fatais.

– Mas não me lembro, eu juro. Apenas...

Kendria pousou-se em meu pensamento. Não, não poderia ser. Ela não faria isto.

– Ela não me machucaria...

– Quem não lhe machucaria? – perguntou Christine me analisando.

Kendria.

– Quem é... Kendria? – indagou Raj.

– A criatura de Agatus – hesitei. – A qual eu segui, achando o livro.

Diana recuou e Jake se remexeu no assento, indignado.

– Você o que?

– A segui, e... Eu posso jurar que ouvi a voz de minha mãe. Ela falou comigo.

– E o que ela falou com você? – perguntou Christine, parecendo ser a única que me compreendia.

– Ela instruiu o caminho a mim. E encontrei as profecias.

Jake ficou inquieto. Lançou-me um olhar intrigado. Um chama ligeiramente azul se mantinha em seu olhar.

– Como pode nos trair, com uma das feras de Agatus? – reprimiu ele.

– Eu não os traí, Jake – retruquei.

Christine correu e logo se voltou com o livro em mãos. Arrojou o imenso livro na mesa de madeira. O ar ficou pesado. Sufocava-me lentamente a cada ato de respiração. Jake parecia estar prestes a usar seus poderes brutais. Raj pôs seus típicos óculos para leitura. O livro de Agatus folheava-se rapidamente pelas mãos do mesmo, que abrangeu um leve desespero no olhar denso.

– Não compreendo – disse ele. – As profecias não explicam nada com clareza, apesar de conter alguns símbolos em híndi.

Jake o olhou irritado.

– Essas são as profecias cortejadas do mundo – Raj o olhou por cima dos óculos. – Você é um tolo.

Raj o encarou rapidamente, não compreendia o motivo de sua ira momentânea. Retirou os óculos, repousando estes na mesa de madeira.

– As profecias foram criadas por Agatus – contou Christine. – A ajuda de Alaris foi crucial para o primeiro ponto. Até hoje, nenhum feiticeiro, nem mesmo a corte, sabe onde está Agatus. Dizem que ele habita sua floresta, convive com o frio tenebroso, junto de suas criaturas. Seu túmulo jaz junto das profecias.

– Eu o vi – declarei ao meio de um murmúrio, recordando-me da imensa cruz que eu vira na floresta. Então... Era um cemitério, onde Agatus descansava. – Quando encontrei as profecias, um cemitério erguia-se em uma pequena clareira.

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– O cemitério de Agatus foi construído há mais de 3.000 anos. Agatus o construiu, cada lápide de um feiticeiro maior, cada pedestal fora erguido... Mas isto não durou por muito tempo. Agatus desapareceu, ou melhor, sua magia. Ninguém ao menos nunca o viu.

– Ele é um homem... Ou uma mulher? – indaguei.

– Ninguém pode saber – Christine deu de ombros, o que não era muito comum. – Apenas enxergamos o efeito de seus feitiços, mas nunca o compreendemos como homem ou mulher.

– Agatus... É como um fantasma?

– Pode-se considerar que sim – disse ela.

– Eu nunca compreendi o motivo desse esconderijo todo – disse Diana. – Por que ele não sai de seu cemitério e, pelo menos uma vez, visitar a corte? Afinal, a corte é dele.

– Sua magia desapareceu junto das profecias – recomeçou Christine, ignorando o comentário de Diana. – Todos apontavam para a floresta de Agatus, mas muitos feiticeiros morreram em busca do livro. A floresta como sempre, se tornava, cada vez mais, um lugar inabitável. Agatus escreveu as profecias pouco antes de a floresta existir. Elas dizem, em uma forma complicada, como desvendar muitos feitiços elaborados.

– Há mais de 300 anos que ele desapareceu – disse Jake.

– Em uma das profecias – iniciei. – diz como posso ser curada?

Diana dirigiu o olhar para minha ferida. Ela possuía um aspecto apavorante. Senti um breve arrepio em seu olhar azul. Christine estudava cada traço de minha ferida, discreta.

– Não – Raj hesitou ao formular a próxima frase. – Mas conheço um feitiço de cura, irá aliviar a dor.

Ele se aproximou a mim, sobrepondo suas mãos sobre meus pulsos. Jake lhe lançou um olhar feroz. Os punhos jaziam cerrados.

– Isso não irá afastar o feitiço negro da fera.

– Raj – disse Christine. – Faça-o.

Raj hesitou um instante. Olhou para Jake com temor de pronunciar qualquer palavra. Mas ele o fez.

– Não quero – titubeou momentaneamente. – Não quero vê-la sofrer.

Jake franziu o cenho. Não pude impedir um breve sorriso, enquanto Diana revirava os olhos.

– Eu disse que você a amava – reprimiu Jake.

A atenção de Raj voltou-se, inteiramente, a mim. Ajoelhou-se, ainda tomando meus pulsos. Pronunciava palavras estranhas, como na vez em que feri meu tornozelo, na prisão de luz. Era um simples feitiço de cura, o que eu ainda não tivera aprendido. Seus olhos permaneciam cerrados e ele não apertava meus pulsos ao decorrer do feitiço, apenas era delicado.

Vagarosamente, a abertura em meu braço esvaeceu. Senti um ligeiro formigamento nas veias, contudo, a ferida horrenda desapareceu. Raj abriu os olhos, estava feliz com o seu êxito. O ferimento pareceu se curar, mas ainda podia sentir o inchaço em meu braço.

Raj se reergueu, voltando-se a sua posição inicial.

– Obrigado – agradeci. Os olhos dele brilharam.

Jake bufou.

– Isto não garante a nossa segurança – repassou ele. Diana não dava uma mínima satisfação ao ocorrido. – Essa fera pode sair de você e nos matar.

– Isto não é necessário, Jake – disse Raj, exuberando sua calma. – Ela não poderia ficar...

– E se a fera se revelar nela? O que poderemos fazer?

– Alaris é uma boa opção – sugeriu Diana. A mesma passou seu olhar para Christine.

– Concordo, Diana – disse ela firmemente. – Apenas Alaris poderá resolver o seu problema – Christine voltou-se a Raj. – Pode nos levar ao covil de Alaris?

Raj assentiu calmamente.

– Precisamos estar a caminho – disse Diana cautelosamente. – Alaris terá que vê-la.