Agatus - A Descoberta

Uma Prisão de Luz


Acordei em susto com uma voz seca e levemente arrogante em meus ouvidos. Abri os olhos lentamente, me acostumando com a luz fraca que o ambiente emitia. Deparei-me com uma mulher alta, vestida delicadamente com um vestido vermelho escuro, como sangue, cabelos negros, ligeiramente grisalhos, escorriam pelos ombros largos. Victoria. Segurava um objeto prateado como o luar. Uma varinha. Passava esta de mão em mão.

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Um globo de luz, de uma luminescência cegante, encobria tudo ao meu redor. Era como uma prisão eletrônica, se encostasse, morreria queimada. Este era transparente, permitindo-me visualizar os olhos faiscantes de Victoria. Sentia-me presa em um globo de neve. Meus pulsos estavam sangrando, como se garras ferozes tivessem o atacado. Sentia um gosto metálico em minha boca. Sangue. Minha cabeça girava, apenas pensava em Raj, com os pulsos vermelhos e a garganta cortada.

Uma moça de longos cabelos lisos, dourados como o sol, estava escrevendo com uma pena vermelha, rapidamente, em uma folha amarelada, sob uma escrivaninha. Raramente ela desviava o olhar do papel amarelado.

Victoria se aproximou lentamente, com movimentos leves, que faziam o vestido balançar.

– Richard não te mandou aqui à toa - falou ela, com os olhos flamejantes. - Ele podia ter mandado outra pessoa, mais você foi à escolhida. Você é uma filha de Agatus.

Meu sangue gelou. Então, realmente, Victoria sabia de tudo. Raj e Alisha tinham razão.

Observei o lugar. Era uma sala ampla, com quadros grandes e valiosos, tapetarias vermelhas e jarros com flores mortas. Havia uma enorme porta, com detalhes dourados e anjos esculpidos nas maçanetas. A pouca luz deixava o lugar totalmente sombrio.

– O que... – minha voz falhava. Era terrível me esforçar tanto. – Onde está Raj?

Os olhos de Victoria brilharam através da barreira luminosa.

– Raj? – ela dissimulou não entender. – Está morto.

O que? – um grito ecoou dos meus lábios.

Victoria ria.

– Pare com isso, Vicky – disse a mulher de cabelos dourados pela primeira vez.

Victoria lhe lançou um olhar fúnebre.

Katharine – meu nome era um veneno em sua boca. – Achava mesmo que eu não sabia?

– Existem coisas que eu não posso prever – meu tom era amargo, eu detestava isso.

– Claro que não – disse ela. A varinha circulava em seus dedos finos. Esta não estava brilhando, como normalmente Peter brilhava. – Ou será que pode? Ainda não tenho noção dos seus poderes, ratinha.

Ratinha? Ninguém nunca me chamou de ratinha, nem mesmo David em seus momentos de raiva.

– Mas tenho certeza de que eu não sou uma manipuladora, como você.

O rosto de Victoria continuou sem expressão alguma.

– Posso ser uma manipuladora, Katharine – disse ela em um tom sombrio. A parede transparente de luz, iluminava meu rosto por inteiro, fazendo-me estar com olhos semicerrados. – Mas não sou eu quem entrega as cartas tão facilmente, como sua mãe.

Minha mãe? – podia ouvir o desespero em minha própria voz. – O que fez com ela? Você é uma bruxa...

– Pare – disse Victoria fazendo um gesto com as mãos. Sua voz era rígida. – Ela está presa, por um feitiço, um feitiço de Agatus.

– Você a machucou!– a raiva exalava minha voz. Saquei a varinha – Peter – e avancei para a barreira luminosa. Esta rangiu com um choque.

– O que está tentando fazer? – perguntou Victoria escondendo o espanto. A barreira era forte demais para mim. Meus braços eram fracos e pequenos, não eram capazes de romper uma... – Não!

O grito de Victoria pareceu refletir nas paredes e voltar mais alto, enquanto cacos de vidro luminosos voavam pelo ar. Senti meu tornozelo direito queimar. Uma pressão grandiosa se espalhou pelo ambiente, fazendo Victoria desabar no chão. A mulher de cabelos loiros deu salto da cadeira com olhos espantados.

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Corri em direção a porta. Ela era praticamente impossível de ser aberta. Peter ainda brilhava em minha mão.

Peter não vai ajudar, falava para mim mesma. A varinha vai te proteger, as palavras de Raj rodeavam minha mente. Se concentre, Katharine, a voz de Raj soava calmamente em meus ouvidos. Gostaria que ele estivesse ali para me ajudar. Se concentre, se concentre...

A porta abriu em um tranco breve. Victoria tentava se levantar enquanto a mulher corria em minha direção. Cruzei os limites da sala apressadamente. O corredor era escuro e comprido, apenas podia ver a luz prateada de Peter.

Nada naquele momento fazia sentido. Eu estava correndo como uma louca, sem rumo algum. O frio envolvia-me como se a neve pudesse penetrar pelas paredes do lugar e atingir-me friamente.

Tombei em uma sombra negra parada no corredor.

Onde pensa que vai, mocinha? – perguntou a sombra. Sua voz era áspera, dava-me arrepios. Pude ver que era um homem alto de cabelos desgrenhados.

Debati-me contra a sombra, que, agora, forçava meu pulso.

– Pare de se debater! – gritou ele. – Não vai adiantar nada.

Ele me arrastou pelo corredor, eu gritava e praguejava, mas não chorava. O homem jogou-me em uma sala mais iluminada do que o corredor. Cambaleei colidindo minha cabeça no chão. Meu tornozelo ardia. Pude sentir alguém me puxando para si. Os olhos escuros fitavam-me em desespero. Raj.

– Vocês terão um tempo para se reconciliar – disse o homem de cabelos negros. Tinha certeza, seu rosto era familiar.

– Se reconciliar? – perguntou Raj confuso. Suas mãos passeavam por meus cabelos. Isso era confortável. Na verdade, nada era confortável naquele momento. Eu estava jogada no chão, meu tornozelo queimava como fogo e meus pulsos sangravam. – O que quer dizer com isso, Richard?

Richard o encarou com uma expressão sarcástica.

– Você entendeu, garoto – disse ele. Retirou uma chave dourada do bolso, erguendo esta no ar. – Vocês se comportaram muito mal, principalmente você, Katharine – disse ele. Queria levantar do chão e agarrar o seu pescoço e arrastá-lo pelo chão, como ele fez comigo. Mas nas o fiz, estava fraca demais. – Quebrar a prisão de luz? – Richard balançou a cabeça. – Isso não é coisa que se faça.

Ele se voltou à porta.

– Não pode fazer isso!

– Por que não? – Richard interrompeu o grito de Raj.

Ele abaixou a cabeça. Richard o ignorou.

Adeus...

A porta foi fechada em um estalo. Ainda podia ouvir os risos mordazes de Richard. Então, ele era Richard Mayer. O homem que tanto falavam por aí.

– Você está bem? – perguntou Raj.

Não conseguia me levantar, mas o fiz. Raj seguiu meu ato.

– Você está vivo! – minha felicidade era pendente em um sorriso. Raj o retribuiu.

– Bem, estou – disse ele. – Mas você...

– O que foi?

– Seu tornozelo...

Olhei para os meus pés. Meu tornozelo direito sangrava, fazendo meu tênis rosa ficar rubro.

– Como isso aconteceu? – perguntou ele. Sua voz pertencia a uma preocupação severa, o que me assustava.

– Não sei – falei tentando me levantar. A barreira quebrada, os seus pedaços flutuando pelo ar... – Acho que foi na hora que... Eu quebrei a barreira de luz.

Raj ficou pasmo. Suas mãos se desprenderam de meus cabelos.

– Como disse? – ele estava incrédulo. – Como fez...

– Foi Peter, e não eu.

Peter?

– A varinha – ela estava escondida em minha mão. Seu brilho desaparecera. – Foi ela quem quebrou a prisão.

– Impossível...

– Impossível? – Raj não me encarava, apenas o meu tornozelo ensaguentado. – Você mentiu para mim.

– Eu não menti para você, Kat – disse ele.

– Você disse que ela me protegeria, e não foi isso o que aconteceu.

Ele ficou imóvel.

– Mas... – ele fechou os olhos. – Não entendo.

– Eu fui sequestrada!

– Eu também – disse ele, seu tom era mais calmo que o meu. – Você acha que eu queria estar aqui?

– Eu pensei que você estivesse morto!

Raj hesitou.

Morto?

Assenti. As lágrimas subiam em minha garganta ao lembrar da cena, os pulsos sangrando, a garganta cortada...

– Victoria estava lá. Umas criaturas estranhas... E você estava...

O choro veio sem que eu sentisse.

– Não... – disse ele envolvendo seus braços em mim. – Eu estou bem. Foi tudo uma ilusão.

Suas palavras foram um alívio para a minha mente.

– Desculpe-me por tudo o que eu disse. Não foi a minha intenção.

Não podia ver o seu rosto, mas sei que ele estava sorrindo.

– Não. Eu estava errado – disse ele. Seus dedos acariciavam meus cabelos. Sentia um leve arrepio. Sua altura era desproporcional a minha, não conseguia ao menos estar nas pontas dos pés, meu tornozelo ainda doía muito. – Talvez você tenha razão, eu sou um louco.

Nossas risadas se misturaram momentaneamente.

– Por que estamos aqui? – perguntei em meio ao choro.

– Não sei... Talvez por um plano diabólico de Richard – disse ele. – Mas fique tranquila, eu estou com você.