Agatus - A Descoberta

Um Aviso Mental


Minha sombra escura refletia na água, enquanto meus pés colidiam com o chão inundado do corredor sombrio. O suor escorria em minha testa, os cabelos molhados estavam grudados em minha pele repleta de sangue. As velas apagadas deixavam o ambiente escuro, um crepúsculo cinzento se formando a minha frente. Minha garganta queimava em fogo ardente, não permitindo minha fala, ou ao menos, um grito rouco. Podia ouvir os gritos de Raj. Sua voz angustiada clamando o meu nome. Mas o corredor parecia não ter fim. Os gritos aumentavam a cada passo a frente, mas meus olhos apenas enxergavam inúmeras portas brancas na escuridão densa. Era como um labirinto sem fim.

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Um grito aterrorizante cortou meus ouvidos, alertando-me onde deveria entrar.

Uma porta assombrosa, centralizada em uma das paredes brancas que estavam ensopadas de sangue, como se alguém pegasse um balde repleto do mesmo, e arremessasse contra a parede. Um arrepio percorreu por minha espinha.

Vultos negros surgiram ao abrir a porta. Uma figura torta se mantinha de pé ao lado de outra amarrada em um tronco de árvore morta. O chão era de terra, folhas rastejavam pela areia escura.

– Raj? – um sibilo desvaiu da minha boca. A figura contorcida se virou, seus olhos ao meu encontro.

Katharine – disse ele. Meu nome não soava em sua boca de modo estranho, e sim, assombroso. – O que faz aqui?

Meus olhos percorreram seu corpo inteiro. A camiseta clara, ensopada de sangue, estava rasgada e torcida. Um chicote prateado se enrolava em sua mão. Seus olhos eram sombrios, diferentes do normal. Ansiava naquele momento que tudo aquilo acabasse.

– O que está acontecendo? – perguntei. O choro subia junto ao enjoo em minha garganta seca.

A forma sombria, presa ao tronco de uma árvore, se mexeu, praguejando algo ilegível. Raj golpeou este com seu chicote brilhante, acertando-o no rosto. Instantaneamente, este levantou os olhos, pude ver a enorme cicatriz sangrenta em sua maçã do rosto. Yann. Seus olhos giravam fora da orbita. Seus braços fortes estavam repletos de feridas e arranhões, que sangravam impiedosamente. As roupas estavam sujas, uma miscigenação de sangue seco e suor. Cambaleei ao seu encontro em um surto instintivo.

Yann? – seu rosto estava pálido e gélido, ele parecia não estar ali. – Você está bem?

– Afaste-se filha de Agatus – disse Raj em um grito voraz.

– O que você fez? – minha voz se misturou com os gemidos de Yann.

– O que eu fiz? – Raj levantou o chicote à altura dos olhos. – Por que acha que sou bonzinho? O mocinho da história?

Seu tom sarcástico me irritou.

– O que está dizendo, Raj?

– Eu nunca fui o menino feliz que você sempre admirou, Katharine.

Mas nós não nos conhecemos há tanto tempo assim, eu queria dizer, mas minhas palavras foram engolidas pelo som grave do chicote prateado.

– Raj...

– Por favor, Katharine – ele revirou os olhos. Yann se contorcia no tronco da árvore. – Victoria te trouxe aqui para revelar seus poderes. Agatus não te quer viva. Eu não te quero viva!

Raj me chicoteou em um golpe violento, fazendo-me cair no solo de areia. As lágrimas escorriam friamente em meu rosto. Podia sentir a ardência percorrer em meus ombros. Pus uma das mãos nestes, o sangue escorria incontrolavelmente, minhas mãos ensopadas do meu próprio sangue rubro.

O urro elevado de Yann passeou por minha mente...

...

– Acorde! – Raj gritava em meu ouvido.

– O que? – falei ainda atordoada. - Como entrou em meu quarto?

– Magia - disse ele gesticulando com as mãos.

– Não tenho mais privacidade?

– Já está tarde, sabia? – ele ignorou minha pergunta. o meu quarto estava iluminado pela luz forte do dia. Raj estava dobrando alguns lençóis espalhados pelo chão.

– O que está fazendo? – falei esfregando os olhos.

– Arrumando tudo – disse ele levando o monte de lençóis para a cama. Levantei-me um pouco tonta.

– Normalmente, sou eu quem faz isso – ele sorriu enquanto pegava meu celular no chão.

– Isso é seu? – perguntou ele sabendo a resposta.

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– Eu odeio esse lugar – falei manuseando a tela do objeto. – Não tem sinal.

– Sinal? – Raj franziu o cenho. – Ah, você quer dizer do... Telefone? – ele parecia confuso. – Foi Victoria.

– A culpa do meu celular não ter sinal na Índia, é de Victoria? Que sarcástico.

Raj riu.

– Não exatamente – disse ele um pouco embolado com os lençóis. Ajudei o mesmo a se livrar do emaranhado de panos. – Obrigado. Ela fez um feitiço para que ninguém se comunicasse nessa casa.

– Nem TV?

Ele balançou a cabeça.

– Nem TV – disse ele.

– Nossa – murmurei. – Ela deve gostar muito de você.

– Como assim? Ela não gosta de mim.

Revirei os olhos.

– Então por que te mantém preso aqui? Por que sua mãe aceita isso? Olhe para o seu pescoço.

Raj se encolheu na própria camisa, não queria que sua mãe visse aquilo, então usava magia para esconder as feridas.

– Eu não entendo também – confessou ele.

– Sua mãe me contou tudo, Raj.

Ele me encarou. Seus olhos negros brilhavam.

– Tudo o que?

– Sobre o seu pai – ele pareceu se espantar com a resposta. – Você sofreu muito.

Raj se sentou em minha cama bagunçada.

– Foi uma época boa – declarou ele. Olhava para o chão como um alucinado. – Mas ele se foi, e Victoria me salvou.

– Era sobre isso que eu queria falar – ele levantou a cabeça. – Meu pai também... Morreu em um incêndio...

– É uma grande coincidência – disse ele.

– Sua mãe me disse a mesma coisa – sentei ao lado dele. O sol vindo da janela iluminava seu rosto moreno, deixando este dourado. – Eu acho que foi tudo... Combinado.

Ele ficou confuso.

– Combinado?

– É. Ouvi minha mãe conversando com Victoria – Raj prestava atenção em cada palavra dita, como sempre fazia. Pensei nas palavras como se estivesse diante da cena que presenciei. – Ela disse que o incêndio foi proposital, que foi uma distração.

Raj pulou da cama rapidamente.

– Não creio – disse ele pasmo. – Por que Victoria diria isso?

– Eu não sei – dei de ombros. – Ela disse que Richard não poderia me machucar.

Richard Mayer? – ele parecia mais pasmo que antes. – Mas ele está preso.

– Ela disse isso também.

– Ele pode estar preso – disse ele rodeando o quarto. – Mas ele é um feiticeiro maior, um filho de Agatus.

– Mas o que isso pode ter relação com incêndio que matou nossos pais?

Raj parou no centro do lugar me encarando.

– Ele pode fazer feitiços de longa distância. Ele é um homem mal, quer destruir o mundo da magia, e tomar o lugar de Agatus. Ele quer formar um exército de feiticeiros maiores – disse ele. Uma chama pareceu acender em sua mente – Os avisos – sibilou. Eu estava em um estado de desentendimento. – Katharine, Richard está tentando invadir sua mente.