Simplesmente Complicado
Água, toalha e congelados.
A neve ainda descia descontraída. Jin cruzava e descruzava o braço várias vezes. O apartamento já estava quente por conta do aquecedor. Os vizinhos gritavam de irritação no saguão do prédio, o coro das reclamações ecoava pelas escadarias. Eu já não aguentava mais, me levantei e fui caminhando para o quarto.
– Aonde você vai Amy? – indagou Jin se levantando também
– Vou tomar um banho, preciso relaxar um pouco, esses vizinhos me deixam louca – ri dando uma piscadela, ele sorriu e assentiu
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Entrei no chuveiro o mais rápido possível, o frio era intenso. Tomei um banho demorado e me enrolei na toalha, deixando-a presa sob o seio e um pouco acima do joelho. Abri a porta do banheiro e fui em direção ao armário, deixando um rastro molhado pelo trajeto. Abri a porta do armário e ouvi Jin me chamando:
– O AAMY – gritava – cadê o fósforo?
Eu não conseguia ouvir direito, coloquei o cabelo atrás das orelhas e gritei em resposta:
– JIIN, eu não to te escutando, o que?
Ouvi passos rápidos em direção ao quarto, fechei a porta do armário e vi Jin correndo para falar comigo, ele estava desviando o olhar e apalpando a parede para não me ver de toalha. Não pude deixar de dar uma risadinha.
– Que foi Jin? – sorri, ele já estava perto do armário
– Amy, você sabe onde estão os fosf...
Jin não reparou na poça de água à sua frente e acidentalmente escorregou sobre ela. Não tive tempo de me esquivar, ambos caímos bruscamente no chão
– AH AMY– me olhou desesperado, ainda em cima de mim – você ta bem?
Ele jogou seu corpo para o lado ficando de costas para o chão. Apoiou suas mãos na cama e se sentou com dificuldade no chão.
– Que tombão hein – silêncio – Amy?
Jin se levantou de imediato e se ajoelhou ao me lado, me chacoalhando.
– AMY, ACORDA! – gritou desesperado
– Ai Jin... quanta barulheira, para de gritar – resmunguei abrindo os olhos – Ai minha cabeça... SEU TONTO!
O ruivo abriu um sorriso, colocou suas mãos em meu rosto e apertou minha bochecha
– Você me assustou, pensei que você tivesse batido com a cabeça e desmaiado
– Mas eu bati com a cabeça, seu idiota – rosnei enquanto passava a mão na nuca
Estávamos tão distraídos (ou concentrados) com o fato de termos tombado, que nem nos demos conta que eu estava de toalha, e que ela já não cobria quase nada.
– Foi mal Amy, eu tava procurando o fósforo para... para.. – gaguejou, olhando para minha toalha e desviando o olhar apressado, constrangido – Amy...sua toalha...é...
Olhei para meu corpo e vi a toalha até o “limite permitido”. Entrei em pânico. Joguei meus braços contra o tecido tentando ajeita-lo. A toalha parecia presa ao meu corpo molhado, entretanto, por mais que eu a puxasse, não se ajustava. Jin estava desajeitado e atrapalhado, tentava esconder o rosto vermelho de todas as maneiras possíveis. Eu já não sabia mais onde enfiar a cara
– Aa... Amy, é... acho que vou pra cozinha e deixar você tipo, sabe, aquilo lá, é, trocar de roupa né? – gaguejou se levantando, desnorteado e aflito, quase caiu
Permaneci quieta agarrando a toalha. Jin saiu coçando a cabeça para a cozinha. Suspirei jogando meu corpo em cima da cama
– Merda
Alguns minutos depois, quando eu finalmente já estava vestida, fui para a cozinha ajudar Jin a preparar a janta. Não que eu saiba cozinhar, mas fingir ajudar é uma tradição que eu sigo devotamente.
Cheguei na cozinha de fininho e dei um pulo atrás de Jin.
– OI JIN - gritei
Jin deu um pulo para trás jogando a colher no teto.
– Ah Amy... – coçou a cabeça sem graça – Oi
– Jin, me responde uma pergunta – peguei a colher do chão, Jin pegou um copo de água para beber – Você nunca viu uma garota de toalha?
Dei uma piscada para Jin, que cuspiu toda água que tomava.
– Mas o quê – engasgou – Como você vem me perguntar uma coisa dessas sua doida?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Você ficou todo sem graça quando me viu de toalha – provoquei – você nunca pegou uma garota de verdade né?
– Amy – revirou os olhos – você me conhece, e me conhece muito bem, você sabe o que eu faço, não me venha com essa, isso tira o meu brilho – jogou o cabelo, como nos comerciais de xampu - E além disso, você sabe que com você é diferente
– Diferente? Por que diferente ? – cruzei os braços emburrada – Não sou “boa” como as outras?
Jin franziu o cenho e me olhou sério, continuei com os braços cruzados.
– Olha Amy, eu te conheço desde que eu nasci. Brincávamos juntos, crescemos juntos, fugimos juntos. Você é a garota mais incrível que eu conheço, me entende melhor do que qualquer pessoa nesse mundo. E não digo isso só porque somos melhores amigos. É porque eu respeito você. Quando eu digo que você é diferente, você é diferente sim, você não é qualquer garota, entende?
Descruzei os braços. Dei um sorriso acanhado de desculpas e ele passou a mão na minha cabeça.
– Mas se isso te faz melhor, você fica ótima de toalha – fez um sinal de joia – Corpão
– IDIOTA – gritei jogando a colher em sua cabeça,
– Ta bom, parei – riu, colocando as mãos na frente de cabeça para evitar outra colherada. – Não me machuca sua bruta! – Suplicou, aproximei-me de Jin e bufei “bisbilhoteiro” em seu ouvido, que gargalhou enquanto lavava a colher.
– Ah Amy, ainda não achei os fósforos.
– Pra quê você quer os fósforos? O meu fogão não precisa disso
– É porque eu meio que quebrei seu fogão – coçou a cabeça – Eu fui girar o botão de ligar e acho que foi forte demais
– Sai, deixa eu ver isso ai – empurrei
Girei o botão de mil maneiras diferentes e nada do fogo surgir. Fui marchando até o botijão de gás, dei uma verificada e suspirei.
– Estamos sem gás
– Bom, agora que a Senhorita Holmes já terminou o trabalho, pode me dar os fósforos? – perguntou, apontando para o fogão
Peguei a pequena caixinha na gaveta e entreguei a Jin, que acendeu o fogo e começou a esquentar o óleo.
– O que você vai fazer Jin?
– Eu achei umas batatas-fritas no seu congelador, eu pensei em fazer umas pra gente não morrer de fome aqui – sorriu, colocando o avental
– Ah, bem, sabe o que é... – balancei os dedos, tentando enrolar – É que essas batatas estão meio que... Estragadas. Era pra eu ter as jogado fora na semana retrasada, mas como eu nunca abro esse freezer, eu acabei esquecendo.
Jin suspirou e desligou o fogo. Sorri sem graça e ele me deu um peteleco na cabeça
– Cabeção, eu te disse que você ia acabar estragando essas suas comidas congeladas, você precisa aprender a cozinhar sabia?
– Cozinhar é para os fracos, é para isso que servem os restaurantes – respondi
– É, mas pelo o que você esta vendo, não da para irmos a restaurante nenhum agora. Você não tem mais nada para comer aqui? – suspirou, tirando o avental
– Tenho bolachas, serve? – brinquei, mas era a única coisa que eu comia em casa
Jin me deu outro peteleco na cabeça e foi indo em direção à porta
– Vamos pedir comida pros seus vizinhos, eu é que não vou ficar aqui vivendo a base de bolacha – exclamou, abrindo a porta e me chamando. Corri até ele
– Mas eu nunca conversei com nenhum deles, é falta de educação ir por um motivo desses – choraminguei – Tem que ter uma amizade toda antes, sabia?
– Ótima hora para começar uma então – piscou, fechando a porta e me puxando para fora.
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