Tantas pessoas sem nome. Tantos rostos sem identidade.

Jason, segurando uma serra elétrica falsa. Marilyn Monroe, com um sinal pintado e uma peruca loiríssima. Freddy Krueger, com uma luva de aço. Uma linda Bonequinha de Luxo. Vi um par de aros redondos, representando os famosos óculos de Harry Potter. Um casal que pareciam ser Jack e Rose. E vários outros clássicos do cinema.

Há muito eu havia me perdido de Johanna. Fui para o bar improvisado e pedi um coquetel de frutas sem álcool ao barman. Enquanto aguardava ele fazer os malabarismos inúteis para que era pago, observei mais detalhadamente os personagens.

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Ken e Barbie. Argh, aqueles eu tinha certeza se tratar de Glimmer e Marvel.

Nosferatu. Horrível, sempre morri de medo desse vampiro mudo. Onde está o seguro e não assustador Edward Cullen quando se precisa dele?

Espera aí, aquele cara tá vestido do quê?”, pensei ao ver a parte de trás de uma fantasia, que possuía uma capa pesada. “Deve ser outro vampiro do século passado”.

Continuei a encarar as costas do rapaz em meu joguinho de “Que fantasia é essa?” quando o barman me cutucou.

— Alô? — ele estalou os dedos. — Ainda quer sua bebida?

— Quero sim, obrigada.

Sentei em um dos bancos altos e voltei a olhar para a fantasia do garoto. Conde Drácula?

Como se ouvisse minhas questões mentais, o garoto se virou e caminhou na minha direção. Obviamente ele só devia querer uma bebida, mas me ajudou instantaneamente a descobrir de quem se tratava.

Toda a fantasia me faria pensar no ser mítico sugador de sangue, mas ao ver sua máscara branca, escondendo apenas metade de seu rosto, um nome me veio a mente: O fantasma da ópera ( http://imagem.clica.cc/900/900/imagens-419-produtos-8/5-1.jpg?fzoom=true ).

Tratava-se de um de meus heróis favoritos. Quem era Romeu perto de Erik? Romeu, um jovem tão perfeito e Erik, com seu rosto desfigurado e sua alma ainda mais destroçada...

Sempre me perguntei como a idiota da Christine pôde preterir Erik em relação a Raoul. Francamente, as mulheres daquela época eram tão imbecis.

Percebi que enquanto sonhava com Erik e a máscara que escondia o horror contido em seu rosto, não tirei os olhos do mascarado nem por um segundo sequer. Virei de volta a mesa do barman e encarei o copo.

— Minha roupa está manchada? — ouvi uma voz perguntar e levantei os olhos.

— Desculpe?

— Você não parou de me encarar — ele explicou. — Imaginei que algo estivesse errado com a fantasia.

— Não, nada errado. É exatamente o contrário — o garoto piscou os olhos azuis e sorriu. Aquilo pareceu um flerte? Apressei-me em explicar: — Você não me entendeu: apenas gosto da história do Fantasma. Com toda a tragédia que foi sua vida e dedicando-se a amada até os últimos momentos... — Ok, agora eu parecia uma idiota citando um clássico literário em meio a uma festa. A sobrancelha direita do garoto estava erguida, e ele parecia tentar compreender. — Esqueça.

— Não, eu entendo — ele se aproximou e em tom de segredo, confidenciou-me: — É exatamente por isso que eu aprecio esse livro também. Confesso que nunca torci por Raoul.

— Você leu O fantasma da ópera?

— Qual a surpresa? Um cara não pode gostar de livros, é privilégio feminino?

— Não é isso, eu só... estou surpresa.

— Pelo fato de eu assumir que leio, ou não estar fingindo para ter algum assunto com uma garota bonita? — ruborizei com o elogio e tive que lembrar a mim mesma que não se tratava do Anjo da Música verdadeiro. — O outro motivo para eu gostar dessa obra é que eu me identifico com Erik. Não que eu tenha o rosto deformado, eu me sinto como ele. Vazio.

Eu franzi as sobrancelhas e me perguntei se ele estava apenas representando muito bem seu papel, ou estava realmente falando sobre sentimentos com uma estranha. Antes que eu pudesse chegar a uma conclusão, ele riu. Mas sua risada saiu fria e realmente vazia.

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— Veio aqui só para pedir uma opinião sobre fantasias e livros, ou vai pedir algo para beber? — questionei, tentando suavizar o clima pesado.

Ele apontou com um dedo para o garçom e pediu: — Vodka. Pura e dupla.

— Wow. Não é meio forte, não? — surpreendi-me — Quero dizer, a não ser que você queria causar um acidente de trânsito...

— Eu não vou embora de carro — disse simplesmente recebendo o copo de vodka das mãos do barman.

— E por quê? Resolveu entrar de vez no espírito de personagem e se esconder no sótão...

— Eu sou o dono da casa. Dormirei no quarto principal.

Bam! Justo quando eu me dava super bem com um cara — que gostava do Erik! — eu descubro se tratar de Peeta Mellark. A percepção do fato me atingiu como uma bola de demolição.

— E você, quem é? — ele perguntou depois de alguns momentos de silêncio.

Engoli em seco algumas vezes e olhei fundo nos olhos azuis de Peeta.

— Lady Di — estendi a mão, onde ele depositou um beijinho. E em seguida riu.

Eu não daria o gostinho a ele de me transformar em chacota amanhã. Não mesmo.

Espere... Em quem eu estava pensando? No garoto sarcástico e cruel, que já humilhou Clove na minha frente? Ou no garoto doce e romântico, que lia livros góticos do romance, e agora me presenteava com um sorrisinho encantador?

Peeta Mellark. Pelo jeito eu não conheço você tão bem quanto imaginava. Mas pretendo conhecer.

Ah, sim, isso é uma promessa.