Quando se tem filhos pequenos, a Páscoa é sempre simples e divertida. As crianças acordam já em busca dos ovos que sabem que o coelhinho deixou, mesmo sem nunca ter visto o dito coelho. Porém, depois de alguns anos, as coisas começam a se complicar...

Catarina ainda tinha cinco anos, então não desconfiava da história sobre um coelho mágico que fazia ovos e aparecia durante a noite, assim como a história do Papai Noel, e aguardava ansiosamente a perda do primeiro dente para a chagada da Fadinha do Dente.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Porém, Miguel e Isabelle já tinham nove anos, e suas cabeçinhas começavam a ver com desconfiança essas histórias. Quem era esse coelho? Como ele fazia ovos de chocolate para entregar para as crianças e todos os que ficavam no supermercado, para que os tios comprassem e lhes presenteassem?

_ Acho que já está na hora de contarmos a verdade a eles. – desabafou Fabinho, sentado diante do notebook – Digo, pela inteligência que essas crianças têm, fico surpreso de aos nove anos eles ainda acreditarem nisso.

_ Fraldinha, eles são crianças. – bufou Giane – Eles precisam acreditar em coisas, em fantasia...

_ Em magia? – ela o fuzilou, enquanto ele ria.

_ Fabinho, nossos filhos estão crescendo muito rápido. Não vamos nós tentar acelerar isso, por favor. – pediu ela, e o marido concordou.

_ Mas no Natal, vamos explicar o Papai Noel. Pelo menos para o Miguel e a Belle. – Giane concordou bufando – Amor, uma hora ou outra eles vão crescer, você sabe disso.

_ Saber eu sei, mas gostar é outra história bem diferente. – ela se aninhou a ele, que ria – E se estamos falando de crescer... Acho que tá na hora de pararmos de te chamar de Fabinho. Você já tem 35 anos, já passou da idade de ser “inho”.

_ Vocês que me chamam assim. – ele deu de ombros – Eu não me apresento como Fabinho, eu me apresento como Fábio.

_ Difícil vai ser convencer as suas mães.

_ Não discordo. – o homem deu de ombros, apagando o abajur – Bom, as crianças estão dormindo... Quer aproveitar?

_ Você só pensa nisso? – Giane riu, sentindo o marido começando a erguer sua camisola.

_ Pivete, lembra o que eu te prometi na nossa lua de mel? Que nós nunca íamos deixar o fogo entre nós morrer? – ela deu um sorriso carinhoso, nostálgica – Então... O problema é que não podemos deixar o incêndio muito grande, eu tenho que apagar um pouco. E como é muito fogo, preciso de várias sessões.

_ Meu Deus, depois de tantos anos eu ainda não me acostumei com as suas besteiras. – ela gargalhava contra o peito dele, tentando não fazer barulho e acordar os filhos.

_ Você sabe que, se depender de mim, você nunca vai se acostumar. – ele deu seu melhor sorriso.

_ Menos papo e mais ação fraldinha. Tem muito fogo aqui.

~*~

O esquema daquele ano seria o mais trabalhoso que haviam feito. Uma carta chegou alguns dias antes da Páscoa para os três pequenos Campanas, os Vasquez, as Cardoso, os Siqueira (filhos de Jonas e Luz), além de Pedro, que já sabia a verdade, mas ainda fingia desconhecer pelos amigos.

Prezados amiguinhos,

Esse ano, decidi mudar a maneira de lhe entregar seus ovinhos de chocolate. Como sabem, tenho muitos ovos a fazer, e muitas crianças a visitar. E a noite é tão curtinha...

Por esse motivo, decidi que vocês ganharão seus ovinhos juntos, em uma brincadeira muito divertida. Gostam de caça ao tesouro? Eu sei que sim. Então terão a mais divertida de suas vidas.

Na manhã na Páscoa, a casa do vovô Plínio e da vovó Irene vai ser uma ilha fantástica, e vocês serão os piratas atrás do tesouro. O que será que há no baú?

Espero que gostem e me perdoem o transtorno.

Assinado, seu caro amigo Coelhinho”

A letra da carta foi desenhada como se um coelho tivesse escrito (pelo menos de acordo com Fabinho) e assinada e carimbada com uma patinha toda borrada. Ao receberem o bilhete, os pequenos entraram em euforia, contando os dias e as horas para a manhã de Páscoa.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

E quando ela chegou, as crianças acordaram antes das galinhas. Quando Giane e Fábio (estavam tentando se acostumar a não tratá-lo no diminutivo) se levantaram, os três filhos já estavam sentados no sofá da sala, vestidos e arrumados, quicando de ansiedade.

Convenceram as crianças a tomar café da manhã, e conseguiram apaziguar um pouco a ansiedade que os consumia. Mas por fim, perto das 9h, não houve mais o que fazer e toda a família entrou no carro.

_ Cadê a pista do coelhinho? – foi a primeira coisa que Catarina gritou, assim que a avó abriu a porta. Os adultos riram, enquanto ela e os irmãos corriam para dentro. A caçulinha podia ser tranquila em vários aspectos, mas quando se tratava de chocolate, mostrava de quem era filha.

_ Todos estão ansiosos? – perguntou Giane, enquanto caminhavam para dentro da casa.

_ Até o Pedro. – confidenciou Irene, fazendo a nora rir – Ele ficou bravo por não contarmos o segredo de onde estão os ovos, então está ansioso.

_ Fabin... Digo, Fábio. – Malu se aproximou do irmão para cumprimentá-lo, e todos riram – Droga, vou demorar para acostumar.

_ Calma, eu não vou bater se vocês não conseguirem. – riu o homem, abraçando a irmã – Quando vocês conseguirem, beleza.

_ Pensem o quão ridículo é um cara de 35 anos sendo chamado de Fabinho que vão conseguir rapidinho. – garantiu Giane, enquanto cumprimentava os presentes.

_ Gente, menos papo e mais ação. – gritou Rafael, pulando no lugar – Vamos começar a caça ao tesouro.

_ Tão ansioso quanto a Malu. – comentou Plínio, fazendo todos rirem – Muito bem, a primeira pista está comigo. Estão prontos?

_ Me dá isso logo pai. – Pedro puxou o envelope das mãos do pai, rasgando o lacre – “Me encontre aonde os pontos chegaram”. Que droga é essa?

_ Acho que o coelhinho andou observando as travessuras de vocês. – comentou Kevin, enquanto as crianças matutavam suas cabeças.

_ Os pontos do Matheus. – gritou Belle – No dia que derrubamos os biscoitos.

_ Na cozinha. – o grito foi coletivo, enquanto as crianças saiam correndo, deixando os pais aos risos.

Já no outro cômodo, começaram a revistar toda a área onde havia acontecido o acidente de Matheus, incluindo as gavetas, das quais Irene e Margot já haviam removido os objetos perigosos.

Quem achou o papelzinho dobrado embaixo da terceira gaveta foi Gabriela, que começou a pular. Quando tentou ler, a irmã arrancou a dica dela.

_ Se liga pirralha, você ainda não sabe ler. – bufou Marcela, causando um bico na irmãzinha – E nem adianta chorar para a mamãe. Tá bom, a dica é “Splish, splash”. Que tipo de dica é essa?

_ O banheiro? – perguntou Matheus.

_ Não... Acho que a piscina. – Pedro estalou os dedos – Vocês costumavam falar “splish, splash” toda vez que o Binho levava vocês na piscina.

_ Esse coelho tem memória boa. – se surpreendeu Clara, enquanto corriam para a piscina.

Já nos fundos, a piscina estava coberta com a lona, o que significava que a pista estava ao redor. As crianças começaram a se jogar pelo chão, procurando em todos os cantos. Quem achou a pista da vez foi Miguel, que achou algo escrito na parte de baixo da boia de Felipe.

_ “Pula, pula, pula. Cuidado que vai cair”? – ele leu, e todos bufaram.

_ A cama do papai e da mamãe. – Pedro já saiu correndo, com os sobrinhos atrás, todos se dirigindo ao trampolim favorito no mundo todo.

_ Será te o toelho tem tamera ati na vovó? – perguntou Gabi, quando eles chegaram ao andar de cima.

_ Acho que nossos pais fofocaram. – comentou Matheus, enquanto entravam no quarto de Plínio e Irene.

_ Só não façam muita zona. Depois quem leva bronca é o filho, não os netos. – resmungou Pedro, irritado por terem feito uma das pistas levarem àquele lugar, que para ele era completamente proibido.

Claro que a zona foi inevitável, até porque a pista estava embaixo do travesseiro de Plínio. Era uma pista simples, e que eles entendiam muito bem.

_ “Na hora do lanche, tudo vai se encaixar”. Todos para a mesinha da sala. – gritou Belle, já saindo em primeiro.

Como só tinham dois anos, Henrique, Felipe e Larissa estavam sentados com os pais, montando um quebra-cabeça de peças bem grandes, que revelou um mapa, que os mais velhos só descobriram quando acharam a última pista e se prestaram atenção ao que acontecia na sala.

_ Isso, o mapa do tesouro. – gritou Matheus, um apaixonado por piratas.

_ É do jardim. – observou Rafael – Três passos para frente...

_ Dois para a esquerda... – guardou Miguel.

_ Chega no arbusto e dá a volta. – Marcela.

_ Mais cinco passos... – Belle.

_ E chegou. – gritou Catarina, enquanto eles saiam correndo. Dessa vez, os adultos os seguiram para ver o final da brincadeira.

As crianças seguiram os passos com precisão. Três passos a frente, dois a esquerda, dando a volta no arbusto e seguindo cinco passos até...

_ Tesouo. – gritou Larissa, que estava sendo guiada pelo irmão mais velho.

_ Isso. – as crianças começaram a pular, enquanto Miguel e Pedro abriam a tampa – ISSO.

Além dos ovos propriamente ditos, o baú estava forrado de moedas de chocolate, que as crianças esparramaram pelo chão, enquanto viraram o recipiente de madeira.

_ Aqui tem uma lista. – avisou Belle – É de quem é cada ovo. Pedro, Ferreiro Roche. Miguel, Transformers. O meu é da Bela e a Fera. Marcela, da Barbie, e da Gabi também. Catarina, Hello Kitty. Matheus e Rafa, os de vocês são os do Carros. Clarinha, o seu é esse das princesas. Da Larissa é o da Polly. E do Rique e do Lipe, do Mickey.

_ Caramba, como existem tantos personagens? – sussurrou Dorothy, e os pais presentes riram.

_ Espera você ter filhos, que vai descobrir que existem muitos mais. – garantiu Sarah.

_ Eles estão mandando ver nas moedinhas. – resmungou Maurício – Amanhã vai ser um inferno de dor de barriga.

_ De quem foi a ideia brilhante, hein Fábio? – rosnou Camila.

_ Olha, já tão conseguindo me chamar do jeito certo. – riu o homem, recebendo um beliscão da esposa – Posso saber a razão da agressão?

_ A sua existência. – ela suspirou – Melhor darmos um jeito ali, ou daqui a pouco está todo mundo com dor de barriga.

~*~

A noite, os armário da casa dos Campana estavam abarrotados. Cada divisória ficara para uma das crianças, que além do ovo do coelhinho e as diversas moedas, haviam recebido um ovo de cada casal de avós, além dos tios e padrinhos, que deram dois.

Giane já pensava em como controlaria a ansiedade dos filhos por comer os doces, na tentativa de evitar que algum deles ficasse doente. Enquanto ela arrumava tudo acompanhada de Catarina, Fábio estava ajudando os filhos mais velhos a terminarem um dever de matemática que deveria ser entregue na manhã seguinte.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

_ Papai, podemos te contar uma coisa? – perguntou Miguel, e o pai assentiu – A gente sabe que não existe coelhinho da páscoa.

_ Como? – se surpreendeu o mais velho.

_ É, a gente já sabe faz um tempo, assim como do Papai Noel. – explicou Belle – Um dos meninos da escola contou, e a gente pesquisou na internet.

_ E porque vocês não contaram?

_ Ah, a gente até tentou falar com a mamãe. Mas ela ficou meio doida. – contou o menina, e o pai riu.

_ Sua mãe não quer aceitar que vocês dois não são mais criancinhas, mas sim dois “jovenzinhos”. – as crianças riram – Ela concordou em contar do Papai Noel, no final do ano. Mas até lá, vamos deixar ela acreditando que vocês ainda são os bebezinhos dela, está bem?

_ Tudo bem. – concordaram os gêmeos, voltando suas atenções para as lições. Fábio sorriu.

Todos estavam começando a crescer.