Enquanto se cresce, existem várias lições que uma criança deve aprender. Infelizmente, os adultos também. E se tem uma lição que, não importa a idade, é dolorosa de se aprender, é que o pior adeus, é aquele que não pode ser dito.

Menos de um mês antes de Catarina completar seu primeiro ano de vida, o dia amanheceu com uma triste notícia: Maria das Dores da Silva, a vó Madá, não acordou. Quando Pedro bateu na porta e entrou, ela não respondeu. E quando Plínio foi ver o que acontecia, constatou que ela os havia deixado.

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Fabinho e Giane já estavam de pé quando a ligação de Malu aconteceu. Ela dava banana amassada para a filha caçula, e ele terminava de separar as coisas para ir para a agência. Foi Fabinho quem atendeu o telefone e ouviu o pranto da irmã mais nova, mas seu choque foi tanto que a esposa teve que tirar o telefone de sua mão.

Nenhum dos dois sabia o que dizer ou como reagir após isso. Catarina se melecava com seu café da manhã, enquanto os dois se encaravam em silêncio. Era manhã de uma segunda-feira, haviam passado o dia anterior inteiro na casa de Plínio e Irene. Madá havia brincado com Catarina e Matheus durante toda a tarde, já que o garotinho gostava de ajudar a priminha a andar, e a “bisavó” adorava cantar musiquinhas e encorajá-los.

E agora, ela estava morta. Havia partido, e nenhum deles havia tido a chance de dizer adeus como deveria. Ela estava no banheiro quando conseguiram colocar as crianças no carro, e a despedida havia sido um grito de “tchau Dona Madá”.

Como contariam para as crianças? Como explicar a elas o que era a morte? Nenhum dos pequenos jamais havia sentido o que era perder alguém. Quando o aborto acontecera, Giane e Fabinho havia conseguido encontrar uma maneira de explicar, dizendo que o bebê voltaria. Mas ali não havia como isso acontecer, porque ela não voltaria.

Enquanto Giane limpava Catarina, Fabinho foi ligar para Érico e explicar o que havia acontecido. Não iria para a agência no dia, para poder ficar com a esposa e os filhos, além de ir para a casa do pai, estar ao lado da irmã.

Não tiveram muito mais tempo para pensar e discutir o que diriam aos filhos, já que logo ouviram seus passinhos e risadas na escada. Miguel e Isabelle apareceram com as arminhas de dardo do menino, na certa querendo assustar a mãe. Porém travaram ao ver o pai sentado, os dois adultos com as faces tristes, Giane com o rosto marcado de choro.

Os pais os sentaram no sofá, Cat no colo de Fabinho. Eles tentaram explicar da maneira mais simples possível. Disseram que, em uma determinada hora de nossas vidas, todos nós temos que voltar para o Céu, para dar lugar para novas pessoas no mundo, e que a hora da vovó Madá havia chego.

Belle perguntou se ela iria voltar, e Giane negou. Ela disse que quando chega a hora de voltar para o Céu, as pessoas viram estrelinhas. Por isso que o céu era cheio de estrelas durante a noite. Eram as pessoas que já haviam ido embora, que ficavam cuidando de quem amavam enquanto essas pessoas dormiam.

As crianças não choraram, em partes porque ainda não haviam assimilado de todo o que havia acontecido. Na verdade eles demonstraram curiosidade pelo pai estar em casa, sendo que ele já devia estar na agência. Fabinho explicou que não iria trabalhar, e nem eles iriam para a escola. Eles todos iriam para a casa de Plínio, já que todo mundo estava triste e a tia Malu precisava de muito carinho, porque era a que estava mais triste.

Trocaram as crianças, todos em silêncio. Miguel e Belle forçavam as cabeçinhas, tentando entender o que havia ocorrido. Catarina parecia sentir o clima pesado, e estava incomodada no colo da mãe.

Na mansão Campana, o jardim estava repleto de carros. Giane e Fabinho estacionaram no lugar de sempre, descendo os filhos e entrando na casa. Irene veio recebê-los, enquanto observavam todos sentados nos sofás.

As crianças abraçaram todos os mais velhos, se demorando mais em Malu, como os pais haviam indicado. Logo, eram guiados pela avó até o jardim, onde Pedro, Rafael e Matheus já estavam.

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Fabinho ficou longos minutos abraçando Malu, que chorava em seus braços. Não era uma situação fácil de saber o que dizer, para nenhum dos presentes. Não eram uma família convencional, então cada um tinha uma ligação diferente com Madá, e sofria em uma intensidade.

Logo, Plínio avisou que Pedro, Rafael e Matheus ainda não sabiam o que havia acontecido. Pedro apenas achava que a avó havia dormido demais, já que Dorothy o tirara de casa quando vieram buscar o corpo.

Fabinho então se dispôs a explicar para o irmão e os sobrinhos, usando a mesma explicação que havia dado aos filhos. Todos concordaram, e ele saiu para os jardins. Encontrou as cinco crianças em silêncio, sentadinhas no degrau da varanda. Sentou ao lado delas, chamando sua atenção.

Pedro disse que Miguel e Belle haviam contado que a vovó tinha ido para o Céu, e que ela não ia mais voltar. Rafael perguntou se tinha sido como o Mufasa, que tinha deixado o Simba e virado uma estrela, e Fabinho confirmou. Matheus perguntou onde estavam os antílopes, e o tio riu. Ele explicou que nem todo mundo vai embora como o Mufasa foi, que algumas pessoas simplesmente estão dormindo. Miguel perguntou como isso acontecia e Fabinho explicou que era como quando a pilha de um brinquedo acabava e ele ficava imóvel e sem funcionar. A diferença era que não dava para se trocar a pilha das pessoas.

Ele foi questionado novamente se não havia jeito de Madá voltar, de trocar a pilha dela ou nada assim. Ele novamente explicou que não, e que era preciso que algumas pessoas voltassem para o Céu, para que novas pudessem vir. O publicitário teve a ideia de usar Gabriela, a filhinha ainda não nascida de Caio e Camila, como explicação. Madá havia ido embora, deixando um lugar para ela viesse.

Não era uma explicação muito boa, mas para os pequenos bastou. Eles aceitaram e entenderam, deixando-se ficar triste. Porém, logo corriam e brincando, deixando que Fabinho voltasse para dentro de casa. Ele avisou que as crianças já sabiam do ocorrido, e contou o que havia explicado, para que ninguém desse nenhuma bola fora.

A aquela altura, Maurício e Plínio já haviam saído resolver o que faltava da documentação para o enterro. Algum tempo antes, Madá havia passado toda a “responsabilidade” sobre si, para Malu. Nenhum dos presentes confiava em Bárbara e seus golpes de mídia, e a senhora não queria que sua vida, morte ou doenças, virasse um circo da mídia.

O enterro seria às 17h, já que não havia como esperar pelo dia seguinte. Perto do meio dia, a pequena capela do cemitério começou a ser invadida por gente, a grande maioria da Casa Verde. Fabinho, Giane, Caio e Camila se propuseram a distrair as crianças, e os levaram andar.

Pela primeira vez em anos, Giane foi até o túmulo da mãe. Com muito custo, explicaram que a mãe da corintiana estava ali, já que para Miguel e Isabelle, Margot era mãe de Giane. Apesar de já terem explicado diversas vezes que a mulher era mãe de Fabinho, na cabeçinha deles o fato de ela ser casada com Silvério, fazia dela mãe de Giane.

Isabelle adorou a semelhança do nome dela com o nome da avó, e os gêmeos se indignaram por não conhecerem a mãe de Giane. A corintiana explicou que existia outro jeito de a “pilha” das pessoas acabarem, que era quando elas ficavam muito doentes. E que quando ela era bem pequenininha, isso havia acontecido com a mãe dela, e ela tinha ido para o Céu.

Logo tiveram que voltar para a capela, já que o sol forte estava fazendo mal para Camila, e as crianças passaram o restante do tempo sentadas, cada uma presa em seu próprio pensamento.

Quando chegou perto da hora de fechar o caixão, levaram os pequenos para dentro. Catarina dormia no colo de Caio, e ele e Camila estavam com Marcela do lado de fora. Fabinho estava com Miguel, e Giane com Belle. Matheus estava agarrado ao pescoço de Jonas, enquanto Rafael fazia dengo no colo de Malu. Pedro estava no chão, mas segurava a mão dos pais.

Os pais pediram que as crianças se despedissem de Madá. Eles começaram a falar, mas se surpreenderam por ela não responder. Maurício disse que ela estava ouvindo lá do Céu, e que então eles podiam falar. Rafael perguntou como ela ia respirar com o caixão fechado, e Plínio explicou que, depois que a “pilha” acaba, a pessoa não respira mais. Belle perguntou se não ficaria escuro demais, e o pai disse que não. Mas as crianças não aceitaram, e quiseram colocar uma lanterninha dentro do caixão, para Madá acender se ficasse muito escuro.

Por fim, fecharam o caixão e começaram o cortejo. Fabinho, Maurício, Kevin e Jonas guiaram o caixão sobre o carrinho. Miguel foi de mãos dadas com o pai, assim como Rafael e Matheus. Pedro foi segurando a mão de Kevin, enquanto Belle ia segurando a mão da madrinha, dizendo que ela não chorasse ou ficasse triste.

Quando chegaram ao local do enterro, Fabinho pegou a filha de Malu, indo com os gêmeos até Giane. Catarina dormia no ombro da mãe, e a pequena família ficou junta, enquanto o enterro transcorria. Rafael e Maurício abraçavam Malu, assim como Jonas e Matheus consolavam Luz. Dorothy estava abraçada com Bolívar, enquanto Kevin chorava em silêncio, abraçado com a noiva. Pedro começou a chorar do nada, pulando no colo do pai.

Ninguém dizia uma única palavra, e foi assim até o final. Quando colocaram a tampa da sepultura, o som dos soluços ficou mais forte. Miguel e Belle se agarraram mais aos pais, que os abraçaram apertado. As pessoas ao redor começaram a ir embora, deixando apenas a família Campana ali.

Levou um tempo até que eles resolvessem sair, ainda em silêncio. As crianças não se soltavam dos pais, e estes previam que seria uma longa noite. Se despediram no estacionamento, de maneira rápida. Plínio convidou todos para almoçarem no dia seguinte, e eles aceitaram.

No caminho, ninguém disse nada. Catarina acordou e resmungou um pouco, ainda visivelmente incomodada com o clima pesado que haviam vivenciado durante o dia. Belle e Miguel deitaram as cabeçinhas ao lado da irmã caçula, pegando suas mãozinhas e afagando. Giane e Fabinho apenas assistiam pelo retrovisor.

Giane propôs encher a banheira de casa, dando um tempo para as crianças se distraírem. Os cinco entraram na água com espuma, mas os gêmeos estavam com a cabeçinha a mil. Fabinho pediu que eles perguntassem o que quisessem, e assim o fizeram.

Perguntaram como as pessoas morriam, Giane disse que as vezes ficavam doentes, e as vezes eram como Madá, simplesmente chegava a hora de ir embora, e a bateria para de funcionar. Miguel quis saber se tinha como saber quando seria a hora de ir embora, e os pais negaram. Ele então fez a pergunta que tanto martela a todos:

_ E como saberemos quando temos que nos despedir?

Os pais disseram que, infelizmente, não havia como saber. As crianças reclamaram do quão injusto isso era, e Fabinho e Giane concordaram. Mas disseram que as coisas tinham que ser assim, porque ninguém pode saber o futuro. Belle disse que queria ter esse super-poder, e os pais riram.

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Quando saíram da água, Giane foi trocar as crianças, enquanto Fabinho atendia o telefone. Era Malu, simplesmente querendo dizer ao irmão o quanto o amava. Ele disse que também a amava, assim como as crianças e Giane. Ela disse o mesmo sobre Maurício e Rafael, e desligou. Ele então ligou para Plínio e Irene. Os dois avisaram que Pedro já dormia, mas que estava bastante abalado. Parecia que a ficha afinal havia caído. Fabinho falou brevemente com os pais, dizendo que havia apenas ligado para dizer que os amava.

Ligou para Margot logo depois, dizendo a mãe que a amava. Deixou que Giane falasse com Silvério, enquanto levava os pequenos dormirem. Eles pediram para passar a noite com os pais, e Fabinho não quis negar.

Enquanto esperavam Giane, sentaram perto da janela, já que os gêmeos queria encontrar Madá e Isabelle no céu. Fabinho explicou que não havia como saber quem era qual estrela, mas os dois não desistiram. Quando a corintiana chegou ao quarto, os filhos discutiam quem era qual estrela.

Por fim, chegaram ao acordo que não tentariam descobrir. Que todas as estrelas podiam ser as avós, e que isso significaria que elas estariam sempre cuidando deles, onde quer que fossem.

Os pais os levaram para a cama, acomodando no meio do colchão. Catarina ficou aconchegada ao peito de Giane, enquanto os gêmeos se esparramavam ao lado de Fabinho. O publicitário começou a contar uma historinha, enquanto via os olhos dos filhos se fechando. Catarina foi a primeira se render, seguida de Miguel, e por último Belle.

Giane e Fabinho ainda ficaram um tempo acordados, observando os filhos adormecidos. Acomodaram melhor os gêmeos, de modo que pudessem abraçar as três crianças. Fabinho ainda deu um jeito de alcançar o rosto da esposa com a outra mão, afagando os cabelos dela. Ficaram apenas se encarando em silêncio, enquanto esperavam o sono os tomar.

Às vezes palavras são importantes, mas os gestos e olhares valem muito mais. E se tiver que usar algo como despedida, que seja a coisa mais pura e valiosa que existe.