A vida após a perda do bebê foi sendo retomada lentamente. Miguel e Belle continuavam a pedir que o Papai do Céu mandasse o irmãozinho, mas não mais falavam sobre isso com os pais. Giane havia retomado o trabalho e a vida normal, e ido algumas vezes conversar com uma psicóloga amiga de Plínio. E Fabinho tentava balancear tudo que acontecia na casa, para que todos ficassem bem.

_ Amor, chegou um bilhete da escola das crianças. – avisou Fabinho, passando o celular para a esposa – Vai ter uma festinha para o dia das mães.

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_ Quando vai ser? – perguntou ela, olhando o e-mail por cima, logo voltando a atenção as panelas.

_ Sexta-feira que vem. – ele pegou os pratos no armário – No e-mail fala algo sobre uma apresentação a noite, e depois uma festinha para eles darem os presentinhos.

_ Acho que tá explicado porque eles estão cantando Roberto Carlos. – Giane apontou a sala, onde as crianças cantarolavam “como é grande o meu amor por você”.

_ A música mais clichê da história do dia das mães. – riu Fabinho, enquanto levava os copos para a mesa.

_ Mamãe, te tor você gota? – perguntou Belle, entrando na cozinha.

_ Sua mãe adora azul. – avisou Fabinho, e Giane o fuzilou – Qual é... Devo te lembrar quantos momentos marcantes nossos você estava de azul?

_ Na frente das crianças, você vai é ficar quieto. – avisou a corintiana – Mas o papai está certo meu amor. Eu gosto muito de azul.

_ Tato, a mamãe gota de azul. – gritou a menina, correndo para a sala, deixando os pais rindo.

~*~

_ Já pagamos uma nota da mensalidade, e ainda temos que ficar pagando extras para essas fantasias? – indignou-se Fabinho, enquanto ele e Giane terminavam de vestir os filhos – Com os mesmos cem reais, eu comprava roupas bem mais bonitas para eles.

_ Fabinho, é parte do pacote. – riu a mulher, terminando de ajeitar o vestidinho de Belle – E você vai ficar babando quando eles estiverem se apresentando, não vai nem lembrar que pagou caro pelas fantasias.

_ Giane, eu babo neles até sem roupa, porque eles são perfeitos. – garantiu o publicitário – Mas ainda acho cem reais um assalto.

_ To boita papai? – perguntou Belle, rodopiando com o vestidinho lilás.

_ Vai ser a menina mais bonita de todas. – garantiu o pai, a pegando no colo – E você vai ser o cara mais gato, tenha certeza disso filho.

_ Num goto de gavata. – reclamou Miguel, afrouxando a gravatinha preta. Sua camisa era lilás, e a calça preta – Apeita.

_ Mas você está muito bonito, e a Marcela também vai achar isso. – comentou Giane, vendo o sorriso do filho se alargar – Gente, é impressionante. Esses dois nasceram para se casar?

_ Destino é uma coisa que não se brinca, pivete. – riu o marido, pegando os dois filhos no colo – Vamos?

~*~

_ Boa noite senhores pais. – a professora da turminhas das crianças subiu ao palquinho – E um boa noite especial as mamães, porque afinal, é o dia delas.

_ Eu adoro o dia das mães. – comemorou Camilinha – Nos dois que se passaram, o Caio fez tantas surpresas com a Marcela.

_ No do ano passado, o Fabinho e as crianças fizeram uma caça ao tesouro até os presentes. – contou Giane – Mas eles não aguentaram e saíram correndo pegar os presentes antes mesmo de eu ler a segunda dica.

_ Parem de tricotar e vejam a apresentação. – mandou Fabinho. Caio estava lá na frente, com a máquina, fotografando – Eles vão começar a cantar.

As crianças subiram ao palco, guiadas pela professora. Miguel estava entre a irmã e a prima, e os três acenaram para as mães, assim que as localizaram.

_ Eu tenho tanto para lhe falar... – as doze crianças da turma começaram a cantar, e apesar da dicção falha da idade, levaram as mães e pais presentes às lágrimas.

Fabinho e Caio fungavam por trás das câmeras, o primeiro filmando, o segundo fotografando. Giane e Camila soluçavam copiosamente, enquanto viam os pequeninos fazendo a pequena coreografia de gestos.

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_ Como é grande o meu amor por você. – as crianças terminaram a música – Te amo mamãe.

Todos na plateia levantaram, aplaudindo incansavelmente. As crianças agradeceram, recebendo os embrulhos das mãos da professora. Os pequenos desceram do palco, correndo até onde estavam seus pais.

_ Mamãe. – Miguel puxava a irmã pela mão, cada um com um embrulho. Giane ajoelhou no chão, abrindo os braços e os acolhendo neles – Goto?

_ Eu amei meus amores. – ela beijou o rosto dos dois – Vocês cantaram muito bem.

_ Tem pesente. – Belle mostrou o embrulho – É azul.

_ Por isso que você perguntou a cor favorita da mamãe? – riu a mulher, pegando os dois embrulhos.

_ Não, pa faze o pota-etato azul. – explicou Miguel, e Giane desembrulhou o presente dos dois ao mesmo tempo – Viu, azul.

Cada um havia dado um porta-retratos, o de Belle todo decorado com estrelas e corações, o de Miguel com sorrisos e carrinhos.

_ Que fotos lindas. – ela sorriu, vendo as duas imagens.

_ O papai ajudo a estole. – contaram as crianças. A foto de Belle era ela e Giane no parque, sentadinhas no balanço. A de Miguel, ele estava no ombro da mãe, na praia.

_ Escolheram muito bem. – ela beijou o rosto dos dois.

_ Paabens mamãe. – os gêmeos beijaram a mãe, a abraçando – Você é a melor mãe do mundo. – completou Belle.

_ Eu amo vocês, tá bom? – ela beijou os dois, levantando com eles no colo. Virou-se para o marido, que sorria largo para ela – Vocês todos.

_ Olha o que minha pequena artista fez. – cantarolou Camila, mostrando o porta-retratos que Marcela lhe dera, todo rosa e com corações vermelhos – Não é uma artista?

_ Ficaria melhor sem você na foto. – alfinetou Fabinho, fazendo todos rirem. Exceto Camilinha, claro, que lhe mandou a língua, irritada – Bom, to com fome... Quem quer pizza?

_ Eeeeeu.

~*~

Na manhã de domingo, Giane acordou com a cama vazia. Sabia que Fabinho e as crianças preparavam uma surpresa em algum canto da casa, mas tirou um momento para refletir. Fazia apenas 45 dias que havia sofrido o aborto, e era um dia especial como o dia das Mães.

Em grande parte do tempo, a rotina agitada e a presença da família a distraiam, mas às vezes, durante o banho ou em um momento tranquilo, ela se pegava alisando a barriga, pensando em como ela estaria se tudo não tivesse acontecido. Já estaria para entrar no quarto mês aquela altura, provavelmente já daria para perceber o crescimento.

A noite, quando rezava com as crianças (algo que as avós haviam proposto que ela e Fabinho fizessem, para dar uma formação religiosa aos gêmeos), sempre pedia que Deus estivesse cuidando muito bem de sua estrelinha, porque era isso que acreditava que o bebê havia se tornado. Uma estrelinha no céu, que ela podia ver a noite, escondida na imensidão.

Depois de um bom tempo, resolveu levantar. Apanhou o robe, vestindo-o por cima da camisola. Quando ia sair do quarto, viu uma caixinha de presente sobre a penteadeira.

Para a melhor mãe do mundo, a esposa mais incrível e a melhor amiga que alguém pode ter. Sei que te agradeço todos os dias, mas hoje é dia das Mães, então só me resta agradecer de novo: obrigada pelos nossos anjinhos e pela estrelinha que está no céu. Eu te amo muito.”

Ela baixou o bilhete, os olhos cheios de lágrimas. Ela pegou a caixinha, soltando o laço com cuidado. Abriu a tampa, encontrando uma caixinha de joalheria. Abriu com cuidado, sorrindo para o que via.

Ali estavam um menininho, uma menininha e uma estrela, presos a uma corrente de ouro delicada. Ela começou a chorar, alisando os três, sentindo o coração se aquecer. Havia sido um lindo gesto do marido.

Colocou o colar no pescoço, correndo para o banheiro limpar as lágrimas e o rosto. Quando se recompôs, suspirou, saindo do quarto. Do topo da escada, viu a mesa posta, Fabinho de pé ao lado dela e os gêmeos lhe esperando com um cartaz.

“Feliz dia das Mães para a melhor do mundo. Nós te amamos ♥”