Não reagi por um bom tempo. Esperei que a vertigem passasse e levasse consigo a ilusão formada em minha mente.


Realmente aquilo não podia estar acontecendo.


Depois da vertigem senti algo subir dentro de mim. Virei pro lado e vomitei.


Sakura - ou a ilusão – segurou em torno dos meus ombros, me apoiando para que eu não desse de cara com o chão. Senti o ombro fisgar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

-Ai... – emiti um som rouco. Eu nem me reconhecia. Seria a vertigem?


-Espere. – a ilusão respondeu com força e suavidade na voz ao mesmo tempo.


Começou a desenfaixar meu braço e soltou um som de susto.


-OH! – foi o que ela disse. Vi cada emoção que apareceu em seu rosto. Meus olhos não se desviavam dele.


Ela começou a tocar de leve as bordas do corte profundo e ainda aberto do meu ombro. Senti uma fisgada percorrer todo o corpo e descer pelas minhas costas quando ela pôs a mão exatamente sobre a ferida. Retirei o braço bruscamente. Ela, num gesto rápido, passou a mão por baixo do meu ombro bom e me fez voltar pra perto dela. Seus olhos verdes estavam sendo minha anestesia, embora a sua ilusão tivesse despertado meus sentidos.


-Acalme-se – seu tom era ríspido, como o de uma medica que faz seu serviço no hospital.


Eu queria pronunciar seu nome, mas e se a ilusão se fosse? Eu estaria sozinho de novo. Senti uma pontada de agonia atravessar meu coração quando pensei na possibilidade de me ver só. Tremi.


-Dói? – ela perguntou. Agora eu percebia que ela estava limpando o ferimento ensangüentado. Teria todas as possibilidades de doer, se não fossem seus olhos verdes me encarando, ainda que profissionalmente.


-Não... – sussurrei num tom fraco. Parecia que eu não tinha nem forças pra falar.


Observei suas mãos delicadas e precisas trabalhar rapidamente em meu ferimento. Ela usou algum jutsu de cura, então a ferida logo começou a fechar.


Eu não sei quanto tempo demorou aquilo. Que demorasse a eternidade, eu não me importaria. Eu não estava só.


Ela logo terminou, e começou a enfaixá-lo de novo. O que ela faria assim que acabasse? Iria embora? Talvez sua passagem por ali fosse um mero acidente.Ela terminou de enfaixar meu braço. Tentei movê-lo.


-Ah! – uma dor maluca tomou conta de mim e de novo ela me envolveu antes que eu caísse.


-Não tente se mexer, Sasuke.– disse ela. Depois mudou sua face para algo talvez mais simpático. Eu passara tanto tempo sem vê-la que nem sabia o que era bom ou ruim ali.


Os olhos verdes me encararam de novo, fazendo a dor do braço sumir imediatamente. Então ela fez menção de se levantar, mas eu não podia deixá-la ir. Tirei rapidamente a mão do ombro ferido e segurei seu pulso.


-Sakura... – seu nome atravessou minha garganta como um raio que corta o céu. Estrondoso, magnífico. Eu queria que ela ficasse ali. Machucaria-me mais umas cem vezes, me jogaria do penhasco de novo, se fosse preciso. Nem o medo de encarar aquela queda vertiginosa podaria ser maior do que o medo que eu sentia agora, de vê-la ir embora.


Aquilo me fez pensar: e o que ela sentiu quando eu a deixei?


Estremeci. Nesse momento a idéia de me jogar do penhasco voltou à cabeça, mas com o mesmo propósito de antes: dar fim a minha vida inútil e maldita. Eu só servia para atormentar os outros. Por que ela viera até mim?


-Sakura...–voz ecoou de novo, trovejando em minha mente e me trazendo lembranças. Tudo o que eu achei que tinha deixado pra trás antes de me jogar do outro lado do abismo achou um jeito de voltar a mim. – Por que.... por que você está aqui?


Meu medo de ouvir uma resposta absolutamente natural torturou a minha cabeça pelos segundos seguintes, até que ela pudesse responder.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

-Eu... – ela abaixou o olhar. Sem duvida tinha medo do que ela mesma ia dizer. Usei o braço ferido para levantar seu rosto e fazê-la me olhar.


-Diga. – eu queria ouvir, ainda que fosse ruim, ainda que fosse um simples: estava no meio de uma missão e vi você se jogar. Eu não podia não fazer nada.


-Eu estou no meio de uma missão....


Meu Deus, o que eu vou passar?


-Vim.... p-procurar...você. –seus olhos se abaixaram e uma cor vermelhinha apareceu em suas bochechas.


Foi como se minha alma tivesse se desprendido por um momento e agora voltasse queimando algo que eu não sabia dizer o que era. Mas não consegui ter nenhuma reação. Minha mão ainda segurava seu pulso, impedindo-a de ir.


-Sakura...... obrigado. – foi a única coisa que eu disse. Embora me trouxesse de novo a imagem que eu podia ter deixado como ultima na mente dela. “Sakura, obrigado.” Naquela época, a frase tinha o mesmo sentido que hoje, mas não tinha a mesma intensidade que agora. Nos últimos dias eu tinha aprendido a sentir a falta dela, e só agora percebia isso.


Ela gelou ma minha frente. Empalideceu. Pensei que fosse desmaiar.


-Sakura? – ela não reagia. Olhava pra mim sem reação alguma. – Sakura, o que você tem?


Então ela piscou e saiu do transe.


-Você vai desmaiar se continuar aqui. Vem – ela se soltou do meu pulso antes que eu quisesse liberá-la. Levantou-se e estendia a mão pra mim.


Segurei em sua mão achando que não faria muita diferença, mas fez.


Ela passou o braço em volta de mim e começamos a correr. Senti-me a coisa mais ridícula do mundo quando percebi que ela segurava mais meu próprio peso do que eu.


-Sakura, você não me agüenta. – disse pra ela. Minha voz ainda fraca. Ela tinha razão, eu acabaria desmaiando se continuasse ali.


Um sorriso sarcástico apareceu no rosto dela.


-O problema é que eu quero chegar lá hoje. Isso seria impossível se eu esperasse você andar.


-Lá? Onde? – realmente, onde ela poderia me levar?


-Não questione. – sua voz agora era severa.


Não me atrevi a questionar.