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"Você não vai morrer uma velha sozinha"


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Você não vai morrer uma velha sozinha, cercada por gatos.”

Por: Hana Laufeyson

Olhei-me no espelho mais uma vez. Os longos cabelos castanhos trançados com uma fita branca, que combinava com o meu vestido que ia até o meu joelho e sandálias gladiadoras marrons, que modelavam a parte inferior da minha perna.

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Até então eu não entendia o motivo de querer me sentir bonita para visitar meus amigos em sua casa. Talvez por que eles eram os filhos de Odin. Talvez por que eles morassem em um castelo. Ou talvez por que eles eram da realeza. De qualquer forma, era uma necessidade abrir o meu armário e tirar de lá um de meus melhores vestidos, amarrar meus cabelos nos melhores penteados e usas uma de minhas melhores sandálias. Só para conversar com os meus amigos.

E eu me sentia estúpida por fazer isso. Nunca fora uma pessoa vaidosa e para simplesmente fazer uma visita, tinha que me arrumar como se fosse a uma festa?

– Lisanna? – escutei a voz do meu pai vinda do andar de baixo – Você está em casa?

– Sim! – vi meu reflexo mais uma vez e corri para fora de meu quarto – Mas já estou saindo.

– Posso saber para onde? E por que vai com essas poucas roupas? – arqueou-me uma sobrancelha

– Não há absolutamente nada de errado, meu pai – sorri de canto, para o seu muxoxo – E estou indo à casa de Odin, para visitar meus amigos.

– E volta de que horas?

General Hiln. Um dos poucos comandantes de real confiança do pai de todos. Esse fora um dos motivos para que eu conhecesse Thor e Loki. Nos jantares que Odin dava, eu estava sempre presente e era obrigada a ficar na presença dos dois.

– Sinceramente? – fui até a porta – Não faço ideia.

– Não volte tarde, Anna. Está avisada.

– Adeus, meu pai – sorri para ele e saí de casa.

L-I-S-A-N-N-A

Caminhar em Asgard era simplesmente magnífico. Você podia cumprimentar todas as pessoas na rua, que elas falavam com você de volta, com um belo sorriso no rosto. Vez ou outra, ao olhar para o céu, podia-se ver os pássaros voando e sentir a sua liberdade.

Sem pressa, cheguei ao palácio. Os guardas me pararam na entrada.

– Estou aqui para ver Thor e Loki – sorri. Eles me conheciam – Eu prometo que não tenho nenhum plano para atentar com suas vidas.

– Pode passar, Lisanna – ele assentiu.

Escutando meus próprios passos no salão de entrada, fui andando até o pátio interno, onde escutei o tilintar de espadas se chocando. Assim que senti a luz do dia bater novamente em meus olhos, vi Thor e Sif treinando. Hogun, Volstagg e Fandral observavam ligeiramente animados. Eles se movimentavam com agilidade em um campo pequeno e limitado. Ele atacava, ela desviava e vice-versa. Ambos ofegantes, o que dizia que eles estavam a, no mínimo, meia hora naquela situação.

Vi o peitoral exposto do loiro arquejando, enquanto brandia a espada novamente para Lady Sif, que, pelo menos para mim, estava babando nos músculos do príncipe. Ninguém podia negar que: Thor era um projeto de perfeição. Alto, lindo, loiro, olhos azuis e realmente gostoso, era um grande amigo meu.

Mas eu sempre achei ele muito agitado, sabe? Como se achasse que podia fazer milhões de coisas ao mesmo tempo, sem tempo para esperar. Era por isso que eu não conseguia evitar compará-lo ao irmão: sempre tão calmo, paciente, capaz de esperar, “uma coisa de cada vez”.

Mas era isso o que equilibrava. Eu tanto gostava de sentar e ler um livro com o moreno, quanto gostava de ir para festas com o loiro. Eu tanto gostava de ter conversas descentes com Loki e sair gritando pelos cantos com Thor. Talvez tenha sido por isso que eu nunca consegui dizer exatamente com qual dos dois eu era mais chegada. Ambos eram meus amigos. Ponto final.

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Fiquei observando-os por dez minutos. Da última vez que eu aparecera no meio de um treino, chamei a atenção de Thor e ele perdeu a luta. Preferi ficar calada dessa vez.

Porém mais vinte minutos se passaram e eu comecei a achar que ficaria ali o resto da tarde e olha que eu ainda queria ver o Loki. Decidi que iria falar com Thor depois. Assim que dei as costas, escutei meu nome ser chamado:

– Anna! – era Thor, que largara a espada no chão e pulara o cercado de madeira que limitava a área de batalha.

Sorri e me virei, indo até a pequena escada de pedra e descendo-a.

– Estava desistindo de me ver? – deu seu famoso sorriso resplandecente.

– Eu estava indo falar com o Loki – sorri, vendo-o fazer um leve biquinho – Pensei que o treino iria demorar mais.

– Há quanto tempo! – ele abriu os braços e correu em minha direção. Corri na direção oposta.

– Você está suado, Thor – revirei os olhos e me afastei dele, escutando-o rir alto.

– Você gosta exatamente assim – claro que ele me alcançou e me apertou em seus braços exageradamente fortes – Suado.

– Eu tenho um gosto melhor, bonitinho. – sorri e olhei em seus olhos azuis – Não me contento com qualquer coisa.

– Como se o príncipe de Asgard fosse qualquer coisa – ele fez uma falsa cara de sério.

– Não se esqueça de que existem dois príncipes em Asgard, Sr. Convencido.

– Ah – ele me soltou e franziu o cenho – Então esse seu “gosto melhor” seria o Loki?

– Eu nunca citei nomes – revirei os olhos e me dirigi à Sif, que me encarava insistentemente, Hogun e Fandral, que me olhava com um sorriso amistoso – Heey!

– Nós fomos deliberadamente ignorados aqui – o loiro fez um gesto com as mãos e caminhou até nós. – De qualquer forma, olá, Lisanna.

– Faz realmente muito tempo que você não dá o ar das graças, Anna – Volstagg me deu um abraço forte. Pude jurar que meus olhos tentaram saltar das órbitas.

Sorri para ambos e me virei para o moreno, que me deu um singelo aceno de cabeça.

– Podemos saber o motivo da visita? – a morena caminhou até nós, limpando um pouco da sujeira que se acumulara em seu rosto.

Eu francamente não sabia o motivo de ela me odiar tanto. Sif era o tipo de mulher que as garotas dizem “eu quero ser como ela quando eu crescer” (inclusive eu, caso não tivéssemos a mesma idade). Aquela mulher era um exemplo a ser seguido e, na minha cabeça, nós tínhamos tudo para ser amigas, mas ela realmente me odiava.

– Só vim para dizer que não morri – dei de ombros – Queria ver vocês. Estão sempre tão ocupados em missões que não me lembro da última vez que sentamos para conversar.

– É por que nós temos o que fazer – ela trincou os dentes e estreitou os olhos para mim – Tarefas a cumprir.

Ela com certeza disse que tudo o que eu fazia em Asgard era vadiar. Pelo menos a ironia em sua voz eu fora capaz de captar.

Demorei dois segundos para processar a sacanagem que aquilo fora para com a minha pessoa. Talvez eu não fosse bem vinda ali. Talvez eu estivesse simplesmente me auto integrando ao grupo, quando nenhum queria a minha presença. Talvez eu estivesse sendo prepotente demais para ver que o meu negócio era me sentar e ler. Não ficar tentando brandir uma espada. Mas aquilo nunca fora novidade para mim, afinal. A única coisa que eu chegava perto de ser boa, no meio de essas coisas de luta, eram o meu arco e flecha.

Palavras não eram suficientes para descrever o meu constrangimento e tudo o que eu precisei foi de um contexto para sair dali. Algo plausível o suficiente. Vi o moreno repreendê-la, mas tudo o que a mesma fez foi dar de ombros.

– Eu... – pensei em uma coisa decente – ... vou ver Loki. Vejo vocês mais tarde.

Sem dizer mais nada, subi a escada novamente e voltei para um dos corredores que cercavam um dos muitos pátios internos do castelo.

– Anna! – a voz preocupada de Thor não me fez parar. Só tive tempo de escutá-lo sibilar para Sif: – Se você não têm nada de bom para dizer, por que simplesmente não fica calada?

Eu provavelmente deveria estar com o nariz vermelho, tamanha a minha vontade de chorar. Comecei a andar a passos largos pelos corredores, até ver um grupo de servas que iam em direção aos quartos.

– Com licença – chamei suas atenções – Vocês sabem onde o príncipe Loki está?

– Provavelmente na biblioteca – uma delas me respondeu e agradeci.

Fui andando até o lugar. Dois andares acima. Andando pelo corredor, observei o quanto a cidade era bonita vista dali. As grandes janelas de pouco menos de dois metros de altura faziam com que todo o corredor ficasse iluminado com a luz do sol.

E, então, eu finalmente chegara em frente a grande porta escura. Respirando fundo e tentando ignorar o que acabara de acontecer no pátio interno, empurrei com força a porta pesada e passei meus olhos pelo local.

Gigantes estantes de livros cercavam o ambiente dos dois lados. Na parede oposta à porta, uma gigante janela de vidro, com vista para o outro lado da cidade e, recostado à mesma, Loki, lendo um livro que reconheci, apesar de nunca ter lido, ao menos saber sobre o que era.

– Me promete uma coisa? – falei, fazendo-o olhar imediatamente para mim – Que independente de quem eu seja, você nunca vai me excluir?

– Anna! – em dois segundos ele já estava do meu lado, apertando-me em um de seus tímidos abraços.

– Eu estava com saudades, Odinson – sorri, com o rosto enterrado em seu ombro. Ele apertou-me mais – Você não vai me visitar nunca.

– Eu pensei que você tinha viajado – ele me olhou nos olhos.

Eu nunca conseguira decidir se os olhos do moreno eram azuis ou verdes. Acho que um pouco dos dois. Eu sempre o achara a coisa mais complexa a ser decifrada e eu via isso perfeitamente refletido em seus olhos.

– O que você estava falando sobre eu nunca excluir você? – ele arqueou uma de suas perfeitas sobrancelhas para mim. Corei com a estupidez da minha preocupação.

Perto dele, tudo parecia simplório, insignificante demais para que eu fosse encher Loki com meus problemas.

– Anna – ele sorriu terno, olhando-me calmo – Saiba que eu sou seu amigo. Nunca seus problemas serão algo para me incomodar.

– Eu não já pedi para você parar de ler a minha mente? – fiz uma expressão raivosa.

– Às vezes é inevitável – levantou os braços para o céu e eu ri – Mas me fale... O que te aflige?

– Eu me pergunto o porquê de Sif me odiar tanto. – franzi o cenho – Eu queria ser sua amiga.

– Anna... – ele riu, olhando-me com o olhar que só ele fazia – Você é tão ingênua.

Eu simplesmente não entendia por que ele me chamava de ingênua. Não era como se a mulher realmente tivesse motivos para me odiar.

– Obrigada – ironizei – É bom saber que eu posso contar com você para me pôr para cima, Loki.

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– Estarei sempre aqui – riu e se sentou novamente, olhando-me profundamente – Como têm passado a vida, Lady Lisanna?

...

Não aguentamos passar meia hora na biblioteca e fomos caminhar nos jardins. Desde pequena, aquele era o meu lugar preferido. Tanta variedade de flores, plantas e o cheiro de grama recém cortada era apaixonante. Junto com o cheiro de livros novos. E o cheiro de chocolate.

Desde o pequeno incidente com a morena, eu não vira mais Thor e isso me entristeceu bastante. Sempre que ele me chateava e eu ficava triste, ele vinha até mim e me dava um abraço. Ao que me parecia, eu não o conhecia mais, afinal.

Fui tirada dos meus pensamentos quando vi Loki segurando um livro tirado de sabe-se lá de onde.

– Eu não sabia que se interessava por literatura de Midgard – dei uma risada – “Como Gostais” de William Shakespeare?

Vi-o sorrir e olhar fundo em meus olhos. Pegou o livro e pôs em minhas mãos.

– Ato V, cena II. A fala da personagem Rosalind – olhou para o objeto, indicando para que eu o abrisse.

Procurei a referência e encontrei a fala que ele (aparentemente) queria que eu lesse. Então recitei:

– “Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram; assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo; assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio”.

Tirei meus olhos do livro bem cuidado e levantei-os para Loki, que me encarava com aquele misto verde-azulado brilhando. Pegou o objeto e caçou outra página, para logo ler em voz alta:

– “Se não te lembras as menores tolices que o amor levou-te a fazer, é por que jamais amaste”

Fiquei olhando para ele com as sobrancelhas arqueadas. Eu não sabia o que dizer, mas ambas as citações eram igualmente bonitas. Também não fazia ideia do que ele quis dizer, me mandando ler essas citações.

– Isso é... – franzi o cenho – Lindo.

– É de um escritor antigo de Midgard. Seus livros são bons. – comentou – Já li vários livros dele.

Ficamos comentando sobre várias coisas banais, até que ficasse de noite e as luzes que iluminavam o jardim acendessem.

– Se eu pudesse, eu moraria aqui – dei um giro, sentindo meu vestido seguir o movimento – É tão lindo!

– Quando você se casar comigo – ele olhou para mim – Você virá morar aqui.

Olhei para ele com os olhos arregalados.

FLASHBACK

Saí correndo da praça e fui em direção ao castelo, onde vi Loki e Thor sentados na grande escadaria, não fazendo nada. As lágrimas corriam descontroladamente pelo meu rosto, enquanto lutava para não tropeçar em alguma coisa.

Apesar da visão embaçada, pude ver que ambos notaram a minha presença e me olhavam com expressões confusas. Demorados trinta segundos que gastei para chegar até eles. Quando olhei novamente, estavam os dois de pé, andando em minha direção, como se quisessem saber o que havia acontecido.

Assim que me aproximei o suficiente, envolvi ambos em um abraço meio difícil, considerando o fato de que eu era muito pequena e eles grandes, por serem muito altos, enfiei minha cabeça na fenda entre seus corpos e deixei que as lágrimas escorressem mais livremente.

– Você só vai ficar aí chorando – o loiro começou – ou vai nos dizer o que está acontecendo?

Comecei a dar esclarecimentos, mas desisti no mesmo segundo. Eu soluçava demais para conseguir formar uma frase comunicável.

– Você só vai ficar aí chorando, então – o mesmo concluiu, pondo a mão em minhas costas

Fiquei ali por mais não sei quanto tempo, só sentindo minhas bochechas grudentas das lágrimas secas e a mão de Thor acariciando minhas costas.

– Anna – dessa vez fora Loki, seu tom era terno, calmo – O Jeff? É sério?

– Você têm que parar com isso – respirei fundo e falei, entre soluços – É falta de educação ler a mente dos outros.

– Não se preocupe – ele riu baixo, passando a mão pelos meus cabelos – Você não vai morrer uma velha sozinha, cercada por gatos.

– Me prometam uma coisa? – levantei a cabeça e olhei nos olhos azuis e verdes dos dois e eles me encararam com seriedade – Se eu não arrumar alguém, prometem que se casam comigo?

Ambos riram e me olharam novamente.

– Claro – responderam em um uníssono – Prometo me casar com você.

FLASHBACK OFF

Sorri por ele ainda se lembrar disso. Mas as palavras dele vieram tão de repente, que me assustaram de um jeito estranho, de um jeito que fez tremores correrem pelo meu corpo. E suor descer pelas minhas têmporas.

– Ela não é muito nova para casar não, Loki? – uma voz conhecida e irritadiça soou, atraindo minha atenção.

Me virei imediatamente, para ver um Thor arquejando e com um olhar quase que transtornado.

– Ora, irmão – o moreno deu seu melhor sorriso de escárnio, puxando-me mais para perto.

Não era o primeiro abraço, nem seria o último, mas eu não sei se foi o tom de sua voz, ou a situação que me fizeram corar violentamente.

– Anna já é maior de idade – ele sorriu – E daria uma esposa maravilhosa

Sabe o fato de que eu já estava suficientemente vermelha? Pois é. Multiplica por quatro que dava o quanto eu estava rubra naquele momento. O que não fazia o menor sentido, já que eu não sabia quantas vezes já havia abraçado Loki.

Mas o jeito que ele falou, o olhar que o loiro lançava sobre ele, começou a me parecer algo mais. E imagina a situação: dois irmãos olhando indecifráveis um para o outro, enquanto eu, em minha singela existência, perdida no meio deles dois. Sem saber o que queriam dizer e o que estavam acontecendo.

– Por que nos procurava, Thor? – mudei o assunto, já que aquilo estava começando a se tornar incomodo.

– Queria pedir desculpas por Sif – depois de um tempo ele respondeu – Ela não mede palavras.

– Isso eu percebi – sorri, desvencilhando-me gentilmente – Mas tudo bem. Eu não tenho nada contra ela, para ficar com raiva.

– Que bom – suspirou aliviado – Ela passou da conta dessa vez.

– Deixa isso para lá – fiz um gesto de não-importância – Besteira.

– Bom... – ele mudou de assunto – Dona Frigga está te chamando para jantar conosco. Aceita?

– Com prazer – sorri e puxei ambos pelos pulsos, ignorando o clima que havia se instalado – Eu estou com fome.

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::Lisanna Hiln::