Trevas e Fogo

Estranho Acontecimento //Nathally


Levante-se, sua inútil! Erga a sua espada e lute, fracassada!

Ignorar os lindos comentários dele... Era o que eu fazia há muito tempo. Olhei para cima e lá estava a criatura, Jonny Morrison, filho de Ares, zombando de mim de novo. Olhos e cabelos escuros, levemente despenteados, pele não tão clara e musculosa. Cicatrizes no rosto e um nariz meio torto, resultado de uma briga com os irmãos. Um sorriso irritante no rosto que, no momento, o que eu mais desejo é socar. Ele me lembrava daqueles valentões das escolas. Encarei por um instante a espada dele, ensanguentada. Com o meu sangue.

Levantei-me e olhei o ferimento na perna. Não era muito profundo, mas doía e sangrava muito. Olhei para a minha espada, ela não parecia ser feita para mim, era pesada demais. Além de que, eu não consegui fazer nem um arranhãozinho naquela cara amassada de Jonny.

– Já chega, Morrison! – respondi com uma pontada de raiva na voz – Eu sei que tenho que treinar, mas não dá mais! Eu NUNCA irei conseguir aprender isso!

Lancei um olhar para a minha espada e depois para minha perna, cujo sangue não parava de escorrer, para enfatizar o que disse.

Ah, então vai ser assim, é?! – Jonny já não estava tão contente e não escondia a raiva na voz – Fraca! Fraca é o que você é! Nem sei por que é uma semideusa! Seu pai nunca a reclamou e você é péssima em TODAS as atividades, Devinny!

Eu queria ignorar esses comentários, como eu fazia todas as vezes que ele ia “me ajudar” em esgrima. Mas, o que mais me deixou com raiva foi o Devinny. Esse não era o meu nome, nunca foi e nunca será. Minha mãe me abandonou, meu pai também. Nunca pertenci a qualquer parente que seja! Ele não me chamou de Devinny!

Olhei para ele. Uma expressão desafiadora havia tomado o lugar do sorriso irritante.

Senti um ódio mortal dentro de mim. Ver aquela cara só me deixava com mais vontade de socá-lo. De repente, o mundo pareceu silenciar-se. Não ouvi mais nada, nem o meu ferimento doía mais.

Andei em direção a ele. Não ergui minha espada, apenas falei. Sempre acreditei que as palavras, quando usadas da maneira certa, poderiam machucar mais que facadas.

–Não ouse me chamar de Devinny. Esse nunca foi e nunca será o meu nome. Você não sabe nada ao meu respeito. E certamente não seria nada bom você se intrometer na minha vida e dizer o que eu sou ou não sou! – quando falei percebi que minha voz estava surpreendentemente calma e perigosa. Eu não me senti calma... Mas me sentiapelo menos um pouquinho perigosa. Gostei dessa sensação.

Eu não sentia medo, ele não iria ferir-me novamente. Eu não me sentia mais uma garotinha indefesa. Sentia que podia fazer qualquer coisa, inclusive punir pessoas que não sabem controlar a boca. Quando olhei, ele não tinha mais aquela pose de quem podia tudo. Ele me olhava nervosamente, e também olhava para o chão...

–Nathally... Acho melhor você parar com isso! Você vai ter que consertar o piso depois! – identifiquei uma pontada de nervosismo na voz dele. Confesso que gostei disso também. Mas, espera... Ele disse consertar o piso?

Talvez não fosse uma ideia tão boa sentir todo aquele poder... Afinal, eu nem sabia o que estava acontecendo! Nem sabia o que eu estava fazendo.

Respirei fundo, abri e fechei os olhos. Imediatamente, o mundo pareceu voltar a si, eu conseguia ouvir os pássaros cantarem e o som de espadas colidindo mais adiante. Percebi outra coisa também, o chão estava tremendo violentamente.

Assumo que me assustei um pouco, parecia que, a qualquer hora, o chão poderia se fender e sair de lá... Bem, eu não sei o que poderia sair de lá.

Respirei fundo novamente. Agora o ferimento latejava, eu me sentia muito fraca. O chão parou de tremer lentamente.

–O-o que foi isso, Nathally? – perguntou Jonny, estupefato.

–Gostaria de saber. Nunca mais me chame de Devinny. – eu disse antes de sair mancando em direção à enfermaria, precisava estancar o sangue da minha perna antes que eu perca a consciência por perda de sangue. Não queríamos que isso ocorresse.

Meus pensamentos pareciam explodir dentro de minha mente. O que acontecera com o chão? Por que ele parecia se acalmar quando eu decidi me acalmar? Como o mundo parecera parar quando eu fiquei com muita raiva de Jonny? Essas dúvidas junto com a minha dor faziam com que não prestasse muita atenção ao que acontecia ao meu redor. Não notei o garoto que me observava entre as sombras das árvores.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!