Estamos no refeitório vazio, resolvendo questões. Há três meses, eu e Lina somos parceiros em cálculo avançado. No entanto, isso não tem me ajudado muito. Em conhecê-la, quero dizer. Tento me aproximar dela, falar algo, puxar assunto que não seja a faculdade, mas ela me rejeita. E isso só faz com que eu perca meu controle e deseje logo beijá-la.

É, ok, você pode me considerar um pouco tímido também. Se uma conversa não flui, logo o assunto morre. E eu acho graça, porque mesmo que não estejamos mais conversando, meu pensamento está somente nela.

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Quando penso nela, na reação dela caso eu a beijasse, sorrio discretamente. Às vezes, noto ela me observando enquanto estou sorrindo. Tenho vontade de olhar para ela, sei que isso a deixa envergonhada, então eu faço, porque adoro vê-la vermelha. De vez em quando, ela retribui o sorriso. Em outras vezes, somente abaixa o rosto, vermelha também.

Estou sempre arrumando uma desculpa para ouvir o som da voz dela, ou ver os seus lábios se movendo. Faço perguntas aleatórias, e me perco em devaneios quando ela sorri daquele jeito que sempre tem ao me explicar as coisas. Fico olhando seus lábios, desejando senti-los, demorando-me um pouco ali porque sei que, quando eu chegar aos olhos, irei perder completamente o fio dos pensamentos. E apesar de que ela sempre abaixe a cabeça e evite me encarar, a sensação perdura.

Tenho essa sensação. De que ela me evita. Esses três meses não foram o suficiente para conhecê-la, porque ela não deixa que eu me aproxime. Então eu terei que ser direto.

– Você tem medo de mim? – pergunto, baixinho, puxando minha cadeira para mais perto dela. Observo a sua reação: seus ombros tensos por um segundo. E isso responde a minha pergunta. E responde a muitas coisas também.

– Entendo – digo. Sei que tenho que parar. Ela tem medo de mim. Talvez não um medo literal, como se eu pudesse machucá-la fisicamente. Mas um medo distinto, como se a pior ferida fosse no coração. Talvez seja só medo de se entregar. E, de alguma forma, isso é tudo o que eu quero. Quero que ela se entregue. Então continuo a falar:

– Você... é diferente. Não sei explicar. – E eu realmente não sei. – Desde a primeira vez que nos vimos... – calo-me e busco seus olhos. Tento encontrar palavras que possam descrever essa sensação, mas a verdade é que não consigo. – Desde a primeira vez... Sinto... isso.

Sinto vontade de tocá-la, para demonstrar a ela, talvez. Estendo a mão, mas então lembro que ela tem medo de mim. E eu não quero apressar as coisas.

– Quero... – começo, mas sei que não posso. – Desculpe. Vou lhe dar um tempo. Não quero que tenha medo de mim. – Eu quero que ela confie em mim.

– Não é... – ela diz. – Isso está errado... Mundos opostos. Eu não...

– Não gosta de mim? – De uma forma irracional, doeu pensar isso. Talvez seja só o meu orgulho. Mas eu estou sendo sincero. – Não é todo dia que me sinto desse jeito, Lina. Estou confuso. E sei que só você pode me ajudar.

Eu não sei como. Só sei que isso é a verdade.

– Eu... – ela tenta dizer, mas não é preciso. Não quero pressioná-la.

– Não. Tudo bem. Não vou falar mais nisso. Vamos voltar aos cálculos.

Abaixo a cabeça, fingindo me concentrar em alguma questão difícil de cálculo. Mas a verdade é que eu não estou nem aí para a matemática. Eu só penso em uma coisa agora.

Eu quero tê-la, quero cuidar dela, protegê-la. Eu preciso dela, preciso cuidar dela. Só isso que eu sei.

Eu vou conquistar essa garota.