Little Soldier

Capítulo 5


Nenhuma noite havia me preparado para aquela.

Eu via o suor escorrer pela pele dele, agora mais branca que giz, via as lágrimas caindo de forma contínua, escutava os gemidos constantes, sentia o tremor dele, mas impotente. Impotente porque eu não podia fazer nada para ajudá-lo.

Eu sentia raiva de mim mesmo.

Raiva e desgosto, pois o único que foi capaz de fazer alguma coisa foi a pessoa que eu mais odiava no momento, a que mais o magoara, a que mais provocara tantas coisas ruins na vida dele, mas que ainda sim, era a pessoa por quem ele chamava. Ele era masoquista ou o que? Cego? Eu esta praticamente gritando para ele meu amor e ele ainda não via!

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Eu começava a me sentir doente.

Doente de ciúmes, doente de ira. Eu queria poder ter feito algo, alguma coisa, qualquer coisa. Eu não era acostumado a perda. E eu não gostava dela.

Encarei o garoto pálido e desfalecido em meu colo com o peso do mundo caindo nos meus ombros. Ele parecia tão atormentado e tão perdido que me deu uma angústia impensável. Tirei alguns fios de seu rosto e os ajeitei para trás. Nós dois ainda estávamos no convés, porque todos concordaram que era perigoso demais de movê-lo. Tinha uma cama improvisada ou coisa do tipo, mas ele continuava comigo.

Me vendo agora, totalmente sozinho suspirei e a primeira lágrima caiu. Me permiti chorar silenciosamente e não tive cabeça o suficiente nem para registrar como era. Mas se as pessoas choravam diante a uma situação tão angustiante e desesperadora, eu preferia continuar sem saber como é a sensação.

Aproximei meu rosto do dele e memorizei cada detalhe que eu poderia. A cicatriz escondida na mandíbula, o lábio inferior simetricamente igual ao superior, as sombrancelhas negras, perfeitamente arqueadas, seguidas por cílios grandes. Se não fosse pelo suor e pela forma que ele ofegava, poderia dizer que ele dormia.

–Por quê?-indaguei sentindo a voz quebrar de um jeito patético. -Nico... Porque você? O que você fez?-continuei falando com o garoto inconsciente, de forma baixa e melancólica achando que eu tinha enlouquecido. -Porque eu amo tanto alguém que eu mal conheço?-indaguei mais para mim mesmo e colei minha testa na dele, deixando um soluço vergonhosamente alto escapar. Agora não era mais só ele que tremia descontrolado.

Tentei me fazer voltar para a razão, gritando comigo mesmo, dizendo quem eu era, mas isso já não me importava. Tudo que eu conhecia, sabia e acreditava estava resumido no garoto deitado em minhas pernas. Eu dependia dele. Dependia dele de uma forma extremamente doentia. E eu não entendia como poderia, se o que eu sabia dele era tão pouco? Se eu o conhecia há tão pouco tempo?

–Mal conhece?-Ima voz grave e divertida se fez ouvir ás minhas costas. Virei lento, sem me preocupar sem levar um golpe. Seria mais fácil, até.

E assim que meu olhar encontrou com aquela... Aquela... Criatura desgraçada, minha vontade foi cortá-lo em pedacinhos e lançá-los no tártaro.

–Vamos, não me olhe desse jeito. Não é de mim que você está com raiva. -ele continuou, com seus olhos cor de carmim brilhando de um jeito divertido antes de se sentar ao meu lado e encarar Nico de forma nostálgica.

–O que você quer?- ele me olhou com uma sobrancelha erguida.

–Olhe seu tom, garoto. -ele meneou a cabeça- Você fez uma pergunta. Eu estou aqui para respondê-la. – Ele sorriu inocente. Vi tanta maldade naquele sorriso que tive que apertar minha mão na camisa de Nico para não socá-lo no meio do nariz.

–Acho que prefiro não ouvi-la. -Resmunguei, mas ele me ignorou lindamente.

–Vocês, romanos dão tão pouco valor para o amor sabe... Sendo que ele já foi o causador de tantas tragédias, glórias e quedas, inclusive de seu próprio povo!-ele deu uma risada seca- É uma força tão poderosa quanto o vento ou o mar, filhote de Júpiter. -Ele me olhou feio, como se me censurasse por alguma coisa. Franzi a testa, indignado.

– O que você quer dizer com isso? Que eu não devia tentar... - Ele riu levantando uma mão comprida, claramente me mandando calar a boca. Só o fiz porque eu não tinha chances contra ele na minha atual posição.

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–Não, não, não! Continue, você está fazendo um trabalho maravilhoso. - Ele suspirou, olhando para Nico de um jeito quase... Nostálgico. -É que eu já vi isso tantas vezes sabe... Me irrita que eu não possa interferir.

–Como assim? O que você viu? E porque você não pode?-joguei as perguntas, minha raiva subitamente diminuída pela curiosidade.

–Essa história de amores platônicos. Você o ama desse modo porque tem que ser assim. Porque você é o pilar disso tudo. Dessa vez.- completou mais para si mesmo- E ele ama a pessoa que praticamente destruiu a vida dele. Mesmo sem a intenção. - Ele sorriu de forma gentil, quase... Paternal para Nico. - E ele é... A massa por assim dizer. Ele está perdido, sozinho. Ele não ama aquela cria estúpida de Poseidon. Ele o admira. Porque, mesmo que de forma distorcida, Perseu foi o único que se importou com ele. Agora... -Ele me olhou com um sorriso malicioso. - Ele está confuso em relação á você sabe. Mesmo que pareça que não, ele confia cada vez mais em você, por não ter contado o pequeno segredo. -ele se inclinou para mim, nossos rostos a milímetros um do outro. Seus olhos agora completamente vermelhos, ocupando até a parte branca.

– Me prove que eu estava certo ao colocar esse menino no seu caminho, Grace. Erre com ele, e errará comigo. - ele disse manso, mas a forma com a qual ele apertava minha perna mostrava que ele não estava brincando.

–Eu não preciso de você para me matar se eu errar com ele. - Porque eu faria isso por minha própria conta. Ele sorriu, pela primeira vez caloroso e se afastou, voltando-se para Nico.

–Vá com calma. -ele aconselhou, ainda sorrindo. Então colocou uma mão em seu pulso lesado, e a outra sobre sua cabeça, mas sem encostar nelas. Ele fez uma careta e uma luz bem fraca se desprendeu de suas mãos enquanto ele murmurava alguma coisa.

–O que você... - minha pergunta ficou presa em minha garganta ao eu ver o sangue parar de manchar as ataduras e o suor secar como se nunca tivesse estado ali.

–Não sou Apolo, mas agora a recuperação deve ser mais fácil. - ele me olhou de forma significante e acenou uma vez, sumindo tão discreta e silenciosamente quanto apareceu.

–Até parece.-resmunguei.- Como se eu fosse deixar ele piorar agora.- ri sem humor, pegando a rosa que apareceu no exato lugar que Cupido ocupava segundos antes, girando-a nos dedos.

–Jason?