Silverblade

Uma pequena amostra da maravilhosa vida de Louise Abernathie


Louise Abernathie

Se Sherlock Holmes estivesse em meu lugar, o que ele faria? Eu costumava me perguntar isso. Naquele momento, eu estava literalmente passando mal vendo Rachel comer seu hambúrguer com tanto entusiasmo. Será possível que ninguém além de mim ache isso uma crueldade? Ela estava comendo um animal morto espremido entre pão, cheddar e molho secreto!

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Acho que nem Sherlock Holmes saberia como controlar meu surto vegetariano.

Enquanto eu comia um bolinho com morangos e chantilly, Rachel terminava o hambúrguer, dava um gole em seu refrigerante e se preparava para atacar os salgadinhos. Como um ser humano consegue comer tanto? Entre um punhado e outro de salgadinhos, ela às vezes puxava assunto:

– Então... Seu fone de ouvido é verde. Você não fica preocupada com a proibição da...

– Não. – interrompi. – Minha família e eu achamos isso uma idiotice. Discriminar sem motivo quem nunca fez nada de mais. Essa cidade é conservadora em alguns casos, mas nunca nos que devem.

– Eu também não ligo para isso. – disse Max. – Mas a minha avó morre de medo dos ciganos. Se alguém de verde passasse perto dela, acho que ela esqueceria o reumatismo e sairia correndo.

Alheia aos fatos inúteis que Max começara a contar sobre a avó, Alice desenhava algo ainda indistinto em seu caderno. Como todas as pessoas deveriam ter a decência de fazer, não perguntei o que era; isso irrita os desenhistas. Esperei até o desenho tomar forma e acompanhei os movimentos do lápis dando os retoques finais.

– É uma casa, eu acho. – Alice explicou. – Uma casa normal. De dois andares. Mas é bonita, não é?

– É sim. Mas você não costuma desenhar paisagens.

– Eu sei. Só me pareceu certo desenhar essa casa. Isso acontece muito comigo. A inspiração surge do nada.

– Ficou lindo, de um jeito ou de outro. – o sinal tocou, anunciando o fim do intervalo. – Ai, meu ouvido. Tchau Alice, tchau Max. Rachel, a gente precisa voltar.

– Mas, mas, mas... E os meus salgadinhos? Não posso deixar eles aqui.

– Quanto drama. Vem, você come no caminho. – e assim voltamos para nossa cela, quer dizer, sala de aula.

Aulas de filosofia deveriam ser opcionais. O que eu faço se não quero saber o que Aristóteles considera imoral?

Esse tipo de aula me fazia pensar. Pensar em coisas aleatórias, como o próximo livro que eu iria comprar, ou quantos dias faltavam para o meu aniversário.

Depois de decidir comprar outro livro da Agatha Christie e anotar mentalmente que faltava pouco mais de um mês para o meu aniversário, peguei um lápis e comecei a rabiscar a parte de cima do caderno. Nem isso ajudou a aula a passar mais rápido.

Ao final das três aulas, todos nós saímos, a maioria com o estômago roncando. Um garoto de uns 17 anos e cabelos loiros estava esperando Rachel na saída. Ela revirou os olhos quando ele a abraçou e apertou suas bochechas.

– Faça isso de novo e eu quebro todos os seus dedinhos. – Rachel ameaçou. – E você nunca mais vai poder tomar chá.

– Que medo de você. – o garoto replicou, e depois apontou para mim com o polegar. – Quem é essa?

– Ah, claro. Oliver, essa é a Louise. Louise, esse é o Oliver.

– É seu irmão? – perguntei, curiosa.

– Não! Deus me livre. Ele é só meu primo irritante.

– Blusa legal. – disse Oliver.

– Bem que você podia usar blusas legais de vez em quando e largar esse xadrez ridículo. – alfinetou Rachel. – Vamos criar uma campanha? "Doe blusas legais para Oliver Jones e faça ele parar de usar xadrez porque a humanidade não aguenta mais". Que tal?

Dei uma risada e olhei as horas. Estava atrasada, então me despedi dos dois e fui para casa rápido. Como de costume, meus pais não estavam, então eu mesma iria preparar a comida. Não era difícil, afinal o fato de ser vegetariana reduz bastante as opções de pratos complicados.

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Peguei um pouco de macarrão que sobrara do jantar anterior, coloquei molho de tomate com cebola e um pouco de queijo por cima. Depois fiz uma salada com alface, pepino, manga, maçã e algumas torradinhas.

Quando terminei de comer, coloquei logo o collant do balé, vesti uma roupa por cima e arrumei a bolsa com o uniforme da ginástica olímpica, as sapatilhas, um par de polainas, uma garrafa de água, duas barrinhas de cereal, meu celular, as chaves de casa e, claro, um livro.

Cheguei à academia no horário certo, faltando dez minutos para a aula. Vesti as polainas por cima da meia calça e calcei as sapatilhas, ficando devidamente arrumada e esperando a professora chegar.

Correu tudo bem na aula, que não era um balé tradicional. Os comandos, passos e posições de pernas e braços eram os mesmos, mas a rigidez e cobrança absurdas eram bem menores, além de existirem movimentos novos na dança. Era basicamente algo entre o balé e o jazz.

Depois de uma hora e meia de aula, fui até o vestiário trocar de uniforme. Mantive as polainas, afinal quem não gosta delas? São tão estilosas. O intervalo entre as duas aulas era relativamente grande, de meia hora, então comi as barras de cereal e fiquei lendo para passar o tempo.

A hora chegou e eu entrei na sala, que era imensa e cheia de equipamentos. Essa aula era mais longa e durava duas horas, mas eu não tinha problema com isso, afinal era minha preferida. Ao terminar, voltei ao vestiário e vesti minha roupa normal.

The dog days are over, the dog days are gone

Can you hear the horses 'cause here they come…

Era meu celular tocando. Olhei o visor e a foto de uma garota de cabelos vermelhos fazendo careta apareceu acima do nome "Rachel". Atendi.

– Alô?

Oi! Eu liguei pra saber se você quer ir na sorveteria.

– Que horas?

Agora.

– Quem vai?

A gente, a Alice e o Max. O Oliver quer ir também, mas eu não quero que ele vá.

– Então tudo bem.

Quer que a gente passe aí pra te buscar?

– Se você achar melhor... Mas eu não estou em casa, estou na academia. Vou te dizer onde é.

E passei o endereço para ela, dando pontos de referência. Depois de um tempo ela apareceu na porta da academia junto com Alice e Max.

Fomos andando até a sorveteria, era uma caminhada de 15 minutos, mais ou menos. Antes de chegarmos ao nosso destino, algo na rua chamou minha atenção. Era uma casa, com as paredes pintadas em um tom bordô e alguns detalhes em branco e dourado. A porta era de madeira, com a maçaneta um pouco desgastada.

– Já vi essa casa antes... – murmurei, mais para mim mesma do que para os outros. Tentei buscar na minha memória onde vira a casa.

Não. Impossível.