Vive Le France
I wanna be your boyfriend
#Sophie
É, verão né. Enquanto na Europa meus familiares e amigos desfrutavam de um frio de corroer seus lábios e estourar seus ouvidos, eu sentia o ambiente mais abafado a cada minuto e molhava meus pés no laguinho do bendito jardim de inverno que eu havia pedido pro meu pai desde que ele estava com o projeto da casa. Já estava ficando estressada com a maresia das minhas férias e subi pro meu quarto, deixando meu rastro molhado pela casa inteira. Tomei um belo de um banho de banheira, sequei meu cabelo enrolei a toalha no meu corpo, sentando no meu pufe preferido e discando o número da Bia.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Fala, cabeça de fósforo - atendeu ela. Um poço de fofura.
– E aí, o que tá fazendo?
– Agora, nada. Tô tentando achar uma roupa boa pra o aniversário do Gabriel. E você?
– Acabei de sair do banho. Peraí, que Gabriel?
– Gabriel Fontes, lá da sala. A propósito, ele mandou te chamar.
– Por que? Eu mal falei com ele ano passado, só na hora de formar o time de futsal - respondi, mexendo na minha gaveta de calcinhas.
– Exatamente. Quer se tornar amiga do Gabriel? Jogue futsal. E jogue bem, senão não adianta.
– Ué, mas eu achava que ele não ia com a minha cara.
– Por que?
– Por causa daquela confusão do trabalho de Português, que eu não deixei ele copiar o meu e ele se estressou comigo, só faltou me bater, aquele desgraçado. Até hoje eu tenho raiva dele quando lembro. Acho que não vou pra festa dele não.
– Eu conheço o Gabriel, se ele mandou te chamar pra festa dele, é porque ele quer se redimir. Vá por mim, ele é orgulhoso o bastante pra mandar alguém falar as coisas por ele.
– Coisa mais infantil. Tudo bem, se arrume aqui em casa e a mamãe leva a gente, beleza?
– Em 30 minutos eu chego aí.
Dito e feito, em 30 minutos a Bia chegou, e já chegou abalando. Quase caiu na escada, derrubou a bolsa cheia de roupas no chão, derramando o conteúdo da mesma pelo corredor e confundiu o meu quarto com o quarto do meu irmão, que estava jogando XBOX e quase derrubou o controle no chão, tamanho susto que levou. Quando finalmente entramos no meu quarto, ela pediu ajuda pra a roupa que usaria na festa e eu fiz o mesmo.
– Bom, como eu não sei o que usar, eu trouxe várias opções. - anunciou ela, despejando novamente o conteúdo da bolsa na minha cama.
– É, eu percebi. Mas vem cá, como vai ser a festa? Tipo a primeira que o Noah fez que eu dei a louca ou mais formal?
– Vai ser formal porque a família dele vai estar lá.
Depois de mexer muito no meu guarda-roupa, cansei e peguei uma roupa qualquer, ficou até boa. Esperei a Bia se vestir, fiz um coque daqueles arrumadinhos no cabelo e fomos pra festa. No carro, a minha mãe nos encheu de recomendações:
– Pelo amor de Deus, não bebam muito, não se droguem, não façam sexo... Não com um garoto que vocês não conheçam.
– Mãe! Por favor né, a última parte foi desnecessária, temos 14 anos de idade.
– Fica quieta, vou terminar enfiando o lápis no seu olho. - avisou Bia.
– Desculpa, eu tive que reclamar.
Chegando na festa, demos de cara com dois armários(os seguranças), que pareciam robôs. Sem tirar os óculos escuros(de noite???), eles pediram nossos convites.
– Somos convidadas do aniversariante. - disse Bia, estufando o peito.
– Senhor Gabriel! Receba suas convidadas e leve-as até a sala.
Senhor Gabriel apareceu na porta principal de terno e gravata, um traje que eu nunca o imaginaria vestido.
– Vocês estão... lindas demais. - nos recebeu ele, com um sorriso que eu julguei escancaradamente falso. Detalhe: não tirou os olhos de mim.
Como pedido, ele nos levou até a sala da enorme casa, e por lá ficamos. Garçons e mais garçons passaram por nós oferecendo champagne, whisky, vodka com alguma coisa, salgadinhos e docinhos, e a única coisa que eu queria era ir embora.
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– Eu não tô vendo ninguém que a gente conheça aqui, só tem a família do Gabriel, que diabos a gente tá fazendo aqui, Beatriz?
– Não tem ninguém que a gente conheça aqui porque essa é uma festa reservada, só pra os familiares, que a mãe dele inventou pra comemorar o aniversário dele. O festão mesmo vai ser numa rave, daqui a uma semana.
– Vou repetir: que diabos eu estou fazendo aqui? Não sou familiar dele. Muito menos você! O que NÓS estamos fazendo aqui?
– Eu sou melhor amiga dele desde o jardim de infância, a mãe dele me adora. Ele mandou te chamar, sabe diabos porque. Vai ver ele quer apresentar você pra familia dele - concluiu ela, rindo.
Parece que andou ouvindo nossa conversa, porque depois de alguns segundos o Gabriel apareceu:
– Nossa, que descuido. Vou apresentar a Sophie à minha família.
Passei pela mãe, pelo pai, por todos os 30 tios, 40 tias(9 solteiras e uma se separando), pelos avós e pelos 45 primos. Sim, ele tinha uma família muito grande.
– E pra finalizar a apresentação - passou um braço pela minha cintura e o outro segurava uma taça de champagne - eu gostaria de fazer um comunicado. Ou melhor, um pedido.
Arregalei um pouco os olhos. Enquanto o Gabriel tirava o braço da minha cintura e se preparava para se ajoelhar em minha frente, eu olhava para todos os lados, procurando a Bia, que estava num canto, com cara de paisagem. Já ajoelhado, ele pegou uma das minhas mãos e sorriu.
– Gabriel, levanta aí, pelo amor de Deus. Antes me explica o que é isso. - sussurrei pra ele, entre dentes.
– Isso, minha linda... Isso é, oficialmente um pedido de namoro que eu queria fazer desde o último dia de aula. Confesso que você não era uma das minhas pessoas preferidas e nós dois sabemos porque... Mas eu percebi a garota maravilhosa que você era, e tentei te dar algumas pistas também.
"Então foi ele... foi ele que mandou o anel e as rosas!"
– Mas como nenhuma delas foi descoberta, eu resolvi vencer o meu orgulho e te pedir pessoalmente. Sophie, você... você quer ser a minha namorada?
Em meio a olhares arregalados, rostos pasmos, sorrisos e choros emocionados(inclusive da mãe dele), algumas palmas foram se revelando, e antes de tudo eu perguntei, de modo que só ele escutasse:
– Então foi você que mandou o anel e as rosas pra mim?
– Não, estou falando dos olhares e das alfinetadas que trocávamos no colégio. Eu não pensei em te dar anel e rosas porque eu não ia resistir em ser um admirador secreto, eu queria te dar um anel e rosas quando completássemos um ano de namoro. Mas enfim, o que me diz?
"Se não foi ele que mandou os presentes e os papeizinhos com coisinhas fofas, então... quem foi?"
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