Chegamos finalmente em casa. Durante todo o percurso, Joseph se manteve calado. Saio do carro e ele me segue, e então vamos para a sala. Minha cabeça está cheia de prováveis situações, uma mais ridícula que a outra, e por isso vou descartando-as, mas aí uma mais inusitada ainda aparece. Estou começando a me aborrecer com isso.

– Liv, pegue o nosso livro – pede Joseph.

– O nosso livro? – Ele não precisa dizer qual livro é, porque eu já sei. O livro que eu ganhei no dia em que nos conhecemos. O livro em que o personagem tem o mesmo nome que ele. Às vezes costumávamos imaginar que éramos eles e encenávamos algumas partes.

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– Sim, pegue.

Resolvo não questionar. Subo as escadas correndo em direção ao meu quarto, pego o livro em cima da minha cabeceira, e volto para o lado de Joseph.

– Aqui está – digo.

– Abra na página 234.

– Para quê?

– Abra e leia em voz alta, por favor.

Eu abro o livro, sentindo-me meio contrariada, e começo a ler:

– “Joseph era assim. Alegre, divertido, mas tinha o dom de ser provocador. Adorava atormentar Antônia, mas esse era o seu modo de dizer que a amava e que se importava com ela. Seus olhos azuis brilhavam ao vê-la, e ele adorava quando ela bagunçava seus cabelos loiros.” – Neste momento paro e volto-me, de olhos arregalados, para o Joseph que está ali, sentado ao meu lado.

– Continue – ele me instiga.

– “Ele se encantava com o sorriso de Antônia, e fazia de tudo para fazê-la sorrir. Diria até que a felicidade dele era a dela, e nada mudaria isso. Eles se completavam. Ele, o bebê dela. Ela, a pequena dele. Prometeram se amar até que a eternidade terminasse, cuidar um do outro até que o mundo deixasse de ser mundo.” – Paro e olho para Joseph.

– Termine – ele diz.

– “Mas o destino, como cruel ele é, separou os dois. E a saudade, de tão grande que era, acabou com o coração de Antônia. Se o amor pode sobreviver a tudo, este ficara além do tempo. Antônia se fora, e levara junto a felicidade de Joseph. O que restava para ele? Nada. Nada além da promessa de que a amaria, e de que ela, independentemente de onde estivesse, o amaria também. E assim Joseph deu adeus ao mundo, para se unir àquela a quem seu coração pertencia. E cumprir a promessa do “juntos mesmo após a morte”.”

Calo-me, o silêncio abate a sala. Joseph não me olha. Toco em seu braço, e ele finalmente decide falar:

– Por que só você me vê?

– Eu não sei – respondo com sinceridade.

– Liv. – Ele olha em meus olhos. – Eu sou esse cara do livro. Eu sou o Joseph do livro.

Estou em choque. Isto só pode ser uma pegadinha, certo? Espero que ele comece a rir e grite “não!”. Mas ele não faz isso.

– O quê?! – pergunto, incrédula.

– Esta é uma história real, Liv. O autor... bem, ele era o meu irmão. E decidiu eternizar minha história nessas folhas.

– Mas isso... não faz sentido!

– Liv, eu sei o quanto isso deve ser confuso. Mas preciso de você, meu tempo está acabando. Quando você ganhou este livro... Aquele senhor é o meu irmão. Ele não sabia que você conseguiria me ver. Ele não consegue. Mas eu estou sempre olhando por ele. Naquele dia, eu o vi entregar o livro a você. E logo você começou a ler, e eu fiquei fascinado com a maneira com que você reagia a história.

– Aquele senhor é o seu irmão? Foi ele quem escreveu este livro?!

– Sim, foi ele. Eu não sei o que houve, mas naquele dia, vi que você me olhou. E não como qualquer um, como se eu não estivesse ali, mas você realmente me notou.

– Eu lembro... que me senti confortável com você, como se já o conhecesse.

– Liv, às vezes você se torna parte de um livro. Às vezes um livro se torna parte de nós. Esta história se tornou parte de você. Eu sou uma parte de você. E é por isso que só você pode me ver, só você pode me ajudar.

– E que ajuda é essa? – pergunto.

– Preciso encontrá-la, Liv. Preciso encontrar Antônia. Já vasculhei por todos os cantos do mundo. Pedi a Deus que me ajudasse. Então um anjo me deu um aviso: um dia, alguém iria me ver. E esta pessoa seria a única que poderia me ajudar. Somente ela poderia me unir a Antônia. E quando minha alma reconhecesse à daquela que eu amo, e nos tocássemos, finalmente ficaríamos juntos – ele diz e respira fundo. – Esta pessoa é você, Liv. Você vai me ajudar?

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Uma dor aguda passa em meu coração. Saber que estou apaixonada por um cara que não existe, ou melhor, que existiu há não sei quantos anos já é difícil. Mas é mais difícil ainda vê-lo pedindo minha ajuda para encontrá-la.

Mas eu aceno afirmativamente. É claro que vou ajudá-lo.

Porque Joseph é, antes de tudo, meu melhor amigo.

E é isso que melhores amigos fazem.