Loucuras na Adolescencia

Capitulo 28 - Tarde Na Casa dos Garotos


Percy

Enquanto descíamos as escadas para a cozinha, eu imaginei o real motivo de daquela loira estar ali.

Sim, eu sei o que ela disse, que ela estava cumprindo sua promessa e tal, tal, mas eu não acreditei. Não acredito ainda. Eu sei que também pode ser algum tipo de ilusão minha, ou talvez uma parte esperançosa do meu cérebro que pensa que Annabeth possa gostar de mim. Mas quando essa loira diz “Eu te odeio” nunca soa verdadeiro.

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Ao chegarmos à cozinha, minha mãe e meu pai abriram um sorriso enorme. Fazia tempo desde que eu trouxera uma garota aqui pela ultima vez, ou que a mesma viesse conscientemente. Então, bem, eles estavam felizes até. E eu, é claro, previa uma conversa embaraçada.

Meu pai se sentou a cabeceira da mesa, como de costume, enquanto minha mãe servia bolo com cobertura de chocolate e suco. Sentei a direita de meu pai, e Annabeth sentou ao meu lado. Minha mãe, quando acabou de nos servir, sentou-se do outro lado de meu pai.

— Então, Annabeth — minha mãe começou. — Como vai a escola? Boas notas?

— Mae... — comecei.

— A escola vai bem, Sra. Jackson — interrompeu-me Annabeth — Minhas notas vão muito bem. Até melhores do que eu imaginava.

— Ah, sim. Deve gostar muito de estudar, certo? — disse minha mãe.

— Bem... Acho que sim.

— Ela ama estudar, mãe. — eu soltei, propositalmente — É a melhor aluna da classe. Bem, em termos de inteligência.

Annabeth deu-me um sorriso de lado, levemente malicioso, e comeu um pedaço de bolo de chocolate.

— É sério isso? — questionou minha mãe.

— Bem... — ela olhou pra mim — Seu filho Percy, Sra. Jackson, é um pouquinho exagerado às vezes.

— E ela é muito modesta — disse e coloquei um pedaço de bolo na boca.

Meu pai, que até então estava em silencio, deu um gole em seu suco e disse:

— Percebemos — ele abriu um leve sorriso — Mas, Annabeth, o que vai querer ser quando crescer? E não venha me dizer que vai querer ser alta, como disse uma sobrinha minha. Eu me refiro a que faculdade vai frequentar.

— Se quer saber, quem falou isso foi a Thalia — sussurrei no ouvido de Annabeth, e a mesma sorriu.

— Já pensei em muitas coisas, Sr. Jackson. Primeiramente, eu queria ser arquiteta, como minha mãe. Esse foi meu sonho desde pequena. Mas nos tempos atuais eu mudei muito a minha opinião, e decidi estudar psicologia. Criei um interesse pessoal sobre a mente das pessoas — ela me olhou de relance — Mas talvez eu mude de ideia.

— Interessante — disse meu pai — Você parece uma garota muito determinada, porém, indecisa. Bem, isso é melhor que no ter nada em mente. Veja o Percy por exemplo. Ainda não sabe o que fazer da vida. Meu filho mais novo, Tyson, já decidiu que quer ser biólogo marinho como eu.

— Você tem um irmão? — Annabeth me perguntou.

— Ah, sim — respondi.

— Porque nunca me contou?

— Porque você não perguntou — abri um leve sorriso — E porque não tive a... Oportunidade.

Ela me observou por um tempo, ponderando que não tivemos mesmo a oportunidade. Porque, de fato, nunca conversamos de verdade como pessoas normais.

— Ah — ela disse, então se virou pro meu pai — Não me surpreende, Sr. Jackson, que Percy não tenha pensado nisso ainda. Ele é meio... Confuso.

Acho que ela calculou a fala na maior inocência e nem percebeu o duplo sentido dela, que fez minha grande observadora mãe perguntar:

— Porque ele é confuso, Annabeth?

Nunca vi a minha mãe com um olhar tão malicioso. Annabeth, nervosa com o peso de três pares de olhos em cima dela, enfiou um pedaço de bolo na boca.

— Bem — ela disse, quando acabou de mastigar — Ele também é indeciso em relação às coisas — outro vacilo, e ela prosseguiu — Ou talvez ele não queira dizer por que não quer dizer uma coisa, e depois mudar de opinião. Quer dar uma resposta concreta e decidida.

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— É exatamente isso! — soltei.

— Bom argumento — disse meu pai — Você leva jeito pra psicologia, Annabeth.

— Obrigada — Annabeth sorriu aliviada.

A conversa estava bem comum pro que eu achei que seria. Mas... Como mãe é mãe, a minha tinha que começar a embaraça-la.

— Mas, então Annabeth, você tem... Namorado?

Meu garfo caiu acidentalmente de minha mão.

— Ah... Não. — disse Annabeth.

— Pretendente?

— Sally... — começou o meu pai.

Mãe... — também comecei.

— Não, tudo bem. — tranquilizou Annabeth. — Acho que não tenho nada a esconder. Não tenho nenhum pretendente, Sra. Sally.

— Serio? Uma garota tão bonita como você dever ter muitos garotos babando aos seus pés. Sério mesmo que não há um que de uma bandeirinha?

Tem o Luke, pensei na hora, sem evitar a raiva terrível que me surgiu de repente.

— Ah, eu não sei — Annabeth erubesceu — De verdade.

Minha mãe me deu um cutucão com o pé debaixo da mesa, mas não tirou o doce sorriso que carregava no rosto pra Annabeth.

— Mas... E o Percy?

Agora o garfo de Annabeth caiu de sua mão.

— Mãe — eu disse — a senhora acha que esse não é o tipo de conversa que você pode ter com uma pessoa que você acabou de conhecer?

— Ah, Percy, está na cara que você está mais curioso pra resposta para a pergunta do que eu.

Meu rosto queimou e eu calei a boca na hora com um pedaço grande de bolo. Meu pai olhou pra mim com um sorriso travesso no rosto. Annabeth estava bem corada, mas, provavelmente, não mais que eu.

— Ah...

Do nada, a expressão de Annabeth ficou calma. E eu sabia que ela realmente não aguentava mais tudo aquilo e que ia abrir o jogo pros meus pais. E isso, eu já imaginava, os levaria a outra briga.

— O Percy, Sra. Jackson — disse ela ­— é um cara legal. De verdade. Ela anda com a minha turma e tudo mais. É confiável, engraçado, divertido. É também muito implicante e bem lerdo, mas isso não o impede de ser um cara bacana. Mas... — ela sorriu como se não acreditasse no que ia dizer — em relação ao sentido da sua pergunta, tenho certeza que não. Somos só amigos.

— Depois dessa declaração ainda são amigos? — disse meu pai — Meu filho é um idiota mesmo, não é, Sally?

Eu e Annabeth rimos nervosamente. Fiquei imaginando se ela realmente achava aquilo tudo de mim ou se só estava dizendo isso por parte da promessa, imaginando que, falando bem de mim, eles amenizassem a briga.

— Bem, Sra. Jackson, seu bolo estava maravilhoso. — disse Annabeth, limpando a boca rosada com o guardanapo — Mas eu disse a meu pai que voltaria cedo pra casa, e...

— Já vai? — perguntei, e minha voz saiu mais sentimental do que eu planejava.

— Sim — ela estendeu a mão pra minha mãe — Foi um prazer conhece-la, Sra. Jackson.

— Te digo o mesmo, Annabeth — minha mãe aceitou a mão.

— Também foi um prazer conhece-lo, Sr. Jackson — agora ela estendeu a mão à meu pai, que também aceitou.

— Foi um prazer tê-la aqui, Annabeth. Volte sempre que quiser, tudo bem?

— Claro. — Annabeth abriu um sorriso amistoso e, em seguida, virou-se pra mim — Tchau, Percy — ela bagunçou o meu cabelo.

— Eu vou com você até a porta. — falei.

Annabeth dá um ultimo “Até logo” a meus pais e nos erguemos. Nos dirigimos até a porta. Eu a abro pra ela, espero ela passar e me encosto no portal da porta, enquanto ela caminha pela calçada até o portão. Antes de ela chegar, eu disse:

— A comida estava boa?

Annabeth riu ainda de costas e virou-se.

— Digamos que sim — ela disse — Mas você viu o tanto que eu comi. Nem deveria ter perguntado, Cabeça de Alga.

Esbocei um sorriso, enquanto o dela sumia, ligeiramente envergonhado. Eu disse:

— A nossa trégua acaba agora, não é?

— Sim — ela remexeu-se desconfortável.

— Então... Você voltou a ficar brava comigo por nada, não é?

— Não é por nada, Jackson. Mas, sim, é verdade. Eu voltei a não gostar de você, e nós estamos brigados. Eu voltei a te odiar. E nós não nos falamos.

— Você não parece feliz com isso.

— Impressão. — ela deu de ombros e olhou para o chão.

— Então... Se você já está brava comigo, se magicamente voltou a sentir raiva de mim pelo simples fato de eu existir, não vai fazer diferença se eu te der um beijo, não é?

— Ah, tchau, Jackson. — ela virou-se.

Só que dei alguns passos em direção a ela e a segurei, virei-a novamente e a puxei pra mim. Não foi um beijo, beijo, mas não foi só um selinho. Queria mais, é claro, mas não abusei da sorte. Ela virou-se estressada, claro, e saiu sem dizer nada.

— Até logo, Chase! — gritei pra ela.

Ela se despediu de mim levantando a mão direita por cima do ombro, ainda de costas, e levantou o dedo do meio. Sutil. Sorri e entrei.

Meu pai e minha mãe ainda estavam sentados na mesa. Quando eu apareci, eles me olharam com certa ansiedade. Aposto que estavam cochichando alguma coisa antes de eu chegar. Vendo aqueles olhares, eu disse:

— Querem parar de me olhar com essa expectativa toda? Se estiverem pensando que eu vou dizer alguma coisa, podem tirar o cavalinho da chuva.

— Viu o jeito que ele ficou nervoso, Sally? — disse meu pai.

— Vi sim, Poseidon — disse minha mãe — Nem disfarça, não é?

Não, isso não pode ser um complô contra mim!

— Ah, qual é? Não posso receber mais nenhuma visita? — eu disse.

— Quem disse que não poderia? — disse minha mãe — Nós só olhamos pra você e você começou a ficar nervoso e a colocar palavras na nossa boca.

— Eu não colo... Está bem, eu coloquei.

— Viu? — meu pai sorriu sarcasticamente.

Sei o que eles querem. É claro que eu sei. Pais e suas ideias malucas de pensar que se você trás uma garota a sua casa ou a mesma em por livre e espontânea vontade, é porque está rolando alguma coisa. Tudo bem que, talvez, esteja rolando alguma coisa entre nós – uma coisa complicada e confusa, mas é alguma coisa.

— Olha, é melhor vocês pararem por ai, Okay? — eu disse — Não é porque ela veio aqui, que significa que esteja rolando alguma coisa entre nós.

— Eu não falei nada disso. Falei, Sally? — disse meu pai.

— Não, não falou não, Poseidon. — disse minha mãe — E eu, falei?

— Também não. Viu, filho, nós somos inocentes. Não falamos nada. Quem está falando é você!

— Olha, vocês estão espertinhos demais pro meu gosto — virei-me e já ia me direcionando para o meu quarto, longe de outra conversa embaraçosa.

— Ah, Percy, espere ai, vai — disse meu pai — Só estamos brincando com você. É que faz tanto tempo que você não trás uma garota aqui... Ficamos felizes em ver que você está seguindo em frente.

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Virei-me novamente. Devia estar feliz por meus pais não estarem brigando e concordando em alguma coisa, que não seja meu comportamento relativamente péssimo. Bem, eu estou feliz. Mas tinha que ser devido a minha suposta relação com a Annabeth?

— Olha, pai — eu disse. — Que bom que você está feliz e tal, mas a Annabeth não veio aqui por estar a fim de mim. Ela veio me ajudar com... Bem, não importa. O que interessa, é que ela não veio aqui pra nada disso.

— Pelo jeito como ela chegou aqui ou ela estava muito ansiosa por te ver ou ela estava pensando que você estava morrendo lá em cima. — disse minha mãe.

É mais provável que seja pela ultima opção, pensei.

— Sabia que você está com uma cara de quem está considerando? — disse meu pai.

— Olhem...

— Okay, Percy. Não vamos te forçar a falar nada. — disse minha mãe — Mas nós sabemos o que vimos aqui.

— E o que vocês viram aqui? — questionei.

— Agora você está interessado? — disse meu pai — Pois bem. A garota que estava aqui há pouco tempo é um amor de pessoa. É inteligente, simpática e aguentou até as perguntas constrangedoras da sua mãe, pelo simples fato de ser a sua mãe.

— Acho que ela só é educada demais pra negar a resposta a minha mãe. — disse eu.

— Percy, fala sério. — disse minha mãe — Ela podia sim ter negado. Lembra que você e seu pai até tentaram me fazer parar de falar?

— Isso não seria possível nem se a gente te implorasse, mãe — disse eu.

— É, tem razão.

— Viu? — eu disse — É serio. Não tem nada entre a gente. Somos apenas amigos.

Amigos a qual um odeia o outro (teoricamente), um beija o outro (reciprocamente), e que um insiste em negar o que, talvez, sente um pelo outro (diariamente), completei mentalmente.

— Alguém aqui disse que existe alguma coisa entre vocês dois? — disse meu pai — Eu não disse nada disso, você disse Sally?

— Não, eu não disse — disse minha mãe, sorrindo.

— Olha, Percy, você está cavando sua própria sepultura, meu filho. E, bem, agora eu vou pensar que está realmente rolando alguma coisa entre vocês. Está rolando alguma coisa entre vocês?

— Ah, por favor! — revirei os olhos e já ia me direcionando novamente para o meu quarto.

— Ei, Percy, calma — ouvi minha mãe dizer, então parei, mas não virei pra eles. — Nós já dissemos por que estamos assim. Estamos felizes pela possibilidade de você estar seguindo em frente. De ter esquecido tudo o que aconteceu dois anos atrás. Acredite, Percy, doeu mais na gente do que em você.

— Não doeu não. — resmunguei.

— Pode até ser — disse meu pai — Mas o fato é que: se essa garota, ou qualquer outra que você goste, valer a pena, corra atrás. Se for continuar desse jeito, já vou lhe dizendo: uma hora, você vai acabar se arrependendo.

Subi para o quarto.

Talvez eles tenham razão. Okay, eles tem a total razão. Eu preciso seguir em frente. Ficar com medo de repetir o passado não vai me levar a nada.

Sei que o que tenho passado com a Annabeth leva a crer que sinto algo por ela. Sim, eu sinto. Eu estou completamente apaixonado por ela. Mas até esse momento, tudo o que eu fiz foi só pra descobrir aquele maldito segredo dela em relação a mim. Os beijos, as falas impulsivas, foram efeitos colaterais dos momentos que, acidentalmente, criamos.

Talvez seja a hora de fazer alguma coisa propositalmente.

Nico

Eu estava tão nervoso com o fato de levar Thalia a algum lugar, eu acabei não conseguindo imaginar lugar nenhum.

Então acabamos indo pra minha casa, de carro. Se você está imaginando de onde saiu esse carro, eu te digo: ele é meu. Com todo o meu orgulho! Podem babar, crianças. Sim, eu acabei de ganha-lo. Por quê? Meu aniversario será na semana que vem. Ah, os dezenove anos...

Enfim, Thalia estava no banco do carona. Ela havia ligado o radio em uma estação de rock e cantarolava quem nem uma louca. Bem, que nem ela mesma. Se outra pessoa tivesse encostado o dedo no radio do meu carro novinho, o garoto aqui teria ficado um pouquinho nervoso. Mas era só a Thalia e, por algum motivo, meus nervos lhe abriram uma exceção.

— Então, di Angelo — Thalia começou, após acabar de cantar We Will Rock You — De quem é essa belezura?

— Minha — falei.

Eu, de fato, estava concentrado na estrada, mas não olhava ela. Não porque sou um cumpridor fanático da lei, mas porque decidi não parecer mais tão puxa saco dela. Queria ver o que ela realmente sentia por mim.

— Hum — ela começou a mexer em uma mexa do seu cabelo — Então porque nunca te vi com ele? — obviamente, ela colocou seu modo desconfiada ativo.

— Porque eu acabei de ganha-lo. Na horinha exata em que uma mensagem bastante suplicante chegou em meu celular.

— Então isso significa que eu fui a primeira garota a estrear essa belezura? Eu motivei a sua primeira viagem?

— Basicamente, sim. Mas desde quando você se importa com isso?

— Eu não me importo.

Olhei pra ela. Thalia continuava mexendo em seu cabelo, mas... Que sorrisinho era aquele?

— Vai me levar aonde, Garoto do Carro Novo?

— À minha casa.

— O que tem lá?

— Você vai ver.

***

— Você não vai ganhar!

— Claro que vou, Grace! Jogo isso há muito mais tempo que você. E eu tenho que admitir que esse jogo já esteja mais que ultrapassado!

— Ultrapassado é o escambau, Okay? Pelos meus cálculos e as minhas fontes precisas, só há um jogo a frente desse!

— Então?! Ultrapassado!

— Não seja ridículo, Nico! Esse é o tipo de jogo que você começa a jogar assim que chega da escola e acaba virando a noite jogando ele.

— Nunca vi tanto exagero em uma frase só, Grace. Aliás, eu mesmo tenho o novo lançamento.

— O que?! — Thalia virou-se pra mim.

— Te matei! Há, há! Ganhei!

— Trapaceiro.

— “Trapaceiro” é uma palavra muito forte, Grace. Eu diria... “Pessoa com uma inteligência superior a sua”.

Thalia revirou os olhos, levantou-se do chão e seguiu em direção ao banheiro. Peguei os dois controles do vídeo game e os guardei. Desconectei da televisão e desliguei a mesma. Gritei pra ela:

— Então, Thalia, como é perder?

Engraçadinho — escutei-a gritar do banheiro.

— O que você está fazendo aí? — andei até o banheiro e peguei Thalia fazendo poses na frente do espelho aletoriamente. Ela não se importou de eu olha-la, é claro, e continuou fazendo as suas poses.

— Eu estou apreciando o seu espelho — ela disse, e fez outra pose — O pobrezinho quase não deve ver coisas bonitas. Ver sua cara pela manha deve ser aterrorizante.

Dei uma leve gargalhada.

Sem ela ver, tirei o meu celular do bolso, fiz uma careta junto com ela, apontei a câmera para o espelho e tirei uma foto. Thalia parou instantaneamente de fazer caretas.

— Ah, qual é, di Angelo!

— Relaxe, é só uma foto.

— Uma foto desprevenida! Deixe-me ver!

— Desde quando você se importa se saiu bem ou mal em uma foto? Pra mim você nunca foi vaidosa.

— É aí que você se engana, Gasparzinho — Thalia virou-se e se sentou na bancada da pia — Vocês pensam que, só porque sou uma punk, não ligo pra aparecia do meu rosto. Sabe o que vou fazer? Vou mandar todo mundo se foder.

Gargalhei quando ela enfatizou a palavra “foder” me mostrando o dedo do meio das duas mãos.

— O fato, di Angelo, é que sou sim uma garota vaidosa. Está vendo esses olhos aqui? — ela indicou seus olhos azuis elétricos com uma grossa camada de lápis preto envolta — Demoram muito tempo pra serem feitos! Realmente me preocupo se eles estão como devem estar. E mantê-los assim durante todo o dia não é nada fácil.

— Entendi. E as roupas?

— Também são provas da minha vaidade. Simplesmente odeio fazer compras, mas não deixo ninguém faze-las por mim. É muito difícil achar roupas femininas que não contenham rosa. Quando decido comprar alguma coisa que me agrade, leva horas! Quando não acho, pego qualquer coisa mais ou menos, pra não ter perdido o meu tempo, e dou o meu jeitinho. — ele deu uma risadinha — Porque está me olhando assim?

— Ah, nada. E o que isso tem a ver com a foto?

— Cara, você não entendeu? Minha vaidade me obriga a sempre estar parecendo uma punk. Não é pra, de fato, ficar bonita, apesar de eu ser — ela sorriu e eu também — Isso não me importa! Só quero ficar parecida comigo, entende?

— Acho que sim.

— Ótimo. Agora se vira.

— O que?

— Se vira! De costas pra mim.

Dei de ombros e me virei. Thalia pulou em minhas costas e agarrou o meu pescoço.

— Pode me explicar o porquê disso? — questionei.

— Preguiça! Me leve pro seu quarto.

— É só atravessar a porta.

— Te perguntei alguma coisa? Me leva logo pro seu quarto!

— Está bem, está bem.

Imaginando que, se não fizesse o que ela pediu, ela iria acabar me dando um beliscão no pescoço, fiz o que ela me pediu. Dei dois passos e já estava em meu quarto.

— Prontinho, já pode descer.

— Nem pensar. Eu estou muito confortável aqui. — ela deitou cabeça em meu ombro.

Tentei não surtar. Tentei ignorar o formigamento que eu estava sentindo em meu pescoço. Ou o fato de que as pernas de Thalia estavam o redor da minha cintura. Obriguei os meus hormônios a se aquietarem imediatamente.

— Olha, Thalia, eu sei que você é leve e que meu perfume que você está aproveitando é extremamente viciante, mas eu quero ter coluna quando for mais velho.

— Ah, di Angelo, não reclame! Se não vou confirmar a minha teoria de que seus musculo são apenas fachada.

— Chata.

— Molenga.

— Desmiolada.

— Nojento.

Enquanto trocávamos elogios pessoais, eu circulava aleatoriamente pelo quarto com ela nas minhas costas. Não pesava, de fato, mas em minha vez de elogiá-la, eu disse:

— Gorda!

— O que?! — ela pulou de minhas costas.

— Ai, que alívio! — andei até a cadeira da minha escrivaninha e sentei-me lá.

Peguei o me celular novamente no bolso e comecei a mexer nele. Vi de relance Thalia sentar-se de braços cruzados em minha cama.

— O que você está fazendo? — ela quis saber.

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— Conversando.

— Conversado com quem?

— Com uma pessoa.

— Sério? Pensei que fosse com seu ornitorrinco de estimação.

Segurei o riso. Eu não estava conversando com ninguém. O celular estava apagado. Só queria brincar um pouquinho com ela.

— Sério, Nico, está conversando com quem?

— Pra que quer saber? — após dizer isso, dei uma gargalhada pro celular.

— Ah, que saco. Quer me dizer logo?!

— Okay. — dei de ombros — Lembra-se daquela garota que “conhecemos” na boate sábado à noite? Aquela que me chamou pra dançar e você praticamente expulsou-a de perto de mim? Pois é, é com ela. — soltei uma gargalhada — Ela é muito gata e engraçada.

— Eu também sou muito engraçada — Thalia esbravejou.

— Não como ela. Ah, ela acabou de mandar uma mensagem sobre você. Ela disse que você estava caidinha por mim no dia da boate.

— Engano dela. Eu estava me livrando dela pra você.

— Hum. Ela me perguntou se eu me arrependi de não ter ido dançar com ela.

— E o que você respondeu?

— Que sim. Afinal, dançando com você, a única coisa que eu ganhei foi uma bofetada.

— Uma bofetada merecida.

— Tanto faz. Então ela disse que punk são tão estranhas e bipolares, totalmente sem noção das coisas.

— O QUE?! — Thalia gritou, levantou-se e andou esbravejada em direção — Me dê esse celular, Nico! Me dê! Aquela piranha vai se ver comigo! Me dê!

— Não. — eu desviava dela, mas a mesma não desistia — Sai, Thalia!

— Se você não me der esse celular agora, di Angelo, eu juro que o resto de seu quarto vai sofrer as consequências — ela me segurou pela gola da camiseta.

— Não, Thalia, eu não tenho nada! Não tem mensagem, não tem garota, não em comentário, não tem nada! — ela me olhou pra mim com descrença — O que foi?

— EU VOU TE MATAR, SEU FDP! — ela gritou — Não acredito que fiquei com ciúmes por nada! — Thalia tapou a boca com as mãos.

Acho que se alguém tivesse me dado a noticia de que ganhei um milhão de dólares, não me causaria o mesmo efeito que essa frase.

Eu não podia acreditar. Eu estava tão feliz, mas tão feliz, que tinha vontade de ir pra janela e gritar “Ela sente ciúmes de mim! Chupa, mundo”, mas isso seria ultrapassado, exagerado e totalmente idiota. Então, tudo o que eu fiz foi abrir um pequeno e controlado sorriso sarcástico, cruzar os braços, levantar da cadeira e me dirigir para perto de Thalia.

— Ciúmes de mim, Grace?

Thalia arregalou os olhos, com as mãos ainda na boca.

— Não1... Não foi o que eu quis dizer. — ela explicou-se — Eu quis dizer que... Que eu fiquei com raiva dessa garota por nada. É... É isso.

— Hum — dei-lhe as costas, nada convencido. — É sua defesa? Não foi muito boa. Mas... Se eu disse que não acredito e tentar fazer você assumir, nós provavelmente vamos brigar, não é?

— Com toda a certeza.

Soltei uma risadinha e andei até a janela. Fiquei alguns minutos ali parado, olhando pro jardim. Depois de um tempo, comecei a ouvir um barulho de cama rangendo. Olhei pra trás: Thalia estava pulando em minha cama como uma criança.

— Thalia, o que você está fazendo?

— Não é logico? — ela disse, sem parar de pular — Uhul!

— É sim, mas por quê?

— Olha, isso aqui está muito chato. Então, achei um meio pratico pra me divertir. E sabe o que é melhor do que fingir que isso aqui é um pula-pula? Bagunçar alguma coisa sua nesse seu mundinho altamente arrumado!

— Thalia, dessa daí!

— Vem me tirar, di Angelo! — ela pegou uma almofada e tacou em mim.

Isso me impulsionou a subir na cama também. Thalia ainda pulava, mas parou pra pegar um travesseiro e começou a bater em mim, rindo descontroladamente. Eu fiz o mesmo e logo as penas de dentro do travesseiro começaram a sair. Não me importei. Chegou um ponto em que eu peguei Thalia no colo e continuei a pular. Até que caímos, eu por cima de Thalia.

Eu só conseguia encara-la. Penas ainda ciam ao nosso redor e em cima da gente. A mão de Thalia estava em minha nuca, me fazendo ficar bem próximo ela. Eu pensei em me afastar, mas quando o meu rosto se aproximou do dela involuntariamente, esqueci o que estava pensando, e me deixei levar. Meus lábios colaram nos dela e o beijo começou.

Um choque elétrico correu sobre minha espinha, enquanto Thalia puxava de leve o meu cabelo. Eu deveria ter tido a consciência de que, provavelmente, levaria um belo de um tapa depois. Mas eu não estava nem ai, só queria beija-la.

Finalmente, nós nos separamos. Continuamos abraçados, narizes se tocando.

— Desculpe — fui logo me apressando em dizer.

— Cale a boca — Thalia me puxou pela gola da camiseta, me beijando novamente.

Okay, Produção, pode aparecer e dizer que é ilusão minha! (...) (...) Produção! (Produção: Se você não for agora aproveitar a droga desse momento, eu vou ter o prazer de acabar com ele!) (Nico: Numero errado, desculpe!).

Agora era diferente, porque eu não tinha nem um pingo de hesitação. O beijo tornou-se voraz, urgente. Thalia inverteu as posições, de modo que agora eu estava debaixo dela. Suas mãos em meu rosto, tentando se aproximar mais. Minhas mãos passeavam por suas costas, até repousar em sua cintura.

Isso estava me levando à loucura! O beijo parou e recomeçou varias vezes. Ergui-me e fiquei sentado, Thalia ainda em cima de mim. Então, de repente, ela parou o beijo e baixou o olhar.

— O que foi? — perguntei, temendo que ela fosse me bater, e intrigado por ela ainda não ter feito isso.

— Eu... Não entendo — sua voz era frágil.

— O que não entende?

— Você.

Levantei sua cabeça com o indicador, mas ela se recusava a olhar pra mim.

— Como assim?

— Ah — ela suspirou — Tem horas que parece que você me odeia e que sou um terrível impasse na sua vida. Tem horas que parece que eu sou seu maior objetivo, e que você está caidinho por mim.

— E...?

— Eu não sei o que pensar, Nico! Você nunca me diz por que faz nada. E sempre que faz, vêm me pedir desculpas, como se estivesse arrependido, e sempre acaba fazendo de novo!

Pus a mão em seu rosto.

— E porque você acha que eu faço tudo isso?

— Minha hipótese? Você é um pervertido!

— Eu sou um pervertido? Você está em cima de mim e eu que sou o pervertido?

— Ah! — Thalia levantou-se em um impulso — Você não vai ganhar um tapa por essa. Vou fingir que nada aconteceu e é melhor você também.

— Não quero.

Ela me olhou incrédula.

— Foda-se. Eu vou fingir.

— Thalia, você jura que não sentiu nada? Que você me beijou só por me beijar?

Ela vacilou.

— Di Angelo, eu não sei o que senti ou o que deu em mim pra te beijar. Eu estou confusa comigo, com você, e tenho mitos outros problemas pra me preocupar. Por favor, não me pressione. — ela tirou uma pena que estava grudada no meu cabelo — Mas... E você? Aposto que você tem sua explicação ensaiada. Por que não me diz?

— Olha, eu pensei que já estava na cara. Mas, já que não, só digo quando você dizer.

— Droga. — ela cruzou os braços — Me leva pra casa, Nico.

— Espera! Você promete me dizer assim que se decidir?

— Tá, eu prometo. Agora me leve pra casa!

— Tá, mas só depois de você me ajudar a limpar todo esse quarto. Está achando que vai escapar fácil da sua bagunça?

— Idiota.

— Um idiota muito esperto.

— Idiota.

— Vamos limpar logo isso.