Ninguém está pronto para a vida

Ninguém está pronto para: Mexer com os mortos


Falar com os mortos não era assim tão fácil. A maioria deles perdiam todas as lembranças de suas vidas na Terra. O que dificultava ainda mais um diálogo normal. Geralmente Nico trocava algumas palavras e recebia respostas muito vagas. Não pense que todos os filhos de Hades tinham esse dom de falar com os mortos. Não era fácil ser um filho do deus. Nico já estava cansado dessa afirmativa. Tanto é que ele era a única cria do senhor dos mortos, vivo, no mundo inferior. Todos os outros estavam… mortos.

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Hazel era a segunda exceção de Hades/Plutão. Mas ela estava vivinha lá no Acampamento Romano, e também não fazia essas viagens para o mundo inferior. Pensando bem, ninguém poderia fazer isso, mas Nico tinha poder de ir e vir quando quiser. Não agora, pelo visto, a farra acabou.

Os mortos não sabiam porque, mas eles respeitavam a presença de Nico. Assim como poderiam fazer tudo que ele desejasse. Esse era um poder e tanto, nas mãos erradas, era um problema maior ainda.

Nico caminhava tranquilamente por entre os mortos. Um ou outro virava-se para reverenciá-lo cordialmente. Alguns se arrastavam numa infinita caminhada, sem notar o que havia ao seu redor. Ele falou com alguns mortos, mas nenhum seria de grande ajuda. Nico ainda não sabia exatamente quem ele poderia encontrar. Lembrou-se vagamente do padrasto de Percy que virou uma estátua, mas essa não era uma boa ideia.

Ele parou diante daquelas almas e pensou. Percy Jackson, o filho de Poseidon. Foi responsável pela morte de muitos monstros e o titã poderoso Cronos…

Como Nico não pensou nisso antes?

Agora ele sabia exatamente onde ir e quem procurar.

***

Annabeth e Rachel estavam dispostas a tirar Percy de seu quarto. Elas tinham o apoio de Sally, que havia deixado as duas em seu apartamento, para ir dar uma ajuda a Paul na Cafeteria.

— Tenho a disposição um jatinho particular que nos levará para qualquer lugar que você desejar. — Rachel levou as mãos à cintura, parada ao lado da cama de Percy. — E sim, eu estou me gabando pela primeira vez na vida. Tenho um jatinho e não tenho medo de usá-lo.

— Se eu fosse você, não perderia essa chance. — Annabeth completou, dando uma piscadinha.

Percy, que ainda estava deitado na cama, mexeu o corpo, tampando o rosto com um travesseiro, fazendo um grunhido estranho com a boca. Parecia um urso hibernando.

— Por favor, Percy. — Rachel sentou-se na cama e tirou o travesseiro do rosto dele. — Você está péssimo.

— Eu não ligo. — Percy falou todo manhoso.

— A quanto tempo você não faz a barba? — Annabeth analisou o visual desleixado do amigo. — Está precisando de um banho. E se você não se levantar agora mesmo, Rachel e eu vamos te levar até o banheiro e lavar você com uma bucha.

— Eu não vou lavar ele. — Rachel protestou. — Tudo bem, eu posso lavar algumas partes. Mas a barba fica.

Percy até tentou rir com as brincadeiras das amigas, mas não conseguia nem ficar sentado em sua cama, quem dirá rir das piadas.

— Desculpe, meninas. Mas eu não quero sair. — e ele girou na cama, tentando se enfiar embaixo do edredom. Annabeth foi mais rápida e puxou o edredom para fora da cama. — Me deixa ficar aqui na minha cama.

— Nem pensar. Nós viemos a Nova Iorque para tirá-lo desse quarto. Sally me falou que você está trancado aqui já faz duas semanas. — Rachel abriu as portas do guarda-roupa de Percy, decidindo qual roupa ele vestiria. — Está rolando uma festa em Las Vegas, e é para lá que vamos.

Percy sentou na cama com a ajuda de Annabeth, ele não conseguia se animar para ir na Cafeteria, e quem poderia dizer que ele ia numa festa?

— Não se preocupe que dessa vez não vamos naquele maldito Hotel e Cassino Lótus. — Annabeth puxou Percy na direção do banheiro. Rachel vinha logo atrás para ajudá-la.

— É a inauguração do Hotel de alguém especial. O Hotel se chama, advinha…

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— Hotel e Cassino alguma coisa. — Percy respondeu sem ânimo.

— Quase. Olympos Hotel e Cassino. Qualquer semelhança não é pura coincidência. Muito pelo contrário, o Senhor D. fez um ótimo investimento. — Rachel e Annabeth conseguiram colocar Percy dentro do box do banheiro. — Você vai mesmo querer que a gente te lave?

Ele suspirou.

— Você está pensando mesmo? — Annabeth puxou a cortina de plástico e saiu do banheiro batendo a porta.

***

A ideia de Nico era simples, mas não de ser executada. Daria certo se seguisse algumas regras simples. Para começar precisava encontrar a sua vítima, ela deveria recordar-se de sua vida e, principalmente, ter um assunto inacabado lá em cima. Claro que o corpo de quem Nico procurava, já havia sido enterrado há anos. Por isso, Nico precisava apelar para uma antiga magia que havia lido em um dos livros da biblioteca de Hades. Além da magia, Nico também contava com a ajuda de um deus. Ele já até sabia quem poderia ser.

Nico já podia ver as mansões vitorianas e os castelos medievais, o cheiro de churrasco era delicioso e abriu seu apetite. Lá dentro, em Elísios, as coisas pareciam ir muito bem, obrigada.

Entrar parecia ser um problema. Havia um portão com uma segurança muito boa. Nico aproximou-se e de cara notou que não era tarefa fácil. Mas ele estava disposto a fazer qualquer coisa para contatar Percy. E se isso significava invadir o Elísios, então ele precisaria apelar.

***

Quando Percy saiu do quarto, já de banho tomado e devidamente vestido, Rachel e Annabeth comemoraram com palmas e assovios. Sem muita enrolação, eles deixaram o apartamento. Havia uma limusine a espera dos três, que os levariam para o aeroporto, onde o jatinho particular da família Dare estaria pronto para decolar.

No aeroporto, o trio se encontrou com mais dois semideuses: Drew e Butch.
Annabeth alcançou Butch, dando-lhe um beijo e desculpas pelo atraso, culpando Percy por isso. Drew também parecia estar ali mais por obrigação do que vontade própria.

— Elas também tentaram dar um banho em você? — Percy perguntou.

— É claro que não. — Drew jogou os cabelos, tão lisos e negros quanto podiam ser.

— Las Vegas, lá vamos nós. — Rachel comemorou, apontando na direção em que eles deveriam ir para embarcar.

***

Nico estava dentro de Elísios, mas ele não poderia ficar muito tempo ali, logo seria descoberto e não queria permanecer lá dentro para saber o que aconteceria. Instintivamente ele seguiu em direção a uma construção simples. A mais simples de todas. Havia uma placa do lado de fora, com um par de asas pintado e uma espada pendurada embaixo.

O Elísio era o lugar em que qualquer um gostaria de ir após a morte. Nico tinha sérios problemas com isso, porque, se ele morresse, imaginava voltar para seu quarto e ouvir seu pai lhe dar uma bronca. Estranho.

Procurar alguém que conhecesse Percy Jackson ali não seria assim tão difícil, pois, até mesmo no Elísio, a fama de Percy precedia. Ele estava contando que, quem ele procurava, não havia decidido reencarnar. E finalmente a sorte sorriu para ele. Ou algo parecido. Não tinha muito tempo disponível para ficar batendo papo, por isso decidiu fazer da maneira mais rápida. Sequestrar uma alma do Elísio.

Num instante, eles já estavam longe do Elísio. E quando dessem por sua falta, já seria tarde demais. A alma estava confusa, Nico o encarou de uma maneira que ele pudesse se tranquilizar e deu certo.

— Onde eu estou? — perguntou a vítima — Quem é você?

— Eu sou Nico di Angelo, filho e herdeiro único do trono de Hades. Vou te conceder o privilégio de retornar a vida, mas unicamente para me servir — A alma tranquilizou-se com as palavras de Nico, isso foi o bastante para ele dar continuidade ao plano — O que você se recorda de sua vida mortal?

— Uma árvore.

— Só isso?

— Sofrimento.

— O que mais? Me conte tudo o que lembra.

— Uma menina de boné e um rapaz — houve um silêncio, então a alma continuou — O mar.

— Você sabe os nomes dessas pessoas? — Nico sentia-se eufórico com aquele suspense.

— Sim.

***

As lembranças que Percy possuía de Las Vegas não eram tão boas. Após deixarem o aeroporto, eles foram recepcionados por uma nova limusine. Rachel estava decidida a acabar com todas as garrafinhas de champanhe do bar, enquanto Annabeth e Butch estavam entretidos em uma conversa cheia de sussurros e olhares, no banco próximo ao motorista.

Sentada ao lado da janela, Drew observava em silêncio as Luzes de Las Vegas piscarem, do outro lado, Percy mantinha o mesmo silêncio.

O Olympus Hotel e Cassino era um exemplar idêntico do Monte Olimpo de Nova Iorque. Percy e Drew desceram do carro primeiro, logo depois os amigos.

— Eu tenho duas palavras para vocês. — Rachel tomou a dianteira. — Suíte presidencial.

Ela caminhou animada na frente, segurando uma das garrafinhas de champanhe. Percy pensou em ir atrás dela, visto que as leis de Nevada eram rígidas para menores de vinte e um anos bêbados em um Hotel Cassino. Mas ele preferiu ver no que dava aquela bagunça.

Annabeth e Butch estavam tímidos, caminhando de mãos dadas até a entrada do Hotel, e para não deixar tudo mais constrangedor, Percy deixou que eles se distanciassem mais um pouco e então acompanhou Drew.

— Tenho a sensação de que algo está para acontecer. — Drew revelou, cruzando os braços, sentindo um calafrio percorrer seu corpo. Percy tirou o paletó que vestia e colocou sobre os ombros dela.

— Eu não queria concordar com você. Mas também sinto algo estranho. — eles entraram no hotel. La dentro o clima estava ameno. Drew retirou o paletó e entregou para Percy.

Rachel estava na recepção para assinalar a entrada dos cinco semideuses e logo depois, estava com o cartão magnético em mãos. Eles seguiram para o elevador, e de lá, para a cobertura.

— Muito bem, essa é a Suíte Presidencial Afrodite. — Rachel deu uma risadinha eufórica, depois olhou para Drew — Era a única disponível. Eu queria a Suíte Poseidon, dizem que tem uma piscina com golfinho. Mas ela já foi reservada.

Rachel passou o cartão magnético e abriu a porta. Havia tantas coisas para ver dentro da suíte, que os olhares de todos os cinco se confundiam. Rachel informou que a suíte possuía quatro quartos. Isso significava que alguém teria que dividir um quarto. Ela olhou para trás piscou para Annabeth, que largou a mão de Butch cheia de vergonha.

Percy parou em frente ao primeiro quarto e entrou. Ele fechou a porta e trancou-a por dentro, ignorando as batidas insistentes de Rachel, informando que havia um smoking dentro do guarda-roupa, sob medida para ele.

— Como você…

— Eu sou um oráculo, sei de tudo. — A voz de Rachel ficou cada vez mais distante, até que Percy não a ouviu mais. Ele deu uma olhada ao redor. Uma cama confortável ficava próxima da janela, cheia de almofadas e pétalas de rosas. Percy aproximou-se da cama e passou a mão sobre ela, removendo todas as pétalas, deixando-as cair no chão. E então ele deitou na cama. Poderia passar dias ou até quilômetros longe de casa, mas a sensação de vazio em seu peito não era preenchida. Percy não conseguia deixa de pensar em Nico.

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