Ninguém está pronto para a vida

Ninguém está pronto para: Declarações


— Me fala uma coisa. — Alex girou uma ferramenta entre os dedos e entregou para Leo, que estava consertando o motor do aparador de grama, adicionando novas lâminas muito mais afiadas. — Quando foi que você começou a gostar desse Jason? Você disse que não o conhecia antes, e algumas lembranças foram implantadas pela névoa quando ele apareceu naquele ônibus.

Leo limpou o suor na manga da camisa suja de graxa, o Senhor D. não poderia ter lhe dado castigo melhor que aquele. Ele pegou um velho aparador de grama e transformou em uma máquina mortal para qualquer planta. As dríades com certeza não vão curtir, mas ele iria se certificar de que o aparador não caísse nas mãos do chalé de Hermes.

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— Sim. As lembranças implantadas pareciam reais. Nós fazíamos tudo juntos, sabe. — Ele apertou um parafuso e a máquina mortífera estava pronta para ser usada. — Eu não sei quando comecei a gostar dele. Talvez quando o vi voando...

— Voando?

— Longa história. — Leo riu. — Mas quando dei por mim, eu já estava apaixonado e para meu azar, a Piper também estava. E claro, ele ficou com ela.

Leo murmurou desanimado.

— Como é isso? — Alex se sentou em cima da mesa de ferramentas, sem se importar em sujar suas calças de graxa. Ele transpirava bastante, nas forjas fazia muito calor e a fornalha estava em pleno vapor.

— Isso o que?

— Se apaixonar por alguém e aguardar até ele se manifestar e tomar uma decisão, boa ou ruim.

A frase de Alex acertou Leo como uma flecha certeira no alvo.

— Eu não aguardei. — Ele se defendeu, limpando as mãos em um pano sujo. — As coisas fluíram normalmente como tinha que ser.

— Sei. — Alex desceu da mesa. — Então se você não tivesse dado a poção para Jason, não saberia nunca que ele estava afim de você.

— É. Acho que é isso. Ou ele descobriria depois de um sonho, sei lá, essas coisas podem acontecer, não é? — Leo olhou preocupado para Alex.

Ele havia desabafado com o assistente sobre seu caso complicado com Jason. Mas também não precisava esculachar, né?

— Eu não sei como é. Nunca me apaixonei. — Alex pegou uma lâmina de bronze, analisando seu fio de corte com um cano de PVC.

— Nunca se apaixonou? Nunquinha? — Leo perguntou incrédulo.

— Não, eu nunca me apaixonei. Difícil de acreditar?

— Bem, na verdade sim. — Leo mexeu nos cabelos loiros de Alex. — Fala sério, as garotas devem cair matando em você. Com essa pinta de galã. O Príncipe das Harpias.

Alex girou os olhos, ele cruzou os braços e manteve a postura. Era mais alto que Leo vinte centímetros. Ele gostava de ouvir o chefe falar sobre seus projetos, mas quando o assunto era Jason, o olhar de Leo sofria uma transmutação e ele ficava abatido.

— Eu vivi muito tempo na fazenda, frequentei a escola até os oito anos, quando meu pai adoeceu eu passei a estudar em casa sozinho. Minha vizinhança era praticamente as vacas, bois, ovelhas e cães pastores. Tenho vivido assim nos últimos anos, até que um monstro invadiu minha casa e tentou matar a minha madrasta.

— Então você veio parar no acampamento. — Leo abriu uma das muitas gavetas da mesa. — Sabe, tem tantas garotas bonitas aqui.

— Está tentando me arrumar uma namorada?

— Talvez. — Leo estava concentrado nas peças que havia conseguido dentro das gavetas, ele mexeu e mexeu, até que criou um carrinho de dar corda. — Vamos ver, qual é o seu tipo?

Alex pensou, com a mão no queixo.

— Eu gosto de pessoas inteligentes.

— Isso é bom. Afinal, você é filho da sua mãe, grande e poderosa deusa espertinha. O que mais? — Leo o avaliou por alguns segundos, mas seus dedos estavam agitados procurando por algo para fazer.

— Também gosto de pessoas bem-humoradas. — Alex observou Leo caminhar na sua frente, carregando algumas tralhas. — E criativas.

— Já pensou em dar uma olhada no chalé de Apolo, elas são bem divertidas. — Leo não olhava para Alex, e isso estava incomodando o rapaz. Por isso o filho de Atena segurou a mão de Leo e o fez parar de trabalhar na nova engenhoca que criava.

— Eu acho o chalé de Hefesto mais interessante. — Alex pegou a outra mão de Leo e juntou-as perto de seu corpo, pressionando-o contra a mesa de trabalho.

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Leo olhou nos acinzentados olhos de Alex, eles eram grandes e bem desenhados. Estavam tão próximos que ouvir a respiração dele era fácil, sentir o cheiro do perfume impregnado em suas roupas. Para um rapaz da fazenda, ele fazia um tipo muito cheiroso e Leo acordou dos devaneios. Mas um pouco tarde. Assim que se soltou das mãos de Alex, encontrou Jason parado ao lado de uma bigorna.

— Jason. Oi, você tá aí. — Leo deu alguns passos para o lado, afastando-se de Alex.

— Eu cheguei hoje cedo. — Jason olhava sério para os dois, mas principalmente para Alex. E o olhar atravessado era correspondido. O filho de Atena estendeu a mão e se apresentou para Jason.

— Muito prazer, eu sou o Alexander James Mitchell. — Os dois apertaram as mãos, com uma força exagerada no toque.

— Ou só Alex, como chamamos. Ele é meu assistente, nós estamos aqui de castigo, o Senhor D. nos flagrou no Central Park. Quero dizer, não estávamos sozinhos... — Às vezes Leo não gostava de ser tão ansioso e falar em disparada quando uma situação como aquela acontecia. — Alex, este é o Jason. Do acampamento Romano. Aliás... — Ele olhou para Jason, mudando totalmente de assunto e também sua voz tomou uma força nova. — O que você está fazendo aqui?

— Precisamos conversar. — Antes de continuar, Jason olhou para Alex, esperando que ele se tocasse e saísse para que os dois conversassem em paz.

Compreendendo a indireta no olhar, Alex combinou de se encontrar com Leo mais tarde, para o jantar.

Jason deu uma olhada ao redor, a última vez que estivera ali com Leo foi há algum tempo, quando o rapaz estava construindo peças para o Argo II. Ele queria ajudá-lo na construção, mas não era muito bom nisso. Então ficava sem jeito de atrapalhá-lo.

Quando percebeu, estava falando tudo isso em voz alta.

— Você contribuiu com o que pôde. — Leo falou em troca. — Mantendo Piper ocupada, por exemplo. — Ele deu as costas para Jason. Não era aquilo que queria falar, mas uma súbita lembrança de ser abandonado tomou conta de seus pensamentos, deixando-o ranzinza.

— Eu achava que estava fazendo a coisa certa. Ficar com ela. — Jason não se moveu do lugar. — Tenho muitos defeitos, Leo. Um deles foi omitir meus sentimentos por você.

— Não tenho certeza de que seus sentimentos por mim são verdadeiros.

Ainda de costas, Leo sentiu as mãos de Jason tocarem suas costas, abraçando seu corpo. O coitado do Leo não tinha como escapar.

— O que sinto por você é tão real quanto essas peças que manipula com suas mãos. Eu só quero uma chance para me redimir e te explicar o que aconteceu.

Leo fechou os olhos, ele esperava todas as noite Jason aparecer em sua oficina, mas isso não aconteceu. E agora, ele ali, abraçando-o.

Mas porque as engrenagens de seu corpo dizia que algo estava errado?

— Estou te ouvindo. — Leo falou sério. Já estava decidido que não iria tornar aquilo uma tarefa fácil para Jason.

As mãos de Jason caíram sobre os braços de Leo, então ele deu dois passos para trás.

— A primeira vez que te vi, naquele ônibus, eu estava confuso com minhas lembranças apagadas. Mas eu tinha certeza de que algo estava errado. Eu vi Piper e ela segurando minha mão. Aquilo parecia o certo naquele momento, mas depois, eu já não sabia mais se era.

— Continue...

— Eu preciso mesmo? — Jason perguntou, mas a resposta era óbvia. — Você salvou minha vida várias vezes... eu já estava apaixonado, mas as coisas com a Piper foram ficando sérias. Eu fiquei com medo de magoá-la. Eu não sabia que você gostava de mim, então decidi deixar tudo como estava. Até aquela noite, no aniversário de Percy.

Leo engoliu seco. Ele havia prometido para Drew que não contaria nada, mas não poderia mentir para Jason, principalmente quando estava exigindo a verdade dele.

— Eu preciso te contar uma coisa que aconteceu aquela noite.

— Sim, eu sei. — Jason passou a mão pelo cabelo loiro. — Eu bebi mais do que devia. Sinto muito. Não consigo me lembrar exatamente quando tudo começou, mas eu não queria te fazer passar por aquilo. Quando dei por mim, já estava indo embora. Achei que seria mais fácil para nós dois nos afastarmos.

— E foi fácil para você?

— Não. Nunca foi fácil ficar longe de você. — Jason o olhava fixamente. — Eu estava ocupado demais com o que as outras pessoas pensariam de mim, mas agora vejo que fazendo isso, eu apenas estou dificultando minha felicidade. Antes de partir novamente eu preciso do seu perdão.

— Você vai partir? Acabou de chegar.

— Estou em uma missão importante. Aproveitei que algumas pistas indicavam Nova Iorque e decidi passar por aqui. Falei com Quíron e agora...

— Você está indo embora. — Leo sentiu o nó da garganta apertar. — Depois da missão, você vai para onde?

— Eu tenho minhas obrigações no acampamento. Você sabe.

— Sim. É claro. — Leo forçou um sorriso. Ele não estava disposto a fazer o papel de rei do drama. — Bem, nesse caso, eu te desejo boa sorte.

Foram os segundos mais longos de suas vidas. Ambos estavam um de frente para o outro, segurando suas emoções para não desabarem. Mas Jason não poderia partir sem antes abraçá-lo novamente.

Ele acariciou o rosto de Léo com a mão, era uma sensação nova, passando os dedos na curva do pescoço, orelha e por fim segurou-o pelo pescoço, trazendo-o para mais perto de si. Jason não pode mais se controlar, percebendo que não havia objeções da parte de Leo, ele o abraçou e beijou-o. Para Jason, era ousado aquela atitude, ele ainda se perguntava como havia conseguido juntar tanta força para beijar Leo pela primeira vez. Imaginando ainda que o álcool fora responsável.

Leo levou suas mãos para cima dos ombros de Jason, segurando-o, sem chances de deixá-lo escapar. Ele abriu os olhos em um determinado momento, apenas para ter certeza de que era Jason. Aquele beijo foi ainda mais prazeroso do que os trocados em sua oficina.

As mãos de Jason desciam pelas costas de Leo, a camisa encharcada de suor. Era o calor das fornalhas ou os dois que estavam muito quentes?

Leo foi empurrado para trás, mas dessa vez não havia paredes em bom estado para que fosse pressionado, por isso Jason o colocou sentado na mesa.

O lugar estava quente, muito quente. Sendo filho de Hefesto, aquele fogo todo não poderia ser tão ruim para Leo. Mas porque algo ainda parecia errado?

Leo gemeu baixinho quando Jason enfiou sua mão por dentro da camisa, tocando a pele suada. Sua visão ficou embaçada e o sangue fervia nas veias. Estava sentindo uma confusão física e mental.

Jason apertou seus lábios contra o pescoço de Leo, ele confessou que o desejava naquele instante, como o desejou todas as noites em que deitava a cabeça no travesseiro, imaginando-o ao seu lado.

Não era o lugar mais apropriado para transarem, mas quando o corpo manda, a alma obedece, ou se faz de burra e dá um jeito. Ou algo assim. A questão era que ele não poderia, nem teria condições de parar agora.

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Estava em ebulição. Literalmente.

Tanto que, quando eles se beijaram mais uma vez, Leo sentiu suas mãos em brasas, ao tocar Jason, ele recuou. Sua camisa estava chamuscada, a queimadura nem foi tão grave, mas aconteceu.

Leo não sabia o que dizer. É claro que ele não queria pôr fogo em Jason, não nesse sentido de queimar com o próprio fogo.

Mas que ironia do destino.

— S-sinto muito, eu não sei o que aconteceu. — Ele saiu de cima da mesa. Foi um pouco constrangedor tentar se recompor, ele estava bem excitado.

Os dois estavam, para falar a verdade.

— Tudo bem. Não me machucou. — Jason limpou as cinzas de sua camisa, agora havia um buraco nela. — Isso já aconteceu antes com você?

— Não, nunca. Vai ver foi emoção do momento. Ou esse lugar, tá bem quente aqui.

— É, está mesmo.

Leo tentou animar o clima, mas não tinha o que fazer.

— Posso te emprestar uma camisa, se bem que uma roupa minha iria ficar muito apertada em você. — Leo estalou os dedos. — Você e o Alex tem o mesmo tamanho, posso pedir para ele.

Jason o olho contrariado, não curtindo a ideia de ter o mesmo tamanho de Alex.

— Percy tem meu tamanho também, vou falar com ele.

— Ah! Ok, isso. Fala com ele. — Leo desistiu. — Talvez eu ganhe o troféu idiota do ano.

Jason o abraçou, tocando sua testa na do moreno.

— Ou talvez você ganhe do melhor namorado do ano.

— Para isso eu preciso namorar. — Leo piscou, os olhos de Jason era tão azuis quanto um céu matutino sem nuvens. Parecia lhe engolir. — E para namorar, eu preciso de um namorado.

— Talvez você encontre um. — Jason roçou os lábios nos de Leo. — Ou, se já encontrou.

— Não sei, o único pretendente está em missão, provavelmente vai voltar a morar do outro lado do país.

— A gente dá um jeito. — Jason o beijou. — Está tudo bem?

— Sim. — Não, não estava, mas Leo não conseguia falar isso. — Vamos dar um jeito nessa roupa queimada. Não conta pra ninguém, por favor.

— Pode deixar. — Antes de deixar as forjas, Jason soltou a mão que segurava Leo e caminhou na frente, sem nenhum contato íntimo pelo caminho.

E mesmo que sentisse que algo estava errado, Leo deu um sorriso bobo, dava para conviver com isso. Até quando nós iremos descobrir.