Amor às Avessas

"– Luke, seu filho da…"


"Certos passos, você tem de dar sozinho" -A Esperança (JV #3)

Infelizmente, o que é bom dura pouco. Isso significa volta as aulas, a faculdade, aos professores que quase nos matam de tédio –será que alguém já morreu disso? –, ao campus lotados de adolescentes chatos, excluídos ou exibidos, volta aos livros que não nos submete aos prazeres da leitura, volta... A correria típica de Nova Iorque. Ponto final.

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Como a maioria dos nova-iorquinos, eu e Kate íamos à maioria dos lugares a pé. Afinal de contas, andando se gastava muito menos tempo do que nos carros, táxis, ônibus... O único meio de transporte que eu ainda usava com certa frequência era o metro. O coração pulsante de Nova Iorque. Que em muitas horas do dia ficava impossível de se andar.

–Kate! –gritei bem perto de si.

–Hm.

–Acorda.

–Não.

–Temos aula, ruiva.

–Nem sei o que é isso.

–Quer que eu jogue água em você?

Ela afundou a cabeça mais ainda no travesseiro macio.

–Volto aqui em cinco minutos hein? –falei e dei as costas, indo para o banheiro fazer minha higiene matinal.

Quando voltei ao quarto, Kate ainda estava deitada.

–Kate! Levanta logo, eu to com fome, vai.

A ruiva voltou a resmungar, mas lentamente sentou-se na cama e caminhou –mais lentamente ainda– até o banheiro.

Fui para meu quarto e encarei o guarda-roupa. Optei pela calça jeansmais próxima, uma blusa rosa claro e um blazer da mesma cor. Aproveitei que o dia não estava frio, apesar da neve estar por todos os cantos da cidade. Quando apareci na cozinha para comer algo, Kate já estava completamente pronta –de um jeito “Kate”, com a mochila xadrez pendurada em um ombro, apenas me esperando.

–Não sei para quê me acordar tão cedo, já que eu sempre fico pronta muito primeiro.

–Calma. Me dê cinco minutos.

Corri na cozinha, engoli o leite com biscoitos, peguei uma maça e enfiei em um dos bolsos da minha mochila que estava a esmo em um canto do meu quarto. Voltei ao banheiro, escovei os dentes, arrumei meu cabelo levemente e apareci sorridente na sala de estar, dando uma primeira mordida na maça.

–Vamos, loira. –Kate disse mal humorada.

Assenti indo em direção a porta.

POV KATE

"Quando eu imagino você eu imagino seu sorriso (...) Seu rosto relaxado sua voz um sussurro no meu ouvido" –Tegan and Sara

Não que eu estivesse animada para o meu primeiro dia de aula. Eu não estava animada para nenhum dia de aula. Na verdade, se dependesse de mim, as palavras “animada” e “dia de aula” simplesmente não coexistiriam em uma frase que não fosse negativa.

Mas isso não significava que eu estava totalmente me arrastando para ir para a faculdade. Havia uma pequena luz no fim do meu túnel de desânimo. O motivo disso? Uma morena de 1,70 de altura, cabelos quase azuis de tão pretos, um Maneki Neko tatuado no bíceps direito, um alargador na orelha esquerda e um sorriso de arrebatar qualquer um: Emily Adams.

– E aí, ruivinha bonita. Vem sempre aqui?

Sorri, sentindo o meu rosto esquentar levemente. Mesmo depois de quase três anos, a minha namorada ainda conseguia acelerar meu coração com aquele sorriso, além de ser a única pessoa capaz de me fazer enrubescer.

– Ems! – Sorri e abracei-lhe o pescoço, erguendo um pouco a cabeça para dar-lhe um beijo nos lábios.

– Que gay! – Ouvi a voz da minha amiga loira atrás de mim e sorri.

– Não é hora de ir pra aula, moça?

Ela revirou os olhos.

– Credo, Kat. Moça? Resolveu falar igual ao Luke agora?

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Fiz uma cara de nojo.

– Não ouse me comparar com esse ser, Rachel!

A loira deu um passo para trás e Ems estreitou o abraço na minha cintura. Pela cara da minha colega de apartamento, eu devo ter ficado um pouquinho mais brava que o normal.

– Melhor irmos para a aula. – Ela sorriu.

– Quanto mais rápido começar, mais rápido termina.

– Não sei do que você reclama, ruiva. Aposto que você passa o dia inteiro fazendo comidinha lá.

Dei risada.

– Ah, quem me dera.

Rach sorriu e nós, que andávamos, finalmente nos separamos, indo cada uma para o seu prédio.

Algumas horas depois, o primeiro dia de aula chegou ao fim. Com o meu sono e a preguiça de mais cedo já aplacados, eu não podia reclamar de muita coisa; fora o cansaço e a falta de tempo para ler meus livros, ouvir minhas músicas e ficar com Emily, a faculdade não era tão ruim.

– E aí, Kat? O que faremos hoje? – A minha namorada perguntou-me, se sentando ao meu lado num dos bancos espalhados pelos jardins do campus.

– Não sei. – Dei de ombros, enquanto ela colocava minhas pernas em seu colo.

Ela riu.

– Eu também não.

– Olá, casal! – Rachel surgiu, saltitante e sorridente, diante de nós.

– Oi, hétero! – Eu e Ems dissemos ao mesmo tempo, sorrindo ao perceber a sincronia.

Rachel pareceu não perceber, avisando-nos que iria para casa mas, antes, passaria no McDonalds para comprar ração para seu bicho de estimação. Não o pequeno e fofo. O grande, chato e com um cheiro estranho.

Depois de vê-la sair saltitante, sorridente e um tanto mais gay que eu mesma – mas sem a parte boa –, me voltei para Emily.

– E aí? Alguma ideia do que fazer agora?

– Eu até poderia te chamar para ir lá em casa, mas não dá. Tem gente lá.

– Ah, que pena. Acho que também não dá para ir para a minha. Você sabe, agora, além da Rach, ainda tem aquele bicho de estimação.

– Mas o que tem o Fumaça? – Ems ergueu a sobrancelha.

Sem resistir, comecei a rir.

– Não, Em. Não tô falando do Fumaça. Tô falando do bicho humano da Rach, aquele que ela adotou.

– O Luke? – Ela perguntou, rindo da minha relação. – Mas você detesta mesmo esse cara, não?

Revirei os olhos.

– Eu não detesto, Em. Ele só é folgado, irritante, filho da puta e se acha o gostosão. E ainda te cantou!

A minha namorada ainda sorria, achando graça da minha irritação.

– Você ainda não superou isso? Já passou quase um mês. E ele te canta bem mais que a mim.

Revirei os olhos outra vez.

– E isso é nojento.

Em riu novamente.

– Tudo bem, Kat. Então não vamos mais falar dele.

Assenti, concordando, e deitei a cabeça no ombro da minha namorada, brincando com seus cabelos – que quase sempre ficavam presos em um rabo de cavalo.

– Ah, eu quero fazer alguma coisa! – Exclamei depois de alguns momentos de silêncio. – Não aguento ficar aqui no campus fazendo nada.

Ems sorriu.

– Vamos para algum lugar, então.

– Tipo…?

– Sei lá, tomar um café?

Dei de ombros, sentindo meu celular vibrar no bolso. Peguei-o e sorri depois de ler o que havia na tela.

– Já sei para onde vamos.

– E para onde seria?

– Rachel me mandou uma mensagem. Disse que tá saindo, vai deixar o apartamento livre.

Ems sorriu.

– Isso é ótimo!

Abri um sorriso de canto, mordendo o lábio de leve.

– Você acha?

Ela riu.

– Que cabeça, Kat. Eu não tinha pensado nisso.

Aproximei devagar os lábios da orelha da minha namorada.

– Eu duvido. – Sussurrei, fazendo a mão dela, que me acariciava o joelho, apertar de leve a minha coxa.

Ergui o olhar para o seu rosto, vendo um sorriso pequeno nos seus lábios.

– Faz bem em duvidar.

– Vamos?

Ems assentiu, concordando, e eu tirei as pernas do seu colo, me levantando do banco e sendo seguida pela minha namorada, enquanto andávamos em direção ao estacionamento.

Ela se manteve atrás de mim por um tempo, até chegarmos ao estacionamento. Ali, ela se postou ao meu lado e enlaçou minha cintura com um braço, aproximando o rosto da minha orelha.

– Já comentei que você fica linda com esse jeans apertado?

Ri baixo, sentindo arrepios leves pela sua proximidade e pelo tom da sua voz.

– E você fica linda com essa regata justa e essa camisa xadrez. – Mordi o lábio, puxando-a pela camisa aberta e lhe roubando um beijo nos lábios ali mesmo.

Ems sorriu.

– Que bom que gosta.

Me aproximando ainda mais dela, rocei os lábios em sua orelha ao responder.

– Mas prefiro ainda mais você sem elas.

A minha namorada sorriu de um modo que me deixava sem ação, olhando-me nos olhos quando paramos diante do Mini Cooper azul que ela e o pai haviam reformado.

– Por que tão lento o trânsito dessa cidade? – Reclamei, enquanto avançávamos lentamente para o apartamento.

– Mas você é impaciente, viu?

Revirei os olhos.

– Descobriu isso agora?

Ela sorriu, sem desviar o olhar da rua.

– Não, descobri quando você me prendeu contra a parede e me beijou antes mesmo de saber meu nome.

Corei levemente.

– Foi por reflexo! – Defendi-me, lembrando de como nos conhecêramos: para fugir de uma ex que não saía do meu pé, numa boate que eu e Rachel costumávamos frequentar, acabei agarrando a primeira pessoa que surgiu na minha frente: aquela morena tatuada, de quem eu não havia tirado os olhos desde que chegara lá. O que não devia passar de um selinho, acabou se tornando um beijo bem mais profundo, que terminou com nós ruas respirando ruidosamente, Emily com um sorriso surpreso e curioso no rosto e eu mordendo o lábio, parte envergonhada e parte interessada.

Com um sorriso um pouco tímido, estendi a mão, dizendo a primeira coisa que me veio à mente: “prazer, Kate”.

– Bom, chegamos. – A voz daquela morena tatuada, agora minha namorada, me tirou da boa lembrança.

– Finalmente!

Ela sorriu.

– Vamos subir.

Concordei prontamente, seguindo a minha namorada quando ela adentrava o prédio. Enquanto andávamos pelo corredor do nosso andar, em direção ao apartamento, Ems voltou a me abraçar, colocando, dessa vez, uma das mãos no bolso de trás da minha calça.

– Eu sei que já falei, mas você fica linda com esse jeans skinny.

Abri um sorriso e parei diante da porta do apartamento, mordendo o lábio e olhando para Ems através dos cílios.

– Não morde o lábio assim, ruiva.

Sorri outra vez, mordendo o lábio novamente apenas para provocar.

– E por que não?

Ems um movimento rápido, Ems prendeu-me contra a porta, apertando os dedos na minha cintura e deixando a outra mão na minha nuca. Com os lábios roçando nos meus, ela respondeu em um sussurro.

– Porque me provoca.

Abri um sorriso e a puxei pela nuca, roubando-lhe um beijo longo e demorado, enquanto sentia a mão de Emily descendo pela minha cintura, caminhando pelo quadril até a coxa e a apertando suavemente. Com um suspiro, arranhei por reflexo a sua nuca.

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– Vamos entrar… – Sussurrei, respirando um tanto pesadamente.

Sem dizer palavra, Ems pescou do meu bolso a chave e destrancou a porta, abrindo-a e me empurrando para dentro, fechando-a com a mesma velocidade e me pressionando novamente contra ela.

– Me beija de novo. – Ela pediu, com a voz rouca e macia, roçando os lábios na minha mandíbula.

Sem a menor vontade de contrariá-la, segurei seu rosto e lhe beijei com a mesma vontade, subindo, dessa vez, as mãos por sob a sua blusa, acariciando e roçando as unhas pela pele nua e quente.

Ems não demorou a reagir, segurando as minhas coxas e me erguendo do chão, fazendo-me enlaçar as pernas nos seus quadris e me manter assim no seu colo. E então, com passos ligeiros, acabamos no sofá, as mãos de Emily subindo por baixo da minha blusa enquanto seus lábios roçavam meu pescoço, beijando de um modo delicado e, ao mesmo tempo, ávido.

– Em... – Murmurei, sem conseguir conter os suspiros que ela me causava. E então...

– Humm, Emily... – Uma voz masculina se fez ouvir, numa imitação ridícula de gemidos.

Me levantei do sofá num pulo, sentido o rosto vermelho – parte de vergonha e parte de sede de sangue – ao ver o último rosto que eu desejaria.

– Luke, seu filho da…

– Calma, Kate.

Antes que eu percebesse, as mãos da minha namorada seguravam meus ombros com uma certa firmeza – perfeitamente justificada, julgando que eu estava prestes a tirar um pouco do precioso sangue do filho da puta que nos olhava com um sorriso zombeteiro.

– Meu deus, Kate. Você está exatamente da cor do seu cabelo. Isso é vergonha? Olha, você não devia fazer essas coisas assim, sabendo que esse apartamento não é só seu. Além do mais, vocês estão na minha cama. – Ele apontou para o sofá onde estávamos.

Respirei tão profundamente quando meus pulmões permitiam, apertando os punhos para tentar controlar meu ódio.

– Luke, sério. Você pretende ficar aqui ou o que? Faz o que quiser, mas não provoca ela. – Emily interviu, acariciando suavemente meus ombros de um modo tranquilizador.

Ele riu, divertido.

– Tudo bem, moça. Eu só vim porque tava perto e resolvi buscar uma jaqueta. Já peguei, tô me mandando. Boa diversão.

Num silêncio pesado, esperei que aquele…Ser saísse do apartamento. Quando finalmente ouvi a porta bater, consegui relaxar a tensão nos músculos.

– Aaargh! – Exclamei, com raiva, ódio, desprezo.

Em, atrás de mim, apertou meus ombros de leve, numa massagem carinhosa.

– Calma, Kate. Relaxa. Ele já foi.

Suspirei, sentindo meus músculos relaxando-se mais com o tom macio na voz dela e a sua massagem.

– Mas ele…

Ems afastou meus cabelos e me beijou a nuca e o pescoço.

– Ele não é ninguém. Nem está mais aqui. – A voz dela se tornava mais baixa e sussurrante a cada palavra, ao mesmo tempo em que seus dedos me massageavam as costas e os ombros, e seus lábios deixavam beijos na minha pele.

Sem resistir, abri um sorriso e me virei para ela, sentando em seu colo e beijando-lhe a boca com vontade.