- Você não pode estar falando sério.

Encarei o garoto em minha frente, já farta daquela situação. Os cabelos loiros de Ryan balançavam com o vento frio e seus olhos verdes estavam inquietos em descrença. Tudo o que eu podia pensar naquele momento era em como um dia fui deixar aqueles mesmos olhos, uma vez tão carinhosos, me carregarem em uma viagem tão insana.

- Não me lembro de algum dia ter falado tão sério, Ryan. – esforcei-me para manter minha voz firme, sem falhas ou sinais de gagueira. Era difícil, mas eu precisava ser forte ou ele nunca iria entender. – Nosso relacionamento saiu do controle, não aguento mais lidar com suas crises de ciúme!

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Ele deu um passo em minha direção, mas me afastei. O garoto parado em minha frente não era mais aquele com quem eu brincava quando criança, ou o menino com quem troquei meu primeiro beijo e minhas primeiras carícias mais íntimas. O Ryan que me levava flores todas as manhãs e afugentava meus pesadelos tarde da noite estava longe de ser este que agora me encarava com uma incredulidade explícita.

- Eu só estou tomando conta do que é meu, Melody! – esbravejou, passando as mãos violentamente pelos cabelos emaranhados. – Não suportava aqueles caras olhando para você na minha frente, como se eu não estivesse ali! Você é minha, Mel. Não gosto de pessoas dando em cima da minha propriedade.

- Propriedade? – cuspi com raiva, meus olhos queimavam em fúria. – É isso que eu sou para você, um objeto?

- Não foi isso que eu quis...

- Foi exatamente isso que você quis dizer! – interrompi, deixando de lado qualquer vontade que eu tivera anteriormente de resolver isso de forma pacífica. – Há dois meses você vem me tratando como uma espécie de peça intocável que só você pode ter. Eu mal posso ir à padaria sem ter que precisar ouvir você reclamando que não avisei que iria sair!

Ryan abrira a boca para falar, mas eu o interrompi outra vez.

- Semana passada você teve uma crise de ciúmes porque me viu na rua conversando com outro garoto e não esperou trinta segundos antes de brigar comigo sem ao menos saber que eu só estava informando as horas. Você mudou, Ryan! – corri os dedos por meu cabelo já bagunçado pelo vento e tentei respirar fundo. – Essa sua falta de confiança já virou doentia. – murmurei. – Eu não sou sua e nunca fui.

Isso pareceu estalar alguma coisa em seu cérebro e algo em seus olhos mudou.

- Você está terminando comigo.

Não havia sido uma pergunta.

A essa hora eu já sentia as lágrimas malditas correndo livremente e não dava a mínima que estivessem levando consigo as camadas de maquiagem que cobriam meus olhos. Tudo em que eu conseguia pensar era que, juntamente com o rímel escuro já borrado, meu choro levava embora dezessete anos ao lado daquele garoto. Uma vida inteira de amizade e amor que agora martelavam em meu coração machucado.

- Estou. – foi tudo o que pude dizer, antes de ouvi-lo bufar.

- Vai simplesmente jogar fora tudo o que passamos juntos? – sua voz estava mais alta do que deveria estar, o que me fez encolher os ombros. – Eu amo você, Melody. Será que não entende que tudo o que eu fiz foi para proteger o que nós temos?

- Nós não temos mais nada, Ryan! – exclamei, afastando-me outra vez quando ele tentou chegar perto. As marcas roxas dos seus dedos ainda estavam se curando em meu braço da última vez que ele perdeu a noção de sua força. – Aliás, não existe mais “nós”.

Seus olhos queimavam em mim com uma fúria que jamais havia presenciado. Seu peito subia e descia com velocidade, acompanhando sua respiração pesada. Ele parecia capaz de explodir a qualquer segundo e isso me assustava. Eu deveria ter terminado isso tudo muito antes, quando percebi pela primeira vez que Ryan Oliver começara a me causar medo.

- Sempre vai existir um “nós”, Melody.

E, com isso, observei-o afastar-se a passos rápidos até sumir pela porta, deixando-me completamente em prantos no meio da sala de estar.