Capítulo 9 - A verdade.

Belle só encontrara aquele homem uma vez na vida, pelo menos era o que lembrava, e naquela vez ele ameaçara Ruby. Mas agora ele derrubara Gaston com um único soco e salvara a vida dela. Era seu pai.

Depois que os outros garotos a soltaram e correram com medo, ela foi direto em direção à Ruby e pegou-a nos braços. Limpou as lágrimas que escorriam para que pudesse dar mais atenção à outra, enquanto seu pai fazia uma ligação. Tirou algumas mechas do cabelo de Ruby de seu rosto, tomando cuidado com os machucados e sussurrou palavras de incentivo, assim como havia feito quando Ruby estava delirando de febre. Uma respiração mais pesada fez com que suspirasse de alívio.

– Belle? – Ruby disse acordando.

– Estou aqui Ruby, você vai ficar bem. – Ela passou a mãe na testa de Ruby, provando sua presença.

– Esse som... Minha cabeça dói. – A morena tentou se levantar, mas Belle a impediu.

– Você tem que ficar deitada. E não se preocupe, é só o barulho da ambulância, logo você vai para o hospital. - Ruby negou com a cabeça, dizendo que não queria ir. - Mas você tem! Vão cuidar de você.

Ruby insistiu em se sentar, com um pouco de dificuldade, já que Gaston a atingira na barriga. Ela deu o seu melhor sorriso para Belle.

– Viu? Eu estou bem. E se precisar de cuidados, você consegue dar conta né?

– Tem certeza Ruby?

Dois enfermeiros colocavam um ainda desacordado Gaston na ambulância, enquanto sr. French conversava com Emma, que havia acabado de chegar ao local.

– Hey, Ruby. – Emma se aproximou. – Você quer ir para o hospital no meu carro?

Belle olhou para Ruby e Emma, e decidiu atender ao pedido de sua amiga.

– Obrigada Emma, mas ela vai pra casa. – A loira levantou as sobrancelhas com olhar de advertência, mas respeitou essa escolha.

– Eu levo as duas.

– Obrigada, hum...

– Pode me chamar de Maurice. – O homem ajudou Ruby a se levantar, Emma o parou.

– Da última vez que nos encontramos, sr. French, sua situação não era das melhores. – Belle interferiu. – Tudo bem Emma, ele só está ajudando.

Ruby acordou com um cheiro maravilhoso de panquecas no ar e os raios de sol incomodando seus olhos. Sentou-se, ainda um pouco dolorida e tentou botar os pensamentos no lugar. Os acontecimentos da noite passada correram pela sua mente, ela não podia ser mais grata por Belle e Maurice, mesmo que tivesse suas desavenças com o segundo. Mas o que tomou sua mente foi a dança de mais cedo, a felicidade que sentiu ao saber que Belle se lembrava de pelo menos uma coisa de sua “antiga” vida, as tão conhecidas borboletas no estômago quando tomou-a nos braços e dançaram sua música preferida, o quase beijo. Ela estava decidida, a verdade não poderia mais ser adiada.

Chegando à cozinha, ficou surpresa ao ver Belle e Maurice levantando da mesa e ainda mais surpresa quando o homem lhe lançou um pequeno sorriso e se despediu com um sincero aperto de mãos.

O som dos talheres batendo no prato era a única coisa que quebrava o silêncio durante um tempo, foi aí que Belle decidiu falar.

– Nós conversamos bastante, sabe, antes de você acordar. – Ruby apenas assentiu, com a boca cheia de panqueca. – E eu perguntei por que ele havia se afastado de mim.

Ela tomou cuidado para não engasgar diante dessas palavras - E o que ele disse?

– Ele disse que nós precisávamos conversar...

Ruby respirou fundo, agora era a hora.

– Sim, nós precisamos. Podemos ir para a sala?

Enquanto Belle esperava no sofá, Ruby foi até seu quarto e pegou a única foto que não guardara dentro da caixa. Ela se sentou frente a frente com Belle e pegou suas mãos, as batidas de seu coração não podiam estar mais rápidas, o medo e ansiedade a tomavam por completo.

– Belle, primeiro eu quero dizer que sinto muito... – Belle levou uma de suas mãos ao rosto de Ruby, esta abaixou a cabeça e segurou a mão da outra, pensando em como aquela mulher podia ser tão gentil. – Eu sinto muito por ter mentido pra você. – Ela tentou conter as lágrimas que queriam sair. – Achei que se te contasse a verdade, as coisas ficariam estranhas e talvez você não quisesse me ver. Eu menti quando disse que era só sua amiga. – Ruby estendeu o porta-retratos, querendo acabar com isso de uma vez.

Belle tomou a foto, tampando a boca com a mão ao ver ela e Ruby sorrindo em um beijo. O braço de Ruby se estendia além da foto, dando a entender que estava com a câmera e ela segurava seu rosto, um lindo anel roubando a atenção. Na moldura havia uma data gravada junto com os dizeres “Estamos noivas!”.

Um soluço tirou Belle de seus devaneios, tornou sua atenção à Ruby, que escondia o rosto nas mãos.

– Não. Ruby olhe pra mim. – Sua voz embargada pelo próprio choro.

A morena levantou os olhos, confusa com a reação pacífica de Belle e antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, aconteceu. Seus lábios encontraram os de Belle em um beijo urgente, as duas experimentando emoções jamais sentidas. Ruby matava a saudade que tanto a consumira nesses últimos tempos, sentir sua amada assim tão perto novamente era uma sensação inexplicável. E Belle presenciava a felicidade de um amor correspondido, o medo de seus sentimentos por Ruby estragarem a amizade entre elas não era mais bem-vindo.

A falta de ar fez com que as duas se separassem, mas Belle continuou impossivelmente perto de Ruby. Suas testas se juntaram.

– Isso quer dizer que agora eu sou sua noiva? – Elas riram incapazes de conterem a felicidade.

– Você merece uma proposta descente. – Depois de trocarem mais alguns rápidos beijos, Ruby envolveu o rosto de Belle com suas mãos e olhou em seus olhos, falando com toda sinceridade. – Eu gostaria de começar do zero, quero te fazer feliz com primeiros encontros, primeiros carinhos e momentos. Por isso, por enquanto, eu tenho esse primeiro pedido: você quer ser minha namorada?

Belle sorriu e respondeu com beijo profundo, abraçando Ruby pela cintura e sentido as mãos da outra passearem pelos seus cabelos. Ela nunca desejou tanto ter suas memórias de volta, se era possível ser feliz assim, se ela se sentira desse jeito o tempo todo que esteve com Ruby, sabia que estava perdendo muito coisa. Mas agora não importava, ela tinha todo futuro pela frente para amá-la e fazer de tudo para demonstrar isso.