Uma Briga (Capítulo 30)

Edgar estava aqui comigo, ainda estávamos deitados e ele me abraçava, me acalentava em seus braços, apenas queria ficar ali, quieta e sendo abraçada por alguém que amasse muito. Queria me sentir segura, e ele, naquele momento me dava esta segurança. Foi tão doído passar por aquela agressão. Estava machucada, as marcas do corpo, em breve, iriam embora, mas a dor na alma, acabava comigo. O que aquele homem horrendo tentou fazer era terrível, como alguém pode pensar que pode dispor de outra assim. Achar que tem o direito de me assediar pelo fato de ser divorciada. Queria dormir, tinha medo de ter pesadelos com tudo aquilo, abracei mais ainda Edgar, e sentia que era retribuída. Adormecei e acordei várias vezes, em alguma chorei como uma criança, graças aos céus, não tive nenhum sonho ruim, ao contrário sonhe que estava com Edgar no caminho de alecrim... Ao menos isso...

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No dia seguinte, ainda sonolenta, me lembrei, mesmo depois de dois dias, meu coração ficou tão pesado, estava sozinha no quarto, mas pouco depois Edgar volta com uma bandeja com o café da manhã, e um pequeno ramo de alecrim, ele me beijou na testa e colocou a bandeja ao meu lado. A primeira coisa que peguei foi o alecrim, senti seu cheiro, queria tanto que a vida tivesse aquele cheirinho, este cheiro me remetia a um lugar bonito. Ao menos tinha, ali ao meu lado, Edgar. E tudo parecia bem na companhia dele.

– É tão bom ter você aqui. Sabia?

– Eu gosto muito de estar ao seu lado, Laura.

– Edgar, obrigada por ter passado estas últimas duas noites comigo.

– Laura, não tem por que me agradecer, se eu fiquei aqui é porque me importo muito com você, gostaria tanto que não tivesse acontecido nada disso. Também não queria que se sentisse sozinha, se depende de mim nunca se sentira assim... Não vou negar estou preocupado com você.

– O quê aquele homem fez foi horroroso demais... Mas não quero falar disso, eu quero tanto esquecer, nunca mais pensar naquele homem nojento... – Sentia tanto nojo, em pensar que ele quase conseguiu o que desejava.

– Eu sei meu amor. Lamento muito por tudo isso... – Edgar me abraçava mais uma vez e eu precisava tanto daquele abraço... – Se soubesse como me sinto e pensar que não podemos fazer nada... Estou tão revoltado... Com tanta raiva daquele homem... E pensar que ele quase... – Sua fisionomia se alterou.

– Por que essas coisas acontecem? – Segurava a mão de Edgar, não queria deixar de sentir que estava perto de mim.

– Há pessoas que se sentem no direito passar por cima de qualquer outra, sem se preocupar com os sentimentos de ninguém... Não tem limites, não tem consciência que o outro é como ele... Usam e abusam de um poder que acreditam ter... Não têm escrúpulos... Passam por cima como se o outro nada fosse... Não se importam... A única coisa que desejam é impor sua vontade... Um Senador da República era para ser um homem digno, honrado, assim como seu pai, infelizmente, nem sempre isso acontece e temos homens como este tal de Laranjeiras... É uma vergonha...

– Eu não entendo...

– Ninguém entende, Laura... – Ele acariciou meu rosto.

– Sinto-me tão suja... – Como tinha vontade de chorar.

– Não se sinta assim. Quem tem que se sentir sujo e o Laranjeiras e não você...

– Mesmo assim não consigo não me sentir... Não fiz nada para ele agir daquele jeito...

– Eu sei que não meu amor... – Ele me abraçou mais uma vez e beijou na testa...

– E pensar que muitas outras mulheres podem ter sofrido algo assim, ou pior...

– É por isso Laura, que eu quero que você volte para casa, para eu poder te proteger... Laura, eu preciso falar com você... Tenho pensado muito nestes últimos dias, sobre o quê aconteceu... – Seu semblante ficou sério.

– E o quê tem pensado?

– Sobre o quê aconteceu. Estou aqui com você, mas não vou negar tudo isso me deixou muito chateado, revoltado mesmo. Pensar que aquele homem pudesse fazer qualquer coisa com você... Abusar de você... Eu tenho vontade de matar aquele desgraçado... Porém há algo que me preocupa mais... – Seu semblante mais sério ainda. - Laura, eu tenho tanto medo que algo de ruim aconteça a você... Pensar que isso pode acontecer novamente... Desta vez você teve sorte porque a Isabel chegou bem na hora... E se outro homem tentar abusar novamente de você por causa dessa maldita condição de divorciada. O que este senador fez... Ele não é o primeiro e nem será o último... E a ideia de algo assim acontecer de novo com você me assusta... Por favor, reconsidere, volta para casa... Deixa-me proteger você... Ao meu lado ninguém vai ousar chegar perto de você... Volte para casa, eu quero proteger você... Se você não me ajuda, como posso te proteger... – Mais sério ainda.

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Levantei-me e olhei para o Edgar e não conseguia o reconhecer.

– Me proteger? – Indignada.

– Proteger sim... Acredita realmente que este homem teria feito o quê fez se soubesse que tem um marido ao seu lado, protegendo você...

Olhava para o Edgar e não acredita no que acabara de ouvir...

– Edgar, eu esperava esta atitude de qualquer um... Menos de você... – Incrédula e tentando manter a calma.

– Atitude? Laura, por acaso é errado eu querer proteger você? – Angustiado.

– O quê você quer dizer com isso?

– Laura, eu apenas quero que volte para casa... Este senadorzinho não teria feito o que fez se soubesse que tinha um marido ao seu lado...

– Desculpa Edgar... Você está me culpando pelo que aconteceu? – Eu não acreditava no que ouvia.

– Eu não estou culpando você... Se tivesse ao meu lado ele não teria coragem de fazer o que fez.

– Eu ouço e não acredito... Você está me culpando pelo ocorrido pelo fato de ser divorciada... Acredita realmente que ele não teria feito o quê fez? -

– Não é isso Laura...

– É isso sim Edgar... Você me culpa pelo ocorrido... Ele não tinha o direito de fazer o que fez... O fato de ser divorciada não dá o direito de qualquer homem me assediar...

– Eu sei disso... Infelizmente as coisas não são assim... Mas se tivesse ao meu lado...

– Ao seu lado? Não entendeu Edgar, nenhum homem tem o direito de fazer o que ele fez... Independente da minha condição... Ele foi cruel comigo... Ele me ofendeu e você fala como se a culpa fosse minha. – Estava tão indignada com Edgar.

– Laura, você não está me entendendo...

– Estou perfeitamente Edgar... Eu quero respeito, sendo ou não casada...

– Eu sei disso... Porém tudo seria mais fácil se estivesse ao meu lado...

– Edgar, eu não acredito que você não entende que eu não quero respeito por estar ao lado de alguém... Eu quero por ser alguém de valor, por ser quem eu sou... Eu não quero se respeitada por ser casada com você...

– Quem não está entende é você, Laura... Eu apenas desejo que volte, assim eu posso proteger você...

– Eu não quero ser protegida... Eu quero é ser respeitada pelo que eu sou... E ser casada, ou não, não define quem eu sou.

– Eu sei que não Laura... Apenas é que tudo seria mais fácil se tivesse voltado para casa... Se tivesse voltado, de fato, para mim... Retomado nosso casamento...

– Voltar para casa... Edgar quanto mais de escuto, menos te reconheço... Nossos problemas não vão se resolver se eu voltar para casa, ou retomando o nosso casamento... E pelo jeito, parece que surge mais um em nossas vidas... – Estava tão indignada com Edgar... Com Laranjeiras...

– Eu não entendo esta sua teimosia...

– Minha teimosia... Você fala como se fosse uma menina mimada... Não é teimosia... Nunca foi...

– Não? Então o quê é Laura... Eu não consigo pensar em nada que não seja isso...

– Edgar, ainda temos tantos problemas, mas parece que os que já nos cerca não era suficientes e agora temos que lidar com a sua falta...

– Falta de quê?

– De compreensão, Edgar...

– De compreensão, Laura? Eu tenho tentado compreender você durante todos estes anos... Mesmo não entendendo sua recusa em voltar para casa, eu tento de compreender... Mesmo não aceitando que trabalhasse com aquele senador, eu tentei de compreender... A única coisa que faço é tentar de compreender...

– É aí que você está seu erro, não compreende... Você acha que trabalho por um capricho, que tinha que aceitar suas vontades, pelo fato de estarmos juntos... Você trouxe aquela mulher para nossas vidas e queria que eu aceitasse... Passou seis anos e você não mudou...

– Engraçado Laura porque naquela época eu pedi um pouco de compreensão sua e a única resposta que tive foi o divórcio... – Seu rosto estava duro.

– Eu apenas fiz o que achava certo...

– E é o que tento fazer, o certo... Se alguém pode me acusar de alguma coisa é de tentar proteger você...

– Seu erro é acha que preciso de proteção... Eu não preciso dela Edgar, apenas preciso que aceite...

– Aceitar o quê Laura... Que um homem tente te agarrar... Que você não volte para casa... Eu apenas quero de proteger... Será que estou tão errado em querer te proteger...

– Proteger... Edgar eu não quero viver nesta redoma que você insiste em querer me colocar...

– Eu não quero de colocar em nenhuma redoma... Apenas quero cuidar da minha mulher, será que isso agora é algum crime por acaso? – Não era apenas eu que estava revoltada ele também.

– As coisas não vão se resolver se você colocar tudo nestes termos. – Sentia-me tão magoada com ele.

– Eu não entendo, eu sou acusado de querer proteger minha esposa e ainda estou errado, é isso mesmo?

– Você está errado em achar que pode me colocar em uma redoma achando que todos os problemas estão resolvidos... Não é assim...

– O quê é então Laura porque os últimos seis anos da minha vida passei tentando entender... Eu ainda não consigo compreender...

– Edgar, eu quero muito ser sua esposa... Mas não sou uma propriedade sua...

– Eu nunca disse isso...

– Você acha que a minha volta para casa é a solução de todos nos nossos problemas... Só que não é assim... Eu trabalho porque preciso... Eu gosto de trabalhar... O que aconteceu foi lamentável, horrível mesmo... Eu nunca quis que nada disso acontecesse... Eu não te culpo por querer me proteger... Apenas não sou uma princesa encastelada... Eu quero mais, eu quero mostrar meu valor... Não quero ser respeitada por ser a Sra. Edgar Vieira... Eu quero ser respeitada por ser Laura Assunção Vieira, pelo trabalho que faço, por ser uma pessoa batalhadora...

– Você fala como se quisesse de trancar em casa... Como se achasse seu trabalho algo menor... Eu te respeito Laura e é uma pena que não perceba isso... Eu te ofereci um emprego e mesmo assim preferiu ir trabalhar com aquele senador... Se tivesse aceitado minha proposta nada disso teria acontecido...

– Desculpa, é isso mesmo que entendi? Você ainda está me culpando pelo que aquele homem fez?

– Eu não disse isso...

– Não é o que parece... A culpa é minha por não aceitar sua proposta de emprego...

– Teria sido mais fácil se tivesse aceitado. – A mágoa em seu rosto...

– Eu não acredito nisso Edgar... Esperava mais de você... – Estava tão decepcionada com ele.

– Eu também esperava mais de você Laura, mas não tive e mesmo assim estou aqui, ao seu lado...

– Está Edgar? Será? Neste momento eu não consigo ver isso, ao contrário... Não está do meu lado agora...

– Eu não estou do seu lado? – Indignado.

– Quando você força para que eu volte para casa... Você não está do meu lado, não compreende... Quando você me oferece um trabalho... Também não está do meu lado... Quando acha que devo ser colocada eu uma redoma de vidro, você ainda não está ao meu lado...

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– Eu queria realmente entender o quê é está ao seu lado... Talvez seja achar natural que alguém tente abusar de você e ache natural... É isso, por acaso? – Irônico, mas duro.

– É apenas me apoiar... – Começava a me sentir tão cansada.

– É o que tento fazer... Apesar de isso não mudar meu desejo de proteger você... Se eu quero te proteger não é porque ache que seja minha propriedade, ou porque quero colocá-la em uma redoma, é apenas amo tanto você que a ideia de algo possa machucar você me machuca também... A sensação que tenho é que sou um egoísta quando fala dessa forma...

– Edgar, não tem como você me proteger... Não porque não queria a sua proteção... Apenas a vida não é assim... O que me oferece é um conto de fadas, desses que você conta para Melissa... Eu sou uma mulher adulta... E sei que o mundo aí fora é cheiro de perigos e nem sempre vou poder evitá-los, por um motivo muito simples... Todos eles estão lá fora e eu quero sair para enfrentar... Mesmo que caía, me machuque, chore ou até mesmo me desespere... O que quero Edgar é que esteja ao meu lado quando qualquer coisas dessas acontecer e não me cobre porque não voltei para casa... Da mesma forma caso aconteça algo a você eu quero está ao seu lado e não julgando porque não fez da maneira que eu queria...

– Você fala como se fosse um janota mimado e cheio de vontades e que embirra por causa de um brinquedo... – Indignado... Irritado... Magoado...

– Age sim, quando acha que tudo se resolveria se eu voltasse para casa.

– Então é isso que pensa... – Surpreso.

– O que você quer eu diga Edgar?

– Laura, eu tenho lutado por você... O grande problema aqui é que sou eu quem quer ficar com você... – Uma lágrima...

– Eu também quero ficar com você Edgar, mas não nos termos que quer me impor.

– Impor Laura? Eu... Eu nunca quis impor nada você...

– Quando você quer que eu volte para casa... Se dependesse de você eu já teria voltado... Independe da minha vontade...

– Se eu quero que volte para casa é porque eu te amo, porque vivi seis anos longe de você... Eu só queria nossa vida de volta... Mas isso é pedir muito... É tão errado assim, querer ter de volta a vida que tivemos antes?

– Aquela vida não volta mais... – Como doía tudo isso.

– Talvez tenha razão... Aquela vida não volta mais... Sou um estúpido por almejar isso... – Mais uma lágrima.

Eu não conseguia falar nada, apenas o olhava... Sentia-me tão ferida, duplamente ferida.

– Como pode ser errado tentar proteger a mulher que se ama? Eu tento e não consigo entender... – Vê-lo assim me doía muito... - Eu só queria que voltasse para casa... Se tivesse voltado nada disso teria acontecido...

Eu não acreditava no que acabara de ouvir... A culpa era minha... Ele ainda insistia nisso... Era o Edgar me falando isso... Senti uma raiva tão grande...

– Laura eu te amo, tenta ver meu ponto de vista. – Edgar tenta se justificar, mas seu esforço é nulo para mim, estava cada vez mais decepcionada.

– Para quê? Se você insiste em não ver o meu ponto de vista. – Meu sangue fervia de tanta raiva. - Se um dia eu voltar para casa vai ser porque eu te amo e não para ser protegida... Será porque eu quero está com você e não para ser subserviente a você... Eu quero está ao seu lado e não ser um bibelô, mais um móvel da casa...

Eu respirei fundo e olhei para o rosto desnorteado dele e mesmo assim continue.

– Eu estudei foi para trabalhar, foi para fazer a diferença e não para ficar cuidando do jantar de marido. Você fala como minha mãe e realmente não esperava isso de você Edgar.

– Por favor, não me compare com a sua mãe, não vemos as coisas do mesmo jeito, quando sua mãe tirou seus livros e das aulas na biblioteca, eu fui o primeiro que te apoiar e ajudar a trazer tudo isso de volta a você. E muito menos quero que seja um bibelô, amo o fato de querer ser dona do seu destino, amo o fato de querer trabalhar e conseguir respeito por mérito próprio. Mas odeio o fato de ver você passar pelo que passou e eu não poder fazer nada... Odeio quando me exclui da sua vida como se não tivesse importância alguma... Detesto o fato de ter tido que viver sem você durante seis anos, sendo que quem impôs isso a mim foi você... Você quis que eu a esquecesse, mas não esqueci porque estou aqui agora... Eu quero você Laura perto de mim, eu quero retomar nosso casamento e odeio esta insistência sua de querer não voltar para nossa casa... Eu quero fazer parte da sua, mas você não parece disposta a fazer parte da minha... Seria muito fácil ter uma mulher subserviente dentro de casa, nunca quis uma mulher assim, quando nos casamos e vi o quanto tinha ideias e sonhos próprios, foi aí, que me apaixonei por você... Nunca quis tirar a sua liberdade, ao contrário sem quis que se sentisse livre para tomar suas próprias decisões... E mesmo assim, quando tive que trazer minha filha de Portugal, eu não tive seu retorno, e não me compreendeu e foi embora... Eu assinei aquele divórcio porque você quis se separar de mim, eu nunca quis me separar de você, você foi embora e eu fiquei... – Em prantos assim com eu.

– A culpa é minha? É o que quer dizer. – Eu ficava cada vez mais furiosa.

– Não, o que estou dizendo é que poderia ter olhado um pouco o meu ponto de vista. – Indignado.

– É ai que você se engana Edgar, eu vi o seu ponto de vista, tanto que meu problema nunca foi a Melissa, ao contrário, amo sua filha como se fosse minha... Se alguém não viu o ponto de vista de alguém aqui não esta pessoa não sou eu. Você não me ouvia, apenas achava que tinha que aceitar a tudo aquilo, tomava as decisões e apenas me comunicava, sem se importar com a minha opinião. Você trouxe a Catarina para o Brasil sem me consultar, queria que eu aceitasse tudo e sonhava que nossa vida voltaria a ser como antes... Você pegou aquele navio e nem cogitou me levar, eu descobrir a minha gravidez e não tinha você para compartilhar a felicidade disso comigo... Não recebi uma resposta sua da carta que lhe mandei, eu sofri, perdi nosso bebê e sofri sozinha aqui, e quando chego à minha casa vejo a imagem de você com a Melissa no colo e aquela mulher ao seu lado, como você queria que eu me sentisse? Que aceitasse? Que falasse, Amém... Bastaria colocá-las em uma casa afastada e tudo estaria resolvido... Eu não ia engolir aquela mulher me falando que era sua segunda família... – Eu não acredito que tudo isso veio à tona novamente. Pensei que tivéssemos superados... Estava lá, mais uma vez nos machucando...

Edgar olhava para mim querendo a minha compreensão, estava tão desnorteado por brigar mais uma vez comigo. Pensar que já tinha deixado isso para trás, estava tão enganada, ainda estava ali, latente e mim e nele também... Não havíamos superado.

– Eu não tive nada com a Catarina este tempo todo, não me interessa estar com ela, se tenho algum contato com ela é por causa da Melissa e se não fosse isso nem me lembraria que ela existe. Você nunca acreditou em mim, você não confiou em mim... Eu já disse isso tantas vezes, mas você não me escuta. Eu estou cansado e repeti sempre o mesmo discurso para você, e mesmo assim não me ouve... Eu quero você! A Catarina foi um erro do passado do qual não me arrependo mais por causa da minha filha... Eu adoraria poder nunca mais colocar os olhos em cima dela novamente, mas, infelizmente, por um erro meu terei que conviver com ela... Estou cansado Laura de sempre me justificar... Sou eu que sempre tenho que me explicar.

– Isto eu já entendi, sei que não teve nada com àquela mulher... O quê me magoa é percebe que não entende ainda... O que não quero é ficar com você para ser respeitada. Você Edgar tem uma filha e eu aceito isso, amo a Melissa como se fosse minha filha, já disse, de tudo o que aconteceu é a única coisa boa dessa história... Infelizmente ela é uma menina que nasceu fora do casamento, sei que você tem feito tudo por sua filha vejo seu esforço, se alguém desconfiar que Melissa é bastarda ela pode ser desrespeitada, sofrer preconceito, ser repudiada. Sei que você cuida dela, e se depender de mim ela não será, mas vivemos em uma sociedade hipócrita, que se você não se submete a ela, se não vive de acordo com as convenções é desprezado. Já imaginou se alguém maltratasse a sua filha. Eu luto Edgar para que ninguém mais passe por isso. Que todos comecem a respeitar aquele que é, ou ousa, ser diferente, que não se encaixa. Pense na sua filha Edgar. Você mesmo me disse que a Madre do Colégio da Melissa apenas a aceitou porque você se comprometeu a deixar aquela mulher longe do colégio.

Parei de falar por alguns momentos, derramei um pouco de água que estava no gomil na bacia e molhei meu rosto. Precisava sentir o frescor da água. Edgar me observava.

– Laura, por favor, não quero brigar com você. Estou tão cansado de brigar com você...

– Eu também não Edgar, porém você insiste em não me entender. Nossos problemas não vão se resolver apenas por eu voltar para casa... Temos que resolver os nossos problemas e não passar por cima deles... Edgar, olhe para você, mesmo com o divórcio, você entrar em qualquer lugar e ninguém te questiona, você apenas está ali, você é um advogado bem sucedido, e eu tenho um imenso orgulho disso... Comigo é diferente, as pessoas me olham julgando, me questionado o que fiz de tão errado para você ter me largado... Ninguém pensa que eu posso ter decidido me divorciar... Por isso que homens como o senador Laranjeira se sente no direito de assediar mulheres como eu. Acham que mulheres divorciadas são meretrizes, vulgares, disponíveis, enfim nos menosprezam... Eu nasci em uma família abastarda, mesmo assim pago um preço alto por ter feito as minhas escolhas... Tudo bem, eu já estou acostumada, mesmo que isso me doa muito.

Mais uma vez respirei fundo e olhei para ele.

– Edgar, por favor, me deixa sozinha. Eu preciso ficar sozinha. – Eu não aguentava mais aquela discussão.

– Laura, você quer que eu vá embora? Isso não faz sentido, me deixar ficar, por favor. - Incrédulo.

– Eu quero ficar sozinha. Estou muito cansada. Deixa-me um pouco sozinha. Por favor, vai embora, outra hora conversamos. – Mal sentia meu corpo... Tinha uma imensa vontade de deitar e chorar...

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– Eu não quero te deixar sozinha. Já ficou tempo demais sozinha. – Ele suplicava para ficar.

– Não, me deixe ficar só. – Deite-me novamente.

Edgar tentou me abraçar, eu o rejeitei. Doía cada vez mais...

– Por favor, me deixa ficar sozinha, eu vou ficar bem, apenas preciso ficar sozinha. – Apenas queria que saísse.

Edgar pegou o paletó que estava sobre uma poltrona e saiu muito triste com a discussão, nós já havíamos brigado várias vezes antes, dessa vez parecia pior porque sabia que eu precisava dele, mesmo assim não o queria por perto naquele momento. Ele saiu, assim como eu chorava. Isabel subiu logo em seguida, ela me disse que Edgar havia ido embora e tinha pedido para ela tomar conta de mim... Também disse que ligaria para saber notícias... Estava desnorteado, provavelmente muito magoado comigo... Eu também estava magoada... Naquele momento apenas queria ficar sozinha, mesmo desejando que Edgar não saísse do meu lado, isso era impossível, estava chateada e precisava ficar no meu canto... Pensar... Estava decepcionada... De qualquer um esperava aquela atitude, menos do Edgar... Por que ele não me compreendia... Mergulhei meu rosto no travesseiro e deixei as lágrimas rolarem durante um bom tempo... Já não bastava a agressão sofrida e agora sofria por aquela briga...

Parecia que eu tinha saído de outra batalha, uma pior porque estava me entendendo com Edgar e, de repente, brigamos novamente por questões que teimavam em permanecer ali. Brigar com Edgar sempre era muito ruim, porque sabia que ele era muito parecido comigo, quando nós dois tínhamos algo em que discordávamos, tudo parecia muito maior que de fato era. Por outro lado ele insistia em não compreender. Eu gosto tanto dele, cada briga era como se machucasse a minha própria pele. Voltar para o Edgar, sem que ele me compreendesse não era uma boa idéia. E o amar era uma certeza, mas não bastava apenas amar era necessário aceitar, compreender e Edgar parecia não entender isso... Quero namorá-lo, ficar com ele, redescobri-lo novamente, não tinha pressa em voltar para casa porque tinha medo de sofrer uma nova decepção e o pior que acabei sofrendo uma... Tinha certeza que Catarina fazia parte do passado e que Melissa era o único elo que tinham. Não poderia negar, Edgar tinha saído há pouco ao meu pedido, e eu já sentia uma imensa falta dele. E esta ausência sempre me machucava... Por que as coisas não eram simples... Peguei o ramo de alecrim que tinha deixado cair, pus perto do nariz e senti seu cheiro agradável, mas isso só fez aumentar a falta que sentia do Edgar e de nossa antiga vida... Meu coração ficou pequeno e tive vontade imensa de chorar, não tinha motivos para guardar o choro. E foi o que fiz... Brigamos e já sentia sua ausência... E pensar que poucos dias antes estávamos tão bem... Ao lembrar-me da nossa Lua de Mel, me senti pior ainda... Segurei a corrente com a aliança... Nossa aliança... A apertei contra meu peito... Se tudo pudesse ser resolvido facilmente... Por que a vida nos separava mais uma vez... Eram tantas coisas e não conseguíamos seguir em frente... Tudo estourou sobre nós... E pensar que estava tudo indo tão bem... Por quê Edgar? Por quê?