único

Eles se encontraram por acaso, num dia chuva.

O mais alto o avistou encolhido num banco, numa praça, no frio.

Parecia um gatinho perdido da mãe.

Ofereceu-lhe o guarda-chuva. Ele o devolvera.

Ofereceu-lhe seu abrigo. Ele o encarou raivoso.

Então lhe ofereceu um sorriso, ele o aceitou de bom grado.

O mais alto fitava o rosto bonito do moreno sentado.

Observava atentamente os traços suaves, mas ainda marcantes.

O olhar forte, porem melancólico.

Talvez tivesse sua idade. Talvez não.

Acendeu um cigarro.

Ofereceu.

O outro aceitou. Ainda calado.

Fumaram em silencio.

O mais alto observando com o canto dos olhos o outro tremendo levemente.

“Aqui.” Estendeu sobre os ombros do moreno, seu casaco quente.

“Não preciso. Obrigado.”

“Sabe” ignorou o comentário, olhando para frente, vez ou outra tragando a fumaça do tabaco. “Aí dentro eu tenho outro maço, pode ficar contigo”.

“Eu não tenho um isqueiro.”

Levantando os olhos de seus pés, encarou o outro a tempo de vê-lo levantar-se, dando-lhe as costas, acenando brevemente com a mão esquerda.

O moreno acompanhou o outro com os olhos, durante todo o percurso visível.

Um grande ponto de interrogação dando espaço a um sorriso discreto, quando fitou o lugar no banco, onde o outro estivera previamente sentado.

...Um zippo prateado descansando inocentemente no assento.

FIM.

[27/09/2009]