Eu estava muito pra baixo. Foi o último dia de aula do semestre e graças a Deus tinha passado em tudo, mas não consegui ficar feliz mesmo assim. Nicole tentava me distrair, fazia o que eu gostava, mas nada adiantava. Tentei ligar para meus pais, mas só meu pai me atendia. Minha mãe não queria saber de mim, e a única vez que a ouvi falar foi quando estava falando com meu pai e ela gritou “Eu não tenho mais filha”. Aquilo me derrubou ainda mais.

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Nicole: Meu amor, você tem que comer alguma coisa.

Eu: Eu não sinto fome...

Nicole: Mas tem que comer! Está se alimentando pouco, vai ficar doente assim.

Eu: Não me importo... É bom que eu fique e morra logo. Minha mãe não me ama mais.

Nicole: Me corta o coração ver você assim. Porque não aproveita as férias e vai ver seus pais, como disse que ia fazer?

Eu: Talvez seja pior, talvez ela não me deixe voltar.

Nicole: Mas sua mãe é importante para você.

Eu: Você também é importante. Eu quero ter as duas perto de mim, se eu for tenho certeza que não volto!

Nicole: Agora sim sua mãe me odeia.

Eu suspirei. Então tive uma ideia.

Eu: Vou escrever uma carta para eles.

Nicole: Uma carta?

Eu: Sim, uma carta dizendo tudo o que eu sinto, o que penso... Me ajuda?

Nicole: Isso você deve fazer sozinha.

Eu: Ok.

Fui para meu quarto. Peguei meu caderno, pensei muito e comecei a escrever.

“Olá pai, olá mãe. Poderia começar dizendo que está tudo bem, mas na verdade não está. Estou triste, deprimida... Eu entendo que seja difícil entender o que se passa comigo, também não foi fácil para mim, mas nessa vida temos que aprender a aceitar, a entender que nem sempre o que é passado para nos pelos outros é o certo. Eu sei o que sinto e o que quero, eu amo Nicole e nada nesse mundo vai mudar isso, porque já está marcado em mim. Mãe, sei que você e o papai tiveram problemas quando começaram a namorar, me falou isso inúmeras vezes e inclusive do quanto sofreu por seus pais não quererem aceitar. Pois é, é exatamente isso que está acontecendo comigo. Mãe, tente ver o interior das pessoas, através da sexualidade que é só um detalhe. Nicole me ajuda, me apoia em tudo, está sempre do meu lado e me faz bem, me faz feliz e isso deveria ser importante para você. Não peço que goste da ideia, que goste dela do dia para a noite nem nada disso, só peço que me aceite, que se lembre de todos os momento que tivemos, que saiba que ainda sou sua filha e que te amo muito, que estou tentando ser alguém, e se você me odiar eu não sei o que vai ser de mim, do meu futuro. Já sou maior de idade, não sou mais uma garotinha. Eu sou lésbica e isso é algo que não se muda. Perdão eu não peço porque não há o que perdoar. Eu amo você, o meu pai, mas amo Nicole também, e muito. Espero que me entenda. Amo vocês.”

Terminei. No dia seguinte fui ao correio e enviei. Uns dois ou três dias depois meu pai me ligou dizendo que a carta havia chegado.

Eu: Pai, o que aconteceu.

Marconi: Filha, sua mãe leu e até agora não me falou nada.

Eu: Ai pai, estou tão angustiada...

Marconi: Eu sei filha... Entenda a sua mãe, também não ta sendo fácil para mim.

Eu: Mas você está tentando aceitar, e ela não!

Marconi: Você conhece sua mãe, sabe que uma hora ou outra vai acabar cedendo.

Eu: Tenho medo de isso não acontecer.

Marconi: Porque não vem pra casa? Se você viesse e tentasse falar com ela...

Eu: Ela não me deixaria voltar, iria me prender ai.

Marconi: Você que sabe. Qualquer coisa eu te ligo.

Eu: Tá certo pai, te amo.

Marconi: Também te amo filha.

Desligamos. Eu estava sozinha no ap, Nicole ainda estava no trabalho. Precisava colocar a cara pra fora, sair um pouco. Troquei de roupa e sai, fiquei caminhando, acabei indo no trabalho de Nicole. Ela estava ocupada, mas logo foi falar comigo.

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Nicole: O que houve?

Eu: Preciso espairecer um pouco senão vou explodir.

Nicole: Espera um pouco que eu já vou sair.

Fiquei esperando por quase meia hora e então saímos de lá, caminhamos de mãos dadas.

Eu: Meu pai me ligou.

Nicole: O que ele disse?

Eu: Minha mãe leu a carta que mandei, mas não disse nada.

Nicole: E você vai fazer o que?

Eu: Não sei... Está sendo muito difícil pra mim.

Ela me abraçou e continuamos andando, agora abraçadas.

Nicole: Queria tanto te ajudar com isso...

Eu: Já está me ajudando ficando do meu lado.

Ela sorriu.

Nicole: Que tal fazermos algo diferente hoje?

Eu: Tipo...?

Nicole: Sei lá, um cineminha, comer uma pizza, sei lá. O que você quiser fazer.

Eu: Hum, cineminha é?

Nicole: Sim.

Eu: Gostei da ideia. Queria encher a cara na verdade, mas ficar triste e com ressaca não dá.

Ela riu.

Nicole: É uma péssima ideia, vai por mim.

Eu: Então o cinema mesmo.

Nicole: Só vamos em casa rapidinho pra eu tomar um banho porque ir assim não dá.

Eu: Mas você está tão bem assim. Te acho tão linda com esse uniforme.

Nicole: Tá brincando né? É horrível, e eu estou toda suada!

Eu: Você fica sexy com ele. Ninguém nunca deu em cima de você lá?

Nicole: Todos os dias, mas eu não ligo.

Eu: O que? Quem anda mexendo com minha mulher? Fala logo!

Disse em tom de brincadeira. Ela riu.

Nicole: Que ciumenta!

Eu: Claro, eu cuido do que é meu!

Nicole: E quem disse que eu sou sua?

Ela disse no mesmo tom que eu.

Eu: Enquanto estiver usando isso que tem no dedo será minha.

Disse, apontando para o anel.

Nicole: O mesmo para você.

Continuamos caminhando abraçadas. Eu me sentia um pouco incomodada com os olhares alheios para nos duas, mas sabia ignorar.