Isto não é mais um romance água-com-açúcar

Um bom pai busca garantir o enxoval do filho


O sol já estava alto quando Tsukuyo acordou. O que antes era algo totalmente atípico, nos últimos meses se tornara realmente rotineiro. Teve certo trabalho para poder se sentar em seu futon, seus movimentos eram mais lentos e preguiçosos. Esfregou os olhos para tirar qualquer vestígio de sono, parecia não dormir o suficiente na reta final de sua gestação.

Permaneceu reflexiva por alguns momentos, pensava em tudo o que ocorrera até chegar àquele ponto... Até chegar ao ponto em que agora só aguardava o momento de ver o rostinho do bebê que gerava em seu ventre. Os movimentos da criança eram um pouco mais lentos, mas ela se desenvolvera muito bem e estava saudável, conforme as consultas médicas que fizera nos últimos meses.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Para chegar até aquele ponto, passara por tantas coisas... Quem diria que um simples “crush” evoluiria tanto?

Tudo começou quando seu caminho se cruzou com o de Gintoki, e sua entrada nada triunfal para tentar evitar que Seita fosse atingido. Desde então sentia certa atração por ele, o que aumentou quando esteve como refém nas mãos de seu antigo mestre Jiraiya. Dissera ao albino que se sentia fraca perto dele o que, na verdade, era apenas o fato de ele a ter alcançado para além da fachada sisuda que sempre tivera.

Ela não conseguia se confessar a Gintoki, antes o agredia instintivamente. Teve que tomar muita coragem e agir impulsivamente para fazê-lo entender o que realmente queria. Mas no fim das contas ele correspondera à sua investida. E, apesar de alguns percalços, a relação dos dois sempre se manteve firme. Tão firme, que renderia um filho ou filha que chegaria em breve. Sorriu enquanto seus olhos violetas recaíam sobre o homem ao seu lado que continuava a dormir. Brincou brevemente com uma das mechas do sempre bagunçado cabelo prateado dele, que não demorou muito a acordar, se sentar e esfregar os olhos com a expressão preguiçosa de costume.

Os dois passaram mais uma noite juntos. Nunca deixaram de fazer esse tipo de encontro noturno, mesmo depois de aquele cômodo secreto ter sido reduzido a cinzas. Nem mesmo a gravidez de Tsukuyo impedia o casal de ter esses encontros mais tórridos, adoravam fazê-los. Mas esses momentos não se reduziam apenas a isso, era onde ambos poderiam ser eles mesmos e poderiam se abrir um ao outro.

O Yorozuya deu um grande bocejo enquanto esfregava os olhos rubros mais uma vez.

― Ainda bem que o serviço de hoje é à tarde... – murmurou com a voz ainda pastosa de sono. – Se eu perdesse, todo mundo me mataria...

― Enrolado como sempre... – Tsukuyo disse após deixar escapar um risinho divertido. – Espero que desta vez consiga receber pelo serviço.

― Eu também espero receber alguma coisa daqueles ladrões de impostos. – Gintoki suspirou enquanto se vestia. – O que a gente não faz pra garantir o enxoval do pirralho...

― ... Ou pirralha, não é? – a loira riu, se lembrando da aposta que os dois fizeram.

O albino deu um sorriso debochado e confiante enquanto ajeitava o yukata branco, já preso pela faixa roxa e começava a afivelar o cinto:

― Eu vou ganhar a aposta, Tsuki, você vai ver!

― Veremos!

Ela se levantou e terminou de vestir seu quimono, para depois se aproximar do Yorozuya, que pôs sua mão sobre o ventre dela e sentiu o bebê dos dois reagir. Sorriu ante aquela reação e disse:

― Comporte-se, o papai aqui vai garantir seu enxoval.

*

Era pouco antes das duas horas da tarde quando chegaram em frente a um imponente prédio no centro de Edo. O Trio Yorozuya chegara ao endereço anotado, o qual Gintoki conferia para ter certeza de que tudo estava certo. Quando mencionara a Tsukuyo que iria trabalhar para os “ladrões de impostos”, não deixara de se referir ao Shinsengumi, a quem lhe dava esse título. Entretanto, desta vez era para o superintendente da força policial de Edo.

Missão do dia: fazer a faxina do escritório de Matsudaira Katakuriko, o velhote que era chefe de Kondo Isao, o gorila que comandava o Shinsengumi. Tanto melhor que fosse ele, pois Gintoki não toparia – nem se pagassem um zilhão de ienes – para fazer faxina ou qualquer outro serviço para o bando vestido de farda preta, incluindo o gorila, o super sádico, o cara da raquete e o pior de todos em sua opinião, o Mayora.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Identificaram-se na portaria do prédio e se dirigiram ao elevador, onde subiram até o andar onde se localizava o escritório de Matsudaira. Com as chaves que recebeu na portaria, Gintoki abriu a porta e tanto ele, como Shinpachi e Kagura deram de cara com uma cena no mínimo assustadora.

― Gin-san... – Shinpachi murmurou ao albino. – Não sei você e a Kagura-chan, mas parece que fomos chamados para apagar evidências de uma cena de assassinato...

Presa à mesa havia uma fita zebrada amarela, cuja outra ponta estava amarrada a uma cadeira e, depois, a uma prateleira próxima à janela, como se estivesse isolando uma cena de crime. O que reforçava essa sensação eram as várias manchas vermelhas espalhadas pelo chão.

― Será que não foi um catchup derramado? – Kagura indagou enquanto chegava perto da zona isolada.

― Não tem cheiro de tomate. – Gintoki estava ao lado da Yato. – É tinta, olha lá o vidro no chão.

O Yorozuya se levantou e disse ao companheiro:

― Ei, Quatro-Olhos, isso é tinta. Lembra que o velho disse que a faxineira desmaiou achando que era sangue? Nem deu tempo pra explicar que caiu no chão um vidro de tinta vermelha. Por isso que chamou a gente pra substituir a mulher.

Shinpachi olhou meio intrigado para o local isolado, mas viu que de fato havia um frasco caído no chão. Deu de ombros, rindo consigo mesmo e pensando que havia sido um tanto paranoico. E se caíra tinta, então ali deve ter sido isolado para evitar que algum desavisado pisasse nas manchas e sujasse ainda mais aquele lugar.

Sim, era isso!

O Shimura ajeitou os óculos e o uniforme para faxina, já estava preparando tudo para poder remover as manchas do chão, quando viu os outros dois companheiros paralisados. Aproximou-se deles, que pareciam chocados demais com alguma coisa que encontraram.

― Gin-san...? Kagura-chan...? O que aconteceu?

― P-Pattsuan... – Gintoki apontava para o que encontraram. – Acho que a teoria da tinta era só pra gente vir fazer o serviço...

Perto da estante de livros, atrás da cadeira giratória de espaldar alto onde normalmente se sentava Matsudaira, havia algo caído. Havia um corpo estendido no chão.

― ESSE VELHO MATOU ALGUÉM! – Gintoki berrou e correu para a porta. – TENHO UM FILHO PRESTES A NASCER E NÃO QUERO SER PRESO POR ALTERAR UMA CENA DE CRIME!

O albino alcançou a porta e, ao abri-la, trombou com alguém que estava prestes a bater nela, fazendo com que ambos caíssem no corredor. Gintoki esfregou a testa, que batera contra a testa da outra pessoa, que também esfregava o local dolorido por conta da trombada.

― PRESTA ATENÇÃO NA HORA DE ABRIR A POR- – a pessoa se interrompeu ao ver o Yorozuya. – Você...? O que está fazendo aqui?!

Foi quando Gintoki percebeu com quem tivera o encontrão:

― Eu é que me pergunto... O que você tá fazendo aqui, hein?