Infinite Arms
Absorvia cada uma das notas tocadas
- Agora que estamos aqui, - ouvi Fabrizio falar assim que se sentou. - temos que trabalhar juntos.
- Por mais difícil que isso seja. - completei.
- Por mais difícil que seja. - repetiu.
Nossa atenção foi levada para o garçom parado ao lado de nossa mesa. Entregou o cardápio e ficou esperando enquanto decidíamos o que pedir.
- Hoje é dia de frutos do mar. - a voz grossa do garçom fez com que olhássemos para ele.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!- Ela é alérgica. - Fabrizio falou olhando para o cardápio antes de eu me justificar. Fiquei olhando-o assustada tentando entender como ele sabia aquilo. Eu não sabia nada sobre aquele homem que eu estava dividindo apartamento e ele sabia até mesmo que eu tinha alergia com frutos do mar.
Pedi um prato de carne com molho branco e algo que eu não sabia ao certo o que era e Fabrizio acabou decidindo pelo mesmo pedido.
- E traga vinho. - sorriu.
Encarei Fabrizio.
- O que foi? Não gosta de vinho?
Continuei olhando fixamente em seus olhos. Ele parecia sério.
- Como sabe que eu sou alérgica a frutos do mar? - finalmente falei e ele riu, como se fosse a pergunta mais óbvia e boba. Apesar de nervosa, notei que sua risada era reconfortante e me fez ter vontade de rir também. Mas não o fiz.
- Sei algumas coisas sobre você, Allie. Só costumo observar as pessoas e aprendo sobre elas.
- Como vou saber se não vou dormir algumas noites com um psicopata?
Ele sorriu.
- Você não vai saber.
O garçom serviu nossas taças e eu fiquei por alguns minutos apenas observando o líquido pelo vidro sem vontade de dizer nada. Olhei pela janela do restaurante do hotel e me deparei com as árvores começando a florar. A primavera estava chegando e eu fiquei feliz com aquilo. Era minha estação preferida e sempre me fazia lembrar sobre minha infância.
- Sabe o que eu não entendo? - interrompeu meus pensamentos. - Eu sou do departamento de física e você de obras sentimentais. Qual o sentido de estarmos em uma viagem juntos?
Parei para pensar e percebi o quanto estava certo.
- Não faz sentido algum, mas ainda não sabemos o que vamos encontrar.
- E nem se vamos encontrar.
Concordei com a cabeça.
Alguns minutos se passaram e logo nossa comida estava no prato. Nós comemos enquanto tentávamos pensar em algo para resolver a questão da exposição, mas parecia não ter solução.
Levantamos e fui em direção a escada. Subimos e logo estávamos novamente no quarto. Parei na frente da janela olhando a lua cheia. Roma era bonita e até o ar parecia mais leve.
Estava apreciando a paisagem quando escutei Factory tocando dentro do quarto. Olhei para Fabrizio que parecia feliz por achar uma caixa de música.
A música lenta tocava e eu absorvia cada uma das notas tocadas. Eu gostava de cada segundo daquele disco e sentindo o vento bater no meu rosto, parecia livre para fazer o que quisesse.
- Então você é italiano. - disse puxando assunto de uma forma civilizada.
- Sim. Nasci aqui, mas me mudei com cinco anos. - seu pensamento pareceu longe. - É primeira vez que volto desde o cinco anos de idade. Eu tinha planos de voltar... - deixou a frase no ar.
- Mas não comigo. - brinquei, mas ele não retrucou de volta.
Ficamos em silêncio olhando por aquela enorme janela até o começo de Laredo. Olhei no relógio e vi que eram dez horas da noite e apesar de ter dormido a tarde, estava cansada.
- A festa é amanhã. Precismos descansar. - falei me dirigindo ao guarda-roupa e procurando minha camisola branca. Deveria usar um pijama, mas não havia levado nenhum.
- Acorde de bom humor e não estrague tudo amanhã.
- Eu quem deveria dizer isso a você! - gritei do banheiro, enquanto colocava minha camisola.
Fabrizio tirou o sobretudo e ficou apenas com uma camiseta preta e calças de dormir. Sentou-se na cama e fez menção de deitar.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!- Ei! O que está fazendo?
- Deitando. - foi direto.
- Sou uma mulher noiva. - disse, mas não adiantou.
- Não ligo.
- Você não pode dormir aí. - cruzei os braços e apontei para o sofá preto do lado da estante.
- Por que não dorme lá?
Fitei-o.
- Realmente não se fazem italianos como antes. - caminhei até a cama e deitei.
Fabrizio ainda estava sentado e eu olhava para suas costas. Desligou o abajur e foi andando até o sofá sendo guiado pela luz do visor de seu celular. Escutei-o sentar e suspirar. Logo o som havia sessado, mas Infinite Arms ainda tocava baixo. Fechei os olhos ao som de Blue Beard e estava prestes a adormecer.
- Me deve uma. - sussurrou cansado, o que me fez sorrir sozinha.
*
Acordei com meu despertador tocando perto do meu rosto. Abri os olhos e percebi que o lugar estava mais claro do que deveria. A luz atravessava a cortina branca deixando o lugar completamente relaxante e confortável. Sentei antes de levantar e me deparei com Fabrizio debaixo da janela e perto da cama, sentado na poltrona bege forçando as vistas para ler algum livro que segurava.
- Minhas costas estão doendo. – falou sem tirar os olhos das páginas amareladas. – Se não fosse meu cansaço eu teria perdido o sono.
- Olhe pelo lado bom. Você foi um típico italiano. – sorri e levantei, indo para o banheiro. Fabrizio me ver com o cabelo bagunçado e olhos inchados seria motivo para ser estressada logo de manhã.
- É hoje. – ouvi-o assim que liguei a torneira. – Acabe com essa cara de sono. Precisa estar apresentável.
Revirei os olhos mesmo sabendo que ele não estava me vendo. Bati a porta do banheiro retrucando de volta.
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