Infinite Arms

As coisas estavam seguindo a regra universal


Ouvi uma música italiana alegre tocando. Talvez fossem nos meus sonhos ou algo do tipo, mas parecia mais real do que isso. Tentei abrir os olhos, mas eles pareciam pesados e cansados. Além de tudo, minha cabeça doía e meu corpo parecia recusar levantar da cama.

Com muita dificuldade abri meus olhos. Esperava estar sozinha, mas avistei o corpo acomodado de Fabrizio, e o pior, senti o toque de sua mão na minha. Estávamos de frente e se tivéssemos ambos acordados, estaríamos olhando cara a cara. Tentei desesperadamente lembrar da noite passada. Fabrizio na minha cama não era um sinal muito bom e aquilo me assustava. Demorei quase um minuto para me lembrar. Eu estava mal. Bem mal. Fabrizio havia me ajudado.

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Sorri sozinha olhando-o dormir. Minha primeira reação foi afastar nossas mãos, mas não gostava tanto da ideia. Fabrizio me fazia sentir em casa. Aquele rapaz chato e fechado do museu conseguia me fazer sentir como eu realmente era.

Sua respiração estava lenta e eu fiz o máximo de esforço para me levantar da cama sem acordá-lo. Parei por algum tempo para observá-lo dormir. Parecia uma criança tranquila. Os cabelos negros bagunçados, a roupa amarrotada e o corpo esparramado. Sorri antes de virar as costas, tentando afastar meu próprio sorriso.

Caminhei até o banheiro, tomei um banho gelado e troquei de roupa, colocando um vestido preto florido. Fiz uma pequena trança lateral no cabelo e deixei-o cair nos ombros. Quando voltei para o quarto, Fabrizio ainda dormia profundamente.

– Agora é minha vez de cuidar de você. - disse baixo me certificando de que não iria me escutar. Abri a porta e saí pelas ruas de Roma.

Estava quase chegando à farmácia quando ouvi meu celular tocar. Procurei-o rapidamente na bolsa e olhei a chamada. Alan.

– Amor! - ouvi-o do outro lado da linha. - Quando tempo!

Tentei parecer o mais feliz possível.

– Alan! Demorou a me ligar. - tinha um tom de acusação em minha voz.

– Sabe como é... O trabalho. Sempre cheio de coisas pra fazer.

– É, eu sei. - suspirei.

– Inclusive, vou receber uma promoção! Estou tão empolgado. Meu chefe disse que eu era o melhor para o cargo e...

– Fico feliz por você. - não consegui disfarçar não estar nem um pouco animada.

– Oh, me desculpe, querida. Como vai aí em Roma? Está tudo dando certo? Quando volta? - ele fazia tantas perguntas que me deixava com mais dor de cabeça.

– Está tudo bem. Tempo indeterminado, não é tão fácil assim. - tentei sorrir.

– Você consegue. Confio em você.

– Obrigada.

– Tenho que desligar. Eu te amo.

– Até mais. - falei, mas era tarde demais. Já havia desligado.

Desliguei o celular pensando no tipo de noivo que eu havia arrumado. Alan e eu éramos pessoas completamente diferentes, mas há quem diga que os apostos se atraem. E se isso for verdade, as coisas estavam seguindo a regra universal.

Entrei na farmácia e comprei um remédio para dor de cabeça. Provavelmente Fabrizio também iria precisar de um daquele.

Continuei andando pelas ruas cheias e parei em uma sorveteria. Pedi um sorvete chamado Romeu e Julieta. O pote era suficientemente grande para eu e Fabrizio comermos juntos, mas o fato de não saber se ele realmente iria gostar me incomodava. Às vezes eu achava que não sabia nada sobre aquela pessoa que eu vinha dividindo um quarto de hotel.

*

– Isso está muito bom. - ouvi Fabrizio me gritar da janela. Ele havia acordado antes que eu chegasse e sua aparência depois do banho estava melhor que a minha. Sua cabeça não havia doído e ele parecia lembrar-se de tudo da noite passada. Inclusive coisas que nem eu lembrava.

– Romeu e Julieta. - disse juntando a ele.

Aquela enorme janela dourada possibilitava nossa vista ao Coliseu. Lembrei do dia que tínhamos ido lá. Talvez fosse uma boa ideia voltar algum dia.

Ficamos em silêncio. O vento batia em nossos rostos levemente.

– Temos que procurar Aronne.

– Mas infelizmente perdemos o dia. - completou.

– Cinco horas da tarde. O que nós somos? - encarei-o. - Adolescentes?

Fabrizio levou a colher cheia de sorvete na boca.

– Talvez algo do tipo. - riu.

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– Falei com Alan hoje. - disse finalmente, sem entender porque aquelas palavras haviam saído de minha boca.

– Falou? - sua voz saiu indiferente. - Ele está organizando o casamento?

– Não sei. Tudo o que ele disse foi sobre a promoção que ganhou.

– E você deve estar orgulhosa. - notei ironia.

– Ah, é bom pra ele, claro.

– Mas...

– Mas o quê? – encarei-o.

– Nada. – se defendeu.

Olhei para além da janela. O sorvete frio no céu da minha boca me dava uma sensação boa, mas eu não podia negar que estava nervosa.

– Alan é um pouco ocupado, mas é uma pessoa boa. – tentei justificar.

Fabrizio apenas sorriu. Havia algo em seu sorriso que eu não sabia entender.

– O que foi? Estou falando sério.

– Acredito em você. – disse colocando mais um pouco de sorvete na boca e voltando a fitar a vista lá fora.

Observei-o pelo canto do olho. Algo na minha ação me fez lembrar da noite passada e como uma miragem me vi chegando perto de Fabrizio no bar. Vi-me sentindo sua respiração e prestes a beijá-lo.

Como por reflexo, me afastei e olhei-o.

– O que foi, Allie? – me perguntou surpreso.

– Nada. – tentei parecer normal. Virei as costas e andei até a instante. Fingi olhar alguns livros.

Percebi que seu olhar me seguia, mas não tive como olhá-lo de volta. Algo fazia com que eu pensasse que ele também se lembrava do quase beijo. Uma coisa era tê-lo beijado por causa de Aronne, mas outra é a ação quase se repetir sem motivo algum. Mas eu estava bêbada. Era isso.

– Temos que procurar Aronne.

– É, você já disse isso. – seus olhos me encontraram do outro lado do quarto.