Contos E Crônicas

Auto-Crítica Constante


Auto-Crítica Constante

Ela quase podia ver porque eles a chamavam de linda.

Ali, em frente ao espelho acusador de seu banheiro, depois do banho, nua, ela se observou. Ela, realmente, não era feia. Os olhos caramelos eram rodeados por cílios negros espessos. Os cabelos, castanhos e longos, ficavam quase negros na água. Ela tinha um nariz pequeno e delicado. Sua forma era magra, seu braços delicados, suas pernas longas, sua cintura fina.

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Porém, ela também podia ver todas suas falhas. A cicatriz em sua testa, de quando ela caíra e batera a cabeça. A larga cicatriz em seu abdômem, por onde ela tentara se suicidar. As metódicas cicatrizes em seu pulso, resultantes de seu antigo hábito de praticar cutting.

Ela apertou os olhos. Tinha algo mais faltando em sua auto-crítica...

Oh, sim. Como ela podia esquecer a principal razão?

Ao contrário de todas as outras garotas lindas por aí, seu olhar não brilhava com esperança, nem admiração. Nem ansiosidade, nem nada.

Seu olhar era vazio. Sem alma, se considerarmos que os olhos são as portas da alma.

Talvez ela já estivesse morta há muito tempo.

Com esse pensamento, ela se virou. Tirou seus olhos críticos, frios e sem alma da reflexão do cadáver vivo ambulante.