50 tons de...

Parte 02


50 tons de...

Kaline Bogard

Parte 02

...muita amizade

Quando Sasuke conseguiu passar pela brecha que Deidara abriu, não prestou muita atenção por onde corria. Sabia apenas que tinha que se afastar dali o quanto antes. Intuíra que a noite acabaria mal... devia ter ido embora quando tivera a chance.

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O coração disparou assim que conseguiu sair do ginásio e ganhou um dos corredores que levavam para dentro da segunda ala do colégio. Por ali ficavam as salas de aula e demais dependências.

O corredor se expandia para a direita e para a esquerda. Sasuke sabia que o lado esquerdo levava para os pisos superiores e, conseqüentemente, para o telhado. Um beco sem saída.

Acelerou ainda mais e foi para a direita. Ouvia o som das vozes animadas que corriam em seu encalce. Se o pegassem passaria a maior humilhação de sua vida.

Apesar disso começava a ficar sem fôlego. Não era como se ainda tivesse dezesseis anos e toda aquela disposição juvenil. Era um homem de quase trinta anos, acostumando a viajar muito, sempre de carro ou de avião. Nem tempo para academia tinha mais! Quem poderia culpá-lo? Fazia parte da geração pró sedentarismo, obrigado.

Finalmente chegou à ala das salas. Testou as duas primeiras, mas estavam trancadas. Desistiu das outras, todavia. Seus perseguidores iriam procurar ali dentro, antes de mais nada.

Forçou a mente. Lembrava-se bem da disposição das dependências daquele colégio. Tinha que haver um lugar seguro...

Orientando-se pelas memórias antigas Sasuke seguiu pelos corredores escuros, percebendo, feliz, que as vozes estavam cada vez mais distantes, até que alcançou o espaço reservado para as salas de atividades extras, clubes e laboratórios. Ficava na terceira ala do prédio. O rapaz surpreendeu-se por ter corrido tanto!

Os olhos escuros observaram a plaquinha que indicava o Laboratório de Química. Lugar que seria um esconderijo perfeito! Testou a porta... trancada!

Não, não, não!

Num afã de puro desespero puxou a porta com uma força inesperada. O shouji que já era meio velho cedeu a pressão e abriu-se.

O alívio foi imenso. Com agilidade esgueirou-se para a sala tomada pela penumbra e deslizou a porta, fechando-a e deixando com a impressão de que estava trancada. Depois foi esconder-se num vão entre duas prateleiras de aço. Ficavam em um ponto cego da sala. Se alguém espiasse pela porta não o veria encolhido ali.

Então abraçou as pernas e descansou o queixo sobre os joelhos. Respirou fundo tentando estabilizar o descompassado coração. E aí sim, sentiu-se ridículo.

Nunca, jamais, em hipótese alguma deveria ter ido aquela festa! Que tolo fora! Por que não ficara em casa, protegido e longe de todos, onde era reconhecido e respeitado? Onde as pessoas se afastavam com medo da frieza em seus olhos...

Mas não... tivera que ceder a curiosidade e ao desejo de...

Se fosse bem sincero consigo mesmo admitiria que a idéia de rever Uzumaki Naruto fora o gatilho que disparara o desejo de voltar. A oportunidade de rever aquele rapaz que marcara sua juventude, que o fizera descobrir sobre sua opção sexual ao se perceber apaixonado por aquele que era seu melhor amigo.

Naruto... o mesmo que decidira se juntar a Kiba e arriscar pegar a sua preciosa touca estilo russo.

– Bastardo... – resmungou tentando ignorar a pontada no coração. Maior que o arrependimento por ter vindo, ou pelo desespero de perder o chapéu, era a decepção.

Ouviu vozes de duas ou três pessoas que passavam pelo corredor e gelou. Ficou ainda mais quieto no canto e só se permitiu relaxar um pouco quando as vozes foram esmaecendo, numa evidência de que aqueles perseguidores tinham passado direto.

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A sensação de alívio não durou muito. Logo o shouji correu duas vezes rapidamente, indicando que alguém o abrira e fechara. Antes sequer que pensasse em algo para fazer, uma pessoa sentou-se a sua frente, de forma estabanada.

– Sabia que estaria aqui – Naruto afirmou com um sorrisão.

– Mal... maldito.

– Mas na nossa época essas estantes ficavam ali – apontou o outro lado do laboratório – Trocaram todas as bancadas.

O moreno engoliu em seco, tenso. Esperando apenas o momento em que Naruto tentaria arrancar sua touca, mas o loiro esticou os braços para trás e apoiou as mãos no chão.

Ficaram se encarando em silêncio, até que Sasuke não agüentou o brilho divertido nos olhos azuis.

– O que você quer? – perguntou de mau modo – Me humilhar?

– Claro que não – Naruto balançou a cabeça – Eu ia tentar te ajudar, mas você não me esperou.

Sasuke sondou a expressão do outro, procurando algum sinal de que o rapaz mentia ou zombava de si. Nada encontrou além de sinceridade e preocupação.

– Não preciso da sua ajuda – resmungou.

– Ah, claro... você é muito bom em fugir – o loiro riu alto e recebeu um olhar feio em troca. Sacando o alerta nos olhos negros, levou as mãos aos lábios e tentou sufocar a gargalhada – Desculpa.

– Você não mudou nada! Continua barulhento.

Ao ouvir isso Naruto parou de rir e ficou sério, um tanto nostálgico.

– Está enganado, Sasuke. Eu mudei muito, aprendi muito. Você também está diferente.

Sasuke desviou os olhos e deu de ombros. Não concordava com o amigo de infância. Achava que de todos era o que menos mudara. Porém não estava a fim de começar uma discussão.

Diante do silêncio de Sasuke, Naruto suspirou.

– Sabe, eu tenho que lidar com isso com muita freqüência. Os alunos às vezes me procuram para pedir conselhos, pedir ajuda. Principalmente quando se metem nesse tipo de encrenca.

– Pobres coitados – Sasuke debochou.

Dessa vez Naruto riu mais baixo.

– Meus alunos fazem isso por que sabem que não vou julgar ninguém. Ne... isso não é vergonha. Não é errado. Isso faz parte de quem você é, Sasuke. Mostra suas escolhas e o caminho que escolheu seguir. Porque esconder?

O moreno engoliu em seco, surpreso com o tom de voz de Naruto. Não havia sinal de troça ou deboche. Ele falava com a gravidade que Sasuke parecia dar a questão. Talvez estivesse errado: Uzumaki parecia sim, ter mudado.

Então Naruto ergueu a mão e fez um movimento em direção a cabeça de Sasuke, que recuou assustado. Os dois se entreolharam calados e havia tanta calma nas íris azuis que Sasuke se contagiou e sentiu o medo indo embora.

– Posso? – Naruto pediu gentil.

O outro apenas assentiu, balançando a cabeça de leve. Diante dessa permissão Naruto seguiu seu intento. Alcançou a touca russa e a puxou devagar; revelando, entre os fios de cabelo um par de orelhas com pêlos macios e pretos. A visão fez o loiro sorrir deliciado.

– Você ainda as tem!

Uchiha Sasuke desviou os olhos. Parecia desconfortável.

– Vai rir de mim?

– Claro que não. Eu te disse: alguns alunos vem me procurar às vezes, com dilemas e medos. Tento fazer o meu melhor para ajudar. Principalmente quando um deles perde as orelhas cedo demais.

Sasuke voltou seus olhos para o rapaz a sua frente, porém as íris azuis estavam cravadas em suas orelhas.

– Você mudou...

Naruto abriu um sorriso triste.

– Perder coisas importantes te ajuda a mudar...

A afirmação fez Sasuke emburrar e a carranca fez Naruto perceber o que tinha acabado de falar.

– Não quis dizer esse tipo de coisa! – apressou-se em desfazer o mal entendido.

O clima ficou mais leve e o moreno saiu da defensiva. Até Naruto estragar tudo forçando uma tossinha tentando camuflar a risada.

– Mas não deixa de ser engraçado! – afirmou com voz aguda – Uchiha Sasuke, com trinta anos e ainda é virgem! – terminou a frase com uma gargalhada.

Furioso Sasuke esticou a perna e encaixou-lhe um chute de mau jeito no joelho. Foi um movimento desajeitado e não doeu nada.

– Bastardo! Tenho vinte e sete anos. E não ria de mim!

A risada de Naruto só parou quando o shouji voltou a correr indicando que alguém entrava no laboratório. Desesperado, Sasuke tentou pegar a touca russa das mãos do loiro, inutilmente. A pessoa que recém chegara sentou-se ao lado de Naruto e suspirou profundamente.

– Sabia que estariam aqui! – Sakura exclamou – Mas a cara de porco estava na minha cola. Tive que despistá-la e... KYAHHHH SASUKE KUN AINDA TEM AS ORELHINHAS!!

Tanto Naruto quanto Sasuke olharam incrédulos para a garota. Aquele berro deveria ter chamado a atenção de todos no prédio!

Percebendo o fora que dera ela se calou e os três ficaram em um silêncio expectante aguardando pra ver se foram descobertos por alguém, mas conforme os segundos passavam nada acontecia. Acabaram relaxando.

Sakura inclinou-se e esticou o braço pegando uma das orelhas de Sasuke pela pontinha. Deu um puxão carinhoso.

– São lindas – afirmou – Mal me lembro das minhas.

– São realmente lindas – Naruto concordou.

Irritado Sasuke afastou a mão da amiga com um tapa.

– Você continua irritante! E isso não é nada. Me causam mais embaraço do que qualquer coisa. Na empresa me respeitam, mas é por que se fizerem uma piada posso demiti-los.

Sakura riu baixinho.

– Claro. Ter as orelhas é como ter a palavra “virgem” estampada na testa. Assim como... – a voz saiu mais baixa – Perdê-las é a indicação de que sua vida sexual começou. Você se lembra que...

– Sim – o moreno cortou um tanto ríspido.

A amiga o ignorou e continuou a falar de modo pensativo.

– Eu estava com raiva... com raiva do Sasuke kun – revelou sem mirá-lo nos olhos – Eu queria sua atenção, mas você nunca me notava. Eu só queria alguém que me fizesse sentir querida... estávamos no segundo ano do Ensino Médio... aparecer sem as minhas orelhas foi um escândalo.

– Lembro disso – Naruto afirmou.

– Me arrependi muito – a garota continuou – Perdi minhas orelhas e minha virgindade num impulso... e foi barra. Vocês foram dois dos poucos que me apoiaram, por que os outros apenas me apontavam e cochichavam.

Ao fim dessas palavras os três silenciaram. Já tinham passado por tanta coisa juntos. Boas e ruins... reunir-se fazia com que uma represa de memórias caísse sobre eles.

Foi a garota quem voltou a falar:

– Estamos em uma sociedade fútil e vazia, que estabelece padrões tolos sobre a forma como devemos viver – ela tinha as íris presas nas de Sasuke – Tentam nos condicionar a parâmetros, e quando falhamos com as expectativas somos tratados como proscritos. Faça sexo cedo demais e você é uma puta. Faça sexo tarde demais e vão rir do mesmo jeito. Sasuke kun, não se envergonhe por algo em você ser tão lindo. Não é errado.

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O pequeno discurso surpreendeu tanto Sasuke quanto Naruto.

– Você também mudou muito.

– Perder coisas importantes faz uma pessoa mudar.

A afirmação trouxe uma aura negra ao redor do rapaz, que fuzilou a amiga com os olhos estreitados. Ao perceber a mirada rancorosa Sakura agitou as mãos mais que depressa.

– Perder outro tipo de coisa, Sasuke kun. Desencana! Não to falando de perder a virgindade e... deixa pra lá.

– Irritante! – o moreno praticamente cuspiu a ofensa.

Naruto acompanhava a troca de palavras com interesse e diversão. Desde sempre os três eram amigos, estavam juntos em todos os cantos. Grandes amigos unidos pelo destino e separados pela vida.

Amigos inseparáveis, compartilhando aventuras e segredos. Eram chamados, inclusive, de “O trio dourado”. Ao lembrar disso Naruto sorriu de orelha a orelha.

– Chamavam Sasuke de Hermione! – riu um pouco – Só pra irritar! Sakura chan era mais sabe-tudo, mas o Sasuke ficava mesmo irritado com o apelido.

– Eu não lembrava disso! – Sakura exclamou de olhos arregalados enquanto Sasuke gemia com a lembrança vergonhosa. Ensino Médio era sinônimo de guerra. Nenhum deslize era perdoado e nenhum aluno passava sem pelo menos um apelido.

– Era o inferno – o moreno balançou a cabeça.

– Tem uma coisa que me deixa curiosa. Por que Sasuke kun tem as orelhas até hoje? Qualquer um daria tudo para ir para a cama com você. Desde o Ensino Médio...

– Tsc. Eu não queria qualquer um – desdenhou da idéia com um gesto de mão.

– Então quem você queria?

A pergunta direta fez o rapaz engolir em seco. Ele mordeu os lábios e não respondeu. Seu rosto permaneceu indiferente, mas foi impossível impedir os olhos de voltarem-se na direção de Uzumaki Naruto. E Sasuke soube que depois desse olhar palavra alguma seria necessária. Sakura soube igualmente. E, sobretudo, Naruto.

– Hn. Vou ver como andam as coisas pelo ginásio. Aposto que Kiba e Deidara não vão sossegar enquanto não achar vocês. Deixa que eu pego seu casaco, Naruto, e levo até o carro – a mulher sorriu triste. Ainda lembrava como fora difícil ao compreender o que significava aquela forma como os dois melhores amigos se olhavam, compreender que não havia espaço para ela na vida amorosa de Uchiha Sasuke, por que ele dera o espaço de honra para outra pessoa. Era hora de tirar o time de campo. Outra vez.

– Valeu.

– Não suma por mais dez anos, Sasuke kun.

Depois disso Sakura levantou-se e saiu do laboratório, deixando os rapazes sozinhos.

– Quer ir para um lugar mais tranqüilo?

O moreno ponderou a pergunta brevemente. Ficou tentado a negar e ir embora, voltar para a segurança de sua casa e sua rotina. Fugir outra vez.

– Naruto...

– Sei que fizemos tudo errado. No fim cada um seguiu o seu caminho e você foi embora. Não pensei que fosse voltar, Sasuke. Mas no fundo foi a esperança de revê-lo que me trouxe a essa festa.

O moreno observou o outro. Entendeu que ir embora não ajudara a fechar as feridas antes. Tampouco ajudaria agora. Compreendeu que dia após dia convivera com elas, apenas fingindo que a dor não existia. Seria aquela uma segunda chance para eles? Ou teria que fugir do que sentia pelo resto da vida?

– Você perdeu suas orelhas! – acusou Sasuke de mau humor, enquanto ficava em pé, num claro sinal de que aceitara o convite. Hora de ser corajoso, pra variar.

– Claro! – Naruto riu alto – Tenho quase trinta anos! Não podia ficar virgem para sempre!

– Bastardo! – Sasuke acertou um soquinho nada fraco no ombro do outro – E são apenas vinte e sete anos!

– He, he, he... – então o loiro pegou numa das orelhinhas felpudas e puxou com carinho – São lindas! Vou tirar algumas fotos e colocar no facebook!

– Nos seus sonhos, desgraçado!

Naruto riu enquanto recolocava a touca russa sobre os cabelos negros, por que ele ainda parecia se sentir mais a vontade com elas. Deu uma risadinha suspeita ao perceber que a situação se invertera: passara a infância e adolescência sendo mais baixo que Sasuke e agora era o contrário!

O risinho deixou o moreno desconfiado. Ele olhou torto para Nartuto, subitamente amuado.

– O que é tão engraçado? – perguntou de mau modo.

– Nada... – em seguida passou um braço pelos ombros de Sasuke e o puxou para mais perto, bem junto a si; caminhando rumo a saída do laboratório de química. Naruto era professor do colégio, isso significava que conhecia bem o local e podia sair do prédio sem esbarrar com os outros convidados.

– Hunf...

– Não vai escapar dessa vez, maldito – afirmou o loiro com convicção – Não vou deixar que saia do meu lado.

Sasuke não respondeu. Na verdade agora tinha coragem de assumir para si mesmo por que voltara ali. Apesar do desespero e do medo de virar a piada da noite, tinha uma forte vontade de rever os preciosos amigos e, principalmente, rever Naruto. Fora arrastado por aquela maldita ancora de nome “esperança”.

Não se arrependeu da decisão. E, lá no fundo, tinha a desconfiança de que as embaraçosas orelhas logo sairiam de sua cabeça! Era o que dizia a intuição e o sorrisão nos lábios de Naruto.

Fim

Os professores se animaram enquanto os ex-alunos iam voltando em pequenos grupos para o ginásio. Pelo visto não tinham conseguido pegar Sasuke Uchiha e confirmar se o orgulhoso rapaz ainda levava seu “selo de virgindade”, ou seja, as orelhas felpudas nascidas com todos e que desapareciam após a primeira noite de amor.

Iruka sensei riu animado e estendeu a mão para Kakashi sensei.

– Parece que vou recuperar minhas dez pratas!

Kakashi girou os olhos e devolveu a nota para o companheiro.

Todo ano apostavam não apenas quem estaria com as orelhinhas, mas se essa pessoa teria coragem de continuar no jantar ou não. Iruka apostara que não!

– Boa sorte ano que vem – o professor de cabelos castanhos exclamou, feliz pelo empate. E depois disso começou a se servir. O resto do jantar estava apenas começando.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.