The One With The Birthday Party...

Two sides of the coin


O grupo ainda encarava as duas mulheres, atônitos. Seria algum tipo de teste? Algum feitiço para enganá-los? A cabeça de Emma rodava com todas as possibilidades que lhe viam à mente. Os outros pareciam compartilhar de seu estado desconfiado, a única exceção ali era Regina. De alguma forma, ela simplesmente fitava ambas as magas, mas em seus olhos não havia resquício algum de dúvida sobre suas identidades. O que poderia ter acontecido ela não fazia ideia, mas a situação começou a ganhar um novo ângulo a partir dali. A luta na ponte, o sumiço de Morgana e seu repentino aparecimento na outra forma... O quebra cabeça começava a se montar sozinho. Gold, no entanto, não enxergava as coisas da mesma forma e colocou-se à frente numa pose ameaçadora.

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– O que significa isso? – o grupo agora estava cercado. Longas paredes de pedra e uma maga prostrada de cada lado do caminho os mantinham num circulo sem saída. Gold não estava gostando nada daquilo – É algum tipo de teste? Veio terminar o que começou? – ele dirigiu o olhar à mulher de negro.

– Se eu quisesse matá-los... – ela começou, esforçando-se para ocultar um sorriso de escárnio – Não acha que já teria feito?

– Ela tem razão... – a Morgana do lado oposto tomou a palavra.

– Olha.. – Emma também se manifestou, erguendo os braços – Alguém pode me explicar o que diabos está acontecendo aqui???

A maga de preto deu um passo à frente na direção da prefeita. A loira logo desembainhou a espada, impedindo-a de continuar.

– Hey, onde pensa que vai?!

– Relaxa, loira... – ela ergueu uma sobrancelha, achando aquele gesto até engraçado. Se Morgana quisesse fazer alguma coisa, não seria uma espada que iria impedi-la de nada, como já haviam testemunhado anteriormente - Eu não vou morder.

– Está tudo bem, Emma... – Regina abaixou a espada da mulher – Ela não vai nos machucar.

O grupo se amontoou de costas para a parede, formando um círculo protetor. Ambas as Morganas caminharam em direção a eles. O espaço pareceu se tornar menor e se extinguir à medida que elas se aproximavam. Era como se a áurea das duas preenchesse lentamente aquele ambiente amplo e vazio, o conflito entre o negro e a luz lutando pelo controle. Por um momento elas se detiveram, parando frente a frente. Seus olhares se perderam na silhueta uma da outra, como se julgassem cada pequeno pedaço ali.

– Acho que deixei a situação me cegar... Devia ter percebido antes. – a maga de armadura prateada iniciou o breve diálogo.

– Talvez apenas negasse. Não quisesse ver.

– É... – o olhar dela vagou pelo vazio à frente – Pode ser que sim.

– De qualquer maneira.. – um sorriso maldoso, mas munido de certo sarcasmo, brotou nos lábios da maga de negro – A parte mais inteligente sempre esteve comigo mesmo...

A outra mulher apenas retribuiu o sarcasmo com os olhos.

Emma achava tudo aquilo muito estranho. Ela havia imaginado antes que Morgana os tivesse traído. Depois chegou até a pensar na possibilidade de Mordok ter se manifestado usando a forma da maga para confundi-los. Mas agora... Ela simplesmente não sabia o que pensar. Nada parecia fazer sentido. Será que a maga tinha uma irmã gêmea?

– Não, ela não é minha irmã. - a mulher de preto dirigiu-se à xerife.

Emma arregalou os olhos, será que seu pensamento havia saído em voz alta?

– Eu consigo ler sua alma... Acha que não consigo ler seus pensamentos, loirinha? - Morgana ergueu a sobrancelha.

A expressão fora usada de forma sarcástica, não agressiva, mas aquilo incomodou a xerife de qualquer forma.

– E quem diabos é você então? - Emma não deixou-se abalar.

– Eu... Sou ela - apontou para a outra Morgana que Emma tomava como original.

A expressão de confusão ainda continuava unânime.

– Vocês realmente são novatos nessa coisa de magia né?

Esse comentário adicional fez com que sua cópia de armadura prateada lhe repreendesse com o olhar. Mas, infelizmente, persuadir a si mesmo em situações como essa é uma coisa que poucas pessoas conseguem. E o gênio de sua outra metade em negro parecia ser mais tempestuoso. Os Charmings encaravam a cena, ainda protegendo o neto. Gold parecia ansioso, mas queria entender o motivo de tudo aquilo tanto quanto qualquer outro ali.

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– Quê?? - Morgana deu de ombros ao receber da outra - Nem adianta me olhar assim!

A maga da armadura prateada adiantou-se e tomou frente da situação antes que a coisa piorasse. E antes que o tempo se esgotasse mais.

– Existe um antigo feitiço... - ela explicou - desenvolvido por um mago muito poderoso, milhares de anos atrás... A essência de tal magia era ousada e perigosa, constava em dividir um ser em dois. Mas não somente isso...

Regina fitou Morgana e ela foi a primeira a entender o desenrolar daquela história.

– E é ai que está o perigo. - continuou -A magia divide não somente seu corpo, mas sua alma... Todos nós somos compostos por um equilíbrio, todos temos partes boas... E também partes negras.

– Deixa eu adivinhar - Emma manifestou-se - E essa magia te corta ao meio, bom pra um lado e mal pro outro?

– Ninguém nunca havia conseguido concretizar tal feitiço... Muitas tentativas até renderam aberrações e morte cerebral de inúmeras cobaias. Acho que já sabem quem aprimorou o feitiço...

Gold encarou ambas as magas, só agora entendendo que não estava diante de nenhuma farsa e sim de uma mesma Morgana, dividida em duas essências antagônicas.

– Eu devia ter percebido antes, mas a magia foi muito bem encoberta... - continuou.

– Mas isso quer dizer que... - Emma colocou-se a frente, em posição de ataque - se uma de vocês é apenas mal...

A loira referia-se à Dark Morgana.

– Acha que se eu quisesse matá-los, já não teria feito algo? - a maga de preto colocou as mãos na cintura - Acha que estaríamos aqui tendo essa maravilhosa conversa?

Dark Morgana respirava sarcasmo. Isso já estava evidente.

– Mas... - Regina quebrou a pequena discussão que estava para ser iniciada - Por que?

– Mordok precisava de poder quando ainda não estava forte o suficiente... Ele sabia que nunca me convenceria a ajudá-lo, mas talvez uma parte de mim ele poderia persuadir... - a outra maga esclareceu.

– Então por que está do nosso lado agora? - Emma virou-se para Dark Morgana, desconfiada.

– Primeiro de tudo, que fique bem claro que eu não ajudei por livre e espontânea vontade! - a mulher de negro defendeu-se - Mordok tem métodos muito persuasivos para manipulá-lo, acho que sabem disso mais do que gostariam. E segundo.. - ela fez uma breve pausa, fitando Regina com o canto dos olhos - ele descumpriu com parte do acordo.

Emma sentiu uma pontada de ciúme. Sabia que não tinha nada a ver, e no fundo agradecia por aquilo ter salvado a vida de sua mulher e do todos ali, mas não estava acostumada a lidar com pessoas que possuíam uma relação mais intensa com Regina.

Como em resposta à trégua que estavam dando, a terra sob seus pés tremeu e as paredes rochosas chacoalharam violentamente.

– Acho que o tempo para conversas esgotou-se... - Dark Morgana constatou, enquanto todos se viravam na direção da fenda que dividia o caminho em dois.

Dois círculos de energia surgiram pairando no ar, um de cada lado da bifurcação. O grupo aproximou-se, distinguindo as imagens gradativamente: de um lado, um pequeno berço de pedra estava enjaulado no centro de uma grande e engenhosa estrutura que se assemelhava a uma estranha máquina; do outro, duas gaiolas pendiam alguns metros acima de uma caverna alagada, balançando num ritmo monótono.

– Belle!! - Gold reconheceu a mulher, no interior de uma das estruturas.

Helena e Belle já haviam sido identificadas, mas a terceira gaiola permanecia incógnita para os forasteiros.

Dark Morgana também aproximou-se, uma sensação sombria dominava seus sentidos. Forçou a visão e num dos balanços da gaiola de metal, o garoto de cabelos negros ficou à vista.

– Não... - a mulher sentiu o ar faltar e o sangue correr quente em suas veias - NÃO!!

No mesmo instante, a outra maga pareceu reconhece-lo também e seu coração encheu-se de dor.

Uma risada gutural ecoou, fazendo tremer o chão uma segunda vez. As imagens desapareceram, como se nunca tivessem estado ali e em seu lugar, surgiu o grande rosto maquiavélico do antigo mentor de Morgana.

– Você só sabe jogar sujo!! - Dark Morgana sibilou por entre os dentes.

Eu só sei jogar para ganhar, minha querida traidora...

A voz gélida causava arrepios involuntários até em Gold.

– Prometeu deixá-lo fora disso, Mordok... - a maga voltou a falar, o tom ainda ameaçador.

Bom... Achei que já tivesse notado que honra... - ele sorriu de forma maldosa– não é o meu ponto forte...

O rosto voltou-se então para o restante do grupo, seu olhar de escárnio parecia atingir a todos unanimemente.

O tempo não mais estará do lado de vocês– tornou a falar - Boa sorte fazendo suas escolhas... Talvez nem todos possam ser salvos.

E com um último sorriso ele se foi, devolvendo o silêncio mortal ao ambiente sombrio.

Gold e Emma já apresentavam-se para formular um plano, mas foi ai que perceberam ambas as Morganas ainda distantes, seus olhares juntamente perdidos no vazio à frente. Era a primeira vez que a loira via outra expressão que não escárnio e ódio nos olhos da maga de preto, e compaixão e pena nos da outra. Aquele olhar ela reconhecia muito bem, fora o mesmo que a acometera no dia do aniversário de sua Helena.

– Morgana..? - Regina aproximou-se - Quem era?

A morena perguntou, mas tinha a impressão de que já sabia a resposta. Ambas as magas viraram-se e foi Dark Morgana quem respondeu, sua voz carregada de uma profunda dor que ela vinha tentando evitar.

– Aquele era Mordred... Meu filho.