Cicatriz

Capítulo 46


Eu suava frio e toda minha pele formigava junto à dor.

-Ela não vai conseguir – uma voz feminina desconhecida exclamou – Precisamos preparar a cesariana!

- Não temos tempo – o médico disse, num tom calculado e direto – Gabriela, vamos.

Eu estava numa sala de hospital e respirava ofegante. Só as vozes chegavam até mim, e eu nem sequer sabia a quem pertenciam.

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A dor era tudo que mostrava que eu ainda estava viva.

Quando estendi os braços buscando algo em que apoiar, algo em que confiar,

alguém pegou minha mão e a apertou. Eu lutei para virar o rosto e ver quem estava ali, no entanto, tudo à minha volta permanecia embaçado.

-Vamos! – desta vez a voz foi mais urgente, em pânico.

Alguma coisa apareceu de repente ao meu lado, sussurrando meu nome. Um sentimento urgente, que se destacou dos demais, chamou por mim. Concentrei-me para ver através da parede translúcida que cobria minha retina. Foi então que um caminho se estendeu entre nós. Ele estava ali, junto a mim. Era agora a mão de Eric que segurava a minha, era ele que estava bem ali, lutando comigo, enfrentando a escuridão e a dor que se uniam a meu medo.

Eu me guiei pela paz daquela imagem. Depois da dor, de cada sensação que queria dominar meu corpo, veio o alívio, o fim. Eric desapareceu no mesmo momento em que veio o choro.

-É uma menina – alguém disse contente, finalizando uma tarefa.

Pisquei algumas vezes, buscando juntar as imagens quebradas ao meu redor.

-D-deixe eu ver ela – falei, arfando.

Aquela mão só se soltou da minha quando um corpinho de bebê chegou em meus braços. Em meio ao pano rosa, eu vi um rostinho, uma nova vida conhecendo o mundo pela primeira vez.

Encostei a cabeça no travesseiro e a envolvi ainda para mais perto de mim.

-Luna... – eu estava tão cansada e feliz que ela foi tudo que vi antes de fechar os olhos e me juntar à escuridão.