Carpe Diem

Prólogo


Cara, a vida é uma coisa engraçada. E trágica.

E eu não estou falando isso só porque a minha vida está uma merda. Estou falando isso pelas milhares de pessoas que conseguiram tudo o que queriam, só para perder tudo depois; das milhares que não tiveram a chance de se despedir antes de serem brutalmente assassinadas ou, simplesmente, mortas porque o destino assim quis; das milhares que passam fome e frio esperando por ajuda alheira, que quase nunca vem. Tá, espera. Provavelmente esses últimos dois não achavam nada engraçado, mas deu para entender o que eu quis dizer. A vida é algo maravilhoso e traiçoeiro, justo e injusto, engraçado e trágico, é uma coisa e ao mesmo tempo, é outra completamente diferente.

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Bem, nada dessas reflexões me importam, realmente, agora.

Estava, sozinha, contemplando meu novo apartamento há uma hora. O lugar era arejado, moderno e minimalista. Chegava até a parecer frio e impessoal, mas não era nada que uma decor acolhedora não resolvesse. A sensação de ter um lugar só para mim era inebriante. Embora uma parte de mim, bem pequena, continuava se lamentando. Ficava sussurrando "Mas ele não está aqui", repetidas vezes.

Mês que vem, fariam exatos dois anos desde a última vez que o vira.

A vontade de sorrir brigava com a de chorar. Tudo havia começado há seis anos. Por um tempo, tudo estava indo às mil maravilhas. Mas assim como um dia ensolarado pode mudar facilmente para uma tempestade que parece que nunca vai ter fim, tudo desmoronou. Não estava reclamando, longe disso. Tivera mais do que algum dia muita gente nunca irá ter. Não tinha arrependimentos porque fizera tudo o que podia e, no final, a escolha não havia sido minha. Meu único erro, talvez, foi de pensar que éramos invencíveis, infinitos. Eu me sentia assim. Mas, como eu já devia ter aprendido, com todas as milhões de histórias infelizes que já passaram pela humanidade, tudo, um dia, cai e desfalece e as únicas coisas que restam, no máximo, são alguém para contar a história e fotos e memórias de momentos perdidos.

Sim, a vida era uma coisa engraçada. Mas era mil vezes mais trágica.