Cereja - Vic&Teddy

Feliz aniversário


“Você não é um Weasley, Teddy. E eu não gosto de você.”

As palavras de Victoire ainda reverberavam nos ouvidos de Ted desde o mês de abril, em que fora aniversário dele. Harry e Gina haviam organizado uma festa surpresa na Toca para comemorar os dez anos do afilhado, com a ajuda de Andrômeda e todos os outros Weasley. E Victoire, ao lhe entregar o presente que Fleur e Bill haviam comprado, dissera-lhe a fatídica frase em vez de desejar-lhe parabéns.

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Ele não entendia. Porque gostava de Victoire. Sempre brincavam juntos. Mas, desde o Natal, ela vinha evitando falar com ele. Não brincava mais junto dele. Sempre arrumava uma desculpa qualquer para não aceitar as propostas que Ted fazia. Inclusive rejeitara, de pronto, a ideia de Ted de brincar de boneca com ela. Tentativa desesperada do garoto para ter um pouquinho que fosse das atenções dela. Victoire respondera: “Deixa de ser ridículo, Teddy. Brincar de boneca é coisa de menina”.

E, naquele dia, era o aniversário de Victoire. Ted olhava para o pequeno embrulho com o presente que sua avó havia comprado. Presente que, devido à insistência do menino de que não estaria mais na loja quando fosse aniversário de Victoire, Andrômeda comprara antes mesmo do aniversário do neto.

Andrômeda adentrou o quarto de Ted, fitando o garoto com cuidado.

- Está tudo bem, Teddy? – perguntou, sentando-se ao lado dele na cama.

- Está sim, vovó. – mentiu, de pronto. Estava chateado. Com Victoire.

- Tem certeza? – insistiu a mulher.

- Absoluta. – mentiu, novamente. Não estava nada bem. Mas não falaria nada com a avó nem com ninguém. Tampouco com os padrinhos, que também insistiam em saber “se estava tudo bem” sempre que tinham uma oportnidade. Já conseguia ver o rostinho de Victoire retorcendo de raiva se dissesse qualquer coisa: “Dedo duro! Eu odeio você, garoto!”. E, além do mais, Gina estava grávida. Harry ensinara ao afilhado que se devia ter cuidado em triplo com grávidas e não lhes dar aborrecimentos, porque ter um bebê dentro delas já era preocupação mais que suficiente para nove meses.

- Não acha que já está na hora de levar o presente para a Victoire? – sugeriu Andrômeda.

- É verdade, vovó. Acho que eu vou agora. – concordou, tristemente. Pegou o pequeno embrulho nas mãos com cuidado. Talvez se levasse o presente Victoire podia gostar dele de novo. Nem que fosse só um pouquinho.

- Comporte-se, Teddy. – dizia Andrômeda, segurando a mão do menino enquanto andava ao lado dele até a lareira. – Bill e Fleur viajaram a trabalho e chegam hoje; devem chegar cansados. Não os aborreça nem faça bagunça. E obedeça à moça que contrataram para cuidar de Victoire, Dominique e Louis.

- Sim, vovó. Vou me comportar. – disse o menino, obedientemente. Com um sorriso tristonho, recebeu de bom grado o abraço e o beijo que a avó lhe deu antes de entrar na lareira e jogar Pó de Flu nas chamas, dizendo “Chalé das Conchas”.

De outro lado, Andrômeda observou o neto partir, pensativa. Há muito não o via usando os cabelos roxos, azuis, ruivos ou loiros de que tanto gostava, tampouco os olhos verde-vivo. Usava os cabelos castanhos e olhos idem. Ele a estava fazendo se lembrar de Remo Lupin e da aparência doente e infeliz que lhe tinha sido peculiar. Aparência que fora ofuscada apenas quando Remo se casara com Dora e quando Ted nascera.

No Chalé das Conchas, Ted saiu da lareira da sala de estar, limpando a fuligem da roupa com uma das mãos. Deu de cara com Victoire, que estava sentada em uma das poltronas lendo um livro com os contos de Beedle.

- O que você está fazendo aqui? – perguntou a menina, ríspida.

Ted se aproximou, com cuidado.

- Eu vim te desejar feliz aniversário. – respondeu, timidamente.

- Victoire, quem está aí? – perguntou uma voz, da cozinha.

- É só o Teddy. – respondeu Victoire.

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No mesmo instante, uma moça de não mais de 25 anos apareceu à porta da sala, com um sorriso no rosto.

- Oi, Teddy! Como você está? – perguntou, animada, adiantando-se para abraçá-lo.

- Estou bem, Emma. – respondeu, sorrindo.

- Espere aqui com a Victoire, Teddy, vou preparar um lanche para vocês com suco de abóbora e bolinhos de caldeirão. – disse Emma, voltando para a cozinha.

Ted voltou o olhar para Victoire. Parecia furiosa.

- Trouxe para você, Vic. – disse Ted, estendendo-lhe o pacote. – Feliz aniversário.

A contragosto, a menina pegou o pacotinho e o jogou no sofá mais próximo, de qualquer jeito, entristecendo Ted. Não parecia fazer questão alguma de saber o que ganhara. Sem saber o que fazer, Ted se sentou na poltrona vazia.

- Onde estão Dominique e Louis? – perguntou, olhando ao redor.

- Aqueles dois pirralhos estão trancados no quarto do Louis desde depois do almoço. Não deixaram nem a Emma entrar lá. – respondeu, irritada.

- Eles são seus irmãos, Vic.

- Nem por isso deixam de ser dois pirralhos. Dominique tem cinco anos e o Louis tem três. – comentou, abraçando as pernas junto ao corpo.

- E o tio Bill e a tia Fleur? – quis saber Teddy, tentando mudar de assunto.

- Já voltaram, mas foram correndo para o hospital. Acabaram de sair. Tia Gina está ganhando o bebê. E, a propósito, Teddy, meus pais não são seus tios. Você não é um Weasley. – acrescentou Victoire, repetindo o que dissera para ele há um mês, mais ou menos.

- É como se fossem meus tios. Meu padrinho e minha madrinha são quase que meus pais.

- Mas não são seus pais. Porque seus pais morreram. – comentou Victoire, acidamente. – E nem vem com aquela história de que James e Alvo são seus irmãos. A Lily, depois que nascer, também não vai ser.

Ted ficou em silêncio. Por mais que soubesse que não era um Weasley, que não tinha o mesmo sangue que eles, sempre gostara de pensar em todos como uma família. Como a família dele. Mas não conseguia mais. Porque Victoire fazia questão de lembrá-lo, a todo instante, que não era um Weasley. Nunca seria.

Emma entrou na sala de novo, carregando uma bandeja com uma jarra de suco, dois copos e uma pilha de bolos de caldeirão. Pousou a bandeja na mesinha de centro.

- Aqui está, crianças. Vou lá em cima ver se Domi e Lou não querem comer. – disse, subindo as escadas do chalé.

Em silêncio, Ted e Victoire se sentaram no chão e começaram a comer. Depois de muito tempo, Victoire comentou, parecendo chateada:

- Você foi o único que se lembrou do meu aniversário, Teddy. Quando souberam que tia Gina estava no hospital, meus pais foram voando para lá. Nem mesmo me deram um beijo. Ou me desejaram um feliz aniversário.

Ted mastigou um bolinho, pensativo. Tomou um gole do suco e disse:

- Pelo menos eles ainda podem voltar e te dar um beijo depois. Pedir desculpas. – comentou. – Eu nunca nem conheci meus pais.

Victoire o fitou, curiosa.

- É ruim não ter pais, Teddy?

- Horrível. – respondeu, simplesmente, com os olhos se enchendo de lágrimas.

Victoire se levantou e pegou o pacotinho que jogara no sofá. Sentou-se no chão de novo e começou a abri-lo. Era uma pequena caixinha. Victoire a abriu. Era um colarzinho prateado, com pingente de coraçãozinho miúdo, que vira na vitrine de uma loja quando fora ao Beco Diagonal com Ted e Gina. Victoire ergueu o olhar azul-claro para Ted.

- Obrigada, Teddy. É muito bonito. – agradeceu, fechando a caixinha e sorrindo para o menino.

- Pedi a vovó que comprasse porque você disse que queria ter um colar igual a esse. – contou, olhando fixamente para o tapete. Já era alguma coisa. Ela gostara do presente. E agradecera.

- Obrigada. – repetiu, visivelmente satisfeita. Tentou colocar o colar ao redor da pescoço, mas estava tendo alguma dificuldade. – Teddy, você pode me ajudar, por favor? – pediu, educadamente.

- Vic, eu... bem, eu não sei colocar colares em meninas, eu acho. Nunca coloquei. – comentou, timidamente.

Victoire ergueu uma sobrancelha, com ar de desdém.

- Claro, é muito difícil colocar um colar em uma menina. – observou, com ironia. – Por favor, Teddy? – acrescentou, educada de novo.

- Eu vou tentar. Tentar, entendeu? – repetiu, aproximando-se da menina.

- Já é melhor do que não tentar. – disse Victoire, entregando o colar a Ted e fazendo um coque desgrenhado com os cabelos. – Pense que um dia você vai se casar e vai ter que ajudar sua esposa a colocar colares.

Ted sorriu de leve. Mas não conseguiu realmente pensar no que Victoire dissera. Tinha abrido o fecho do colar e, com as mãos um pouco trêmulas, tentava fechá-lo ao redor do pescoço da menina.

- É pra hoje, Teddy. – disse ela, em tom de brincadeira.

Com alguma dificuldade, Ted fechou o colar, aliviado por ter conseguido.

- Prontinho. – anunciou, afastando-se de Victoire.

Ela saiu correndo e entrou no pequeno banheiro que havia no térreo do chalé. Voltou pouco depois com um sorriso no rosto.

- Obrigada, Teddy. – agradeceu, com sinceridade. – E me desculpe por ter sido mal educada com você.

Ted nada disse. Não precisava falar nada para Victoire saber que ele a desculpava. Observou-a prender os cabelos em um rabo de cavalo frouxo com um elástico colorido que tinha tirado do bolso do short. O que queria, mesmo, era perguntar a Victoire porque ela dissera que não gostava dele. Havia conseguido uma pequena reaproximação. Ela não estava sendo tão rude. Mas tinha medo do que Victoire pudesse dizer. Ela o confundia.

- Victoire... – chamou Emma, descendo as escadas com pressa e um sorriso enorme no rosto. – Dominique e Louis têm uma surpresinha para você.

- Para mim? – repetiu Victoire, claramente confusa.

- Podem vir. – gritou Emma na direção da escada.

No minuto seguinte, Dominique e Louis desceram as escadas lado a lado. A loirinha segurava algo que parecia um cartaz enrolado nas mãos, enquanto o ruivo estava com a carinha sapeca de sempre. Estava com as mãos e o rosto sujos de tinta.

Ao chegarem à porta da sala, Louis disse:

- Vic, surpresa para você!

- Feliz aniversário, Vic! – disse Dominique, desenrolando o cartaz com a ajuda de Emma.

Eles tinham feito um desenho da família: Fleur, Bill, Victoire, Dominique e Louis. Haviam escrito – com letras desengonçadas, obra de Dominique – “Feliz aniversário, Vic” na parte de cima do cartaz. Havia, ainda, alguns detalhes em glitter e tinta – obra de Louis. Na parte de baixo do cartaz, Dominique havia escrito: “De seus irmãos, Dominique e Louis”. Ao lado do nome de Louis, havia a marca das duas mãozinhas do menino feitas com tinta, como se estivesse confirmando o que a irmã tinha escrito.

Victoire não se moveu. Mas Ted viu os olhinhos azuis dela encherem-se de lágrimas. De emoção, sem dúvida. Ela não esperava que os irmãozinhos pirralhos lhe fizessem uma surpresa. Pensou que todo aquele tempo em que estiveram trancados no quarto de Dominique estava sendo para planejarem uma forma de colocar fogo na casa.

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Louis correu até a irmã mais velha e pulou no colo dela.

- Feliz aniversário, Vic! Você gostou do desenho que fizemos? – quis saber o pequenino, voltando os olhinhos castanhos, ansiosos, para ela.

- Claro que gostei, pirralhinho, obrigada. – agradeceu Victoire, abraçando-o com força. – Vem cá, Domi. – chamou, para que a irmã se aproximasse. – Obrigada. Tenho certeza que foi ideia sua, não foi? – quis saber, abraçando-a com o braço livre.

- Foi ideia do papai, Vic. – disse Dominique, seriamente. – Ele disse que seria legal se a gente fizesse uma surpresa para você.

- Seu pai não esqueceu você, Victoire. – comentou Ted, seriamente.

- Vem, sujinho, é hora do banho! – disse Emma, pegando Louis do colo de Victoire e o levando escada acima para o banheiro. – Daqui a pouco vou levar vocês para a casa de sua avó e não vai ser nada educado você chegar lá todo sujo de tinta.

- O James vai também? – perguntava Louis, ansioso.

Victoire voltou o olhar para Ted e, em seguida, para Dominique.

- Domi, você sabia que a Emma ia levar a gente para a casa da vovó? – quis saber, curiosa.

- Claro que sabia, Vic. Foram ordens da mamãe. – disse a loirinha, revirando os olhos.

- E por que ninguém me disse nada?

- Ah, Victoire, não sei. – respondeu, simplesmente, pegando um pedaço de bolo de cima da mesa e correndo escada acima.

- Você sabe de alguma coisa, Teddy? – quis saber, olhando fixamente para o menino.

- Não. – mentiu, deliberadamente, olhando para o teto.

- Mentiroso. Você sabe, sim! – disse a menina, com convicção. – Não vai me falar nada, não é?

- Eu não posso. – murmurou, sem graça.

Victoire lhe lançou um olhar contrariado. Continuou a comer, em silêncio. Ted refletiu por um minuto. Não podia contar a ela sobre a festa que os Weasley estavam organizando. Se o fizesse, não seria uma festa surpresa. E perderia o sentido a sugestão que ele fizera a Bill e Fleur, há alguns dias, de uma “festa surpresa”. Dominique sabia. E não dissera nada. Louis, por ser menor, não sabia. Bill achava melhor não correr o risco, já que o filho mais novo conversava pelos cotovelos. E ainda não tinha a maldade das crianças maiores. Não diria nada, decidiu Ted. Mesmo que Victoire ficasse com raiva. No fim das contas, quando chegasse à casa da avó, entenderia tudo.

Quinze ou vinte minutos depois – marcados por um silêncio desconfortável –, Emma apareceu com Louis já devidamente limpo e com cabelos penteados, seguida por Dominique, que usava um vestidinho branco que fora de Victoire e os cabelos presos em um rabo de cavalo frouxo.

- Vamos, Vic, Teddy? – chamou Emma. – Já está na hora de irmos para a Toca.

- Como nós vamos, Em? – quis saber Louis, enquanto Victoire e Ted se levantavam, ainda em silêncio.

- De Pó de Flu. – respondeu a moça, pegando um vaso de flores que ficava em cima da lareira. – Você vai comigo, Louis, e a Domi também. Por fim, Victoire e Teddy vão juntos. De acordo? – acrescentou, fitando as crianças mais velhas.

- De acordo. – concordou Ted, ansioso por ver como haviam ficado as coisas na Toca. Victoire assentiu com a cabeça.

Eles observaram Emma entrar nas chamas verde-esmeralda com Louis no colo e segurando uma das mãos de Dominique. Quando os três desapareceram, rodopiando por entre as chamas, Ted se aproximou da lareira. Voltou-se ao ver que Victoire estava no mesmo lugar.

- Você não vem, Vic? – perguntou, curioso.

- Eu não... eu não gosto de viajar de Pó de Flu. Deixa a gente todo sujo de poeira. E eu lavei o cabelo hoje! – disse, na mesma hora.

- Você pode lavar de novo, mais tarde. – comentou Ted, sem entendê-la. – A Sra. Weasley sempre separa xampu e sabonete para a gente.

Victoire nem notou que Ted não chamara Molly de avó, como de costume. Caminhou até a lareira, devagar, e disse:

- Teddy... você segura a minha mão quando entrarmos aí? – pediu, indicando a lareira. – Não é para você rir de mim, mas... eu tenho medo de viajar de Pó de Flu. Parei em um lugar muito estranho uma vez.

Ted piscou, encarando-a. Victoire com medo? Nunca imaginara que a veria admitindo ter medo de alguma coisa. E não havia por que rir dela. Andrômeda e Harry, especialmente, sempre lhe haviam dito que não se podia rir de ninguém. E o próprio Ted sabia disso pela escolinha trouxa que frequentava. Era humilhante ter alguém rindo de você.

- Está bem. Vamos, Vic. – disse, simplesmente, envolvendo uma das mãozinhas dela com a dele. A mãozinha dela era quente. Macia. E tinha o cheirinho do sabonete francês infantil que Fleur comprava para as filhas. Um cheirinho gostoso. Ted achava que não existia cheiro melhor no mundo. A não ser pelo perfume que a madrinha usava.

Ele ainda viu Victoire fechar os olhos com força quando entraram nas chamas. Mesmo depois de chegarem à Toca, ela só abriu os olhos depois que Ted soltou a sua mão e disse:

- Vic, já chegamos.

Cautelosa, ela abriu os olhos azul-claro.

- Ainda bem. – murmurou, aliviada, olhando ao redor. – Onde está todo mundo? – acrescentou, dando-se conta do silêncio incomum que pairava na casa.

- Talvez estejam lá fora. – sugeriu Ted.

- É mesmo. – concordou Victoire, caminhando para a porta dos fundos da cozinha. – Vamos, Teddy?

O menino a seguiu, e ao abrir a porta, ouviram um grito de “SURPRESA!”. Victoire boquiabriu-se. Atrás dela, Ted sorriu, satisfeito.

Os Weasley estavam todos lá com Andrômeda, reunidos ao redor de uma mesa em que havia bolo de glacê rosa e lacinhos brancos, com uma vela já acesa, também rosa, com o número 8, e doces dos mais variados tipos, todos da Dedosdemel. Havia, ainda, uma faixa, presa entre duas árvores, com os dizeres: “Feliz aniversário, Vic”. Em uma mesa um pouco mais distante, havia jarras de suco, garrafas de cerveja amanteigada e de uísque de fogo, salgadinhos de todos os tipos imagináveis e uma coleção de copos de plástico e de uns poucos copos de vidro.

Puxados pela matriarca dos Weasley, todos começaram a entoar os parabéns. Ted entrou na brincadeira, também. Podia ver Molly e Arthur atrás do bolo, sorridentes e orgulhosos; Bill e Fleur igualmente contentes, com Louis e Dominique; Percy, meio desengonçado, sem saber se batia palmas ou se segurava a mão de uma Lucy inquieta, ao contrário de Audrey, que segurava a gêmea, Molly II, por uma das mãos e ainda conseguia bater palmas com desenvoltura; George, soltando Fogos Filibusteiro pelo ar com um sorriso no rosto, observado de perto pelo pequeno Fred, que batia palmas e cantarolava distraidamente; Angelina, ensinando a miúda Roxanne a bater palmas e cantar parabéns para a prima mais velha; Charlie, sorrindo e abraçando Emma e Andrômeda ao mesmo tempo, cada uma por um braço; Ron, com a pequena Rose ao seu lado, também batia palmas com entusiasmo; Hermione, segurando um Hugo dorminhoco, de apenas três meses, nos braços, só cantava; Harry segurava James e Alvo com cada uma das mãos; e Gina estava sentada tranquilamente em uma cadeira de plástico, contente, ainda com o barrigão que denunciava os recém-completados nove meses de gravidez.

Victoire ficou parada no lugar em que estava quando os parentes terminaram de cantar os parabéns. Estava, de fato, surpresa.

- Eu não... eu... tia Gina, você não tinha ido para o hospital? A Lily não estava nascendo? – balbuciou.

- Ainda não, Victoire. Foi só uma pequena mentira para você não desconfiar de nada. – respondeu a ruiva, com um sorriso nos lábios, passando as mãos sobre a barriga.

- Foi ideia do Teddy fazer a festa. – contou Fleur, adiantando-se para abraçar a filha. – E foi uma ideia ótima, não foi, Victoire? Você ficou realmente surpresa!

Ao se soltar da mãe, Victoire lançou um olhar indecifrável para Ted, que sentiu o rosto esquentar. Fleur não precisava lhe ter entregado. A menina, porém, não teve tempo de falar nada com ele, pois no segundo seguinte estava rodeada por avós, pais, irmãos, tios e primos ansiosos para lhe cumprimentarem pelo aniversário e lhe entregarem uma “lembrancinha”.

Ted se afastou do grupinho e se aproximou de Gina, que foi a única a ficar onde estava.

- Não vai cumprimentar a Vic, madrinha? – quis saber, puxando uma cadeira de plástico para se sentar ao lado dela.

- Agora não, Teddy. Estou um pouquinho indisposta. – respondeu, espreguiçando-se. – Acho bom a Lily ter contribuído para a surpresa da prima, mas agora que já se foi a surpresa, ela podia nascer de uma vez. Está muito pesada aqui e eu quero encerrar minha cota de filhos com ela.

Ted sorriu de leve. Sempre se divertia com o jeito que a madrinha falava determinadas coisas.

- Será que a Lily vai gostar de mim? – perguntou, inconscientemente.

- É óbvio que vai. – respondeu Gina, na mesma hora, voltando os olhos castanhos para o afilhado. – Você é um amor de menino, Teddy, é impossível não gostar de você. Todos aqui te adoram. Especialmente sua avó Andrômeda, seu padrinho, o James e o Alvo, que te veem como irmão mais velho, e eu também. Você é quase um filho para mim. – acrescentou, tirando as mãos da barriga para fazer cafuné no menino.

Ted ficou em silêncio. Era um amor de menino, segundo a madrinha. Por quê, afinal, Victoire não gostava dele, já que era assim?

- Madrinha... você acha mesmo que todos aqui gostam de mim? – perguntou, baixinho. Tinha vergonha da pergunta, mas confiava em Gina. Ela sabia guardar segredos de criança. Ted já perdera a conta das dezenas de vezes que confiara somente à madrinha acontecimentos da escola. Paixões secretas pelas meninas das sala. Desentendimentos com os coleguinhas. Fiascos nas aulas de educação física. Acidentes com magia que ele ainda não conseguia controlar bem. Coisas com que ela o ajudara, dando conselhos, ou mesmo indo à escola falar com a diretora. Sempre resolvendo os problemas sem contar para todo mundo.

- Posso saber que tipo de pergunta é essa, mocinho? – perguntou, desconfiada, os olhos faiscando. Ted comprimiu os lábios, sem saber se contava ou não sobre Victoire. Antes que pudesse se decidir, porém, Gina se adiantou: – Quem te disse que não gostava de você? Foi a Victoire?

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- Como você sabe, madrinha? – disse o menino, arregalando os olhos.

- É óbvio que foi ela, Teddy, era para a Victoire que você mais olhava o tempo todo. – disse, com ar fatigado. – O que ela te disse, exatamente? E quando foi que ela disse?

- A Vic disse que não gostava de mim. Que eu não era um Weasley. – balbuciou Ted, tristemente, rendendo-se ao olhar severo da madrinha. – Ela me disse isso no dia do meu aniversário.

- Teddy, vem cá. – chamou Gina, carinhosamente, estendendo os braços para ele.

Ted se aproximou e se sentou na grama, apoiando a cabeça nas pernas de Gina, que fazia cafuné nele.

- Você pode não ser um Weasley de sangue. Mas todos amamos você como se fosse. E é isso que importa, fofinho. Você tem uma família, sim. Tem sua avó e tem a nós. Se quiser, você sabe que pode considerar a mim e ao Harry como seus pais e ao James e ao Alvo como seus irmãozinhos. E a Lily vai ser louca por você, tenho certeza disso. Qualquer menina é encantada pelo irmão mais velho. Falo por experiência própria. Eu era fascinada pelo Bill. – disse a ruiva, com carinho.

- De verdade, madrinha? – questionou Ted, ainda inseguro.

- De verdade. – respondeu, convicta. – Tenho certeza de que a Lily também vai gostar demais do James e do Al, mas com você vai ser diferente. Porque você vai ser o irmão mais velho. E de qualquer forma, Teddy, mesmo que você não se sinta um Weasley, Harry e eu queremos que você se sinta um Potter. Sempre.

- E a Vic? Por que ela não gosta de mim, madrinha? – disse Ted, sem conseguir conter as palavras na boca.

- A Victoire gosta de você, sim, Teddy. Mas ela estava com ciúmes. Porque, se considerarmos apenas a família de sangue, ela é a neta mais velha dos Weasley. – explicava Gina, paciente. – E ela deve pensar que você está ocupando um lugar na família que é dela por direito, porque, para nós, você é o neto mais velho dos Weasley. Porque o consideramos da família. E Dominique, Louis, Fred, Roxanne, Molly, Lucy, Rose, James e Alvo gostam muito da Victoire. Mas têm um fascínio especial por você, por ser a criança mais velha na família. Quando fizemos a festa surpresa para você, a Victoire deve ter se sentido jogada para escanteio. No fundo, acho que ela só queria que você se sentisse um pouco rejeitado.

- Mas por quê? – questionou Ted, novamente, confuso.

- Ciúmes, Teddy, eu já disse. Mas vai passar; é só uma fase. – disse Gina, com convicção. – Você vai ver como ela vai te pedir desculpas daqui a um tempinho. E tenho certeza de que ela vai sentir a sua falta quando você tiver que ir para Hogwarts. Os irmãos e os primos da Victoire são adoráveis, mas nenhum tem a mesma idade dela. E ela sempre foi mais ligada a você do que a qualquer um deles.

Ted ergueu a cabeça do colo de Gina e se levantou da grama, para abraçá-la com força.

- Eu amo você, madrinha. Você é a melhor madrinha do mundo. – disse Ted, subitamente mais feliz. Vic ainda gostava dele. Só estava com um pouco de ciúmes. E não tinha algo que Gina falasse com ele que não fosse verdade. Ela entendia bem as pessoas.

- Eu amo você também, meu filho. – disse Gina, surpreendida e feliz pela súbita declaração do menino. – Mas vamos combinar uma coisa, pode ser, Teddy? – sugeriu ela, quando ele se afastou. – Nem uma palavra sobre nossa conversa para a Victoire. E continue chamando todos aqui de “tio” e de “tia”, mesmo que ela fale que não são seus tios. E, por último e mais importante: não se humilhe pela Victoire.

- Como assim, madrinha? – quis saber, confuso.

- Não se ofereça para brincar de boneca com ela só para tentar agradá-la. – Ted sentiu um rubor subir-lhe o pescoço. – Não faça nada só porque ela pedir se você não tiver vontade de fazer. E não fique atrás dela o tempo todo. Espere que ela fale com você. Porque você já mostrou que, apesar do que ela te disse, você ainda gosta dela, não é verdade? Você deu a sugestão da festa. Comprou um presente.

- E já me ofereci para brincar de boneca com ela. – murmurou, subitamente envergonhado.

- Pois é. Brinque com James, Alvo e seus outros primos. – disse Gina, sorrindo.

- Combinado, madrinha. – concordou o menino, com um sorriso no rosto.

Ted tinha acabado de virar as costas para ir atrás de Dominique e Fred quando ouviu a madrinha berrar:

- HARRY! ACHO QUE A LILY VAI NASCER!

Ted correu até ela. As pernas de Gina estavam molhadas. Ouviu um barulhão atrás de si e, no minuto seguinte, todos rodeavam Gina, que fazia caretas de dor.

- Mamãe? – chamou Alvo, cauteloso.

Ted segurou, por cada uma das mãos, James e Alvo, para que não se aproximassem muito da mãe.

No fim das contas, Harry levou Gina até o carro, carregando-a no colo, para levá-la ao hospital mais próximo, saindo em disparada. Atrás dele, foram Percy, Audrey, Angelina, George, Fleur, Bill e Ron. Molly, Arthur, Andrômeda, Emma e Hermione ficaram na Toca, para cuidar das crianças, que dormiriam por ali naquela noite, com exceção de Hugo, ainda bebê.

Tentando afastar a curiosidade de saber como seria o rostinho de Lily e a preocupação com o parto, os adultos fizeram um esforço para continuar a festinha de Victoire, que parecia não muito contente com o desenrolar dos acontecimentos.

Enquanto os adultos conversavam entre si, Hermione amamentando Hugo, Ted brincava com as crianças. Tentavam construir um castelo com um dos baralhos da Gemialidades Weasley.

- Não quer brincar com a gente, Vic? – chamara Louis, atencioso.

- Não. – havia respondido, simplesmente, voltando-se para os presentes que ainda não abrira.

Ao anoitecer, Andrômeda e Hermione foram cada uma para sua casa, esperar notícias de Gina e de Lily. Emma também foi embora, já que terminara o trabalho. Arthur conseguira falar com Ron por um celular e tinha saído para ir ao hospital – pelo jeito, o parto ainda demoraria algum tempo. Molly preparou uma sopa para os netos e pediu que Ted os vigiasse, enquanto colocava algumas roupas no varal.

Não foi um trabalho difícil para Ted. Os Weasley ficavam tão absortos enquanto comiam que mal prestavam atenção em qualquer outra coisa. Com exceção de Victoire, que apenas brincava com a sopa no prato à sua frente.

- Não está com fome, Vic? – perguntou Ted, sem conseguir se conter.

- Não. Queria que a tia Gina voltasse logo com a Lily. – respondeu Victoire, surpreendendo Ted. Pensou que ela estava triste porque todos os adultos tinham ido embora da festa.

Depois que terminaram de comer, Molly levou os netos para tomar banho, dividindo-os em trios e em duplas. Em seguida, vestiu pijamas em todos, fez com que escovassem os dentes e os colocou para dormir: Victoire, Dominique, Roxanne, Lucy, Molly II e Rose em um quarto; Ted, Fred, James, Louis e Alvo em outro.

Ted não dormiu de imediato. Pensava na madrinha, na irmãzinha que não sabia se já havia nascido, e em Victoire. Depois de longas horas rolando para um lado e para o outro, resolveu ir até a cozinha beber um copo de leite. Molly sempre deixava vários copos de leite em cima da mesinha de centro da sala quando os netos estavam lá, justamente para tratar de possíveis insônias.

Ao chegar lá, surpreendeu-se ao ver Victoire sentada em uma poltrona com um copo de leite nas mãos. Lembrando-se do combinado que fizera com Gina, Ted pegou um dos copos sem dizer palavra e saiu em direção à cozinha.

- Teddy? – chamou Victoire, cuidadosamente.

- O que foi, Vic? – respondeu, virando-se de volta.

Ela nada disse. Apenas deixou o copo vazio em cima da pia da cozinha e disse, com cuidado:

- Eu só queria pedir desculpas por ter falado que você não é um Weasley. – começou, olhando para o chão. – E por ter mentido. Eu menti quando disse que não gostava de você.

- Está desculpada. – respondeu, pensando no quanto a madrinha era genial.

Victoire ergueu os olhos da chão e lhe sorriu, timidamente.

- Boa noite, Teddy. – disse, subindo as escadas correndo para voltar ao quarto.

Ted bebeu o copo de leite, pensativo, e o colocou ao lado do de Victoire, sobre a pia. Voltou para o quarto, também, ainda refletindo. Ah, meninas. De fato, elas eram complicadas.

Mas ele se sentia um sortudo. Tinha a madrinha para ajudá-lo com elas.