Me Apaixonei Por Um Imbecil

Sofrendo muito mais do que você


P.o.v Austin

Eu estava parcialmente destruído. Sabe aquela sensação ruim quando você sabe que fez algo de errado, mesmo aquilo não sendo totalmente sua culpa, mas sabe que de alguma forma nada voltará a ser de novo como era antes? Ou pelo menos como era há uma semana. Pode ser complicado para algumas pessoas, mas não para aquelas que já sentiram isso. Eu estou sentindo. E é uma das piores sensações que eu já senti em minha vida. Eu me sinto errado, inútil, sem vida, eu só sinto que perdi uma parte muito importante de mim, e me sinto a pessoa mais imbecil do mundo por não ter lutado para tê-la de volta. Na madrugada do Sábado (Após a festa, e o acaso entre mim e a Cassidy, e a minha briga com a Ally) eu passei a noite toda na praia. Continuei no mesmo lugar onde a Ally havia me deixado, não conseguia encontrar as forças necessárias para ir de volta para casa. Eu vi o Sol nascer, e os convidados bêbados da festa voltar cambaleando para suas devidas casas. Passei todo o tempo pensando, acho que foi a vez em que eu mais pensei sobre um determinado assunto, mas em fim, não cheguei a nada. Eu realmente não sabia como consertar o que eu tinha feito, como explicar para ela – de novo – o que aconteceu, e fazê-la entender que nada mais me importa a não ser ela. Cheguei a ficar surpreso com isso, não pensei que um dia chegaria a essa conclusão. Gostar de verdade de uma pessoa, e simplesmente deixar ela torna-se o centro de sua vida, o seu mundo. Eu voltei exausto para casa. Entrei pelo portãozinho dos fundos, que dava direto para a praia, com o objetivo de ninguém me perceber lá. Subi discretamente a escada e entrei no quarto da Ally, desejando que estivesse vazio, afinal deviam ser oito da manhã, o pessoal deveria estar tomando o café – da – manhã á essa hora. E realmente não tinha ninguém no quarto, a não ser a própria dona. Eu olhei para ela por alguns momentos, depois desviei o olhar. Ela estava sentada em sua cama, com as costas encostadas na cabeceira e o meu violão em seu colo. O caderno de capa marrom estava aberto em sua frente, ela parecia estar... compondo.

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– Oi... – ela sussurrou, como se duvidasse se diria algo a mim ou não – Desculpa pegar sem pedir, é que...

– Não tudo bem, eu vou tomar um banho. – percebi que ela falava do violão e eu apenas assenti e me direcionei ao banheiro. Minutos depois eu saí e me sentei na cama da Trish, com a boca fechada.

– Não vai tomar café? – ela perguntou. Virei minha cabeça para ela e fitei seus olhos. Ela estava puxando conversa, e eu não sei direito, mas fiquei feliz por isso.

– Tô sem fome – respondi.

– Você precisa se alimentar – aquilo me chamou atenção e eu virei meu corpo inteiro para ela.

– Ainda se preocupa comigo? – soltei um sorrisinho no final, não queria parecer rude, eu só queria arrumar as coisas em minha cabeça.

– Eu costumo me preocupar com as pessoas, elas merecendo ou não – meu sorriso caiu e eu me consertei novamente na cama, murmurando apenas um “Ah” e voltando a minha posição de antes, com a boca fechada. E pelo que eu me lembro, essa foi a última vez que conversamos.

Hoje é segunda, e eu me vi acordando ás seis da manhã por conta própria. Não consegui dormir direito, eu fechava meus olhos, e as lembranças dos dias anteriores à briga se reproduziam como um filme na escuridão. Eu via nós dois, eu e a Ally, fazendo guerra de água na piscina de sua casa, o Dez e a Trish rindo e revirando os olhos pra a nossa idiotice. Via o fim de tarde na praia, nós dois sentados na areia e vendo o Sol se esconder no mar, e aos poucos o céu ficar escuro e a Lua brilhar lá em cima. Eu sentia o gosto de seus lábios aos meus, e o calor de seu corpo junto ao meu. A nossa dança desajeitada na beira d’água, e o concurso entre nós quatro para ver quem terminava o sorvete em menos tempo. Mas aí eu acordava, e via que eu estava ali, sozinho em meu quarto, encarando a janela aberta e o dia amanhecendo nublado.

Seis e meia eu já estava estacionando o carro no estacionamento da Marino. Não demorei muito para sair de casa, não tomei café, e não fui obrigado a tomar, afinal meus pais nem em casa estavam, e deixaram apenas um bilhetinho dizendo que haviam partido para uma reunião importante em São Francisco. Não fiquei surpreso, a viagem “em família” para Sunset Beach foi apenas um pretexto para justificar o tempo que eles iam passar fora. O céu permanecia nublado, e ameaçava chover em poucos minutos. Eu usava uma calça jeans rasgada, uma camisa qualquer e um casaco por cima. Tinha o capuz estendido sobre minha cabeça, impedindo que as pessoas vissem meu rosto com clareza, não queria responder àquelas perguntas vazias de como eu estava, e o porquê das minhas olheiras e da minha cara de enterro, porque sinceramente, foi isso que eu vi no espelho mais cedo.

Fiquei parado, encostado num poste de luz próximo a escola, onde normalmente o pai da Ally a deixava de carro. Uns dez minutos se passaram, e eu só conseguia olhar para os lados, a procura do Peugeot do pai da minha morena. Eu estava ansioso para vê-la. Sabia que ela poderia muito bem me ignorar, não querer falar comigo, mas só em vê-la já estava bom para mim. Aos poucos um outro carro aproximou-se de onde eu estava e meu coração acelerou. Pelo outro lado uma porta se abriu e de lá saiu a Ally, vestida como sempre, com seu casaco enroscado em seus braços e com um gorro na cabeça. E bem a minha frente outra porta se abriu e o do carro desceu a Trish.

– Tchau Senhora De La Rosa, obrigada pela carona. – ela acenou para a mulher que dirigia o carro, que provavelmente deveria ser a mãe da Trish. A mulher respondeu-lhe e sorriu, despedindo-se da Ally e de sua filha. As duas caminharam para a calçada do colégio, e ocasionalmente perceberam que o individuo estranho usando o capuz era, de fato, eu.

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Elas me olharam por uns segundos e eu retirei o capuz, deixando-as ver o meu estado.

– Oi – disse apenas. Trish trocou olhares com a Ally e sorriu fraco para mim, dando uma desculpa qualquer para nos deixar sozinhos. A Ally relutou um pouco, mas deixou que a amiga fosse embora, voltando a olhar dentro dos meus olhos.

– Você está bem? – ela falou num fio, indecisa.

– Você estava me evitando, não é? – foi o que eu consegui dizer. Aquela pergunta estava na minha cabeça há muito tempo, desde que partimos de Sunset Beach e logo após a vigésima vez em que eu tentei ligar para ela.

– Eu preciso de tempo. – disse.

– Para ver se acredita em mim? Eu já menti para você? Já menti para alguém, na base do possível?

– Tempo para esquecer o que eu vi. Quem sentiu a dor fui eu, lembra?

– E você acha que essa coisa roxa embaixo dos meus olhos foi porque eu passei a noite toda acordado vendo pornografia no computador? Não Ally, não foi. Foi porque eu passei praticamente a noite inteira e mais um pouquinho dos dias anteriores pensando em você, e em algum jeito de te ter de volta. E adivinha? Eu não consegui chegar à porra de conclusão nenhuma em como ter você nos meus braços de novo, em como poder te abraçar e você não sair correndo pedindo para eu não te seguir. Eu queria te pedir perdão, dizer que eu sinto muito e essas coisas, mas há um problema, a culpa não foi minha.

– A culpa foi da Cassidy. – disse e revirou os olhos, como se descresse do que acabara de dizer.

– Não. – eu disse e ela me olhou, procurando respostas. – A culpa foi da desconfiança. Ou melhor, da sua mania de duvidar de mim. Eu estava ali do seu lado, eu te abraçava, te beijava, ria das suas piadas sem graça, e poderia repetir mil vezes se você pedisse: Eu gosto de você. Mas você escolheu a porra do seu orgulho, colocou na frente apenas a sua dor e a sua teimosia, e não parou para pensar que eu estava ali o tempo todo, sofrendo mais do que eu gostaria. Sofrendo muito mais do que você.