Dia - X

capítulo 15 - Silhueta


Enquanto corríamos para a TARDIS, uma chuva nos pegou. Chegamos lá completamente encharcados. A TARDIS piscou suas luzes de uma maneira alegre, talvez feliz por ver O Doutor novamente.

–-É isso ai, garota! –Exclamou ele, acariciando o console da nave.

–-Vem, vamos tomar um café. –Eu disse, puxando-o até a cozinha. Naquele momento a ultima coisa que me importava era o fato de eu estar molhada.

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Preparamos um café rápido e nos sentamos. Eu sorri. Estava imensamente aliviada por tê-lo por perto, vivo novamente. Não gostava de usar esse termo, ainda não gosto, para falar a verdade, mas era exatamente isso: Eu não tinha gostado nada de ser a ultima da espécie. Era extremamente solitário.

O Doutor parecia meio confuso. Eu também estava um pouco, afinal, havia muitas coisas sem solução. Como as correntes elétricas no futuro, o fato de O Doutor ter aparentemente ferido Mellany e mais umas coisinhas.

–-Então... –Insinuou ele. Parecia muito nervoso. –Quem... Quem é você?

–-Writer. –Respondi. Ele arqueou as sobrancelhas.

–-Não te conheço. Conheço?

–-Não. –Respondi, sorrindo. –Quase ninguém me conhecia. Nem a mim, Mirai ou Contte. Fazíamos parte da Instituição. Acho que agora você tem o direito de saber mais sobre ela.

Ele ficou em silencio. Segurei firme a xícara de café entre as duas mãos, pensando em como contar uma enorme história de um modo simples e não dolorido, tanto para mim como para ele. Então foi isso o que saiu:

–-Haviam certos senhores do tempo, poucos, porém existentes, que, ao olhar para o vortex aos oito anos de idade, se inspiravam. Voltavam depois de ver as entranhas do tempo e quase todos os seus segredos. A maioria das pessoas cuja visão conseguiam chegar além de certo ponto acabavam loucas. Mas algumas dessas pessoas, por algum motivo que ninguém consegue explicar, mantinham a mente sã.

–-A Instituição. –Disse ele. –Ela era um refugio para essas pessoas? Onde elas se sentissem seguras?

–-Sim e não. –Eu disse. –Sim, era um refugio, mas não, não era seguro. Essas pessoas, talvez por terem visto tanto, tinham a mente mais afinada e aberta. Eram inteligentíssimas, mais do que qualquer senhor do tempo normal. Então se reuniram e começaram a... Controlar Gallifrey por trás de lençóis e cordões de marionetes.

–-Controlar... Gallifrey?—Arfou ele. Eu assenti.

–-Essas pessoas sabiam como olhar pontos no tempo através do vortex e como mandar sinais através dele. Conseguiam mudar coisas simples, como o fato de alguém deixar de dizer eu te amo antes de sair de casa, sem saber que aquela será a ultima vez. São pequenos detalhes que regem o universo.

–-Você era um deles. –Disse O Doutor. Não parecia zangado ou irritado. Pareia apenas vazio, cansado. –Você, Stevan e Mellany.

–-Eu, Connte e Mirai, você quer dizer. Sim, éramos. Fazíamos parte do monopólio que controlava o planeta. Vocês estavam lá, observando, e nós agíamos. –Suspirei. Aquilo não parecia de maneira nenhuma certo, mas o que eu podia fazer? –O governo de Gallifrey sempre acabava nas mãos da Instituição ou de alguém próximo a ela.

Ele não fez comentário. Apenas me encarou. Achei que devia contar o resto da história, mas não abri a boca. Então, muito tempo depois, ele perguntou como haviam me contrabandeado para fora da guerra.

–-Foi um plano grandioso. –Eu disse. –Foram muitas etapas. Tiveram, antes de mais nada, de achar um jeito de passar pelo lacre temporal que envolvia o período da guerra. Eles não nos contaram como fizeram, acho que para o caso de nós querermos voltar depois... Então veio a segunda etapa: Trancar nossas consciências de senhores do tempo nos relógios e matar nossos corpos.

–-Espere. –Interrompeu ele. –Se seus corpos foram destruídos, suas consciências deveriam ter ficado nos relógios para sempre, elas só podem retornar ao corpo original, não? E quanto a agora? Você tem um corpo, então...?

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–-Essa foi a parte mais bem bolada, na minha opinião. Quando nascemos, Skarguillo, um dos senhores do tempo mais velhos da instituição, abriu um link temporal e meio que nos conectou a três humanos na terra. É complicado... Mas o básico é isso: Fizeram com que nós fossemos exatamente iguais aos humanos, tanto na mente como no corpo. Fomos separados dos nossos pais e vivemos nossas vidas inteiras na instituição. Eles sempre reabriam o link e faziam as atualizações necessárias.

–-Quer dizer... Mas... Hã?

Eu ri antes de responder.

–-Precisavam de cópias nossas para legar as consciências, Doutor. Conseguiriam passar o relógio pelo lacre temporal, talvez por ser algo relativamente sem vida, mas não conseguiríamos passar. Então mataram nossos corpos originais e esperaram que os humanos achassem os relógios e os abrissem.

–-Mas isso é impossível! –Disse ele, exaltado. –Mentes humanas sucumbiriam a uma mente timelordiana!

Dei um tapa em seu braço.

–-Você não ouviu o que eu disse? Éramos cópias dos humanos. Ou o contrário, não sei... O que importa é que cada célula, cada átomo e cada neurônio dos nossos corpos eram iguais, assim como nossas mentes. As mentes dos humanos foram preparadas durante toda a vida para receber nossas consciências.

Fez-se um enorme silencio. Sabia que o Doutor, assim como eu, estava revivendo as lembranças dos últimos dias de guerra. Nós havíamos saído de lá cerca de três horas antes do planeta se perder, então não havíamos visto o desfecho da guerra, o que realmente acontecera. Eu queria perguntar a ele, mas não ousei. Na Instituição, Jailoo, o vidente, havia feito uma profecia de que era O Doutor quem queimaria Gallifrey. Então, naquele momento, pela primeira vez, senti raiva e medo dele, ao mesmo tempo.

–-Então, acho que também devo dizer o que aconteceu comigo, não? –Disse ele, me pegando de surpresa. Eu apenas concordei com a cabeça. –Antes de sairmos da fábrica dalek, se lembra dela, não? Então, antes de entrar na TARDIS quando corríamos da explosão, fiz uma ultima analise com minha chave de fenda sônica e descobri que uma parte da fábrica não seria atingida pela explosão e havia daleks lá dentro. Decidi que seria melhor voltar. –Ele deu de ombros. –Um sacrifício banal.

Então era isso. Tudo se resumia a isso: Nós dois se sacrificando para salvar o universo, sempre. A mesma ladainha, a mesma canção. Oras... Naquele momento e em diversos outros depois, tudo o que eu queria fazer era largar o universo e deixá-lo morrer. Apenas para outras pessoas se sentirem como eu me sentia. Mas então eu me lembrava de cada família, de cada crianças, de cada idoso e de cada animal inocente. Era simplesmente impossível deixar tanta beleza morrer, mesmo que isso custasse deixar vivos também os ladrões, os trapaceiros e os injustos. Era isso que éramos, era onde estávamos: Na parte mais negra do mundo tentando salvar a parte mais albina. A vida não é justa.

–-Então, quando você disse minha TARDIS... –Começou ele.

–-Era. –Respondi, antes mesmo dele perguntar. – Era minha. Você a roubou, seu...!

–-Calminha! –Disse ele. –Olhe, eu não tive culpa, estava fugindo...

–-Ah, é? –Eu me levantei e fui andando até ele. –Mesmo assim, você não a devia ter pego. –Eu lhe dei um tapa no braço. –Talvez eu ainda quisesse dar uma volta antes de morrer! –Eu o bati de novo. –Seu...

–-Hey, calma ai! –Disse ele, se levantando e ficando a uma distancia segura de mim. –Olhe, desculpa, certo? Eu estava apenas fugindo. Eu nem ia pegar aquela nave em especial, mas uma garota a recomendou. Posso explicar, se você quiser.

–-Não, não precisa. –Respondi, lembrando da série de televisão. Então nós rimos.

Assim, sem motivo nenhum, rimos até nos falar fôlego. Então nos sentamos e ficamos parados por um tempo enorme. Nesse período, minha mente começou a vagar. Foi repassando tudo o que havia acontecido desde a primeira vez que eu tinha visto O Doutor, passando por Sarah, por Connte e Mirai e pelos vários pontos que ainda estavam sem explicação. E foi nessa brincadeira de deixar minha mente vagar que eu me toquei de duas coisas que tinham de ser feitas para garantir a fluência da minha própria linha temporal.

–-Doutor, acho que temos que fazer umas coisinhas.

–-Temos que descobrir de onde vinham as correntes elétrica na época de Mella... Mirai e descobrir por que, aparentemente, eu a feri.

–-Isso também. Mas acho que vou ver Connte, quando ele ainda era humano. –Eu disse.

–-Olhe, sei que você deve querer revê-los, mas...

–-Não é isso! –Garanti. –O que acontece é que eu acabei de descobrir quem era a silhueta que lhe contou histórias quando ele era pequeno.