Um lobo não mais solitário

Capítulo 2 - Se importa?


Ele estava deitado e sua cabeça explodia. Seu corpo doía e ele tinha passado os últimos dias se sentido o protagonista do filme "O Exorcista", vomitando para todos os lados.

-Mudei de ideia. Pode me matar de novo – pediu Peter gemendo no sofá.

-Você só está aqui há três semanas – comentou Derek, mudando os canais freneticamente.

-Mas eu não sabia que estava esperando o bebê de Rosemary! – retrucou, gemendo mais – Por favor, Derek.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

-Não.

-Por favor, vai.

-Não.

-A gente espera o filhote chegar da escola, eu finjo que vou te atacar, e você me mata. É rápido, fácil. Talvez faça um pouco de sujeira com o sangue e tudo mais. Eu posso até dar uma risada vilanesca pra dar mais autenticidade na interpretação.

Peter suspirou aliviado quando viu o sobrinho levantar. Seu sofrimento iria enfim acabar. Derek ficou na sua frente e fez uma careta e começou a repetir uma palavra como um mantra. Peter podia jurar que era algo como "Gusfraba".

-Alô? Oi, é o Derek. Isso. Derek Hale. Será que você pode vir aqui hoje? Aconteceu, sim. Preciso de ajuda antes que eu mate a mesma pessoa pela segunda vez. É o meu tio. Ele não cala a boca e passa o dia gemendo – Derek parou e olhou pensativo – É, ele perdeu bastante peso aparentemente. E como é que eu vou saber? – Peter viu o lobisomem virar os olhos – Ah, sei lá. Tá meio Amy Winehouse – ele comparou, fazendo o outro levantar as mãos – Valeu pela ajuda – agradeceu e desligou.

Sem falar nada ele voltou para sua poltrona e aumentou o som de novo. Quando viu que Peter não calaria a boca tão cedo, ele virou e jogou o controle. Infelizmente, Derek tinha uma ótima mira e nenhuma ideia da força que tinha. O controle acertou Peter em cheio, nocauteando-o.

Peter acordou com uma forte luz em seus olhos.

-E então? – perguntou Derek contrariado.

-Ele vai viver. Foi só uma concussão – respondeu Deaton, examinando sua cabeça.

Ainda estava meio atordoado, mas tinha certeza que ouviu alguns suspiros desgostosos e um "Putz". Sabia que não o queriam ali realmente, mas ouvir tão claramente assim doía.

-Eles me passaram os sintomas que você tem sentido e é tudo normal, é só o seu corpo se ajustando com as mudanças anatômicas, e assim que elas terminarem só vai restar os sintomas de gravidez mesmo – sorriu, tentando tranquiliza-lo.

Mas Peter não era desligado como os outros e a frase do veterinário teve efeito contrário.

-Preciso de ar – falou, antes de levantar rapidamente.

Por um minuto seu mundo girou e ele sentiu fortes mãos o segurando. Olhou para o lado e viu que o filhote Isaac o segurava e tinha uma expressão estranha.

-Está tudo bem? – Isaac perguntou, correndo para segurar o outro antes que ele caísse. Não entendeu o porquê do outro não responder.

Peter ouviu a pergunta, mas não conseguia responder. Tanto tempo que ninguém lhe perguntava isso, que ninguém se preocupava. Sentiu o coração apertar e os olhos queimarem.

-Não precisa chorar, Peter. É natural – Deaton sorriu colocando a mão em seu ombro.

Ele passou a mão no rosto e viu que estava úmida. Só aí Peter percebeu que estava chorando e nem se dera conta. Fechou a mão com força. Malditos hormônios.

Os outros se afastaram quando ouviram Peter começar a rosnar. Quando ele os encarou com os olhos brilhando azuis e com as garras de fora, Derek puxou os outros dois com ele enquanto saía do quarto e fechava a porta atrás de si.

-Acho que ele quer ficar um pouco sozinho – explicou, sem graça. Podia ser o alfa, mas ainda tinha certo receio das mudanças repentinas de humor do tio.

-Ele é bipolar – comentou Isaac. Parecia um pouco assustado – Eu só estava tentando ajudar.

-São as mudanças drásticas. Quando toda essa transformação acabar, tudo volta aos eixos – afirmou tentando tranquilizá-los – Eu acho – pensou.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

-Transformação? - Isaac estranhou.

-O bebê precisa sair, não é? – riu Deaton – Ligue-me se precisar de alguma coisa, ok? – falou para Derek ao ir embora.

-Vem, vamos para a sala. Você parece meio verde – Derek apoiou o braço nos ombros do garoto e o levou consigo em direção à sala.

Após ouvir o comentário do veterinário, Peter sentou no canto do quarto o mais escondido possível e abraçou suas pernas.

Ficaria ali, trancado no quarto, até tudo acabar. Ninguém seria testemunha de sua desgraça.

-Pessoas aguentaram setenta dias no meio dos Andes. Você é um lobisomem, pode aguentar muito mais que isso – Peter falava para si mesmo tentando se convencer – Aguenta aí, lobinho. Oito meses passam voando – falou para a barriga, que roncava de fome.

Alguns dias se passaram. Isaac chegara com os outros da escola e não pôde evitar colocar a mão no nariz. O cheiro estava pior do que quando saíra.

-Não acredito que vocês ainda não conseguiram fazê-lo sair de lá – comentou Stiles, ao entrar e se jogar no sofá ao lado do namorado e lhe dar um selinho – Até eu estou sentindo o mau cheiro que vem do quarto e sou só humano – reclamou o garoto, quando Derek o abraçou.

-Ele não sai nem pra comer, Stiles – comentou o alfa com a voz abafada pelos cabelos do namorado.

-Eu tive uma ideia – o garoto levantou a cabeça com um sorriso travesso.

Naquele momento Derek teve pena do tio.

Uma meia hora se passou e todos seguiram o adolescente quando ele subiu as escadas com um prato de comida que cheirava deliciosamente bem.

Stiles bateu na porta do quarto.

-Você não pode ficar sem comer, sabia? Faz mal para o bebê – falou Stiles – Fiz um prato só pra você. E tem três lobisomens aqui querendo roubar sua comida – tentou.

Passou um tempo até que ouvisse uma resposta.

-Fome é psicológica – retrucou, com uma voz rouca e fina.

Stiles fez uma pequena dança da vitória quando conseguiu que o outro pelo menos respondesse. Quase deixou o prato cair, mas Scott foi mais rápido e ajudou-o a segurar. Stiles sorriu agradecendo.

O garoto então colocou o prato no chão e começou a abanar para que o cheiro passasse por debaixo da porta. Sorriu quando mesmo ele conseguiu ouvir o estômago do outro roncando.

-Vou deixar aqui na frente da porta, ok? Caso você mude de ideia – falou, antes de sair puxando os três com ele.

Isaac e Scott foram para frente da tevê, mas Stiles sentou no final da escada, de olho na porta. Derek sentou-se atrás do namorado e o abraçou. Apoiou a cabeça em seu ombro quando o outro relaxou o corpo contra o seu.

-O que está fazendo? – perguntou, fungando em seu pescoço.

-Esperando – respondeu o garoto, ainda olhando a porta.

Não demorou muito para que ouvissem móveis sendo arrastados. Pelo que Derek podia ouvir, o tio tinha feito uma pequena barricada na porta.

Mais alguns minutos passaram antes que ouvissem a porta abrindo e vissem uma mão puxando rapidamente o prato em direção ao quarto.

-Ele não trancou – murmurou Derek no ouvido do namorado.

Os dois se levantaram e subiram as escadas com cuidado para não alertar o lobisomem grávido. Chegando à porta, Stiles tomou fôlego e abriu-a com tudo e entrou. E realmente não esperava o que viu. Uma versão feminina e esfomeada de Peter o encarou com olhos assustados por um segundo antes de voltar a comer.

Derek estranhou a reação do namorado, mas não pôde deixar de parar e cobrir o nariz. O cheiro estava insuportável dentro do quarto. Ele escancarou a porta para que o ar corresse e arrancou os lençóis da cama. Os jogaria fora na primeira chance.

-E você vai tomar um banho nem que eu tenha que te levar pela orelha – rosnou Derek ao virar para o tio.

Agora ele entendia a reação do namorado. Ele olhou chocado para quem tinha certeza de ser o tio, mas que agora era nada mais que uma mulher faminta, fedida e com os cabelos ensebados.

Ele se aproximou do tio que o olhava assustado, e se agachou ficando na mesma altura que ele. Agora era impossível fingir que o tio era adotado, ele estava muito parecido com sua irmã Laura. A diferença eram os cabelos que não tinham o tom avermelhado da irmã e nem eram tão lisos.

- Stiles vai preparar um banho para você. E vê se bebe alguma coisa. Vai acabar desidratando – disse o alfa, dando um peteleco na testa do tio – Eu volto logo – falou ao se levantar.

-Vai aonde? – perguntou Stiles, ao ganhar um selinho do namorado.

-Resolver algumas coisas – respondeu e deu uma piscadinha.

Ele desceu as escadas correndo, pegou as chaves do Camaro e saiu cantando pneu. Tinha contas a acertar com um caçador.

-A banho está pronto – falou Stiles depois de sentir a temperatura da água.

Ele olhou para Peter, que estava parado nu em frente ao espelho do banheiro há alguns minutos. Era a primeira vez que se via depois que se trancara no quarto.

-Eu pareço um travesti – comentou apalpando os seios – Dá até para brincar de PAF PAF – riu balançando o tronco, sendo seguido pelo garoto que também riu.

-Você leu Dragon Ball! Quem diria? – Stiles comentou – E você não parece um travesti.

-Como não? Já viu algum homem com seios desse tamanho? Isso aqui deve ser pelo menos um nº 44 – falou tentando adivinhar o tamanho.

-Não tem mesmo. Mas homens têm algo que você aparentemente não tem mais – apontou Stiles, fazendo o outro conferir o que ele falava.

Seu pênis tinha sumido! Como não notara isso antes? Mais de trinta anos usando-o diariamente e quando o perdeu nem notou?!

Stiles guiou Peter para a banheira quando viu o sangue sumir da face do outro. O mais velho seguia o que o mais novo mandava no automático. A única coisa que pensava era "Como?".

Derek estacionou de qualquer jeito, e saiu do carro. Ele esmurrou a porta.

-Derek! O que você quer aqui? – estranhou Allison.

O lobisomem a ignorou e empurrou, entrando na casa e cheirando o ar. Subiu as escadas pulando alguns degraus e abriu a porta sem a menor cerimônia, quebrando a fechadura.

-Se importa? – perguntou Chris Argent ao abaixar o jornal que estava lendo.

-Vou esperar na sala – Derek falou ao fechar a porta do banheiro.

Derek desceu as escadas e a cada passo que dava rezava para que um buraco se abrisse no chão e o engolisse.

Fim do cap. 2