Segunda Temporada De Finalmente Juntos

Capítulo 34: Hora da Verdade


*Naruto*

DOIS DIAS DEPOIS

Quando a luz adentrou o quarto, eu soube que havia esperança. A chuva não deu trégua por dois dias inteiros e eu, como arquiteto, sabia exatamente o quanto ela podia atrapalhar no reparo da ponte. Encarei o céu pela janela do pequeno quarto de hotel. Não havia nuvens, nada que indicasse que não seria um belo dia de sol. Encarei Hinata. Ela ainda estava adormecida entre os lençóis. Suspirei lentamente enquanto terminava de vestir minha camisa. Eu precisava falar com Gaara. Eu precisava saber quando o tal tratamento seria, definitivamente, liberado para testes. Mesmo depois de tudo que Hinata me dissera sobre o ruivo, eu ainda tinha que acreditar nele. Afinal, Gaara era, naquele momento, a única esperança de mantê-la viva.

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Sai do quarto, dando-me de cara com o corredor completamente encharcado. Um velho senhor puxava a água de forma ruidosa com um rodo. Ele ergueu o rosto e me fitou por alguns segundos antes de balançar a cabeça como um aceno e voltar-se ao trabalho. Caminhei apressadamente até a recepção. A mesma moça jovem que nos atendera no dia que fui forçado a renovar o aluguel estava sentada com os olhos fixos na televisão. Aproximei-me do balcão e ela rapidamente voltou sua atenção para mim. Seus dedos voaram até os cabelos, puxando mecha após mecha até que este parecesse um pouco mais apresentável. Sorri forçado para ela.

— Vocês tem algum telefone por aqui? – deixei minha pergunta vaguear por alguns segundos até que ela pareceu compreender. Seu sorriso era fraco e as mãos tamborilavam sobre o balcão de granito.

— Nosso telefone queimou durante a tempestade. – disse simpaticamente. – Mas há uma cabine de telefone público a apenas duas quadras, descendo a rua. Há uma loja na frente dela para comprar fichas.

Sorri em agradecimento para logo depois sair pela porta. Suspirei encarando o caminho que ela me informara. Perguntava-me o quão pacata podia ser aquela cidade litorânea se ainda tinham cabines telefônicas funcionando. Eu provavelmente encontraria telefones públicos em Tóquio ou até mesmo Konoha apenas em museus, e se eu encontrasse nas ruas, eles provavelmente não funcionassem mais.

Deixei um suspiro irritado escapar pelos lábios quando me deparei com a loja de conveniência fechada. Há quanto tempo eu não fazia uma ligação a cobrar? Será que Gaara tinha crédito? Será que ele ao menos atenderia a ligação? Deixei minhas perguntas abandonadas em algum lugar de minha mente e disquei o número. O som eletrônico gravado resmungou que aquilo era uma ligação a cobrar e logo depois pude ouvir um “alô” fraco do outro lado da linha.

— Gaara, sou eu, Naruto. – murmurei, torcendo para que ele ao menos conseguisse me entender sob a estática da linha. – Gaara?

— Naruto? Cara o que houve? – perguntou – Estão todos preocupados com vocês. Aconteceu alguma coisa?

— A ponte caiu durante a noite e estamos praticamente ilhados em um hotel. – respondi facilmente. – Avise para todos. Mas não é por isso que estou ligando. – o silêncio tomou conta do outro lado da linha. – Preciso saber quando o seu tratamento estará disponível para testes em humanos.

Não estava com vontade de brigar com Gaara, mas a cada nova palavra que eu dizia a ele, simplesmente tinha uma vontade enorme de socar sua cara. Suspirei tentando manter a mente intacta desses pensamentos. Não era hora de me sentir irritado por algo que aconteceu em algum momento atrás, certo?

— Eu iria mesmo comentar isso com você. – disse facilmente – Meu colega me enviou um e-mail algumas horas atrás. Tentei telefonar para você, mas... – ele parou de falar e eu, de algum modo, soube que seja lá o que houvesse nesse e-mail, as notícias não eram tão boas. – O tratamento foi liberado pela OMS. Os testes devem começar em uma ou duas semanas.

Entendi o porquê do cuidado exacerbado em dizer tais palavras. Nosso plano era que Hinata fosse para Alemanha durante a nossa lua de mel, após uma cerimônia sem muito holofote. Havíamos até programado a data para daqui a um mês e meio. Mas a notícia dele trazia tudo água a baixo. Eles esperavam apenas a permissão da OMS para iniciar os testes. Gaara havia me dito que poderia incluir Hinata nos testes, mas eu não sabia se ela aceitaria de bom grato. Eu a conhecia perfeitamente e, devo concordar, que até Gaara conhecia o gênio da Hyuuga com relação a estes tratamentos. Hinata não aceitaria algo em que ela visse que não valeria a pena.

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— Mantenha a vaga dela em aberto. – eu murmurei e ele tentou dizer algo, mas eu sabia que a partir dali apenas eu podia fazê-la mudar de ideia. – Deixe o resto comigo.

*Hinata*

— Acredito que acordar e não encontrar seu noivo em lugar nenhum seja um sinal de que provavelmente o casamento não dará certo. – brindei-o com o comentário assim que vi Naruto passar pela porta. Desliguei a televisão e ergui-me do colchão. De certo modo, eu agradecia por ele não ter estado aqui mais cedo. Eu não me senti bem desde que acordei, uma hora atrás. Eu havia vomitado. E quando digo vomitado, não me refiro à pasta de feijão que eu havia comido durante a noite. Havia sangue exacerbado para os vômitos que normalmente me abatem. Aquilo era um sinal claro que meu estado de saúde vinha piorando. – Onde estava?

— Buscando um telefone. – ele suspirou enquanto jogava-se na cama. Naruto franziu o cenho e voltou a me encarar. Seus olhos azuis celestiais pareciam desbravar minhas expressões e tentar arrancar meus segredos mais profundos do peito. – Você está bem? Parece um pouco... pálida.

— Oras Naruto... – murmurei tentando dar meu melhor sorriso. Eu queria ver aquilo como uma brincadeira por parte de Naruto, mas eu sabia que, no âmago de meu ser, ele havia notado que eu não estava tão bem. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo enquanto sentava-se ao seu lado. A mão dele traçou caminhos imaginários por meu braço. – Eu sou pálida de natureza. Pensei que já houvesse percebido.

— Hina... – ele chamou-me pelo apelido carinhoso. Encarei-o. A praia havia o deixado mais bronzeado ainda. Os cabelos loiros manchavam o colchão. Os olhos brilhantes mantinham-se inertes sob minha figura. Eu não sabia exatamente se aquela forma com que Naruto me encarava era segura para mim, mas algo nele me prendia completamente. – Nunca mentiria novamente para mim, certo? – confirmei com um breve aceno. – Caso algo estivesse passando por sua mente, você me diria, certo?

— Onde está querendo chegar, Naruto? – perguntei-o já estranhando o rumo da conversa. O relógio bateu meio dia. Os raios de sol entravam pela janela do quarto e eu me peguei pensando se havia alguma chance de consertarem a ponte o mais rápido possível com a trégua dada pela chuva. – O que quer dizer com isso?

— Sinceramente, Hinata... – sussurrou ele erguendo-se do colchão e aproximando seu rosto do meu. Sua respiração batia fortemente contra minha face que tive certeza que tomara uma coloração avermelhada. Torcia para que Naruto não tenha percebido essa pequena mudança em meu rosto. As mãos dele pescaram as minhas sobre a cama. Seus dedos brincavam pouco divertidos com os meus. – O que você acharia de fazer uso de um remédio experimental para o câncer?

Meus olhos arregalaram levemente. O chão pareceu ceder sob a sola de meus pés e eu agradeci mentalmente por estar sentada. Desde o momento em que Naruto descobriu sobre a leucemia, ele havia sido convidado a conhecer todos os meus pensamentos sobre tratamentos e remédios. Eu aceitava completamente a minha situação. Eu aceitava que tinha uma etiqueta de prazo de validade pregada em minha alma. Eu resolvi que viveria minha vida ao máximo no tempo restante em que me deram. Naruto havia me dado essa nova perspectiva.

— Por que essa pergunta agora? – deixei a pergunta escapar por meus lábios antes que eu pudesse evitar. Tratamentos nunca haviam funcionado comigo. Quimioterapias, radioterapias, coquetéis experimentais... Todos estes, eu havia experimento quando ainda morava no Canadá. Eu tinha esperanças naquela época que um deles viesse a me livrar da leucemia. Mas não foi bem o que aconteceu. – Naruto?

— Eu não gosto de mentir. Não para você. – murmurou o loiro Uzumaki rapidamente. – Mas eu menti. Desde que Gaara chegou eu tenho mentido para você, Hinata. – meus olhos ainda encaravam o loiro. Naruto encarava o colchão como se as dobras do lençol fossem algo mais interessante em que ele pudesse fixar seus olhos. – Gaara tem uma equipe de biomédicos que criaram uma droga experimental na Alemanha. A OMS liberou testes em humanos e estes testes devem começar em duas semanas.

Ergui-me do colchão e caminhei pelo quarto. Naruto deixou de encarar o colchão e fixou seus olhos em meus passos. Não que eu estivesse brava com ele, longe disso. Talvez se eu estivesse em seu lugar, eu realmente pensasse sobre esses assuntos, mas... Não gosto de mentiras. Mentiras sempre foram as causas de nossas brigas, mesmo durante a infância. Suspirei lentamente. Minha cabeça ainda doía devido ao mal-estar da manhã. Encostei na parede e encarei o loiro.

— Sei que está brava. Compreendo perfeitamente. – murmurou Naruto antes que eu pudesse pensar em algo a dizer. – Mas, por favor, tente. Sei que está exausta de tratamentos sem resposta, mas... Por favor... Eu não vejo como... Eu realmente não faço a menor ideia de como viver sem você e só de pensar que você pode...

— Naruto... Eu... – chamei-o. Uma pontada atingiu minha cabeça e eu tive que segurar a parede para não cair. Suspirei lentamente enquanto recobrava os sentidos. – Não que eu esteja com raiva. Entendo porque fez isso. Mas não entendo o porquê de não ter me dito nada. – as palavras saíram mais acusatórias do que eu imaginava. O olhar de Naruto fixou-se ao chão. Suspirei lentamente ao notar o modo rude como elas escaparam. – Desculpe... Acho que estou me sentindo um pouco exausta hoje. Vamos deixar para conversar sobre isso outra hora, certo?