Nightingale

Capítulo 13 - In Joy and Sorrow


Não vi Dimitri nos dias seguintes, eu apenas me esforçava para ir às aulas e voltar a minha rotina normal. Enquanto eu estava cercada de pessoas eu estava bem, o problema vinha quando eu ficava sozinha e o pânico me dominava. Algumas vezes eu vomitava até cair exausta na cama, em outras eu iria dormir e sonharia com os assassinos dos meus pais me estuprando. Então eu acordaria gritando e toda encharcada de suor. Eu sentia que estava me afogando cada vez mais. Pela primeira vez desde que conhecera Dimitri eu me peguei sentindo falta do meu velho hábito. E antes que me dessa conta ou que conseguisse me controlar, o sangue escorria em pequenos filetes pelo braço.

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No dia seguinte coloquei várias pulseiras para que ninguém reparasse nos cortes, mas infelizmente não tinha nada que poderia cobrir a vergonha que eu sentia de mim mesma. Eu me lembrava das consequências da ultima vez que tinha feito isso, me lembrava da decepção nos olhos daqueles que eu amava e mais importante, sabia que Dimitri ficaria triste quando soubesse, mas eu simplesmente não conseguia me conter.

Duas semanas depois lá estava eu, deitada na minha cama ouvindo Him – exatamente como vinha fazendo nas duas ultimas semanas – quando aquela urgência de botar tudo pra fora tomou conta de mim. Cheguei até a pegar o bisturi, mas então a imagem de meus pais me veio à cabeça e eu sabia que não podia mais fazer isso, eu não podia decepciona-los ainda mais. Eu queria sair por ai, mas o medo não permitia que saísse sozinha, não mais. Então quase que sem pensar eu peguei meu celular e disquei pra Dimitri.

– Rose, tá tudo bem? – perguntou ao atender no segundo toque.

– Você tá muito ocupado? – perguntei com urgência.

– Eu estava apenas revisando alguns contratos aqui na empresa? Por quê? Você precisa de mim?

– Sim. Se possível. Antes que eu acabe fazendo alguma besteira. – admiti envergonhada.

– Estarei ai em dez minutos. – ele disse desligando. Como prometido, dez minutos depois ele havia chego.

– Dimitri. – eu soltei num arquejo. Encostei minha cabeça no encosto do banco de passageiros e lutei para conseguir respirar. A sensação era como se alguém houvesse arrancado meus pulmões e eu não conseguisse ar suficiente.

– Rose. – Dimitri disse baixinho, os olhos arregalados avaliando meu estado decadente. Naquele instante eu não aguentei e explodi em lágrimas. Eu havia segurado aquele choro por duas semanas e quando eu o libertei não consegui mais parar. Dimitri ficou lá apenas sussurrando que tudo iria ficar bem e que ele estava ali. Por fim as lágrimas secaram e eu consegui me conter.

– Desculpa por obriga-lo a ver isso. – disse sem graça.

– Eu estive tão preocupado com você Roza. – ele comentou quando eu me joguei em seus braços. – Quis tanto vir te ver nessas duas semanas, mas eu ficava me dizendo que você iria me procurar quando estivesse pronta.

– Obrigada por aquele dia. – disse quando me toquei que eu nem tinha agradecido a ele. – E obrigada por hoje. Você não tem ideia da burrice que eu teria feito se você não tivesse vindo. – ele me olhou alarmado e em resposta eu exibi meus pulsos. – Eu fiz ontem e me arrependi imediatamente. Quando a necessidade me bateu hoje eu liguei pra você.

– Oh Roza. – ele suspirou. – Eu fico contente que você me ligou. Não iria suportar se você fosse machucada. – seus dedos acariciaram meus ferimentos. Eu não deixei passar despercebido que ele tinha dito “se você fosse machucada” e não “se você se machucasse”. Para outros poderia ser indiferente, mas para mim era uma diferença enorme, pois significava que ele não me culpava pelo que eu havia feito. – Você tem ido à psicóloga? – perguntou.

– Sim, e também tenho tomado os remédios, mas desde aquela noite eles não tem mais funcionado. – admiti.

– Eis então o que nós vamos fazer. Agora nós vamos voltar pra sua casa, vamos jantar e depois você vai dormir e eu vou estar com você o tempo todo. Então amanhã logo cedo nós vamos falar com a sua psicóloga e vermos o que a gente pode fazer. Tudo bem? – perguntou. Eu concordei com a cabeça e ele deu meia volta. A família de Lissa ficou surpresa por ver Dimitri ali, mas todos os receberam muito bem e não perguntaram nada, pelo que eu fui muito grata. Ninguém além de Lissa tinha certeza do nosso envolvimento, mas acho que todos estavam felizes por ele me estar me ajudando e era por isso que não falavam nada. O jantar transcorreu normal e então eu fui me aprontar para dormir. Na hora que estava saindo do banho dei de cara com Luke me esperando na porta do banheiro.

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– O que tá acontecendo Rose? E não venha me dizer que não tá rolando nada. – disse quando abri a boca pra responder.

– O Dimitri tá só me ajudando, só isso. – disse tentando passar por ele.

– Ele é muito mais velho que você. – argumentou.

– Você nunca deu a mínima pra quem eu namorava ou deixava de namorar. Por que isso agora? – perguntei ficando irritada.

– Por que o papai não tá mais aqui e eu tenho que cuidar de você. E isso inclui não permitir que um homem muito mais velho que você durma no seu quarto.

– Só que você não é o papai Luke, não cabe a você decidir o que eu faço ou deixo de fazer da minha vida. Se não fosse por Dimitri você nem teria irmã pra se preocupar, então larga do meu pé! – exclamei empurrando-o contra a parede e indo pro meu quarto.

– Deixe-me adivinhar, seu irmão não me quer aqui? - Dimitri perguntou ao me ver bufando pelo quarto.

– Ele não decide o que ele quer ou não da minha vida, eu decido. – resmunguei. – Além do que, minha cama é suficientemente grande pra caber nós dois e ainda sobrar espaço.

– E quanto a Eric e Rhea? – perguntou Dimitri.

– Eles não costumam intervir na minha vida ou na de meu irmão. Me consideram crescida o suficiente pra tomar minhas próprias decisões. – respondi-lhe enquanto arrumava a cama. – Agora Camarada, vamos dormir ou não? Estou cansada. – resmunguei me deitando. Dimitri tirou o sapato e o cinto e deslizou suavemente para o meu lado. Ele puxou minha cabeça para seu peito enquanto ele cantarolava baixinho e logo eu estava dormindo.

Acordei no dia seguinte ainda com a cabeça no peito de Dimitri, a única diferença é que durante a noite eu parecia ter me enroscado toda nele. Minhas pernas e estavam embaixo dele, enquanto meus braços rodeavam sua cintura e nossos cabelos estavam espalhados pelos travesseiros. Aquela era a primeira noite em semanas que eu dormia sem ter pesadelos. Acho que eu iria convidar Dimitri mais vezes à minha cama.

Me desenrosquei dele com cuidado e me levantei. Ele se mexeu um pouco, mas não chegou de fato a acordar. Ainda eram sete da manhã e todos deviam estar dormindo, então tentei ser o mais silenciosa possível. Quando cheguei na cozinha estava me sentindo uma ninja e começava a fazer uma dancinha da vitória quando dei de cara com Luke.

– Jesus! – exclamei com o susto.

– Não sabia que você tinha virado religiosa Rose. – disse com um sorriso que não alcançava seus olhos.

– O que você esta fazendo aqui embaixo uma hora dessas? Achei que o garanhão estaria tirando seu sono da beleza. – comentei debochando dele.

– E eu achei que você estaria se embolando com um certo russo. – replicou ele.

– É melhor você nem começar Luke. – adverti. - Estou com muito bom humor.

– Eu não quero brigar Rose. Na verdade eu queria me desculpar. Sei que eu não sou o papai e que não deveria ter agido daquele jeito com você ontem. Mas por Deus! Eu ando tão preocupado com você. Só quero o seu bem maninha.

– Eu sei disso Luke. Sei que você só se preocupa comigo. Mas Dimitri foi a única coisa boa que me aconteceu esse ano. – respondi-lhe.

– Eu fico muito aliviado por você passar tanto tempo com ele. – admitiu. – Ele é alguém plenamente capaz de te proteger. Não só emocionalmente, mas também fisicamente.

– O que você quer dizer? – perguntei estranhando todo esse papo dele.

– Não é nada. – respondeu me dando as costas. Ok, tinha alguma coisa ai.

– Luke. O que está acontecendo? – perguntei usando minha voz de “fala logo que eu não estou de brincadeira”.

– Não é nada conclusivo Ok? – avisou. - Eu contratei um investigador particular e ele achou algumas coisas perturbadoras.

– Perturbadoras? Tipo o que?

– Coisas que indicam que a morte dos nossos pais foi planejada.