Mama Dean

O início de um longo... Longo voo.


– Castiel... Castiel...

A voz que chamava por ele era feminina, doce e melodiosa.

– Bati! – Anunciou Samandriel sorridente.

Cass parecia um pouco distraído. Os chamados não cessavam... Talvez fosse melhor averiguar. O anjo olhou para o irmão de maneira apologética. Nem precisou dizer nada...

– Ahh, vai logo então, Castiel! Mas não demora que eu já vou começar a dar as cartas para a próxima rodada... – advertiu o outro anjo.

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Castiel voou, seguindo o chamado da vovó. Encontrou a velha parada no meio da rua.

– Castiel! Até que enfim você veio, meu anjinho querido! A vovó estava preocupada... – Exclamou Hilary tascando um beijo na testa do rapaz quando este surgiu ao seu lado.

Cass sentiu-se ruborizar. Talvez tivesse sido muito severo com seus amigos humanos. Eles não eram tão ruins assim afinal...

– Desculpa vovó... Eu estava ocupado... – justificou-se. Apenas não explicou que sua ocupação era jogar cartas com Samandriel.

– Cass, será que você poderia consertar os pneus do Imapala? Eu preciso guardá-lo com cuidado, ou Dean me mata. Me fez prometer que tomaria conta do carro...

Foi só aí que o moreno reparou em Baby estacionada, com os pneus furados e vazios. E onde estava Dean? O anjo sentiu uma pontada de remorso e preocupação lhe atingirem de repente.

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Longe dali, Dean estava bem. Ou quase... Vestido de padre, rezando sem parar, viajava rumo à Cidade Maravilhosa. Segurava Samantha, que dormia pesadamente em seu colo, envolta em uma mantinha. Ao seu lado, estava Sam - de vestidinho rosa e cara de poucos amigos. Formavam um belo trio.

O que aqueles malucos estariam indo fazer no Rio de Janeiro? Aquele parecia ser o tópico mais discutido dentro do Boeing 737 que voava há quilômetros de distância acima do nível do mar. Os outros passageiros não conseguiam deixar de comentar e cochichar uns nos ouvidos dos outros. Talvez já estivessem prontos para o Carnaval? Uma teoria improvável, já que era pleno Agosto...

Alguns afirmavam que Sam devia estar escondendo drogas na calcinha. Outros especulavam que a batina de Dean era uma farsa, e que os rapazes eram um casal gay... Essa teoria ficou ainda mais popular depois que a turbulência no avião começou. O louro, apavorado, escalou o colo do irmão, sem desgrudar da pequena Samantha um só segundo.

– Socorro! Socorro! – Berrava o rapaz, apavorado.

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– O que houve com o carro? Dean está bem? – perguntou Castiel aflito.

– Não foi nada, Cass. – respondeu a mulher, apressada. Não tinha tempo naquele momento para contar ao anjo toda a história.

Como assim “não foi nada”? Seu melhor amigo nunca se separava do carro... Haveria de ter tido algum motivo grave para que abandonasse o Impala naquele estado.

– Mas e o Dean, vovó? Onde está ele? – insistiu moreno, preocupado, enquanto usava seus poderes para consertar os pneus.

– Ele, Sam e Samantha viajaram para o Rio. Estão bem... – respondeu a vovó. - Só faz logo o que estou te pedindo, por favor... Estou atrasada para o clube do livro! – Insistiu Hilary impaciente, olhando o relógio.

Viajaram para o Rio de Janeiro? Para quê? Os Winchesters não eram de viajar... Muito menos para fora do país...

– Foram fazer o quê no Brasil? – perguntou confuso.

Os pneus estavam agora sem furos e cheiinhos. A vovó deu mais um beijo em Castiel. Era ótimo tê-lo de volta... Talvez fosse melhor não preocupá-lo sem necessidade... Os Winchesters haveriam de estar bem, e ela estava mesmo bastante atrasada agora...

– Foram para o Carnaval, querido. – Disse Hilary sem demora, sem suspeitar que a popular festa era celebrada em fevereiro ou março no Brasil. Pulou para dentro do carro acenando um adeus.

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Castiel ficou confuso. Carnaval? Já tinha ouvido falar... Era quando os humanos colocavam fantasias e iam se divertir e beber... Será que era para isso que Sam e Dean chamaram por ele tão insistentemente? Bem... Tarde demais... Ele não podia ter certeza absoluta. Cabisbaixo, Castiel deu um último adeus à vovó, que partiu cantando os recém consertados pneus de Baby.

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– Dean, para com isso! Você está puxando a minha saia! – reclamou Sam, tentando cobrir as coxas novamente com o tecido rosa.

– Que se dane a sua saia, Sam! Não vê que estamos em perigo? – Respondeu o louro com a voz trêmula.

Sam olhou envergonhado para os demais passageiros que observavam os dois com mórbida curiosidade. Tentou empurrar Dean para a sua poltrona, e estava quase conseguindo quando uma trepidação mais forte veio atrapalhar.

– Socorro! – Gritou o Winchester mais velho a plenos pulmões, enquanto agarrava o irmão com mais força. – Já que vamos morrer, que estejamos todos juntos: Eu, você e Samanthinha!

Samanthinha? Esse era o nome da boneca? Aqueles dois eram fugitivos do hospício... Parecia ser a única explicação. Apesar do aviso para permanecerem sentados, uma aeromoça seguiu em direção à gritaria. A situação já tinha saído do controle fazia tempo...

– Errrr... Sr. Padre... Por favor... Volte para a sua poltrona e afivele o cinto. Não há motivo para pânico. – Pediu a mulher, educadamente.

Mas Dean não deu ouvidos à comissária. Continuou à gritaria, dessa vez chamando por Castiel. Impressionantemente Samantha não acordou. A pequena Bicudin tinha o sono muito pesado...

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– O que foi dessa vez? Uma aranha ou um salto quebrado? – perguntou Samandriel com deboche.

Castiel tinha acabado de voltar ao paraíso, e sentou, desanimado, para mais uma entediante partida de baralho. Deu de ombros. Tudo bem que a vovó pedira um favor... Mas Samandriel estava enganado... Seus amigos não eram frescos, que tinham medo de insetos, e só chamavam para pedir favores... Eles eram caras bacanas. Tinham até tentado chamá-lo para se divertir com eles no Carnaval carioca.

Suspirou. Estava conformado a continuar o jogo quando ouviu gritarem seu nome. O chamado de Dean chegou como uma surpresa agradável. Dessa vez ele não deixaria de respondê-lo...

– Desculpa, Samandriel, mas tenho que ir... É Carnaval no Rio! – o anjo falou apressado, sem maiores explicações, com um sorriso no rosto.

– Carnaval em agosto? – Samandriel perguntou incrédulo. Mas Cass já estava longe dali...

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– Castiel!!! Castiel!!! – Berrava o louro.

Castiel apareceu, mas como todos os olhares estavam voltados para Sam e Dean, ninguém notou o passageiro de sobretudo que surgiu do nada.

– Quem é Castiel? – perguntou a aeromoça, curiosa.

Cass sorria de uma orelha a outra. Seus amigos estavam mesmo indo para o Carnaval. As fantasias engraçadas que usavam não lhes deixava enganar! Iria pedir para Dean ajudá-lo a encontrar uma roupa bem divertida para usar na festa também!

– Cass! – berrou o ex-caçador, aliviado e surpreso, ao ver que seu amigo alado finalmente estava ali para socorrê-lo.

– Estou aqui, Dean! Desculpa não ter aparecido antes... Eu estava muito ocupado... Muito afazeres... – o anjo tentou justificar, sem graça.

– Chega de blá blá blá, Cass! Nós estamos correndo perigo de vida!!! O avião está caindo!!! Faça alguma coisa, depressa!!! – berrou o louro, em pânico.

Como assim o avião estava caindo? Então Dean não o havia chamado para convidá-lo para uma festa no Brasil? O anjo olhou atordoado para o amigo. Antes que pudesse ter alguma reação, a aeromoça se dirigiu a ele.

– Senhor, por favor, volte para o seu assento! O Padre está um pouco nervoso com a turbulência, mas não há motivo algum para pânico... O avião não vai cair!

– Não vai cair? – Castiel parecia ainda não entender o que estava acontecendo.

A aeromoça olhou para Castiel e para Dean impaciente. O avião não ia cair, mas mesmo se fosse, não haveria nada que o homem de sobretudo pudesse fazer. Aqueles americanos eram mesmo muito esquisitos...

– Vocês não me chamaram para ir ao Carnaval? – perguntou Castiel decepcionado, ignorando os apelos da comissária.

– Não, Cass... Nós não estamos indo para o Carnaval... – respondeu Sam impaciente. De onde o anjo tirava ideias tão malucas? Agora além de usar vestido rosa ainda tinha que acalmar Dean e lidar com um anjo sem noção...

Castiel olhou de um irmão para o outro. Dean, vestido de padre, soltava gritinhos paniquentos sem motivo. Sam, de vestidinho rosa, tinha a cara de pau de mentir dizendo que não estavam indo para o Carnaval do Rio. Samandriel estivera com a razão o tempo todo... Aqueles dois não queriam sua companhia. Eram uns molengas que só sabiam fazer frescuras.

Sem dizer mais nada, o anjo se desmaterializou dali de repente. Por sorte, ninguém, além dos Winchesters, viu... Estavam agora todos com a atenção voltada para uma velhinha que gritava. Era uma mulher, baixinha, quase esquelética, e de pele bem morena. Sam calculou que tivesse entre 85 e 90 anos de idade.

– Socorro! Vamos todos morrer! – Berrava a criaturinha, em bom português, para desespero de sua acompanhante, uma mulher de meia idade, machona e corpulenta. Era inacreditável que som tão possante pudesse sair dos frágeis pulmões daquela vovozinha.

– Cale a boca, vó! – reclamou a neta com agressividade.

Sam, Dean e outros americanos que estavam no vôo, não entenderam as exatas palavras que a velha Clodoalda e sua neta Romilda falavam. Apesar disso, era claro o que estava acontecendo. Clodoalada estava apavorada. Tanto quanto Dean...

Aproveitando o momento de distração do irmão, Dean escalou seu colo. – Por que Cass foi embora? Ele não quis me salvar... – choramingou o louro escondendo o rosto nos ombros de Sammy.

Sam ia responder qualquer coisa, mas a berração da velha não o deixou falar.

– Ahhhhhh! Arghhhh! Ai meu Padim Padre Ciço! - guinchava a quase centenária brasileira.

Os olharam estavam divididos agora. O padre no colo do travesti era uma cena bizarra. Ainda mais segurando aquela bonequinha no colo... Mas Clodoalda tinha acabado de cuspir a dentadura e balançava os braços freneticamente.

Sam suspirou. Pelo menos não era o único ali pagando mico... De qualquer forma, aquele seria um longo... Longo voo...