O virgem de 19 anos

Capítulo 24


Entro no carro, sentindo o cheiro dos bancos de couro. Assim que ela ocupa seu lugar do lado do motorista, abro o embrulho do presente e mostro-o para ela. Um sorriso largo aparece em seu rosto. Em seguida, seus olhos se estreitam.

– Não está pensando em entregar assim, está?

Encaro o pacote. Na verdade, eu estava sim. Ela revira os olhos e solta um suspiro irritado.

– Vou dar uma passadinha na minha casa e te arrumar um embrulho decente. – Dá a partida no carro e completa: – homens.

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Depois de um passeio em um dos bairros mais ricos da cidade, Cristina finalmente me deixou na porta de casa. Eu imaginei que uma mulher não se arriscaria a subir uma ladeira daquelas, mas seu instinto de fazendeira falou mais alto e ela conseguiu. Agradeci a carona e atravessei o portão.

Na sala, estão Marcos, Eduardo e Marcelo. Pondero por um segundo no que dizer a eles, mas não encontro nada. Se eu admitir que estivesse apenas fingindo os sons com Luiza, teria que dizer que era virgem até noite passada. Também não consigo pensar em uma boa explicação para a aparição repentina de Vanessa, então resolvo deixar passar. Reteso o ar quando Marcos me chama:

– Bah, Caio! Achei que tu era gay ontem à noite!

Os outros começam a rir e eu permaneço em silêncio.

– Ou alguma coisa mais absurda – Marcelo continua. – Achamos que você era virgem!

As gargalhadas explodem na sala e o sangue foge do meu rosto. Troco o peso de uma perna para outra, tentando avaliar se isso é sarcasmo ou eles realmente não sabem.

– Nós nunca desconfiamos – Eduardo diz. – Nunca mesmo.

– Realmente. Nós nunca achamos ser possível.

Engulo em seco. Eles sabem. De alguma forma, eles descobriram.

– Só resta agora dar os nossos pêsames, meu caro.

Pêsames?

– Hã?! Do que estão falando.

Marcos revira os olhos.

– Estás apaixonado, guri. Entendemos por que não quis a outra garota ontem. E agora tu me chega com uma bandeja de café da manhã. Meus pêsames.

Franzo o cenho e eles riem.

– Tudo bem, nós não imaginamos que você se apaixonaria por alguém. Mas ninguém pode mandar no coração, certo?

Soltei o ar. Então era disso que estavam falando.

– Hã, certo. Não se pode mandar no coração. Preciso ir agora. – Parei no caminho. – Ela está lá, não está?

Eles assentem e eu entro na cozinha. Busco uma organização bonita para os alimentos, mas não consigo. Acabo desistindo e colocando tudo de qualquer jeito, exceto pela rosa, que coloco com cuidado no canto. São quase dez da manhã e eu espero que Vanessa não tenha acordado ainda. Coloco a bandeja nos braços e sigo pelo corredor.

Empurro a porta do quarto com cuidado e deposito a bandeja na cômoda. Viro-me procurando, mas ela não está lá. É quando vejo um vulto sair de trás da porta e pular em cima de mim, me jogando na cama.

Eu rio.

– Bom dia pra você também.

Vanessa tem cheiro de banho e está usando uma das minhas camisas, que desce até um terço de sua coxa. Pelas aberturas dos botões posso ver o sutiã de renda que ela usara e uma torrente de lembranças prazerosas me invade, quase me fazendo arrancar suas roupas mais uma vez. O cabelo castanho-claro está jogado de lado e ela passa as mãos por ele ao sentar ao meu lado, na cama.

Ela encara a bandeja e ergue as sobrancelhas.

– Pra mim?

Sorrio, examinando o lugar com exagero.

– Não vejo mais ninguém no quarto.

Ela agarra a caixinha de suco e serve num copo.

– Estava sendo o pós-sexo mais romântico que eu já tive até você dizer isso.

Ergo as mãos em sinal de defesa e ela ri. Cruza as pernas em borboleta – me pego perguntando se ela está ou não de calcinha, o que deu em mim? – e coloca o copo de suco na bandeja. Seu olhar parece um tanto mais preocupado.

– Caio, acho que precisamos conversar.

Precisamos conversar nunca é um bom começo de diálogo. Suspiro e permanecemos em silêncio. Mais uma vez, ela volta a falar:

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– Eu não queria que o sexo estragasse nada entre a gente.

– Vanessa – interrompo-a. – Eu não acho que vou conseguir te olhar do mesmo jeito depois de ontem. Pode me chamar de gay, mas eu gosto de você, aliás, bem mais que isso. Quando eu te disse que te amava na noite em que dormi na sua casa eu estava falando sério. E se não der pra ser amor de verdade, eu não sei o que vai ser. E agora eu já estou falando merda com merda porque não sei nada sobre amor, mas sei muito sobre você.

Ela pisca repetidas vezes, o olhar carregado de intensidade.

– Sabe? – pergunta, mordendo o lábio inferior. – O que você sabe sobre mim?

– Sei que você morde o lábio quando está pensando em alguma coisa. Sei que sempre me xinga quando eu desfaço o coque do seu cabelo, mas que sentiria falta se não o fizesse. Você tem seis tipos de sorriso, sabia? Seu sorriso de felicidade, o educado, o sarcástico, o sacana, o enraivecido e esse sorriso envergonhado que está usando bem agora. Sei que você é linda com ou sem maquiagem e sei que eu nunca senti tanto a falta de alguém como senti a sua. Sei também que quero ficar com você. Só com você.

Ela me encara com um meio sorriso, as bochechas coradas. Refaz o coque, mas eu sei que ela não está com calor – isso é só uma desculpa para mexer as mãos.

– Eu não sabia que você sabia tanto assim. – Ela soltou uma risadinha.

– Sabia que o sabiá sabia assobiar? – digo.

Puta merda, Caio. Agora não. Controle seu nervosismo.

Vanessa ri.

– Sabia. Eu preciso saber uma coisa de você. – Ela baixa os olhos e morde o lábio mais uma vez.

Ergo as sobrancelhas, como quem diz vá em frente.

– Quer que eu seja sua namorada? É isso que você quer dizer?

Anta! Bato a mão na testa e procuro a caixinha que Cristina arrumou para mim. Ela disse ser a caixinha que seu marido usou.

– É isso que essas alianças estão dizendo, não é?

Os olhos de Vanessa passam dos anéis para mim e para eles mais uma vez. A boca se abre em surpresa e eu tenho a ligeira impressão de que estou ferrado.

– É isso que elas estão dizendo, sim – diz, apoiando-se nas mãos, sem descruzar as pernas.

Sim, eu estou ferrado.

– E o que essa cara que você está fazendo agora está dizendo? – pergunto.

Uma pausa antes que ela responda:

– Está dizendo que estou esperando.

Ela sorri e me estende a mão direita, movendo o anelar. Um sorriso bobo se espalha em meu rosto enquanto coloco a aliança ali. Posso devolver o anel dela depois, agora nada importa. Ela coloca a minha aliança em meu dedo e eu desabo nos travesseiros, puxando-a comigo, sentindo seu cheiro e seu calor.

Respiro fundo antes de dizer:

– Não posso acreditar – digo, rolando a aliança com o polegar. Namorada. Vanessa agora é minha namorada.

Ela assente e ri. Vira-se e me beija, um sorriso bobo tomando conta de seu rosto também. Ficamos em silêncio por alguns instantes até que ela solta uma gargalhada.

Lá vem besteira. Olho-a e ergo as sobrancelhas em tom questionador. Ela gira o anel usando do polegar, o sorriso sarcástico brincando em seu rosto. Com certeza lá vem besteira.

– Aposto que você diz isso para todas as garotas com que dorme.

Reviro os olhos e beijo sua boca mais uma vez.

– Exatamente.