O virgem de 19 anos

Capítulo 12


Embora sejam três da tarde e eu esteja de ressaca, estou com fome. Bebo mais três copos de água quando abro o congelador. Uma das melhores partes da visita dos pais dos seus colegas é que eles compram comida, mas uma das piores partes é que não, ela não vai comprar lasanha pronta congelada.

Suspiro, tomando mais um copo de água e abrindo a geladeira. Numa vasilha, encontro fatias de bife. Ainda está congelado – desconfio de que a mãe de Felipe vá prepará-los no jantar –, então não tem nem como sugar a carne, sei lá. Sei que parece nojento, mas eu não estou sentindo o gosto de muita coisa mesmo.

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Abro os armários, tomando nota mental para lubrificar as dobradiças – de novo – e tiro uma frigideira dali. Jogo-a no fogão de qualquer jeito, jogo um pouco do que me parece óleo de soja e escuto o barulho de água apagando fogo quando atiro tiras do bife ali, remexendo de qualquer jeito com a ponta de uma faca que suponho que esteja limpa.

Quando a coisa acaba de pegar uma corzinha, jogo uma pitada de sal por cima e coloco a frigideira sobre o tampo de mármore. De repente, perdi a fome. Tento ligar para Vanessa, mas ela não me atende. Resolvo então discar o número de Luiza.

– Por que tão cedo? – ela choraminga, e eu chego o relógio de pulso.

– São quase quatro da tarde.

– Não justifica. – Ela suspira. – O que você quer?

– Talvez um bom dia – resmungo, irritado. Ela não diz nada, então eu apenas prossigo: – cadê Vanessa?

– Dormindo, como todo mundo aqui em casa. Como eu estava fazendo antes do bonitão aí me acordar.

– Você não tem aula agora? – Tento desconversar.

– Depois de uma festa daquelas? – Ela ri. – Só no dia em que Viçosa for uma cidade totalmente plana.

Eu rio. Ficamos em silêncio por alguns minutos.

– Tudo certo para hoje à noite? – pergunta, e eu me esforço para lembrar. Quando lembro, sinto meu estômago revirar e não sei bem se por conta da ressaca.

– Sim – eu digo. – Diga à Vanessa eu mandei um beijo. – E diga que também a amo.

– Certo. Beijos, Caio.

– Beijos.

Desligo o telefone e fico alguns minutos em silêncio, sem pensar em nada específico até me lembrar do bife à minha frente. A coisa está parecendo o agente secreto James Bond: duro, frio e com nervos de aço. Empurro tudo para dentro como um garotinho obediente e resolvo tomar um banho para tirar todo esse fedor demoníaco de álcool, vômito e suor.

Quando estou no chuveiro, ouço alguém entrar em casa e ouço também meu telefone vibrando na pia. Uma chamada perdida de Marcos, eu constato enquanto me seco. Passo a toalha por minha virilha com um sorriso sacana no rosto. Poxa, Vanessa, se você quisesse saber o tamanho era só pedir. Não ia se decepcionar.

Passo direto para o meu quarto e me visto, agradecido pela dor de cabeça estar finalmente passando. Quando termino de me vestir, vejo uma mensagem de texto. Quando vejo o nome de Vanessa no visor, meu coração quase salta pela boca. Aperto as teclas com mais força que o necessário, mas a mensagem está vazia. Simplesmente assim. Fico com raiva da situação e vou para a cozinha, guiado pelo cheiro de lasanha que consegue afastar toda a minha dor de cabeça.

A mãe de Felipe me cumprimenta assim que entro, anunciando que por volta das seis a lasanha estará pronta para comer. Enquanto isso mordisco um pão de queijo que eles trouxeram de qualquer padaria do lugar e me sento à mesa, conversando com eles sobre a Bahia, férias, e qualquer coisa mais. Quando meu relógio apita pelas seis horas, lanço-lhe um olhar esperançoso de cachorrinho pidão e ela começa a gargalhar, tirando a forma do forno e colocando num escorador, sobre a mesa. Adriano abre os armários para tirar alguns pratos e comenta:

– Precisa de um pouquinho de óleo aqui.

Acredite, meu caro, eu sei bem disso.

– Acho que sim – limito-me a dizer, cumprimentando Felipe com a cabeça quando este passa pela porta e abraça sua mãe por trás.

– A melhor lasanha do mundo! – Ele suspira e ela ri.

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– Você só diz isso porque fica um ano inteiro sem comer, meu cheiro.

Sentamos os quatro e eu não sei onde Marcelo se enfiou, mas quem perde é ele. E além do é até bom, porque sobra mais lasanha para mim. Quando coloco o segundo pedaço, sentindo meu apetite se abrir, Marcos, Marcelo e Eduardo aparecem na porta da cozinha com sorrisos sacanas estampados no rosto.

– Estamos todos atrasados – Eduardo diz, puxando a cadeira em que estou sentado.

– Mas ainda são sete e quinze! – choramingo, enfiando um pedaço quente de lasanha na boca e me arrependendo.

Ou não...

– Exato! – Marcos diz e ri, entrando na cozinha e cumprimentando a mãe de Felipe.

– Deixe de amolar o menino. – Ela diz, o sotaque carregado. – Ele tem que comer.

– Ele vai comer algo diferente essa noite – ele responde e todos riem pelo duplo sentido da coisa. Tenho vontade de repreendê-los, mas isso só vai me fazer parecer um idiota.

– Certo. – Enfio o último pedaço de lasanha na boca, secretamente querendo enfiar a forma inteira.

Quando descemos a ladeira e passamos o balaústre – jura? –, o único som presente é o da risada abafada dos garotos e eu não entendo muito bem a razão. Eles riem ainda mais quando eu pergunto:

– Por que tão cedo?

Ainda não compreendo, mas chegamos ao lugar. As portas são de madeira, dobradas como aqueles salões country de filmes de faroeste. As luzes amarelas e fortes me cegam por um instante, misturadas ao cheiro de conhaque que quase me sufoca. Meu queixo cai enquanto eu avalio as mesas de madeira e o bar bem iluminado e os garotos se seguram muito para não gargalhar. É só quando um grito ecoa pela sala que eu saio de meu transe:

– Bingo! – a mulher de sessenta e poucos anos grita e uma variedade de sons toma a sala.

Então, é isso. Meus amigos sempre gentis me trouxeram a uma casa de diversão para a terceira idade.