– Tem certeza de que você precisa mesmo ir?

– Sim.

– Você pode falar que morreu. Ele ia acreditar. Não é como se não tivesse meio mundo tentando matar você.

– Acho que ele acharia um jeito de me ressuscitar.

– É. Ele realmente te ama. Não conseguiria viver sem você.

– Eu sei. Estou esperando a qualquer momento o pedido de casamento dele.

– Vou pedir para tia Muriel emprestar a tiara dela. Vai ficar linda no cabelo dele.

Harry riu alto ainda deitado na margem do Lago Negro, Gina de barriga para cima, com a cabeça apoiada na barriga dele. Os dois estavam ali há um bom tempo, um dos raros momentos em que conseguiam ficar juntos e em paz. As detenções de Harry com Snape, no entanto não deixaram aquele momento se prolongar por muito mais tempo.

– O que será que vai acontecer com o Snape até o final do ano? – Harry perguntou meio distraído, olhando para o céu entre a copa da arvore em que estavam e mexendo lentamente no cabelo da namorada.

– Que?

– O tempo dele está acabando...

– Do que é que você está falando, Potter? – Ela perguntou estreitando os olhos.

– Como professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

– Quer fazer o favor de se explicar direito?

– Eles sempre duram só um ano.

– Ah! Isso! – Gina exclamou. – Acha que Snape só vai aguentar um ano também?

– Espero.

– Não sei. Dumbledore realmente confia nele, não é?

– Sim. Bom, ele também confiava nos outros.

– Talvez ele só volte a ser professor de poções. – Ela deu de ombros.

– E o Slughorn? – Indagou, intimamente pensando na memoria que devia tirar dele, mas quase no mesmo segundo a jogando para um canto afastado da mente.

– Merlin, Harry! Eu não sei! Não dou conselhos para Dumbledore sobre quem ele contrata. – Gina retrucou revirando os olhos.

Ele sorriu e deu um leve tapa no ombro dela.

– Me bate e novo e eu mato você.

– Duvido. Você é igual ao Snape, não vive sem mim.

– Tem razão. Eu gosto tanto de você quanto o Snape. – Respondeu rindo e se levantando, sentando-se do lado dele.

– Falando em Snape, eu preciso ir. – Falou fechando os olhos e colocando as mãos sob a cabeça.

– Dá para ver como você está se preparando para sair.

– Porque ele tinha que me dar tantas detenções?

– Isso acontece quando você ataca outro estudante com um feitiço potencialmente letal.

– Você está parecendo a Hermione. – Ele abriu os olhos e se sentou também.

– Falando em Hermione. Você acha que ela e meu irmão finalmente vão se acertar?

– Como eu poderia saber isso?

– Você e amigo dos dois! Eles devem te falar alguma coisa.

– Você é amiga da Hermione! Ela deve te falar alguma coisa.

– Isso não vem ao caso. – Ela riu. – Mas você podia falar com o Ron. Para ele fazer alguma coisa.

– Eu ainda não tenho nem certeza se o Ron vai me esfaquear durante a noite por sua causa. Acho melhor não entrar nesse assunto com ele. E... e a gente não fala sobre isso.

Ela revirou os olhos e balançou a cabeça, voltando o olhar para a outra margem do lago, sem realmente prestar atenção em nada e Harry a observou com um mínimo sorriso nos lábios.

– O Ron é um idiota. – Ela disse de repente.

– É, eu sei. – Harry concordou.

– Você também é um idiota.

– O que foi que eu fiz? – Ele exclamou ligeiramente surpreso.

Agora nada. Mas você é um idiota mesmo assim.

– Bom, eu também sou Capitão e posso te expulsar do time se eu quiser.

– É, claro. – Ela falou com a voz carregada de ironia.

– Posso mesmo! – Harry insistiu rindo.

– Harry, a Grifinória estaria perdida sem mim.

– Eu sou um Capitão muito bom, posso transformar qualquer um em um ótimo jogador. Você não faria falta nenhuma.

– Grifinória seria a lanterninha do campeonato sem mim. – Ela falou em um tom convencido. - Não tem nem o que discutir.

– Gina...

– Cala a boca. – Ela interrompeu. – O time não vai para frente sem mim.

– Nós já ganhamos jogos sem você quando você ainda não estava no time, mas eu estava. O que isso quer dizer?

– Que o Wood é um Capitão realmente muito bom.

– Eu sou o mais jovem apanhador do século! – Harry argumentou erguendo uma sobrancelha.

– Grande merda.

– Ei!
Ela começou a gargalhar e se jogou de costas no chão, sendo observada sob um olhar entre divertido e indignado de Harry.

– Eu preciso ir mesmo. – Ele falou após alguns segundos, olhando no relógio.

– Você já mencionou isso algumas vezes.

– Eu sei.

– Vai logo. Snape vai te dar mais detenções ainda se você se atrasar.

– Só se ele me passar detenções para as férias.

– Não duvide. – Ela riu.

– Melhor eu ir. – Disse se levantando e pegando a mochila largada no chão.

Gina se sentou e Harry se curvou para dar um beijo nela antes de sair. Ela o observou andar até o castelo e lentamente se espreguiçou antes de também levantar e pegar a mochila. Estava ajeitando-a melhor no ombro e andando devagar quando Romilda Vane apareceu a sua frente, sem que Gina visse de onde ela tinha vindo.

– Weasley! – Ela exclamou. – É verdade mesmo então?

– O que?

– Você está namorando Harry Potter? – Perguntou em um tom meio acusatório.

– Sim. – Gina respondeu dando a volta em torno dela para continuar andando.

– Mas estão namorando mesmo ou só...?

– Vane, como é, exatamente, que isso afeta a sua vida?

– Eu só quero saber. – Respondeu em um tom inocente.

Gina balançou a cabeça e continuou andando, mas mal tinha dado três passos e Romilda estava mais uma vez na sua frente, bloqueando a passagem.

– Será que você pode fazer o favor de me dar licença?

– Como ele é? – A garota indagou apressada, ignorando o tom impaciente de Gina.

– Quer uma foto dele para você ver?

– Você sabe do que eu estou falando. – Romilda falou dando uma risadinha fina.

– Merlin! – A ruiva exclamou mais uma vez desviando da menina.

– Ele parece ser bem...

– Ok, Vane. – Gina a interrompeu, se virando para ela. – Acho melhor você parar de falar por ai mesmo.

– Ok. Ok. Se você não quer falar sobre isso. – Respondeu levantando as duas mãos na altura dos ombros.

Mais uma vez Gina tentou continuar seu caminho em direção ao castelo, porém Romilda continuou com seu interrogatório.

– Seu irmão não achou ruim?

– Se achasse ele não poderia impedir nada. – Gina respondeu sem se virar, ainda caminhando, com Romilda agora ao seu lado.

– Nenhum deles achou ruim?

– De novo, se achassem não poderiam fazer nada para impedir.

– E seus pais?

Gina apenas olhou irritada para ela e continuou andando, pensando em como se livrar da garota e suas perguntas sem tomar nenhuma detenção.

– É verdade que ele tem um hipogrifo tatuado no peito?

Gina parou de andar e encarou Romilda fixamente.

– Não.

– Mesmo? Ah... achei que fosse verdade. – Comentou, visivelmente decepcionada.

– Não é não.

– Certeza? Certeza mesmo que ele não tem um hipogrifo no peito?

– Tenho. – Gina parou hesitando por um momento. - É um rabo-corneo. – Ela completou tentando não rir.

– Sério? – Romilda perguntou arregalando os olhos.

– É, sim.

– Nossa!

– É...

As duas ficaram se encarando por alguns segundos no gramado, Gina tentando não rir e Romilda encantada com a nova informação sobre o pedaço de pele no peito de Harry Potter.

– Eu preciso contar isso para a minha amiga! – Romilda disse de repente e saiu correndo de volta para os jardins.

Gina mordeu o lábio inferior e esperou até estar dentro do castelo para começar a rir alto, atraindo olhares mal-humorados dos fantasmas no saguão de entrada.