Clouds Of A Dawn

Capítulo 2


Bufou impaciente, estava cansada de esperar sentada que aquela mulher viesse lhe dar as mesmas broncas de sempre. Escorregou na cadeira e apoiou a cabeça no encosto dela, fechou os olhos e planejava dormir quando alguém lhe cutucou as costelas. Abriu um dos olhos e viu seu colega de brigas com uma carranca acima do normal e com o olho esquerdo rodeado por uma mancha roxa, girou os olhos nas órbitas e virou-se para conversar com ele.

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– Dessa vez ela vai pegar pesado, não sei o que é mais vai nos custar muito caro. – O rapaz interrompeu sua fala cruzando os braços e assoprando uma mecha de cabelo que insistia em cair em seu rosto, olhou para a garota e aumentou a carranca. – Suspensão é pouco para o que a gente vai receber por causa das coisas que você apronta Reika!

– Eu já te disse várias vezes Hiro, quando eu meto a gente em uma confusão eu nos tiro dela! – Disse cutucando o rapaz que riu nasalmente do que a garota estava dizendo, ela não estava mentindo. Reika era capaz de qualquer coisa quando queria se livrar de uma encrenca.

Yuuka Reika é pior exemplo a se seguir, aos dezesseis anos e na metade do ano letivo ela já havia sido suspensa pelo menos dez vezes. A garota é alta, cabelos pretos com mechas ruivas que mal passavam do pescoço e que estavam escondidos debaixo de um gorro cinza, olhos cor de esmeralda e pele alva. Ela era a personificação da delinquência, mas o que metade daquela escola não sabia é que um dia tanto ela quanto Hiroshi, - ou Hiro como era chamado pela ruiva-, um dia já haviam sido os melhores alunos do lugar. Mas isso foi antes da morte dos pais do rapaz e antes da ruiva descobrir que era adotada e que seus pais adotivos morreram no mesmo acidente que os de Hiro. Reika sabia pouco sobre seu passado e pouco estava se importando para isso. Com o passar dos anos as notas diminuíram e os prodígios viraram delinquentes que pelo menos uma vez por mês são suspensos ou advertidos, o que não resulta em muita mudança já que eles escolheram ser assim. Suzuki Hiroshi é bem mais alto que a garota e mais velho que ela, os olhos puxados e escuros, a pele alva e o cabelo liso e preto deixam bem a mostra a sua nacionalidade. Ele sempre anda com Reika e isso às vezes deixa duvidas sobre o relacionamento dos dois, mas tudo não passa de fofoca. Eles estudavam na mesma sala pelo motivo do garoto ter perdido um ano letivo por questões psicológicas e jurídicas, apenas uma desculpa esfarrapada para que a justiça brincasse de pingue-pongue com os futuros tutores do rapaz usando-o como bola.

– Você não tem medo de ser deportada? – Perguntou mexendo no cinto cheio de correntes, ele estava preocupado com esse fator. Reika fora sua única amiga em dezessete anos e se ela fosse embora com quem ele partilharia suas artimanhas?!

– Pra onde? Pro inferno? – Disse a ruiva retirando o gorro e mexendo nos fios pretos avermelhados, ela pintava mechas em seus cabelos com a desculpa de não gostar deles, mas a verdade é que ela queria ter um visual próprio e sem cópias. – Não tenho um familiar vivo nesse planeta Hiro! Sou nacionalizada japonesa, meus pais biológicos não sabem ou fingem que eu não existo e por mim isso pode continuar assim porque estou pouco me lixando pra eles! – Colocou metade do gorro no bolso e cruzou os braços. As unhas enormes pintadas de preto contrastavam com a cor branca da farda que ela usava, o olhar perdido mostrava que ela também havia pensado nessa possibilidade. Ser deportada era o seu maior medo, era filha de japonês com uma americana, a qualquer momento alguém poderia querer a sua guarda. Fator que não aconteceria já que seus pais eram filhos únicos e deixaram tudo o que tinham para ela. – Não se preocupe Hiro, não vai se livrar de mim assim tão fácil, como eu disse antes: meus pais biológicos sequer sabem que eu ainda estou viva e eu prefiro assim já que tenho a minha casa e a minha vida!

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– Yuuka Reika, a diretora está te esperando. – Uma mulher baixa e gorda aparecia para chamar pela ruiva, assim que a garota levantou e começou a caminhar a mulher a empurrou na sala com toda a força que tinha.

– Grossa! – Reika disse olhando para a mulher pelo canto dos olhos.

– Sente-se, teremos uma longa conversa. – Disse a mulher que aparentava pouco mais de cinquenta anos, ela usava um conjunto social cinza, os cabelos estavam presos no alto da cabeça e sua expressão era séria. – No entanto estou disposta a encurta-la para que assim você possa se preparar melhor para o que está por vir.

– Pode mandar Yamaguchi. – Disse com convicção, sentando-se sem ser convidada. Viu a mulher lhe lançar um olhar carregado, mas apenas ignorou cruzando os braços. – Então o que queria falar?

– Primeiro: Pra você é Senhora Yamaguchi! – Disse vendo a garota dar um sorriso de canto. – Segundo: Você e o senhor Suzuki ficarão responsáveis pela recepção de novos alunos. – Disse vendo a menina arregalar os olhos em indignação sabia que ela reagiria assim com a notícia, mas era a única maneira de conseguir vigiar a garota sem ser percebida. – Não me olhe assim, foi você quem pediu por isso, sei que foi você que começou a briga e sei também que se o Suzuki estava metido nessa história.

– Não tava, eu comecei a bater no moleque sem ajuda nenhuma. Aí os amiguinhos dele vieram pra cima de mim e o Hiro se meteu. Ele só apartou a briga e acabou levando um soco por isso. – Reika disse com seriedade e raiva, queria encher de socos o cara que bateu em Hiroshi. Mas tal vontade era abafada pelo terror que seria o tal castigo da diretora, odiava aquele monte de novatos tentando falar japonês logo no primeiro dia de aula. Isso era tão irritante quanto uma sessão com o psicólogo da escola. – Posso sair daqui antes que eu destrua a sua sala?

– Pode retirar-se. – Disse vendo a garota colocar as mãos nos bolsos da calça que usava, balançou a cabeça negativamente. Ela não aprendia nunca, as regras da escola exigiam o uso de uma saia, mas a garota simplesmente entrava e saia dali com uma calça jeans qualquer, não tinha medo de nada mesmo. Antes que a garota saísse por completo da sala, Yamaguchi se pronunciou uma ultima vez. – Está suspensa por dois dias, dessa vez o Hiroshi se livrou, mas você não.

Balançou a cabeça sorrindo em seguida, aquela velha sabia como irrita-la e sempre conseguia fazer com que a garota perdesse a paciência. Aproximou-se de Hiroshi dizendo a ele a sentença que haviam recebido, escondendo sobre a suspensão, isso ficaria para mais tarde. Diferente da garota ele apenas negou algo com a cabeça e em seguida começou a caminhar lado a lado com ela. Adentraram na sala de aula e pegaram suas bolsas, já haviam perdido metade da aula então perder o resto não iria fazer diferença. Caminharam até o pátio e ali ficaram observando o movimento do colégio, segundos depois o sinal tocava e uma enxurrada de alunos se dirigia a saída.

– Hiro? – Chamou a ruiva olhando para o nada.

– Quê? – Disse virando o rosto para a garota que olhava para um ponto qualquer.

– Fui suspensa... Por dois dias. – Disse abrindo um sorriso pelo canto direito já que o garoto encontrava-se a sua esquerda.

– E eu peguei quantos dias? – Perguntou mexendo no zíper de sua bolsa.

– Nenhum. – Virou o rosto para o rapaz que a observava surpreso, balançou a cabeça levantando em seguida. Percebeu que o garoto ainda a encarava mais dessa vez confuso, virou o rosto apenas o suficiente para observa-lo enquanto falava. – Eu disse que te tiraria dessa confusão e tirei, vai passar dois dias longe de mim e quero que fique sossegado. Não apronte ou quem vai te arrebentar sou eu!

Hiroshi sorriu abaixando a cabeça e pegando a bolsa, passou o braço pelo pescoço da garota que perdeu um pouco o equilíbrio e usou o torso do rapaz como apoio. E assim eles se dirigiram a saída, abraçados, o rapaz tinha um sorriso no rosto e a garota uma expressão indiferente.

– Reika? – Chamou sem olhar para a garota, mas sentiu-a virar o rosto para encara-lo e sendo assim ele virou o rosto para observa-la. – Obrigado.

– Idiota... – Reika sussurrou virando o rosto e abrindo um pequenino sorriso, talvez não tenha sido má ideia livrá-lo da suspensão. Se fosse para ver aquele belo sorriso em seu rosto, ela enfrentaria o mundo inteiro.