Garota-Gelo

Pedro Manja das Técnicas


Eu estava mais do que sem chão. Minha cabeça não parava de girar, e o vai-e-vem de pessoas no corredor fazia com que minha cabeça ficasse a mil por hora.

O meu coração provavelmente iria pular para fora do meu peito e se suicidar no chão. Eu apertei o portal e bati minhas costas contra a parede.

Deslizei por ela e parei, sentada no chão. Marcela ficou olhando para dentro da sala, e quando o professor apareceu na porta e perguntou se estava tudo bem, ela forçou um sorriso e o empurrou, fechando a porta.

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Marcela me olhou, completamente aflita.

Os alunos que passavam por mim me olhavam, curiosos. Eles começaram a cochichar, e eu já estava prevendo futuros boatos.

Olhei Marcela, que estava sentada de pernas cruzadas ao meu lado.

- Acabou, Marcela. – Eu sussurrei. – Está... Está na hora de ligar para Satanás.

Ela arregalou os olhos e se jogou em mim, abraçando minhas pernas.

- Não diga isso, pelo amor de Deus! Katrina, não desista agora. Você não parece aquela Katrina que eu conheço. Aquela que luta com tudo e com todos para proteger seu próprio orgulho. E você não está fazendo isso agora. – Ela apontou para a porta. – Você vai deixar mesmo que aqueles caras pisem em você?

Pisquei, sem acreditar no que estava ouvindo.

- Marcela... Não é simples, o.k.?

Ela balançou a cabeça em negativa. Seus olhos se encheram de lágrimas e ela mordeu os lábios.

- Nunca disse que era. Katrina... Ser maduro... É ser capaz de sorrir para alguém que já te fez sofrer. – Sua expressão era de pura angústia e seus olhos estavam praticamente partidos. Marcela parecia que compartilhava a minha dor de uma forma incrível.

Mordi o lábio inferior e olhei para ela.

- Marcela... Eu não sei se consigo.

Ela balançou a cabeça em positiva, as lágrimas descendo e descendo.

- Consegue sim. Eu estou com você, tá?

Eu ia dizer mais alguma coisa, mas uma sombra tampou a claridade.

Pedro se agachou e me olhou, parecendo preocupado. Seus olhos negros estavam cheios de angústia, e sua expressão era de pura tristeza.

- O que houve? – Ele perguntou, docemente. Ele olhou para Marcela, que estava virada para o outro lado, enxugando suas lágrimas.

Balancei a cabeça em negativa.

- Nada. – Menti. – Só estou... Pensando.

Ele balançou a cabeça em negativa.

- Ninguém pensa com essa expressão. Você está pálida. – Ele esticou sua mão enfaixada e pegou meu punho trêmulo. – Você está tremendo. Katrina... Só me diga o que aconteceu.

Mordi o lábio e franzi o cenho. Eu nunca tinha me sentido tão culpada como eu estava me sentindo. Aquela expressão dele era de cortar o coração. Mas eu não me preocupei muito, afinal, meu coração é uma pedra de gelo.

Fiz a maior cara de brava que consegui.

- Não aconteceu nada. E mesmo que tivesse acontecido, não lhe contaria. Porque não te interessa minha vida pessoal. – Acreditando ou não, eu sofri para dizer isso.

Pedro deu um suspiro pesado, e eu me dei por vencida. Ele se levantou e colocou sua mão na cintura. Pedro ficou me olhando por um belo tempo, e eu comecei a ficar sem graça.

- Quê? – Eu perguntei, bruta.

Marcela se afastou de mim, se sentando umas três palmas longe, com um sorriso presunçoso nos lábios, com os olhos completamente secos. Me perguntei internamente como ela fez isso.

Pisquei, perdida.

Pedro pegou minha mão direita e me puxou para cima. Dei um pulo e fiquei de pé, cética.

- Oh. – Eu reclamei. Meu pulso estava totalmente tomado pela mão dele. Seu rosto estava inexpressivo, mas eu podia sentir um sorriso no meio daqueles lábios fechados. – Me solta, Pedro.

Ele balançou a cabeça em negativa, como se estivesse me testando.

- Não quero. Pelo menos não até que você me conte o que está acontecendo.

Teimoso desgraçado.

E, como se tivesse lido minha mente, ele disse:

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- E sim. Eu sou um teimoso de primeira. Não largo as coisas facilmente. – Ele apertou meu pulso.

Mordi o lábio inferior e evitei olhar em seus olhos. Tudo em minha volta estava caindo aos pedaços, e eu não tinha como evitar isso. Pedro iria uma hora ou outra descobrir tudo sobre mim. E eu, querendo ou não, sabia disso.

Pedro percebeu minha angústia. Ele fez algo assustador. Muito assustador.

Pedro Marconni teve a audácia, a cara de pau, o desaforo, o descaramento de me pegar pela cintura e me jogar em seu ombro esquerdo, me segurando pela parte de trás da coxa.

- Pedro, seu vagabundo! – Eu berrei e bati em suas costas. – Me solta!

- Não. – Ele disse. Juro que eu o ouvi dar risada.

Ele andou casualmente pelo corredor, chamando a atenção de todos os presentes nele. Dei tapas fortes e brutos em suas costas, e principalmente em seu machucado da bala. Me sacudi feito um peixe fora d'água. Mas ele não reagia.

Quando chegamos à ponta do corredor e começamos a descer a escada, eu belisquei sua nuca.

Pedro soltou um gemido leve, e inclinou sua cabeça para frente, tentando evitar meu toque.

- Isso dói, megera.

- Essa é a intenção! – Eu disse, e apertei com vontade a pele de sua nuca.

Eu não havia me ligado que já estávamos lá em baixo, no refeitório. Na parede que separava o banheiro das meninas e dos meninos, Pedro me desceu com delicadeza e me empurrou contra ela.

Ele colocou sua perna entre as minhas, e pegou minhas duas mãos, as prensando em cima da minha cabeça.

- Katrina. – Ele começou, meio rouco. – Diz para mim o que está acontecendo.

Engoli um soluço e mordi minha boca.

- Me larga... – Eu grunhi. – Se você não me largar, eu vou te chutar. E te chutar para valer. Vai machucar, já estou avisando.

Ele riu e balançou a cabeça.

- Dores físicas não chegam aos pés das dores emocionais que você causa em mim. Absolutamente todos os dias. – Ele olhou, bem lá no fundo dos meus olhos. – Você ferra o meu psicológico, Katrina.

Até agora, eu não tinha percebido que... Quando eu estou com esse cara, eu simplesmente... Não fico trêmula, nem assustada, nem nada do gênero. Eu só fico... Quente e... Na expectativa.

Fechei os olhos com força. Eu nunca me senti tão culpada em toda a minha vida. Nunca mesmo.

- Pedro... Desculpa. – Eu solucei. – Desculpa. Eu não queria te tratar assim... Juro... Só que... É difícil para mim confiar nas pessoas...

Ele apertou os olhos.

- Katrina, você está se desculpando por quê? Não precisa pedir desculpas, megera. Mas... O que você tanto esconde? Me diz, pelo amor de Deus. – Ele parecia angustiado e nervoso.

Balancei a cabeça em negativa.

- Não posso dizer. – Engoli um soluço e eu senti sua mão apertar meus pulsos com mais força. – Se você souber... Vai sentir nojo de mim.

E eu não queria isso. Não mesmo.

Ele estreitou os olhos e me fitou.

- Nojo. – Ele repetiu. – Nojo. Você acha mesmo que eu sentirei nojo de você?

Ele soltou minhas mãos e colocou sua mão enfaixada ao lado da minha cabeça.

- Mesmo? - Perguntei, esperançosa.

- Mesmo. – Ele afirmou, seguro.

Eu simplesmente não podia recuar naquele momento. Meu coração estava a mil por hora e eu estava trêmula. Se eu contasse para ele, não sei mais o que Pedro faria. Não tinha mais certeza de nada, além de que eu iria me ferrar, como sempre.

Engoli em seco e juntei a coragem que me restava.

- Antes... Há algum tempo... Eu tinha um namorado. – Comecei.

Pedro agarrou minha camisa e me trouxe para mais perto dele, se aquilo fosse possível.

- Ele... Ele... – Eu simplesmente não conseguia dizer. Minha cabeça rodopiava e não conseguia enxergar direito. Para mim, Pedro era apenas um borrão branco. – Ele abusou sexualmente de mim, Pedro. – Solucei e agarrei meu próprio ombro. – Ele... Tinha apostado com os amigos dele... Cinquenta reais. – Encostei a testa em seu peito e não tive mais coragem nenhuma de encará-lo. – Eu valia alguma coisa, Pedro. Eu valia cinquenta reais. E agora... Ele está lá na minha sala. – Apertei sua camisa com força, e ele não disse nada.

Ficamos em silêncio por um longo tempo. Pedro tinha me abraçado ainda mais forte, como se estivesse me protegendo de alguma coisa.

Depois de alguns segundos, ele me pegou pelo ombro e me afastou. Encostei de leve as costas na parede e o fitei.

- Isso... – Ele disse. – Katrina... Eu...

- Katrina! – Alguém me chamou.

Eu e Pedro viramos a cabeça rapidamente, para encarar a pessoa. E não estávamos em uma posição muito decente. Ele estava com a perna no meio das minhas, e eu o segurava pela camisa, que magicamente havia sido desbotada.

A impressão era que nós dois estávamos nos pegando.

Marcela estava parada na escada, parecendo assustada. Sua mão direita pressionava o peito. Ela parecia ofegante e estava toda suada.

- Katrina! – Ela me chamou novamente, dessa vez sinalizando para que eu fosse até ela.

Não perdi tempo.

Eu estava mais do que envergonhada; eu estava que nem uma covarde, correndo de tudo e de todos. Principalmente de Pedro.

Não queria ouvir sua resposta sobre o meu passado; e acho que ele deveria ter um tempo para refletir sobre os acontecimentos.

Não sei se isso era certo de se pensar, mas acho que o meu emocional estava melhor quando eu estava ali, a poucos centímetros de distância dele.

Eu sei, eu estou ferrada.

Pedro Pov.~

Eu definitivamente não sabia como eu realmente deveria reagir com aquela notícia. Eu não fui homem o suficiente para arcar com as consequências, e não disse nada a Katrina.

Ela provavelmente iria me evitar agora. E eu não discordo de sua atitude. Qualquer um me evitaria. Eu precisava dizer a ela meus sentimentos sobre aquilo, mas acho que ela não me ouviria. Precisaria a pegar num momento que ela não teria escapatória.

Bati o punho na parede com toda a minha força, com ódio de mim mesmo. Eu nem sabia porque eu estava descontando minha raiva em uma pobre parede. Encostei minha testa no meu punho fechado e fiquei respirando com dificuldade.

- Pedro... Tudo bem? – Uma voz familiar me assustou.

Me virei, depressa, e pude ver o sorriso reconfortante da cozinheira amigável que me deu um copo de água outro dia.

Forcei um sorriso para ela.

- Tudo sim. Eu só estava... – Me virei para olhar o... O buraco que eu tinha acabado de fazer. Me afastei, perplexo. – Meu Deus! – Exclamei. Olhei para Isabelle. – Eu... Não foi de propósito, juro. Não iria fazer isso em situações normais.

Ela riu e colocou seu pano de prato sobre o ombro.

- Não vi nada, não se preocupe. – Ela sorriu. – Pedro... Aconteceu alguma coisa? Você parece... Agitado.

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Coloquei minha mão no bolso e sorri discretamente.

- É... Tem algo acontecendo, sim. Mas não se preocupe, não é nada de importante. – Forcei um sorrisinho.

Ela olhou para mim e estreitou os olhos.

- É a Katrina, né?

Fui pego.

- Ah... Tá tão óbvio assim?

Ela assentiu, enquanto abria um sorriso.

- Todos nós sabemos que você gosta dela.

Sorri.

- Tenho bom gosto, não acha? – Brinquei.

Ela negou enquanto ria.

- Não, você só é louco o suficiente para gostar da loucura dela. – Isabelle bateu no meu ombro. – Boa sorte com aquela lá.

Ela saiu, sorrindo eu direção à cozinha. Pisquei algumas vezes.

- Eu não sou louco, só sou... – Disse para mim mesmo. – Só sou um apaixonado idiota. – Eu ri.

Querendo eu, ou não, eu tinha achado uma resposta para mim mesmo.

Katrina Pov.~

Eu havia contado tudo o que tinha acontecido com o Pedro lá em baixo. Marcela ficou cética, mas conseguiu disfarçar bem sua preocupação.

Eu não aguentava mais ouvir os dois falando sobre a merda de um acampamento lá no interior da puta que pariu. Eu coloquei meus pés sobre a cadeira e abracei minhas pernas, enterrando minha cara nelas.

- É óbvio que vocês irão gostar. – Garantiu Kátia. – Nossa escola se irá se assegurar que vocês tenham uma ótima viagem.

Bateram na porta. Ouvi alguns murmúrios, e quando a porta se abriu, o pessoal começou a falar mais alto. Decidi olhar quem estava na porta, e quase tive um treco.

Pedro estava ali, com uma cara presunçosa desgraçada. Ele apoiou o cotovelo na maçaneta da porta e sorriu para a professora de português.

- Bom-dia, professora. – Ele fez aquela cara que a professora não resiste. – Eu poderia ficar com vocês hoje? Me expulsaram de novo. São malvados, sabia?

Alguns alunos riram e professora ficou sem graça.

- Claro, Pedro. Entre, entre. – Ela o puxou pela camisa e ele andou desajeitadamente pelo corredor da frente. – Você sofre, hein, Pedro? É um aluno exemplar, mas vive se metendo em encrenca. – Ela ficou na ponta dos pés e bateu na cabeça dele. – Vou conversar com esse professor que está te expulsando de suas aulas. Ninguém faz isso com os meus alunos!

Pedro deu um risinho baixo e olhou para ela. Ele pegou seu queixo e o mexeu de um lado para o outro, soltando risos da sala.

- Professora... – Ele começou, juntando as sobrancelhas. – A senhora sabe que mora no meu coração, não sabe? Não se exalte por culpa de um mero professor que não chega aos seus pés. – Ele lhe deu um beijinho em sua bochecha, e ela ficou vermelha.

Marcela riu.

- Eu preciso pegar essas técnicas com o Pedro. – Ela sussurrou para mim.

Balancei a cabeça em negativa enquanto sorria.

Pedro foi passar pelo corredor, mas, quando ele passou por Marcos, parou brutamente e ficou o fitando. Ele olhou Marcos desde os fios de cabelo até a ponta dos pés.

Kátia não perdeu tempo. Estendeu a mão para que ele pudesse a cumprimentá-la, mas Pedro apenas a ignorou.

- Sério mesmo, Katrina? – Ele perguntou, ainda olhando para ele. – Eu sou muito mais bonito do que esse cara.

As pessoas não se aguentaram. Todo mundo começou a cair na gargalhada. Eu e Marcela não podíamos acreditar no que estava acontecendo. Abrimos a boca, incrédulas.

Kátia finalmente recuou a mão, desconcertada. Marcos o fitou, cético.

- Você está louco, irmão? – Ele perguntou.

Pedro assentiu, inexpressivo.

- Hum-hum.

Ele tateou a cadeira atrás de si e a levou até o meu corredor.

Me ajeitei no banco e fiquei mais longe possível da ponta da minha cadeira. Pedro jogou a cadeira do meu lado e se sentou, me fitando.

Evitei seu olhar, completamente envergonhada, me enterrando nas minhas pernas.

- O que tem de legal ficar nessa posição? – Ele perguntou. – Não dá para ver o seu rosto.

- Pedro... – Murmurei. – Não quero falar com você. Vai embora. – Abanei o nada, sinalizando para que ele saísse.

Ouvi sua risadinha.

- Mas eu quero. Deixa eu familiarizar contigo. – Ele fez alguma coisa na minha mesa, e ela começou a se mexer.

Ergui o olhar para encará-lo, e percebi que ele estava na mesma posição do que eu. Pedro sorriu para mim e desequilibrou da cadeira, usando a mesa do João para não cair.

- Ai, peste. – Ele resmungou, voltando para a posição original.

Não aguentei e dei um risinho discreto, apoiando meu queixo no joelho. Mesmo que a situação tenha ficado menos tensa entre nós dois, eu ainda podia ouvir as batidas do meu coração.

Elas estavam descontroladas, e eu não sabia se era por causa de Marcos e Kátia, ou porque Pedro estava tão próximo de mim, com uma pose folgada na cadeira. Ele abriu os três primeiros botões de sua camisa, pegou uma folha da mesa de João e começou a se abanar. Ninguém mais conseguiu prestar atenção na professora, se é que você me entende.

*

Eu não sei se eu pulava de alegria ou atirava em alguém.

Marcos e Kátia não iriam, graças a Deus, estudar conosco. Eles apenas eram os responsáveis pelo projeto do acampamento. Os dois passaram de sala em sala, avisando a todos sobre o passeio. Ele ocorreria na sexta-feira, e todos nós ficaríamos lá no meio do mato até segunda de manhã.

Marcela explicou a situação para Jonas, que encarava tudo com uma expressão vazia no rosto. Ele, por fim, deu um suspiro e deu de ombros.

- Não estou ligando para você, Katrina. – Ele procurou alguém na multidão e riu sozinho. – Estou mais preocupado com o Pedrinho. Pobre rapaz, você o usa como bem entender e ele ainda gosta de você. Se ele mudar de lado, juro que o pego e não solto mais.

Marcela revirou os olhos e me virou para encará-la.

- Jonas, não estamos nem aí para você.

- Não dormirei a noite. – Ele resmungou.

Marcela bufou e sorriu para mim.

- Katrina, isso não dará certo. Você não vai conseguir evitar o Pedro por pelo menos três dias. Você sabe como ele é.

Assenti.

- Sei sim como ele é. Mas eu sei ser pior.

Jonas estava tomando café com leite. Ele colocou umas sete colheres de açúcar, e ficou mexendo o líquido preto.

- Mas sabe... Acho que você deve estar se sentindo melhor agora. – Ele disse, sem olhar para mim. – Já que você contou o babado para ele, provavelmente está se sentindo mais leve.

Coloquei meus antebraços na mesa e o fitei, cética.

- Ah, claro. Estou maravilhosa agora. Acabei de dizer para o cara que eu estou a fim que eu fui... – Eu nem terminei a frase e logo tapei a boca, e me amaldiçoei internamente por revelar isso.

Os dois começaram a escancarar a boca, e os malditos deram um grito agudo. Marcela e Jonas me abraçaram, completamente surpresos. Eles me balançaram de um lado para o outro, e eu comecei a gritar por socorro.

- Sai, malditos! – Berrei, empurrando os dois.

Todo o pessoal que estava no refeitório começou a nos olhar. Eu queria internamente morrer. Bati o olhar na cozinha, e percebi que Pedro conversava alegremente com seus amigos, e quando os seus parceiros se viraram para nos encarar, ele virou o rosto junto.

Um sorriso foi tomando proporções gigantescas em seus lábios, como se ele soubesse muito bem do que os malditos estavam comemorando.

Ele colocou a mão na boca e me mandou um beijo.

Me virei depressa e comecei a me contorcer. Ambos me largaram, e eu arrumei minha camisa. Encarei todo mundo que estava nos bisbilhotando.

- Que é, seus xeretas?! – Berrei para o pessoal do refeitório. – Vão cuidar da vida de vocês, idiotas!

Eles se viraram, resmungando, e ninguém mais nos encarou. Fitei os dois, que estavam com os olhinhos brilhando e fazendo sons estranhos.

- Parece que seu humor voltou. – Marcela disse e sorriu.

Estralei meu pescoço.

- Só parece. – Confessei. – Não estou nada bem. Não quero ir nessa merda de acampamento e ficar me deparando com aqueles dois... Não mesmo.

Jonas bateu nas minhas costas.

- Se aqueles dois ousarem tocar em você... Me chama! – Ele bateu na mesa. – Rodo a baiana na cara deles!

Eu e Marcela não resistimos. Começamos a rir sem parar, desesperadas por ar.

Jonas parece ter se sentindo ofendido. Colocou as mãos no peito, e não parou de piscar.

- Vocês estão desconfiando de mim? – Ele disse, parecendo incrédulo. – Sou muito homem, tá?

Assenti e lhe dei um peteleco na testa.

- Fica na sua que você é tão inofensivo quanto um grilo.

Marcela gargalhou e encostou sua cabeça na minha.

Jonas começou a brigar com a gente, dizendo que nós duas estávamos erradas. No fim, ele acabou caindo de bunda no chão.

Mas, naqueles poucos minutos de brincadeira, eu havia me esquecido completamente das angústias que haviam se solidificado dentro de mim.

Talvez, bem lá no fundo, alguma parte minha já tenha se rachado.

E eu, querendo ou não, gostei disso.