Garota-Gelo
Ela Não É o Problema
Eu levei um susto tão grande que fiquei sem reação por alguns segundos.
Pedro havia sido baleado. Por minha causa.
Minha mão estava toda ensanguentada, e o peso dele não ajudou nada.
O carreguei com dificuldade até em casa e o sentei com cuidado no sofá. Ele estava arfando, todo suado.
– Katrina... – Ele gemeu. – Eu vou morrer.
Entrei em desespero.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Não vai, não... – Eu disse enquanto passava a mão em seu rosto. Deixei uma marca vermelha por onde passava a mão. – Calma...
Peguei o celular da minha mãe que estava em cima da estante e corri para o banheiro.
Enquanto digitava o número da ambulância, peguei minha toalha e voltei para a sala.
– Central de atendimento, bom dia? – A moça disse.
– Oi, o meu vizinho foi baleado. Preciso de cuidados agora. – Eu disse ríspida.
Peguei Pedro e o virei de bruços, o depositando na toalha no chão.
– Você quer uma ambulância?
Bufei.
– Se ele foi baleado, é claro que eu quero um barco, né.
Tirei a camisa dele com certa dificuldade e fiquei observando o machucado.
A bala estava afundada na pele, fazendo o sangue jorrar feito água. Estava cheio de pus e pele morta.
Funguei enquanto dizia as informações para a moça.
Ela desligou garantindo que estaria aqui em menos de uma hora. O que foi um belo motivo para que eu entrasse em mais desespero ainda.
Eu me lembro das aulas de ciências, onde o professor dizia que se o sangue ficar jorrando feito água, provavelmente a pessoa irá morrer de hemorragia. Ainda tem o problema da bala. Se Pedro pegar tétano, aí que as coisas vão ficar tensas.
E o pior é que a minha casa é o melhor lugar possível para se pegar tétano.
Se ele começar a ficar com espasmos e quebrar o diafragma, a culpa vai ser minha.
Entrei em um colapso interno. Eu precisava fazer alguma coisa.
Larguei o celular totalmente manchado de sangue em cima do sofá e corri para a cozinha.
Abri a última gaveta da nossa pia e tirei um alicate universal e o coloquei embaixo da água da torneira.
Peguei uma assadeira e coloquei o alicate ali. Joguei dentro do forno e o liguei.
Corri para o banheiro e peguei a caixa onde tinha esparadrapos e água oxigenada. Peguei uma bacia e a enchi de água da torneira, mesmo.
Voltei para a sala e coloquei a bacia ao lado de Pedro.
Peguei a camisa dele e a molhei com a água da bacia.
Eu estava pronta para molhar o local quando eu travei.
Coloquei a mão no rosto.
– O que eu vou fazer? Meu Deus... – Eu murmurei.
Respirei fundo e molhei o machucado sem dó nem piedade.
A bala se remexeu ali dentro, o que me deu um calafrio na espinha.
Depois que eu molhei as suas costas inteiras, ele começou a arfar. Abri a janela da sala e corri para a cozinha.
Peguei, com a ajuda de uma toalha, a assadeira, que estava borbulhando de tão quente.
Apanhei o alicate com uma luva e fui andando calmamente até a sala.
Ajoelhei-me ao lado de Pedro e quando eu estava quase tocando a bala com o alicate, ele começou a murmurar coisas estranhas.
Tirei uma das luvas e passei minha mão no comprimento de seu braço.
Um rastro vermelho se formou e os meus olhos começaram e se encher de lágrimas. O que ele havia feito foi pura loucura.
– Ai, caramba. – Eu solucei. – Pedro, você é um maldito.
Peguei a bala com cuidado e comecei a retirá-la. Veio de brinde sangue, pus e algumas coisas não identificadas. A joguei no chão.
Suspirei, aliviada. O sangue ainda jorrava, mas era em quantidade menor do que antes.
Eu tomei um susto quando Pedro deu um espasmo.
O susto foi tão grande, mas tão grande que a ponta do alicate caiu em cheio no meu colo.
Eu gritei de dor quando uma mancha vermelha e borbulhante se formou na minha perna. Eu gritei de fúria e ataquei o alicate lá para a cozinha. Ele deslizou e parou debaixo da mesa. Fiquei observando enquanto a mancha se alastrava, me deixando cada vez com mais dor. As lágrimas corriam e corriam, a maioria das gotas caindo nas costas do Pedro, que não sentia nada.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Coloquei minha mão em forma de concha na minha perna e apertei os olhos, descrente de que uma queimadura doesse tanto.
Olhei para Pedro, que parecia dormir.
Coloquei a mão em sua bochecha e ele deu um suspiro.
Não demorou muito para que eu ouvisse o som de um carro estacionando.
Levei um susto e enxuguei as lágrimas, tendo em mente assuntos mais importantes do que uma porcaria de queimadura.
Manquei até a porta e a abri em um solavanco, deixando entrar dois rapazes e uma maca.
Eles não perderam tempo e pegaram Pedro cuidadosamente, o colocando na maca e o amarrando ali.
Então um enfermeiro se apoiou na porta e ficou me encarando. Ele tinha um olhar severo.
Forcei um sorriso e abaixei a camisola, escondendo a ferida.
– Que bela queimadura tem aí. – Ele disse. – Vou te dar um remédio, vem aqui.
Os caras com o Pedro na maca saíram pela porta e eu sorri.
– Não precisa. Só me fala o que eu tenho que fazer, eu posso me curar. – Abanei para ele. – Cuida do menino.
Ele fechou a cara. O enfermeiro ia dizer alguma coisa, mas sua colega o chamou e ele teve que correr para dentro da ambulância.
Eu fiquei realmente assustada quando a limusine de Marcela estacionou e Rodrigo saiu correndo dali.
Quando ele me encarou, foi direto na minha perna. Ele arregalou os olhos e eu tive que a abaixar novamente a camisola, para que ele não visse o machucado.
– Katrina... – Ele começou.
Pressionei o indicador nos lábios e ele ficou confuso.
Uma penca de gente saiu de lá de dentro e inclusive Lúcia, que estava mofando na casa dela saiu para xeretar.
Quando ela me viu, estreitou os olhos como se dissesse: “eu ainda vou te ferrar, menina. Só espera”.
Sorri e pisquei para ela.
Mas aí eu me lembrei de algo importante. Corri, desesperada para a ambulância e escancarei a porta. Os enfermeiros se assustaram.
– Não pode entrar aqui, menina. – Um deles disse.
– Já entrei. – Eu disse.
Uma moça que estava de máscara me fitou por alguns segundos.
– A bala foi retirada... Foi você?
– É. Mas vocês têm que guardar segredo.
Eles se assustaram.
– Por quê?
Ri.
– Não vai ser bom para mim se as pessoas souberem que eu estou amolecendo. – Resmunguei.
– Desculpe? – A moça indagou.
– É só que... É melhor ser a malvada de tudo. É bem mais simples. Você sofre menos.
Um homem ao meu lado pigarreou.
– Você já sofreu? Nossa, tão jovem.
– Pois é. “Para você não ter o seu coração quebrado, finja que não tem um”. Já ouviram? Essa frase meio que me define. Eu fiz isso pelo Pedro porquê... Ele é alguém que merece.
A mulher olhou para o rosto de Pedro.
– Não se preocupe, ele ficará bem. – Ela disse.
Ri.
– Só guardem o segredo.
Virei-me para as portas e as abri.
Minha perna estava latejando, mas eu consegui disfarçar e entrei em casa.
Passei por olhares mortais, e antes de chegar a casa, a mãe de Pedro me abordou.
Virei-me para ela.
– Katrina... Você realmente deixou meu filho na mão e foi dormir? – Ela perguntou com uma expressão partida.
– Isso aí. Por mim ele morreria.
E entrei em casa.
Fechei a porta e estava pronta para receber olhares terríveis e de puro ódio, mas quando me virei para encarar o pessoal, eles estavam com uma expressão de adoração.
Marcela estava emocionada e correu para me abraçar.
– Katrina, não sabe o orgulho que estou sentindo de você! – Ela disse.
Fiquei confusa.
– Que?
Mamãe pegou a toalha e todos as ferramentas que eu tinha esquecido de retirar e jogou na minha frente.
– Você retirou a bala dele. – Isadora disse, pegando o pequeno cilindro de metal. – Não esperava isso de você.
Sorri.
– Ninguém nunca espera nada de mim. Por isso que eu amo ser eu.
Agora... O real motivo para que eu faça isso e depois peça segredo?
É mais ou menos como dizer assim: Katrina, você se fodeu, como sempre. Dançou, caiu na lava. Já era. Game Over. Prepare-se para se sufocar com o sentimento mais filho da puta do mundo. Aquele que te faz ver caveiras dançando envolta da cabeça da pessoa. Aquele que manda você morrer. Pois é, bino. Dançou. É tipo isso.
Tô amando.
Olha a desgraça.
Pedro Pov.~
Uma mistura de adoração, ansiedade, medo e satisfação tomou conta de mim.
Não parava de sorrir.
– O único trabalho que nós tivemos foi fechar esse machucado e te enfaixar. – Completou o enfermeiro.
Sorri.
– Sabe... Ela tem razão.
– O quê? – O enfermeiro ficou confuso.
O problema não é a Katrina. O problema são as pessoas que vivem em volta dela.
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